Crônica: Mariana
Todos os dias era a mesma coisa. A
mesma ladainha. Escovar dentes, dar de comer, levar pra brincar e fazer dormir
as suas girafinhas. Nada mudava.
Bom ter filhas como as suas –
bonitinhas, engraçadinhas – mas só fazer isso, cansa. Mariana não aguentava
mais.
Mariana era uma girafa. Girafa mãe.
E quando Oscar, cabeça erguida, punha a
pasta debaixo do braço, dava um beijo na mulher, e saía, Mariana ficava triste.
Suspirava. Ah! Que bom sair também pra trabalhar. Não ser somente girafa-mãe...
Dentro de casa, girafando... girafando.
Não fosse gostar de cantar e Mariana
morria. Era só quando esquecia a vida dura de mãe-de-família. Levantava o
pescoço comprido, coberto de colares – gostava de se enfeitar – e a voz saía
uma beleza. Até as girafinhas paravam de brincar e redeavam a mãe.
-- Canta mais, mamãe!
“Pinga,
pinga, pingo d’água
Lá na praia da lagoa
O amor quando é de gosto
Ai! Meu Deus, que coisa boa!”
A voz, agora, era mais triste:
“Amanhã,
eu vou m’embora
Não despeço de ninguém
Só despeço da morena
Porque diz que me quer bem”.
Mariana cantava, cantava.
Um dia, Mariana não aguentou.
-- Marido – disse Mariana, quando Oscar
voltou do trabalho. – Vou ser cantora.
-- Você está louca, mulher? Que bicho
te mordeu?
-- Quero ter uma profissão.
E Mariana sacudiu a cabeça enquanto os
colares balançavam, batendo uns contra os outros.
-- Que estória é essa? Mulher minha tem
que viver em casa, cuidando das crianças, fazendo comida – gritou o marido,
jogando o jornal no chão e se levantando da cadeira.
Furioso, entrou no quarto e bateu com a
porta.
Mariana ficou triste. Balançou a cabeça
– ah! esse marido! – e foi pra cozinha acabar de lavar os pratos. Dos olhos
pingaram lágrimas, e o pescoço da girafa baixou tanto que quase bateu na pia. O
que vale é que Mariana não esquentava a cabeça. Daí a pouco, foi para a sala,
pegou numa folha de papel e começou a rabiscar. Gostava de escrever. Era bom.
Principalmente quando estava todo mundo dormindo, inclusive as girafinhas.
Mariana,
Maria Lúcia Amaral.
Fonte: Livro – Encontro
e Reencontro em Língua Portuguesa – 5ª Série - Marilda Prates – Ed. Moderna,
2005 – p.114-6.
Entendendo a crônica:
01 – Que significado tem a
palavra ladainha, no texto?
Sempre a mesma
história, era tudo sempre igual.
02 – Indique o sentido da
palavra ladainha nas frases a
seguir:
a)
Todo dia era a mesma ladainha: varrer, lavar,
passar, cozinhar.
Mesma história, mesma coisa.
b)
Os fiéis rezam uma ladainha após a missa.
Série de orações curtas.
03 – Leia a frase e comente
a expressão cabeça erguida neste
período: “E quando Oscar, cabeça erguida, punha a pasta debaixo do braço, dava
um beijo na mulher, e saía...”
Altivo, como que
demonstrando autoridade.
04 – Por que Mariana
suspirava quando seu marido saía para o trabalho? Justifique sua resposta com
uma frase do texto.
Porque exprimia
seu sentimento de insatisfação. “Ah! Que bom sair também para trabalhar. Não
ser somente girafa-mãe...”.
05 – Qual significado da
palavra girafando no texto?
Girafando quer
dizer: trabalhando em casa, como dona de casa e mãe.
06 – Leia a frase a seguir e
responda às questões. “Que bicho te
mordeu?”
a)
Que personagem assim se expressou?
Oscar, o marido de Mariana.
b)
O que a personagem quis dizer ao usar a frase
acima?
O que está acontecendo com você? Por que está de mau humor?
07 – Vamos fazer uma
descrição da girafa Mariana? Fisicamente, como ela era? E como era o seu
interior?
Fisicamente era
vaidosa, gostava de colares, de estar bem arrumada. Interiormente era paciente,
perspicaz, inteligente, com personalidade marcante.
08 – Observe: No início da
primeira linha do texto há um pequeno espaço em branco. Esse espaço indica
partes do texto: os parágrafos. Veja
que o parágrafo se repete em muitas linhas do texto. Então, responda:
a)
Quantos parágrafos tem o texto Mariana?
Possui quinze parágrafos.
b)
Em que parte do texto atingiu o seu ápice,
isto é, sua força maior? Gostaria de emitir sua opinião?
No diálogo entre Mariana e seu marido.
c)
Agora, indique em que parágrafo o narrador:
·
Fala sobre Oscar, o marido da girafa Mariana.
Parágrafo quarto.
·
Comenta sobre a vida diária de Mariana – uma
rotina.
Parágrafo primeiro.
·
Refere-se aos gostos de Mariana.
Parágrafo quinto.
09 – Mariana não estava
gostando de ficar somente em casa. Você sabe dizer por quê?
Resposta pessoal do aluno.
10 – Mariana, mesmo sendo
dona de casa, tinha uma aspiração profissional. Você conhece alguém que já
tenha uma ocupação e sonhe em ter outra? Compartilhe com seus colegas as
informações que você tem sobre o assunto.
Resposta pessoal
do aluno.
11 – “Mulher minha tem que viver em casa...”.
a)
Qual a opinião de Oscar sobre o papel da
mulher na sociedade?
Ele acredita que cabe à mulher somente o trabalho doméstico.
b)
O que indica o pronome minha?
Indica posse.
c)
A utilização desse pronome é coerente com a
maneira de pensar do marido de Mariana?
Sim, porque ele acha que pode determinar o destina da esposa, que
ela é sua propriedade.
12 – Mariana parecia muito
frustrada. Achava que Oscar não permitia que ela realizasse o seu sonho. De que
modo Mariana conseguia, por vezes, superar essa frustação?
Refugiava-se na
sala e escrevia. Isso lhe fazia bem.
13 – Que outro título você
daria ao texto? Justifique sua sugestão.
Resposta pessoal
do aluno.
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