sexta-feira, 22 de setembro de 2023

CONTO: VASSILISSA, A FORMOSA - TATIANA BELINKY - COM GABARITO

 Conto: Vassilissa, a formosa

               Tatiana Belinky

        Há muito, muito tempo, num certo reino distante, vivia um rico mercador, com sua mulher e uma única filha. A menina chamava-se Vassilissa, e era bonita e meiga como uma flor. Mas um dia quando Vassilissa tinha apenas 8 anos, sua mãe ficou muito doente, e, sentindo que ia morrer, chamou a filha, tirou de sob as cobertas uma pequena boneca e lhe entregou dizendo:

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhoTG8M_KWF63FYmYfKInb-c1e0joFz4JnBTyE8ZviV1Bvsv3E1TQkWKuI5WlsP5rdnaokUCFpal0tSkb2PSpgeKsI9tNIIvPlxcc30j6TkuGwFVC-boWBHlrIheOt64qmvsqMIGcsdyqxZtCMxc9hgcdT-0zLjj1tHtqY3RFrFHbwbraRB5pxBYuOPdw0/s320/REINO.jpg


        -- Escuta, Vassilissa, minha filha, as minhas últimas palavras. Ao morrer deixo-te a minha bênção e esta bonequinha, que deverás trazer sempre contigo. Não a mostres a ninguém, e quando te acontecer algum desgosto, dá-lhe de comer e beber, e pede-lhe conselhos. Depois de alimentada, ela te dirá o que fazer para te ajudar na desgraça.

        Algum tempo depois da morte da mãe, seu pai casou-se de novo, com uma viúva que tinha duas filhas, pouco mais velhas do que Vassilissa, pensando que isso seria bom para sua filhinha órfã de mãe. Mas enganou-se, porque a madrasta não gostava da enteada. Ela e as filhas invejavam a sua beleza, e atormentavam-na com toda sorte de trabalhos e encargos pesados, para que ela ficasse magra e feia.

        Vassilissa suportava tudo pacientemente e, apesar da vida dura que levava, ficava cada vez mais bonita, passou a ser chamada de Vassilissa, a formosa, enquanto a madrasta e suas filhas iam ficando cada vez mais feias e secas, de tanta ruindade, mesmo passando o tempo todo comendo, sem fazer nada.

        Como isso era possível? É que a bonequinha que a mãe lhe dera ajudava a menina, que muitas vezes deixava de comer só para com sua porção alimentar a boneca, sempre à noite, depois que todos se deitavam. Ela lhe dava de comer dizendo: Come, boneca-beleza, e ouve minha tristeza! E lhe contava os seus problemas. A boneca escutava, dava-lhe conselhos e a mandava dormir. E pela manhã todo o trabalho já aparecia feito, enquanto a menina descansava na sombra e colhia flores. Assim ela ia vivendo.

        Passaram alguns anos, e as meninas chegaram à idade de ficar noivas. Mas todos os pretendentes que apareciam, e não eram poucos, só tinham olhos para Vassilissa, cada vez mais formosa. E nem olhavam para as filhas da madrasta. Esta ficava furiosa, e só respondia a todos os pretendentes que não concederia a mão da mais nova antes que as duas mais velhas se casassem. E depois de despachar o pretendente, ela descontava sua raiva maltratando Vassilissa. Um dia, o pai de Vassilissa, teve de partir para uma longa viagem de negócios, e foi então que a madrasta se aproveitou da sua ausência para se vingar da enteada. Mudou-se logo para outra casa, que ficava à beira da floresta, onde, todos sabiam, vivia a malvada bruxa Baba-Iága, que não deixava ninguém se aproximar dela. Quem se aproximasse, ela devorava como se fosse um frango. Então a madrasta começou a mandar Vassilissa para a floresta toda hora, buscar uma coisa ou outra, esperando que a menina caísse nas garras da bruxa perversa.

        Mas Vassilissa voltava sempre, incólume, porque a bonequinha lhe indicava o caminho certo, e não deixava aproximar-se da cabana da Baba-Iága.

        Não sabendo mais o que inventar, certo dia, ao anoitecer, a madrasta apagou as velas da casa, só para mandar Vassilissa buscar fogo. E quem tinha fogo sempre, todos sabiam, era só a Baba-Iága.

        -- Vai procurar a Baba-Iága e não te atrevas a voltar sem o fogo!

        -- Eu vou e vou levar o meu jantar. Pegou a trouxinha com sua escassa comida, e logo as três a empurraram para fora da casa, para o escuro da noite.

        Assim que se afastou da casa, a menina sentou-se num tronco caído e começou a alimentar a sua bonequinha.

        Come, boneca-beleza, e ouve a minha tristeza! Estão me mandando para a Baba-Iága, buscar fogo! A bruxa vai me devorar!

        A bonequinha comeu e seus olhos brilharam:

        -- Não tenhas medo, Vassilissa. Vai para onde te mandaram, mas não te separes de mim. Contigo, nenhum mal acontecerá.
Vassilissa pôs a bonequinha no bolso do avental, fez o sinal da cruz e entrou na floresta, trémula. Andou um pouco, e, de repente, viu, passando a galope na sua frente, um cavaleiro todo branco, vestido de branco, sobre um corcel branco. E começou a amanhecer.

        Andou mais um pouco, e viu outro cavaleiro, todo vermelho, vestido de vermelho, sobre um corcel vermelho. E começou a nascer o sol.

        Vassilissa, andou e andou, e, só ao entardecer do dia seguinte, chegou à clareira onde ficava a cabana da Baba-Iága. A cerca em volta da casa era toda feita de ossos humanos, encabeçados por crânios espetados neles, com olhos humanos nas órbitas. O trinco do portão era uma boca humana cheia de dentes aguçados. E a casinha era construída sobre grandes pés de galinha.

        Vassilissa parou, petrificada de susto. Nisso passou galopando outro cavaleiro, todo negro, vestido de negro, sobre um corcel negro. E fez-se noite.

        Mas a escuridão durou pouco, pois os olhos de todas as caveiras da cerca se acenderam como brasas vivas, e ficou claro como o dia.

        Vassilissa, morta de medo, não sabia o que fazer e ficou parada no lugar, como enraizada. Nisso, ouviu, vindo da floresta, um grande barulho. Era a Baba-Iága, acocorada no seu pilão, apagando os rastros com a vassoura, desgrenhada e feia de meter medo!

        Unf, unf!!! Sinto cheiro de carne humana! Quem está aqui?

        Vassilissa, trémula, aproximou-se da bruxa e disse:

        Sou eu vovozinha! Sou Vassilissa, a madrasta e suas filhas me mandaram aqui para te pedir fogo.

        Está bem, disse a bruxa. Eu as conheço. Mas tu, Vassilissa, antes terás de ficar morando e trabalhando um tempo aqui comigo, então te darei fogo. Senão eu te devoro!

        Durante o dia inteiro, a bruxa deu tarefas, muito pesadas, para a menina cumprir, e para servi-la desde a manhã até a noite. Era varrer e lavar, cozinhar e cuidar da horta, limpar o quintal, lavar e passar roupa, trazer bebidas do porão, tudo isso Vassilissa tinha que fazer… E só conseguia dar conta do serviço graças à ajuda da bonequinha, que trazia sempre no bolso do avental e não mostrava à bruxa.

        No dia seguinte, a bruxa acordou de madrugada, olhou em volta, viu que todo o serviço estava feito, e ficou aborrecida por não ter do que reclamar. Espiou pela janela, lá fora passou galopando o cavaleiro branco, e a manhã clareou. A bruxa saiu da casa, assobiou, e o seu pilão apresentou-se à sua frente, com a mão e a vassoura. Passou galopando o cavaleiro vermelho, e surgiu o sol. A Baba-Iága embarcou no pilão e saiu voando baixo, deixando Vassilissa sozinha em casa. A bonequinha fez todo o serviço pesado, e só deixou a menina arrumar a mesa e aguardar a bruxa.

        Quando saiu de casa a bruxa mandou que a menina separasse os grãos bons dos carunchados. Tudo deveria estar pronto quando ela voltasse para casa, caso contrário ela comeria. A menina pediu ajuda à sua boneca e esta lhe disse que não tivesse medo, que comesse, fizesse suas orações e dormisse, pois a noite é boa conselheira.

        Na manhã seguinte quando acordou, a menina olhou pela janela e viu que os olhos das caveiras já estavam se fechando. O cavaleiro branco passou e nasceu o dia. A bruxa saiu e a menina ficou sozinha em casa admirando seus móveis e objetos. Quando começou a pensar na tarefa dos grãos a sua boneca já tinha resolvido tudo. Quando a bruxa chegou e viu tudo resolvido, ficou furiosa pois não sabia como colocar defeito. A bruxa então, gritou: Meus fiéis servos, moam os grãos para mim. Surgiram três pares de mãos de esqueletos e levaram os grãos.

        A bruxa deu a ordem para o dia seguinte, dizendo que a menina deveria repetir a tarefa do dia anterior e, além disso, separar as sementes de papoula. Quando retornou à noite ficou muito brava, mas chamou as mãos dos esqueletos e mandou que extraíssem o óleo das sementes de papoula.

        Enquanto a Baba-Iága jantava, Vassilissa ficou por perto, silenciosa. A bruxa perguntou: por que você está olhando sem dizer nada? Você é muda?

        A menina respondeu: se pudesse, gostaria de lhe fazer umas perguntas.

        Pergunte, disse a bruxa, mas lembre-se, nem todas as perguntas são boas. Saber demais envelhece.!

        Vassilissa então perguntou: gostaria de saber quem é o homem que vi no caminho todo de branco. Quem é ele?

        Esse é o meu dia luminoso, disse a bruxa.

        Mas passou também um homem todo vestido de vermelho.

        É o meu sol vermelho, disse a bruxa.

        Mas quando cheguei no portão o homem que passou estava todo de negro.

        Essa é a minha noite, o escuro!

        A menina pensou nos três pares de mãos de esqueletos, mas não fez mais perguntas, ficou quieta.

        Baba-Iága disse: por que não faz mais perguntas?

        A menina respondeu que essas eram suficientes, acrescentando: você mesma disse, vovó, que perguntar demais envelhece.

        A bruxa replicou: Você fez bem em perguntar só a respeito do que viu lá fora e não do que viu aqui dentro de casa. Não gosto quando a sujeira é levada para fora. Mas agora eu quero perguntar uma coisa para você: Como conseguiu fazer todas as tarefas que lhe dei?

        A menina respondeu: A benção de minha mãe me ajudou, respondeu a menina. (não falou da boneca).

        Ah!!! Então foi isso? Dê o fora daqui, filha abençoada, eu não preciso de nenhuma benção em minha casa.

        Assim, Baba-Iága pôs a menina para fora de sua casa, empurrando-a pelo portão. Mas, tirou da cerca, uma das caveiras com seus olhos flamejantes, colocou-a num pau e deu para a menina dizendo: Aqui está o fogo para suas irmãs e sua madrasta, pegue-o e leve-o para casa.

        A menina saiu correndo da casa da bruxa e entrou na floresta somente com a luz da caveira, mas esta extinguiu-se assim que o dia clareou. Ela só chegou em casa na noite seguinte depois de muito caminhar, mas quando chegou perto do portão, pensou em jogar fora a caveira, mas uma voz lhe falou: Não faça isso, leve-me até sua madrasta.

        Assim fez a menina. Quando entrou com o fogo que se acendera sozinho, os olhos da caveira se fixaram na madrasta e em suas filhas queimando suas almas e perseguindo-as aonde fossem se esconder. Ao amanhecer as três tinham virado cinzas. Só Vassilissa escapou.

        A menina enterrou a caveira, fechou a casa e foi para a cidade.
Caminhou bastante e chegando à feira, encontrou uma boa velhinha que estava fiando tecido para a roupa do rei. Ela pediu que lhe ensinasse e a boa velhinha assim o fez. A cada dia a menina fiava melhor e um dia o rei foi até o mercado saber quem estava tecendo aqueles lindos tecidos e conheceu-a.

        O rei pediu que ela fosse morar no seu castelo, pois logo apaixonou-se pela bela moça. Ela aceitou, mas com a condição de levar a pobre velha. O rei aceitou.

        Os dois casaram e estavam muito felizes, quando o pai da Vassilissa voltou da viagem e estava procurando-a por toda parte até que soube onde ela estava e foi visitá-la. O rei convidou-o a morar com eles e assim, o pai voltou a viver com a filha verdadeira e tão querida!

Conto russo.

Entendendo o conto:

01 – O que você achou dessa história?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Que temáticas são abordadas no conto?

      Aborda temas de bravura, perseverança, sabedoria e, as vezes, contém elementos sobrenaturais e misteriosos.

03 – Quais os personagens principais da história?

      Os personagens principais são: Vassilisa; Baba Yagá; A boneca encantada; O pai de Vassilisa; A madrasta e meia Irmãs.

04 – Em uma narrativa, é necessário que exista um conflito gerador d desequilíbrio. Qual é o elemento causador do conflito no conto lido?

      O elemento causador do conflito é uma tarefa imposta pela madrasta de Vassilisa, buscar um fogo puro, como se tentasse garantir que a tarefa seja impossível.

05 – Numere os acontecimentos (fatos), na ordem em que aparecem no conto:

(1) Quando sua Majestade pousou os olhos em Vassilisa, imediatamente apaixonou-se perdidamente por ela, pediu-a em casamento e a transformou em sua rainha.

(2) A mãe de Vassilisa lhe dá de presente uma bonequinha mágica.

(3) A bruxa foi empurrando Vassilisa para fora de sua cabana.

06 – A casa é descrita como uma construção mágica e impressionante. Algumas características citadas são:

      - Patas de Galinha. Volta-se para o Bosque.

      - Olhos luminosos.

      - Cerca de Ossos Humanos.

 

 

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