Conto: Vassilissa, a formosa
Tatiana Belinky
Há muito, muito tempo, num certo reino
distante, vivia um rico mercador, com sua mulher e uma única filha. A menina
chamava-se Vassilissa, e era bonita e meiga como uma flor. Mas um dia quando
Vassilissa tinha apenas 8 anos, sua mãe ficou muito doente, e, sentindo que ia
morrer, chamou a filha, tirou de sob as cobertas uma pequena boneca e lhe
entregou dizendo:
-- Escuta, Vassilissa, minha filha, as
minhas últimas palavras. Ao morrer deixo-te a minha bênção e esta bonequinha,
que deverás trazer sempre contigo. Não a mostres a ninguém, e quando te
acontecer algum desgosto, dá-lhe de comer e beber, e pede-lhe conselhos. Depois
de alimentada, ela te dirá o que fazer para te ajudar na desgraça.
Algum tempo depois da morte da mãe, seu
pai casou-se de novo, com uma viúva que tinha duas filhas, pouco mais velhas do
que Vassilissa, pensando que isso seria bom para sua filhinha órfã de mãe. Mas
enganou-se, porque a madrasta não gostava da enteada. Ela e as filhas invejavam
a sua beleza, e atormentavam-na com toda sorte de trabalhos e encargos pesados,
para que ela ficasse magra e feia.
Vassilissa suportava tudo pacientemente
e, apesar da vida dura que levava, ficava cada vez mais bonita, passou a ser
chamada de Vassilissa, a formosa, enquanto a madrasta e suas filhas iam ficando
cada vez mais feias e secas, de tanta ruindade, mesmo passando o tempo todo
comendo, sem fazer nada.
Como isso era possível? É que a
bonequinha que a mãe lhe dera ajudava a menina, que muitas vezes deixava de
comer só para com sua porção alimentar a boneca, sempre à noite, depois que
todos se deitavam. Ela lhe dava de comer dizendo: Come, boneca-beleza, e ouve
minha tristeza! E lhe contava os seus problemas. A boneca escutava, dava-lhe
conselhos e a mandava dormir. E pela manhã todo o trabalho já aparecia feito,
enquanto a menina descansava na sombra e colhia flores. Assim ela ia vivendo.
Passaram alguns anos, e as meninas
chegaram à idade de ficar noivas. Mas todos os pretendentes que apareciam, e
não eram poucos, só tinham olhos para Vassilissa, cada vez mais formosa. E nem
olhavam para as filhas da madrasta. Esta ficava furiosa, e só respondia a todos
os pretendentes que não concederia a mão da mais nova antes que as duas mais
velhas se casassem. E depois de despachar o pretendente, ela descontava sua
raiva maltratando Vassilissa. Um dia, o pai de Vassilissa, teve de partir para
uma longa viagem de negócios, e foi então que a madrasta se aproveitou da sua
ausência para se vingar da enteada. Mudou-se logo para outra casa, que ficava à
beira da floresta, onde, todos sabiam, vivia a malvada bruxa Baba-Iága, que não
deixava ninguém se aproximar dela. Quem se aproximasse, ela devorava como se
fosse um frango. Então a madrasta começou a mandar Vassilissa para a floresta
toda hora, buscar uma coisa ou outra, esperando que a menina caísse nas garras
da bruxa perversa.
Mas Vassilissa voltava sempre,
incólume, porque a bonequinha lhe indicava o caminho certo, e não deixava
aproximar-se da cabana da Baba-Iága.
Não
sabendo mais o que inventar, certo dia, ao anoitecer, a madrasta apagou as
velas da casa, só para mandar Vassilissa buscar fogo. E quem tinha fogo sempre,
todos sabiam, era só a Baba-Iága.
-- Vai procurar a Baba-Iága e não te
atrevas a voltar sem o fogo!
-- Eu vou e vou levar o meu jantar.
Pegou a trouxinha com sua escassa comida, e logo as três a empurraram para fora
da casa, para o escuro da noite.
Assim que se afastou da casa, a menina
sentou-se num tronco caído e começou a alimentar a sua bonequinha.
Come, boneca-beleza, e ouve a minha
tristeza! Estão me mandando para a Baba-Iága, buscar fogo! A bruxa vai me
devorar!
A bonequinha comeu e seus olhos
brilharam:
-- Não tenhas medo, Vassilissa. Vai para
onde te mandaram, mas não te separes de mim. Contigo, nenhum mal acontecerá.
Vassilissa pôs a bonequinha no bolso do avental, fez o sinal da cruz e entrou
na floresta, trémula. Andou um pouco, e, de repente, viu, passando a galope na
sua frente, um cavaleiro todo branco, vestido de branco, sobre um corcel
branco. E começou a amanhecer.
Andou mais um pouco, e viu outro
cavaleiro, todo vermelho, vestido de vermelho, sobre um corcel vermelho. E
começou a nascer o sol.
Vassilissa, andou e andou, e, só ao
entardecer do dia seguinte, chegou à clareira onde ficava a cabana da
Baba-Iága. A cerca em volta da casa era toda feita de ossos humanos,
encabeçados por crânios espetados neles, com olhos humanos nas órbitas. O
trinco do portão era uma boca humana cheia de dentes aguçados. E a casinha era
construída sobre grandes pés de galinha.
Vassilissa parou, petrificada de susto.
Nisso passou galopando outro cavaleiro, todo negro, vestido de negro, sobre um
corcel negro. E fez-se noite.
Mas a escuridão durou pouco, pois os
olhos de todas as caveiras da cerca se acenderam como brasas vivas, e ficou
claro como o dia.
Vassilissa, morta de medo, não sabia o
que fazer e ficou parada no lugar, como enraizada. Nisso, ouviu, vindo da floresta,
um grande barulho. Era a Baba-Iága, acocorada no seu pilão, apagando os rastros
com a vassoura, desgrenhada e feia de meter medo!
Unf, unf!!! Sinto cheiro de carne
humana! Quem está aqui?
Vassilissa, trémula, aproximou-se da
bruxa e disse:
Sou eu vovozinha! Sou Vassilissa, a
madrasta e suas filhas me mandaram aqui para te pedir fogo.
Está bem, disse a bruxa. Eu as conheço.
Mas tu, Vassilissa, antes terás de ficar morando e trabalhando um tempo aqui
comigo, então te darei fogo. Senão eu te devoro!
Durante o dia inteiro, a bruxa deu
tarefas, muito pesadas, para a menina cumprir, e para servi-la desde a manhã
até a noite. Era varrer e lavar, cozinhar e cuidar da horta, limpar o quintal,
lavar e passar roupa, trazer bebidas do porão, tudo isso Vassilissa tinha que
fazer… E só conseguia dar conta do serviço graças à ajuda da bonequinha, que
trazia sempre no bolso do avental e não mostrava à bruxa.
No dia seguinte, a bruxa acordou de
madrugada, olhou em volta, viu que todo o serviço estava feito, e ficou
aborrecida por não ter do que reclamar. Espiou pela janela, lá fora passou
galopando o cavaleiro branco, e a manhã clareou. A bruxa saiu da casa,
assobiou, e o seu pilão apresentou-se à sua frente, com a mão e a vassoura.
Passou galopando o cavaleiro vermelho, e surgiu o sol. A Baba-Iága embarcou no
pilão e saiu voando baixo, deixando Vassilissa sozinha em casa. A bonequinha
fez todo o serviço pesado, e só deixou a menina arrumar a mesa e aguardar a
bruxa.
Quando
saiu de casa a bruxa mandou que a menina separasse os grãos bons dos
carunchados. Tudo deveria estar pronto quando ela voltasse para casa, caso
contrário ela comeria. A menina pediu ajuda à sua boneca e esta lhe disse que
não tivesse medo, que comesse, fizesse suas orações e dormisse, pois a noite é
boa conselheira.
Na manhã seguinte quando acordou, a
menina olhou pela janela e viu que os olhos das caveiras já estavam se
fechando. O cavaleiro branco passou e nasceu o dia. A bruxa saiu e a menina
ficou sozinha em casa admirando seus móveis e objetos. Quando começou a pensar
na tarefa dos grãos a sua boneca já tinha resolvido tudo. Quando a bruxa chegou
e viu tudo resolvido, ficou furiosa pois não sabia como colocar defeito. A bruxa
então, gritou: Meus fiéis servos, moam os grãos para mim. Surgiram três pares
de mãos de esqueletos e levaram os grãos.
A bruxa deu a ordem para o dia
seguinte, dizendo que a menina deveria repetir a tarefa do dia anterior e, além
disso, separar as sementes de papoula. Quando retornou à noite ficou muito
brava, mas chamou as mãos dos esqueletos e mandou que extraíssem o óleo das
sementes de papoula.
Enquanto a Baba-Iága jantava,
Vassilissa ficou por perto, silenciosa. A bruxa perguntou: por que você está
olhando sem dizer nada? Você é muda?
A menina respondeu: se pudesse,
gostaria de lhe fazer umas perguntas.
Pergunte, disse a bruxa, mas lembre-se,
nem todas as perguntas são boas. Saber demais envelhece.!
Vassilissa então perguntou: gostaria de
saber quem é o homem que vi no caminho todo de branco. Quem é ele?
Esse é o meu dia luminoso, disse a
bruxa.
Mas passou também um homem todo vestido
de vermelho.
É o meu sol vermelho, disse a bruxa.
Mas
quando cheguei no portão o homem que passou estava todo de negro.
Essa é a minha noite, o escuro!
A menina pensou nos três pares de mãos
de esqueletos, mas não fez mais perguntas, ficou quieta.
Baba-Iága disse: por que não faz mais
perguntas?
A menina respondeu que essas eram
suficientes, acrescentando: você mesma disse, vovó, que perguntar demais
envelhece.
A bruxa replicou: Você fez bem em
perguntar só a respeito do que viu lá fora e não do que viu aqui dentro de
casa. Não gosto quando a sujeira é levada para fora. Mas agora eu quero
perguntar uma coisa para você: Como conseguiu fazer todas as tarefas que lhe
dei?
A menina respondeu: A benção de minha
mãe me ajudou, respondeu a menina. (não falou da boneca).
Ah!!! Então foi isso? Dê o fora daqui, filha
abençoada, eu não preciso de nenhuma benção em minha casa.
Assim, Baba-Iága pôs a menina para fora
de sua casa, empurrando-a pelo portão. Mas, tirou da cerca, uma das caveiras
com seus olhos flamejantes, colocou-a num pau e deu para a menina dizendo: Aqui
está o fogo para suas irmãs e sua madrasta, pegue-o e leve-o para casa.
A menina saiu correndo da casa da bruxa
e entrou na floresta somente com a luz da caveira, mas esta extinguiu-se assim
que o dia clareou. Ela só chegou em casa na noite seguinte depois de muito
caminhar, mas quando chegou perto do portão, pensou em jogar fora a caveira,
mas uma voz lhe falou: Não faça isso, leve-me até sua madrasta.
Assim fez a menina. Quando entrou com o
fogo que se acendera sozinho, os olhos da caveira se fixaram na madrasta e em
suas filhas queimando suas almas e perseguindo-as aonde fossem se esconder. Ao
amanhecer as três tinham virado cinzas. Só Vassilissa escapou.
A menina enterrou a caveira, fechou a
casa e foi para a cidade.
Caminhou bastante e chegando à feira, encontrou uma boa velhinha que estava
fiando tecido para a roupa do rei. Ela pediu que lhe ensinasse e a boa velhinha
assim o fez. A cada dia a menina fiava melhor e um dia o rei foi até o mercado
saber quem estava tecendo aqueles lindos tecidos e conheceu-a.
O rei pediu que ela fosse morar no seu
castelo, pois logo apaixonou-se pela bela moça. Ela aceitou, mas com a condição
de levar a pobre velha. O rei aceitou.
Os dois casaram e estavam muito
felizes, quando o pai da Vassilissa voltou da viagem e estava procurando-a por
toda parte até que soube onde ela estava e foi visitá-la. O rei convidou-o a
morar com eles e assim, o pai voltou a viver com a filha verdadeira e tão
querida!
Conto russo.
Entendendo o conto:
01 – O que você achou dessa
história?
Resposta pessoal
do aluno.
02 – Que temáticas são
abordadas no conto?
Aborda temas de
bravura, perseverança, sabedoria e, as vezes, contém elementos sobrenaturais e
misteriosos.
03 – Quais os personagens
principais da história?
Os personagens principais são: Vassilisa;
Baba Yagá; A boneca encantada; O pai de Vassilisa; A madrasta e meia Irmãs.
04 – Em uma narrativa, é
necessário que exista um conflito gerador d desequilíbrio. Qual é o elemento
causador do conflito no conto lido?
O elemento causador do conflito é uma
tarefa imposta pela madrasta de Vassilisa, buscar um fogo puro, como se
tentasse garantir que a tarefa seja impossível.
05 – Numere os acontecimentos
(fatos), na ordem em que aparecem no conto:
(1)
Quando sua Majestade pousou os olhos em Vassilisa, imediatamente apaixonou-se
perdidamente por ela, pediu-a em casamento e a transformou em sua rainha.
(2)
A mãe de Vassilisa lhe dá de presente uma bonequinha mágica.
(3)
A bruxa foi empurrando Vassilisa para fora de sua cabana.
06 – A casa é descrita como
uma construção mágica e impressionante. Algumas características citadas são:
- Patas de
Galinha. Volta-se para o Bosque.
- Olhos luminosos.
- Cerca de Ossos Humanos.
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