ROMANCE POLICIAL: O MISTÉRIO DO SOBRINHO PERFUMADO
(FRAGMENTO DO LIVRO: DEZ MISTÉRIOS PARA
RESOLVER)
Hélio de
Overal
- O que foi que aconteceu, desta vez?
- Enforcaram uma velha agiota, em Bonsucesso. Temos um suspeito, mas não
podemos provar nada contra ele. Esse suspeito, que esta detido na vigésima
primeira delegacia, é um sobrinho da vítima. Também temos uma testemunha que o acusa
de ter assassinado a velha, para roubar o dinheiro do cofre.
- Ah! Essa testemunha viu alguma coisa?
-
Ai é que está. Não viu, mas sentiu. A testemunha é um cego.
- Puxa! O caso é interessante, titio. Como é que um cego pode ser
testemunha de vista?
- Eu não disse que ele é testemunha de vista. Mas suas declarações
comprometem o rapaz. E o cego não teria interesse em acusar o suspeito se não
estivesse certo do que diz. O diabo é que o rapaz acabou confessando que esteve
no local do crime, mas nega ter enforcado a tia.
- Ele é o único herdeiro?
- Parece que sim. A velha não tem outros parentes mais chegados. Morava
sozinha e vivia de rendimentos e de emprestar dinheiro a juros.
- Comece pelo princípio, titio – pediu Zezinho, cruzando as pernas e
ajeitando um cacho de cabelos negros que teimava em cair sobre os seus óculos.
- O caso é o seguinte ontem à tarde, alguém ligou para a delegacia de
Bonsucesso e comunicou que havia uma mulher morta, num pardieiro de um beco, na
Avenida dos Democráticos. Uma patrulhinha, que estava nas proximidades, correu
ao local e ali encontrou o corpo da Sra. Matilde Rezende. A polícia já a
conhecia de nome e sabia que ela era agiota e avarenta, mas nunca a incomodou.
É difícil provar que os agiotas estão agindo fora da lei. [...] Ora, a
empregada jurou que a patroa tinha muito dinheiro naquele cofre.
- Ah! Então, temos uma empregada, hein?
- Sim. É uma outra velha, ausente na hora do crime. Tinha ido fazer
compras e só voltou quando a polícia já estava na casa. Ela disse que não sabia
quem tinha ido visitar a patroa, mas afirmou que o sobrinho dela é um marginal,
desempregado crônico, e andava de olho no dinheiro da tia.
- Nem todo desempregado é marginal,
titio. Assim como nem todo pistoleiro é bandido, pois a polícia também usa
pistola. Roubaram tudo do cofre? Se a vítima emprestava dinheiro a juros, devia
haver alguma promissória, ou vale, ou
essas coisas que eu não conheço direito...
- Havia outros papéis, na sala, mas jogados no chão. O assassino deve
ter obrigado a velha a abrir o cofre, para roubar o dinheiro. Só deixou os
documentos.
- E onde é que entra o cego? – perguntou Zezinho, deleitado com a
história. – O cego é um marginal, um camelô sem licença, que estava na entrada
do beco. Alguns vizinhos o viram ali, com um cachorro e um tabuleiro, desde
manhã cedo.
- Nem todo camelô é marginal – repetiu
Zezinho Sherlock. – A polícia tem o costume de dizer que o que não é direito
está torto, mas há um exagero nisso... E o que foi que esse cego viu? Ou
melhor: o que foi que ele pressentiu?
O Dr. Quental apanhou um papel datilografado em cima da escrivaninha e
consultou-o.
- Tenho aqui o depoimento do cego – disse, depois, mostrando o papel. –
Ele estava vendendo bijuterias, na entrada do beco, acompanhado pelo cachorro.
Quando os patrulheiros chegaram tentou fugir, com o tabuleiro na cabeça, mas um
soldado o apanhou logo adiante. Ele pensava que fosse o “rapa”.. Depois que o corpo da velha foi encontrado, o
testemunho do cego tornou-se muito
valioso.
- Por quê?
- Porque ele identificou o sobrinho da vítima, pelo perfume. Ouça o que
ele diz – e o delegado passou a ler um trecho do papel datilografado – “A certa
altura, ouvi uns passos pesados e um homem, usando um perfume de alfazema,
passou por mim e entrou no beco. E sei que era um homem porque seus passos eram
pesados, e ele pigarreou. Um minuto depois, senti uma outra vez o mesmo perfume
e o homem passou por mim, andando muito depressa, descabelado, quase correndo,
como se estivesse fugindo de alguma coisa. Aprendi a conhecer as pessoas pelos
passos e pelo cheiro. Direitinho como o meu cachorro.”
- Exatamente. O rapaz tem vinte e cinco anos e não exerce nenhuma
profissão. Já trabalhou como balconista de uma loja de ferragens, mas foi
despedido há três anos. Quando foi detido, negou ter estado na casa da tia, mas
o seu perfume o denunciou. Ele usa uma loção de lavanda inglesa.
- Certo – murmurou Zezinho. – Alfazema e lavanda inglesa é a mesma
coisa... E depois o rapaz acabou confessando que esteve no pardieiro?
- Pois é. Acabou confessando. Mas disse que encontrou a porta aberta e a
tia morta, na sala. [...] então saiu correndo e telefonou para a polícia, mas
não se identificou. O que é que você acha disso?
- Tudo me parece claro, titio – disse Zezinho Sherlock. – O sobrinho
perfumado pode estar dizendo a verdade, pois o cego é um grande mentiroso!
[...]
Por que Zezinho chegou a essa conclusão?
Fonte: Maxi: ensino
fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo
Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 4 p.88 a 92.
01. Que tipo de narrador o
texto apresenta? Comprove sua resposta com um trecho do texto.
Narrador-observador.
“O Dr. Quental leu e releu o depoimento do cego[...]”
02. Especifique, a seguir,
quais características atribuídas a cada um dos personagens.
a)
Zezinho
Sherlock:
Usava óculos,
tinha cabelos negros e cacheados, é o herói da história.
b)
Orlando
Quental:
Delegado,
chefe do Departamento Especial da Polícia.
c)
Sra.
Matilde Rezende:
Era agiota e
avarenta.
d)
Cego:
Um camelô sem
licença.
e)
Sobrinho
da vítima:
Desempregado
há três anos, usava um perfume de alfazema.
03. O mistério da história
que você leu corresponde a um crime. Sabendo disso, responda às questões a
seguir.
a)
Quando
o crime aconteceu?
O crime
aconteceu em um sábado à tarde.
b)
Onde?
A vítima foi
enforcada em um pardieiro de um beco, na Avenida dos Democráticos.
c)
Quem
foi a primeira pessoa a ver a vítima?
Tudo indica
que foi o sobrinho, pois ele alega ter encontrado a porta aberta e a tia morta
na sala, mas ele fugiu e telefonou para a polícia.
04. Nas histórias de
detetive, o modo como a narração acontece acaba por sugerir ao leitor suspeitos
que possam ter motivos ou um interesse para realizar o crime.
Que suspeito é sugerido
no texto? Justifique sua resposta.
O texto aponta
o sobrinho da vítima como suspeito de cometer o crime. A empregada afirma a
polícia que ele é um marginal, desempregado crônico e andava de olho no
dinheiro da tia.
05. Determine as
informações referentes à sequência narrativa da história,
a)
Situação
inicial:
Zezito
Sherlock visita o tio e fica sabendo do assassinato da Sra. Matilde Rezende.
b)
Conflito:
Há um
suspeito detido, sobrinho da vítima, mas nada se pode provar contra ele, pois,
a testemunha que o acusa de ter assassinado a tia é um cego.
c)
Clímax:
O delegado
Quental faz a leitura do depoimento da testemunha a Zezito.
d)
Desfecho:
Zezito
Sherlock esclarece o caso, dizendo que o cego é um grande mentiroso.
06. Na situação inicial, o
narrador afirma que Zezito Sherlock esclareceu o caso com a maior facilidade.
a)
Em
que momento o herói da história percebe que o sobrinho perfumado pode estar
dizendo a verdade?
Zezito
Sherlock percebe que o cego está mentindo ao ouvir seu testemunho, lido pelo
tio.
b)
Como
ele chega à conclusão de que o cego é um grande mentiroso?
O cego afirma
ter identificado o sobrinho por meio de seu perfume e de passo pesado, mas
também diz que ele estava descabelado, o que faz Zezito concluir que o camelô
não era cego (ou completamente cego).
07. Identifique os
personagens comuns às histórias de detetive:
a)
Detetives
– Zezinho Sherlock e o detetive Orlando Quental
b)
Vítima
– Sra. Matilde Rezende
c)
Suspeitos
– O cego e o sobrinho perfumado
d)
Culpado
– O cego
e)
Inocente
– O sobrinho perfumado
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