terça-feira, 29 de novembro de 2022

ROMANCE POLICIAL: O MISTÉRIO DO SOBRINHO PERFUMADO -(FRAG.LIVRO-DEZ MISTÉRIOS PARA RESOLVER)- HÉLIO DE OVERAL - COM GABARITO

 ROMANCE POLICIAL: O MISTÉRIO DO SOBRINHO PERFUMADO

(FRAGMENTO DO LIVRO: DEZ MISTÉRIOS PARA RESOLVER)

                                   Hélio de Overal

          Este caso, que Zezinho Sherlock também esclareceu com a maior facilidade, começou num sábado à tarde. Mas o nosso herói só soube dele no domingo, quando foi visitar o tio, o delegado Orlando Quental, chefe do Departamento Especial da Polícia. [...]

          - O que foi que aconteceu, desta vez?

          - Enforcaram uma velha agiota, em Bonsucesso. Temos um suspeito, mas não podemos provar nada contra ele. Esse suspeito, que esta detido na vigésima primeira delegacia, é um sobrinho da vítima. Também temos uma testemunha que o acusa de ter assassinado a velha, para roubar o dinheiro do cofre.

         - Ah! Essa testemunha viu alguma coisa?

         - Ai é que está. Não viu, mas sentiu. A testemunha é um cego.

         - Puxa! O caso é interessante, titio. Como é que um cego pode ser testemunha de vista?

          - Eu não disse que ele é testemunha de vista. Mas suas declarações comprometem o rapaz. E o cego não teria interesse em acusar o suspeito se não estivesse certo do que diz. O diabo é que o rapaz acabou confessando que esteve no local do crime, mas nega ter enforcado a tia.

           - Ele é o único herdeiro?

           - Parece que sim. A velha não tem outros parentes mais chegados. Morava sozinha e vivia de rendimentos e de emprestar dinheiro a juros.

            - Comece pelo princípio, titio – pediu Zezinho, cruzando as pernas e ajeitando um cacho de cabelos negros que teimava em cair sobre os seus óculos.

            - O caso é o seguinte ontem à tarde, alguém ligou para a delegacia de Bonsucesso e comunicou que havia uma mulher morta, num pardieiro de um beco, na Avenida dos Democráticos. Uma patrulhinha, que estava nas proximidades, correu ao local e ali encontrou o corpo da Sra. Matilde Rezende. A polícia já a conhecia de nome e sabia que ela era agiota e avarenta, mas nunca a incomodou. É difícil provar que os agiotas estão agindo fora da lei. [...] Ora, a empregada jurou que a patroa tinha muito dinheiro naquele cofre.

            - Ah! Então, temos uma empregada, hein?

            - Sim. É uma outra velha, ausente na hora do crime. Tinha ido fazer compras e só voltou quando a polícia já estava na casa. Ela disse que não sabia quem tinha ido visitar a patroa, mas afirmou que o sobrinho dela é um marginal, desempregado crônico, e andava de olho no dinheiro da tia.

            - Nem todo desempregado é marginal, titio. Assim como nem todo pistoleiro é bandido, pois a polícia também usa pistola. Roubaram tudo do cofre? Se a vítima emprestava dinheiro a juros, devia haver alguma promissória, ou  vale, ou essas coisas que eu não conheço direito...

             - Havia outros papéis, na sala, mas jogados no chão. O assassino deve ter obrigado a velha a abrir o cofre, para roubar o dinheiro. Só deixou os documentos.

              - E onde é que entra o cego? – perguntou Zezinho, deleitado com a história. – O cego é um marginal, um camelô sem licença, que estava na entrada do beco. Alguns vizinhos o viram ali, com um cachorro e um tabuleiro, desde manhã cedo.

             - Nem todo camelô é marginal – repetiu Zezinho Sherlock. – A polícia tem o costume de dizer que o que não é direito está torto, mas há um exagero nisso... E o que foi que esse cego viu? Ou melhor: o que foi que ele pressentiu?

             O Dr. Quental apanhou um papel datilografado em cima da escrivaninha e consultou-o.

             - Tenho aqui o depoimento do cego – disse, depois, mostrando o papel. – Ele estava vendendo bijuterias, na entrada do beco, acompanhado pelo cachorro. Quando os patrulheiros chegaram tentou fugir, com o tabuleiro na cabeça, mas um soldado o apanhou logo adiante. Ele pensava que fosse o “rapa”..  Depois que o corpo da velha foi encontrado, o testemunho  do cego tornou-se muito valioso.

            - Por quê?

            - Porque ele identificou o sobrinho da vítima, pelo perfume. Ouça o que ele diz – e o delegado passou a ler um trecho do papel datilografado – “A certa altura, ouvi uns passos pesados e um homem, usando um perfume de alfazema, passou por mim e entrou no beco. E sei que era um homem porque seus passos eram pesados, e ele pigarreou. Um minuto depois, senti uma outra vez o mesmo perfume e o homem passou por mim, andando muito depressa, descabelado, quase correndo, como se estivesse fugindo de alguma coisa. Aprendi a conhecer as pessoas pelos passos e pelo cheiro. Direitinho como o meu cachorro.”

            - Exatamente. O rapaz tem vinte e cinco anos e não exerce nenhuma profissão. Já trabalhou como balconista de uma loja de ferragens, mas foi despedido há três anos. Quando foi detido, negou ter estado na casa da tia, mas o seu perfume o denunciou. Ele usa uma loção de lavanda inglesa.

             - Certo – murmurou Zezinho. – Alfazema e lavanda inglesa é a mesma coisa... E depois o rapaz acabou confessando que esteve no pardieiro?

              - Pois é. Acabou confessando. Mas disse que encontrou a porta aberta e a tia morta, na sala. [...] então saiu correndo e telefonou para a polícia, mas não se identificou. O que é que você acha disso?

              - Tudo me parece claro, titio – disse Zezinho Sherlock. – O sobrinho perfumado pode estar dizendo a verdade, pois o cego é um grande mentiroso! [...]

             Por que Zezinho chegou a essa conclusão?

 OVERAL, Hélio de. Dez mistérios para resolver. Rio de Janeiro. Ediouro,1986. p.30-35.

Fonte: Maxi: ensino fundamental 2:multidisciplinar:6 º ao 9º ano/obra coletiva: Thais Ginicolo Cabral. 1.ed. São Paulo: Maxiprint,2019.7º ano Caderno 4 p.88 a 92.

 ENTENDENDO O TEXTO

01. Que tipo de narrador o texto apresenta? Comprove sua resposta com um trecho do texto.

Narrador-observador. “O Dr. Quental leu e releu o depoimento do cego[...]”

02. Especifique, a seguir, quais características atribuídas a cada um dos personagens.

a)   Zezinho Sherlock:

Usava óculos, tinha cabelos negros e cacheados, é o herói da história.

b)   Orlando Quental:

Delegado, chefe do Departamento Especial da Polícia.

c)   Sra. Matilde Rezende:

Era agiota e avarenta.

d)   Cego:

Um camelô sem licença.

e)   Sobrinho da vítima:

Desempregado há três anos, usava um perfume de alfazema.

03. O mistério da história que você leu corresponde a um crime. Sabendo disso, responda às questões a seguir.

a)   Quando o crime aconteceu?

O crime aconteceu em um sábado à tarde.

b)   Onde?

A vítima foi enforcada em um pardieiro de um beco, na Avenida dos Democráticos.

c)   Quem foi a primeira pessoa a ver a vítima?

Tudo indica que foi o sobrinho, pois ele alega ter encontrado a porta aberta e a tia morta na sala, mas ele fugiu e telefonou para a polícia.

04. Nas histórias de detetive, o modo como a narração acontece acaba por sugerir ao leitor suspeitos que possam ter motivos ou um interesse para realizar o crime.

Que suspeito é sugerido no texto? Justifique sua resposta.

O texto aponta o sobrinho da vítima como suspeito de cometer o crime. A empregada afirma a polícia que ele é um marginal, desempregado crônico e andava de olho no dinheiro da tia.

05. Determine as informações referentes à sequência narrativa da história,

a)   Situação inicial:

Zezito Sherlock visita o tio e fica sabendo do assassinato da Sra. Matilde Rezende.

b)   Conflito:

Há um suspeito detido, sobrinho da vítima, mas nada se pode provar contra ele, pois, a testemunha que o acusa de ter assassinado a tia é um cego.

c)   Clímax:

O delegado Quental faz a leitura do depoimento da testemunha a Zezito.

d)   Desfecho:

Zezito Sherlock esclarece o caso, dizendo que o cego é um grande mentiroso.

06. Na situação inicial, o narrador afirma que Zezito Sherlock esclareceu o caso com a maior facilidade.

a)   Em que momento o herói da história percebe que o sobrinho perfumado pode estar dizendo a verdade?

Zezito Sherlock percebe que o cego está mentindo ao ouvir seu testemunho, lido pelo tio.

b)   Como ele chega à conclusão de que o cego é um grande mentiroso?

O cego afirma ter identificado o sobrinho por meio de seu perfume e de passo pesado, mas também diz que ele estava descabelado, o que faz Zezito concluir que o camelô não era cego (ou completamente cego).

07. Identifique os personagens comuns às histórias de detetive:

a)   Detetives – Zezinho Sherlock e o detetive Orlando Quental

b)   Vítima – Sra. Matilde Rezende

c)   Suspeitos – O cego e o sobrinho perfumado

d)   Culpado – O cego

e)   Inocente – O sobrinho perfumado

 

 

 

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