Artigo de divulgação científica: VÍRUS GIGANTES? O QUE É ISSO?!
Alguém aí já ouviu falar em vírus
gigantes? Será que eles causam uma supergripe? Será que são do tamanho de um
inseto e estão voando por aí? Calma! Os chamados vírus gigantes não são tão
grandes a ponto de podermos vê-los a olho nu. Eles são enormes se comparados a
outros vírus. Mas há outras curiosidades em torno deles. Vamos conhecê-los?
Tupanvírus: considerado um vírus gigante. Imagem Centro de Microscopia da UFMG
Os vírus gigantes são diferentes de
tudo o que já era conhecido na biologia. Para entender um pouco sobre eles, é
preciso conhecer mais sobre vírus em geral. Vamos lá?
De uma forma geral, os vírus têm dentro
deles um código que guarda todas as suas informações, chamado código genético.
Esse código fica protegido por uma capa chamada capsídeo. Os vírus gigantes
apresentam os maiores códigos genéticos entre todos os vírus conhecidos até
hoje. Logo, têm também os maiores capsídeos.
Representação do Mimivírus. A imagem da esquerda mostra o capsídeo por dentro, com o código genético (DNA) enroladinho dentro do núcleo. Imagem Wikipédia
O
começo da história
Você deve estar se perguntando por que
é que os vírus gigantes são assunto agora? Será que eles são uma forma de vida
nova? Não, não são. Os vírus gigantes devem existir há muito tempo. A questão é
que, há cerca de 200 anos, quando os primeiros vírus foram descobertos, os
cientistas estavam filtrando algumas soluções e apenas os pequenos vírus (que
são a grande maioria) passavam pelos poros dos filtros. Os gigantes, por não
passarem, ficaram “escondidos” dos cientistas.
Só em 2003, um grupo de cientistas,
liderados pelo francês Didier Raoult, observando no microscópio, se deparou com
algo maior, do tamanho das bactérias. Mas, se fosse bactéria, não sobreviveria
em contato com antibióticos – e o “algo maior” sobreviveu. Se fosse
bactéria, poderia se dividir – e o “algo maior” não se dividia. Se fosse
bactéria, teria ainda outras características que o “algo maior” não tinha.
Continuando
a investigação
O que os cientistas viram no
microscópio era algo que, definitivamente, não poderia ser considerado uma
bactéria. Aliás nem poderia ser considerado algo vivo. O que poderia ser então?
Os cientistas tiveram uma grande ideia: colocaram aquilo que viram no
microscópio junto com ameba, um ser vivo que costuma hospedar bem bactérias,
fungos e… vírus!
Aí, veio a surpresa! Os cientistas
observaram que as amebas em contato com aquilo que observaram no microscópio
morriam. E foi assim que descobriram estar diante de um vírus diferente, um
vírus muito maior do que conheciam até então, um vírus… gigante!
O primeiro vírus gigante recebeu o nome
de Acanthamoeba polyphaga Mimivirus (APMV). Essa descoberta
entusiasmou outros cientistas, que começaram a pesquisar novos vírus gigantes
por todo o planeta. E novos vírus gigantes foram sendo descobertos nos mais
diferentes ambientes, como hospitais, água, solos profundos de oceanos, lagos
de água salgada e até na gelada Antártica.
Famílias de vírus gigantes
Os vírus gigantes foram divididos em
oito famílias. Eles são, em média, cinco a dez vezes maiores que os vírus
comuns. A família Mimiviridae, a mais estudada até hoje, foi a primeira a
ser criada a partir da descoberta do APMV, e inclui os vírus “brasileiros”
Sambavírus e Tupanvírus, que foram nomeados assim para homenagear a cultura do
Brasil.
Já os integrantes da família
Marseillevirus foram encontrados seis anos após o APMV, em 2009. Embora também
tenham sido descobertos na França e serem grandes na comparação com os vírus
comuns, são menores que o APMV. Em 2016, um vírus gigante encontrado no Brasil
foi incluído nessa família, o Brazilian marseillevirus.
Há
famílias de vírus gigantes em que os integrantes têm formato ovóide, outros têm
formato de rolha e outros têm formatos que lembram um personagem famoso
de videogame, o Pacman (também conhecido como “come-come”).
Ao alto, o Tupanvírus (no detalhe, a gente vê como ele é por dentro).
Acima, o Sambavírus.
Imagens Centro de Microscopia da UFMG
Vírus
brasileiros
O Tupanvírus e o Sambavírus,
descobertos no Brasil, são recobertos quase por completo por estruturas que
lembram fios de cabelo, as fibrilas. O Sambavírus é muito similar ao APMV, o
primeiro vírus gigante a ser descoberto. Já o Tupanvírus têm uma cauda
cilíndrica, que ainda não se sabe para que serve, e é completamente diferente
de todos os outros gigantes descritos até então.
E
sempre há mais novidades!
Por falar em novidades, há uma recente
e incrível curiosidade sobre essa família: existem vírus que “infectam” os mimivírus chamados
virófagos! Eles também são cerca de dez vezes menores que os vírus gigantes e
podem causar defeitos na sua replicação. Ainda não sabemos muitos sobre eles,
mas pode apostar que com a continuidade das pesquisas muitas outras informações
incríveis virão!
Vírus
contaminando vírus
Sabia que há vírus que infectam os
vírus gigantes da família Mimivírus? Conhecidos como virófagos, eles são dez
vezes menores que os vírus gigantes e podem causar defeitos na sua replicação.
Ainda não se sabe muito sobre eles, mas os pesquisadores estão atentos para
trazer novidades!
Juliana Cortines,
Gabriel Nunes, Juliana Oliveira e Victória Trindade Departamento de
Virologia, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Universidade Federal do
Rio de Janeiro.
CORTINES, J. et al.
Vírus gigantes? O que é isso?! Ciência Hoje das Crianças, nov. 2019. Disponível
em: http://chc.org.br/artigo/Virus-gigantes-o-que-e-isso/.
Acesso em: 12 mar. 2020.
Fonte: Língua
Portuguesa – Se liga nas linguagens – Área do conhecimento: Linguagens e suas
Tecnologias – Ensino Médio – 1ª edição – São Paulo, 2020 – Moderna – p. 89-92.
Entendendo o artigo de
divulgação científica:
01 – A evolução dos estudos
permitiu aos cientistas identificar e classificar parte dos vírus gigantes. Por
que esse processo não foi iniciado ainda no século XIX, quando os vírus foram
descobertos?
O procedimento
para separação de vírus, no século XIX, envolvia a passagem por um filtro cujos
poros retinham os vírus maiores. Assim, eles não eram encontrados.
02 – Já no século XXI, os
cientistas identificaram um elemento desconhecido e levantaram a hipótese de
ser uma bactéria.
a) Quais características os levaram a descartar essa hipótese?
O artigo cita a sobrevivência do elemento ao contato com
antibióticos e a impossibilidade de se dividir e afirma existirem, ainda,
outras características.
b) O processo para esse descarte revela procedimentos típicos da ciência. Com base no exemplo, explique esse processo.
Os cientistas fizeram testes apoiando-se no conhecimento que já
tinham. A reação da ameba ao novo elemento se mostrou compatível com o que
acontecia quando estava junto de vírus.
03 – O radical de origem
grega fag(o)- significa “comer”. Com base nele, explique o nome virófago.
O virófago é o
vírus que pode infectar e causar defeitos na replicação dos vírus gigantes da
família Mimivírus. O radical fag(o)- traduz a ideia de algo que destrói,
corrói.
04 – Todo texto pressupõe
uma relação de seu produtor com o leitor, mas, em alguns, essa relação é
enfatizada. Retome o artigo “Vírus gigantes? O que é isso?!” para observar esse
aspecto.
a) Quais estratégias evidenciam, no título e na linha fina, que o texto se dirige a crianças?
O título e a linha fina incluem perguntas que estimulam a curiosidade;
empregam um tom exagerado, que sugere que o assunto é surpreendente; recorrem a
hipóteses que supostamente correspondem às de uma criança.
b) Em relação ao leitor, qual é o propósito das frases “Vamos conhece-los?” e “Vamos lá?”?
As frases são convites para o leitor continuar a leitura.
c) Releia a parte “E sempre há mais novidades!”. Que efeito se busca com o emprego das frases exclamativas? Que outro recurso foi usado com o mesmo propósito?
As frases exclamativas sugerem que o assunto é muito interessante, o
que também ocorre com o emprego do termo incrível (“incrível curiosidade” e
“informações incríveis”).
05 – O artigo contém
ilustrações.
a) Qual é a função da representação do Mimivírus?
Os dados apresentados no texto verbal não são simples, por isso a
representação tem um valor didático; ela ajuda o leitor a entender a estrutura
interna dos vírus.
b) Na sua opinião, as fotografias incluídas no artigo são fundamentais para a compreensão do texto? Por quê?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Elas contribuem para a
compreensão da estrutura externa dos vírus e, assim, facilitam a compreensão do
conteúdo, mas que é possível compreendê-lo sem elas.
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