sábado, 5 de maio de 2018

TEXTO: A CARTA DE AMOR - ANDRÉ SINOLDI - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

Texto: A CARTA DE AMOR


          No momento em que Malvina ia pôr a frigideira no fogo, entrou a cozinheira com um envelope na mão. Isso bastou para que ela se tornasse nervosa. Seu coração pôs-se a bater precipitadamente e seu rosto se afogueou. Abriu-o com gesto decisivo e extraiu um papel verde-mar, sobre o qual se liam, em caracteres enérgicos, masculinos, estas palavras: “Você será amada…”.

        Malvina empalideceu, apesar de já conhecer o conteúdo dessa carta verde-mar, que recebia todos os dias, havia já uma semana. Malvina estava apaixonada por um ente invisível, por um papel verde-mar, por três palavras e três pontos de reticências. “Você será amada…”. Há uma semana que vivia como ébria.
       Olhava para a rua, e qualquer olhar de homem que se cruzasse com o seu, lhe fazia palpitar tumultuosamente o coração. Se o telefone tilintava, seu pensamento corria célere: talvez fosse “ele”. Se não conhecesse a causa desse transtorno, por certo Malvina já teria ido consultar um médico de doenças nervosas. Mandara examinar por um grafólogo a letra dessa carta. Fora em todas as papelarias à procura desse papel verde-mar e, inconscientemente, fora até ao correio ver se descobria o remetente no ato de atirar o envelope na caixa.
       Tudo em vão. Quem escrevia, conseguia manter-se incógnito. Malvina teria feito tudo quanto ele quisesse. Nenhum empecilho para com o desconhecido. Mas para que ela pudesse realizar o seu sonho, era preciso que ele se tornasse homem de carne e osso. Malvina imaginava-o alto, moreno, com grandes olhos negros, forte e espadaúdo!
        O seu cérebro trabalhava: seria ele casado? Não, não o era. Seria pobre? Não podia ser. Seria um grande industrial? Quem sabe?
      As cartas de amor, verde-mar, haviam surgido na vida de Malvina como o dilúvio, transtornando-lhe o cérebro.
        Afinal, no décimo dia, chegou a explicação do enigma. Foi uma coisa tão dramática, tão original, tão crível, que Malvina não teve nem um ataque de histerismo, nem uma crise de cólera. Ficou apenas petrificada.
        “Você será amada… se usar, pela manhã, o creme de beleza Lua Cheia. O creme Lua Cheia é vendido em todas as farmácias e drogarias. Ninguém resistirá a você, se usar o creme Lua Cheia.”
        Era o que continha o papel verde-mar, escrito em enérgicos caracteres masculinos.
         Ao voltar a si, Malvina arrastou-se até ao telefone:
         – Alô! É Jorge quem está falando? Já pensei e resolvi casar-me com você. Sim, Jorge, amo-o! Ora, que pergunta! Pode vir.
         A voz de Jorge estava rouca de felicidade!
         E nunca soube a que devia tanta sorte!

( André Sinoldi )
 Entendendo o texto:
01 – Substitua as palavras destacadas por sinônimos:
a)   Seu rosto se afogueou.
Corou.

b)   Seu pensamento corria célere.
Veloz, ligeiro.

c)   Quem escrevia, conseguia manter-se incógnito.
Escondido.

d)   Afinal, chegou a explicação do enigma.
         Mistério.

e)   Malvina arrastou-se até ao telefone.
Dirigiu.

f)    Seu coração pôs-se a bater precipitadamente.
        Aceleradamente.

g)   Ficou apenas petrificada.
Paralisada.

02 – Quem é o protagonista do texto lido?
      Malvina.

03 – Identifique a frase do texto que revela, com clareza, que Malvina reagia alucinadamente.
      “Há uma semana que vivia como ébria.”

04 – Que frase do texto revela que Malvina, se encontrasse o autor das cartas, lhe seria submissa?
      Todo dia a dama gastava uma a duas horas tentando ensinar o gato a falar.

05 – Qual é o elemento gerador do conflito nesta história?
      A carta anônima.




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