quinta-feira, 10 de maio de 2018

CRÔNICA: A PISCINA - FERNANDO SABINO - COM GABARITO

CRÔNICA: A PISCINA
                        Fernando Sabino


          Era uma esplêndida residência, na Lagoa Rodrigo de Freitas, cercada de jardins e tendo ao lado uma bela piscina. Pena que a favela, com seus barracos grotescos se alastrando pela encosta do morro, comprometesse tanto a paisagem.
          Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. De vez em quando surgia sobre a grade a carinha de uma criança, olhos grandes e atentos, espiando o jardim. Outras vezes eram as próprias mulheres que se detinham e ficavam olhando.
          Naquela manhã de sábado ele tomava seu gim-tônica no terraço, e a mulher um banho de sol, estirada, de maiô à beira da piscina, quando perceberam que alguém os observava pelo portão entreaberto.
          Era um ser encardido, cujos mulambos em forma de saia não bastavam para defini-la como mulher. Segurava uma lata na mão, e estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho. Por um instante as duas mulheres se olharam, separadas pela piscina.
          De súbito, pareceu à dona da casa que a estranha criatura se esgueirava, portão adentro, sem tirar os olhos dela. Ergueu-se um pouco, apoiando-se no cotovelo e viu com terror que ela se aproximava lentamente: já transpusera o gramado, atingia a piscina, agachava-se junto à borda de azulejo, sempre a olhá-la, em desafio e agora colhia água com a lata. Depois, sem uma palavra iniciou uma cautelosa retirada, meio de lado, equilibrando a lata na cabeça – e em pouco sumia-se pelo portão.
          Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena. Não durou mais de um ou dois minutos, mas lhe pareceu sinistra como os instantes tensos de silêncio e de paz que antecedem um combate.
          Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.

                 Fernando Sabino. A mulher do vizinho, Rio de Janeiro, 1976.

Vocabulário
Gim-tônica: bebida que consiste na mistura de gim, aguardente feita de cereais, com água tônica e limão.

Entendendo o texto:
I – Nas questões 1 a 7, marque a alternativa que é sinônimo da palavra ou expressão em negrito:
01 – “Era um ser encardido…”
a. (   ) encarnado                         b. (   ) feio       
c. (   ) velho                                  d. (X) sujo.

02 – “… estava parada, à espreita, silenciosa como um bicho.”
a. (   ) esperando                         b. (X) observando   
c. (   ) rindo                                  d. (   ) pensando.

03 – “… já transpusera o gramado…”
a. (   ) ganhara                             b. (   ) desviara    
c. (X) ultrapassara                       d. (   ) contornara.

04 – “… sempre a olhá-la, em desafio…”
a. (   ) desconfiada                       b. (   ) temerosa  
c. (   ) indiferente                          d. (X) provocante.

05 – “… iniciou uma cautelosa retirada…”
a. (   ) rápida                                b. (X) prudente      
c. (   ) temerosa                           d. (   ) vagarosa.

06 – “Lá no terraço, o marido, fascinado, assistiu a toda a cena.”
a. (X) deslumbrado                    b. (   ) temeroso  
c. (   ) entusiasmado                   d. (   ) furioso.

07 – “Não teve dúvida: na semana seguinte vendeu a casa.”
a. (   ) duplicidade                      b. (X) vacilação 
c. (   ) determinação                   d. (   ) convicção.

II – Marque a alternativa correta de acordo com o texto.
08 – No 1º parágrafo podemos perceber que a esplêndida residência situava-se:
a. (   ) num lugar desabitado
b. (X) próximo à encosta de um morro onde se alastrava uma favela
c. (   ) num bairro onde só havia residências luxuosas.
d. (   ) dentro da favela.

09 – No início do 2º parágrafo temos: Diariamente desfilavam diante do portão aquelas mulheres silenciosas e magras, lata d’água na cabeça. Disto podemos concluir que:
a. (   ) as mulheres vendiam água.
b. (   ) as mulheres gostavam de desfilar com latas na cabeça
c. (X) na favela não havia água
d. (   ) não havia água encanada na cidade.

10. Ao ver a mulher da favela entrar em seu jardim, a dona da casa ficou:
a. (   ) indiferente                       b. (   ) furiosa    
c. (X) aterrorizada                     d. (   ) alegre.

11 – Por que casa foi vendida?
      A casa foi vendida porque o incidente fez com que seus donos passassem a temer os habitantes da favela. Aquela pequena e rápida invasão poderia significar o início de uma série de invasões maiores.

9 comentários:

  1. Que fato na manhã de um sábado, chamou a atenção do casal da mansão?????

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  2. Por um
    instante as duas mulheres se olharam separadas pela piscina nesse momento a piscina passa a ser símbolo de quê?

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    1. Acho que desigualdade social, um abismo contrastante da situação das duas.

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  3. Qual é o clímax desfecho desta narrativa?

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  4. A água da piscina tinha significado diferente para as duas mulheres explique?

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    1. Para a mulher da mansão a água da piscina era só para tomar banho,mais para a mulher que estava querendo a água era apenas para matar a sede

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  5. POR QUE , PARA O MARIDO, A CENA LEMBRO OS
    MINUTOS QUE ANTECEDEM O COMBATE?

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