Poema: Isto
Fernando
Pessoa
Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!
Extraído de: Emilia
Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino Antônio. Novas palavras.
Literatura, gramática, redação e leitura, vol. 3. São Paulo, FTD, 1997.
Entendendo o poema:
01 – Qual é a principal
negação feita pelo eu lírico no início do poema?
A principal
negação feita pelo eu lírico é a de que ele "finja ou minta" no que
escreve. Ele afirma que sua escrita não é baseada na falsidade, mas sim em uma
forma diferente de sentir.
02 – De que forma o eu lírico
afirma "sentir" o que escreve?
O eu lírico
afirma sentir o que escreve "com a imaginação" e explicitamente
declara "Não uso o coração". Isso sugere que sua criação poética não
provém de emoções viscerais ou experiências pessoais diretas, mas de uma
elaboração mental e imaginativa.
03 – Como o poema descreve a
relação entre o que o eu lírico "sonha ou passa" e a "coisa
linda"?
O poema descreve
o que o eu lírico "sonha ou passa" (suas experiências e divagações)
como "um terraço / Sobre outra coisa ainda". Essa "outra coisa
ainda" é o que ele considera "linda". Isso implica que suas
vivências servem como um ponto de observação ou uma ponte para algo mais
profundo e esteticamente valioso, que reside além da realidade imediata.
04 – Por que o eu lírico
escreve "em meio / Do que não está ao pé"?
O eu lírico
escreve "em meio / Do que não está ao pé" porque ele se liberta do
"enleio" (ligações ou amarras da realidade concreta) e aborda o que
"não é" com seriedade. Isso reforça a ideia de que sua escrita
transcende o mundo físico e o tangível, explorando dimensões imaginárias e
conceituais.
05 – A quem o eu lírico
atribui a responsabilidade de "sentir" o poema?
No último verso,
o eu lírico atribui a responsabilidade de "sentir" o poema ao leitor:
"Sentir? Sinta quem lê!". Isso é uma característica marcante da
heteronímia e da poética de Pessoa, onde o poeta se distancia da emoção direta,
deixando para o público a tarefa de vivenciar e interpretar os sentimentos que
a obra pode evocar.
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