domingo, 14 de novembro de 2021

ARTIGO DE OPINIÃO: UM ARGUMENTO CÍNICO - JOÃO BATISTA VILLELA - VEJA - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: UM ARGUMENTO CÍNICO

                         João Batista Villela   

Certamente nunca terá faltado aos sonegadores  de  todos os  tempos  e  lugares o   confortável  pretexto  de que  o  seu  dinheiro  não  deve  ir  parar  nas  mãos  de  administradores  incompetentes  e  desonestos. Como pretexto, a invocação é insuperável e  tem  mesmo  a  cor  e  os  traços  do  mais  acendrado  civismo. Como argumento, no  entanto,  é  cínica  e  improcedente. Cínica porque a sonegação,  que  nesse  caso  se  pratica, não é  compensada por qualquer sacrifício ou contribuição que  atenda à necessidade de recursos  imanente a todos os erários, sejam eles bem ou mal administrados. Ora, sem recursos obtidos da comunidade não há policiamento, não   escolas  ou  hospitais. E sem serviços  públicos  essenciais,  não   Estado  e  não  pode haver sociedade política. Improcedentes porque a sonegação, longe de fazer melhores os maus governos, estimula-os à prepotência  e  ao  arbítrio,  além  de  agravar  a  carga  tributária  dos  que  não  querem  e  dos  que, mesmo  querendo,  não  têm  como  dela  fugir    os  que  vivem  de  salário,  por  exemplo.   Antes, é  preciso pagar,  até mesmo  para  que não  faltem  legitimidade  e  força moral  às  denúncias  de  malversação. É muito cômodo, mas não  deixa de ser, no  fundo, uma  hipocrisia, reclamar contra o  mau dos dinheiros públicos para cuja formação não tenhamos colaborado. Ou não tenhamos colaborado na proporção da nossa renda. 

 VILLELA, João Batista. Veja, 25 set. 1985 (in. Platão & Fiorin, 2003).

Entendendo o texto 

01.O conectivo no entanto, no terceiro período do texto, tem a função de:

a. Introduzir uma argumentação contrária, dizendo que a justificativa é cínica e improcedente.

          b. Admitir como pretexto a justificativa dos sonegadores.

          c. Dar início a uma argumentação contrária à ideia de que o Estado possa sobreviver sem arrecadar impostos e sem se prover de recursos.

         d. Dizer a causa pela qual considera cínico o argumento dos sonegadores.

         e. Admitir como pretexto a justificativa dos sonegadores.

 

02.Assinale a alternativa CORRETA de acordo com a leitura do texto:

a) Os sonegadores de impostos não os pagam sob a alegação de que os administradores do dinheiro público são competentes e honestos.

b) O argumento utilizado pelos sonegadores de impostos é desautorizado ao ser considerado um confortável pretexto para eles.

c) A justificativa para sonegar impostos é procedente porque a sonegação contribui para melhorar os maus governos, estimulando-os à prepotência e ao arbítrio.

d) Nenhuma das alternativas.

     03.  No contexto do período, o termo ―”imanente” é sinônimo de:

           a) Intrínseco.

           b) Obrigatório.

           c) Análogo.

           d) Nenhuma das alternativas.

 

04.O autor do texto procura derrubar um argumento. 

         a) Qual ideia se está querendo derrubar no texto acima? Quem possui tal ideia a ser derrubada?

       A ideia de que o dinheiro dos impostos não deve ir parar nas mãos de administradores incompetentes e desonestos.

       Os sonegadores possuem tal ideia.

        b) Separando o texto por períodos, observaremos que:

 

1º período: expõe o argumento usado pelos sonegadores. Por seleção lexical, o autor do texto mostra-se contrário a tal argumento ao usar a expressão “confortável pretexto”, isto é, uma falsa justificativa utilizada em proveito próprio;

 2º período: o enunciador admite a força do argumento e a sua aparência de elevado espírito cívico.

3º período: coesão por conexão - o conectivo "no entanto" (adversativo) inicia uma argumentação contrária ao exposto no período anterior. Os adjetivos em seguida confirmam o teor negativo da informação.

4º período: coesão por conexão - o conectivo "porque" indica a causa pela qual considera o argumento cínico.


5º período: o conectivo “Ora” confirma a ideia contrária anterior, introduzindo ideia conclusiva a respeito;

6º período: o conectivo “e” adiciona, reforça o argumento introduzido pela palavra “Ora” anteriormente;

7º período: após mostrar que o argumento é cínico (pesquisar no dicionário o que significa “cínico”), agora o autor vai demonstrar porque ele é improcedente (sendo coerente com a sequência de ideias expostas acima). A conjunção causal “porque” inicia a afirmação ao mostrar o motivo: a sonegação, ao invés de contribuir para melhorar os maus governos, estimula-os à prepotência e ao arbítrio. o conectivo “além de” introduz mais um argumento a favor da improcedência: o agravamento da carga tributária sobre os assalariados que não têm como fugir dela;

8º período: o conectivo “Antes” (sinônimo de “ao contrário”) introduz um argumento a favor do pagamento de impostos. “Até mesmo” inicia argumento que reforça essa ideia;

9º período: o conectivo “mas” relaciona duas ideias, mostrando contrariedade: é muito cômodo reclamar contra o mau uso do dinheiro público x isso é hipocrisia quando não se colaborou com a arrecadação desse dinheiro;

10º período: o conectivo “ou” introduz alternativa ao raciocínio hipócrita, indicando contribuição abaixo daquilo que deveria ser.

 

 

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