segunda-feira, 1 de novembro de 2021

ARTIGO DE OPINIÃO: CIÊNCIA BRASILEIRA, ÚLTIMOS SUSPIROS? HELENA NADER E LUIZ DAVIDOVICH - COM GABARITO

 Artigo de opinião: Ciência brasileira, últimos suspiros?

        Helena Nader e Luiz Davidovich

        Há 30 anos, uma semente de soja plantada no solo do Mato Grosso, se germinasse, não floresceria. Neste ano, o Estado produzirá 30 milhões de toneladas da oleaginosa.

        Na década de 1940, a produtividade média do plantio de soja no Brasil era de 700 kg por hectare; hoje, é de 3.000 kg/h, e há produtores que já conseguem extrair 8.000 kg/h.

        Milagre? Não, ciência e tecnologia. Pesquisadores da Embrapa e de nossas universidades conseguiram fazer a soja, originária de regiões de clima temperado, produzir em abundância em regiões de baixas latitudes e clima quente. O Brasil é vice­-líder na produção, com 108 milhões de toneladas.

        No mar, não foi diferente. A Petrobras ultrapassou a camada pré-­sal e descobriu petróleo em profundidades jamais alcançadas. Vidência? Não, ciência e tecnologia.

        Cientistas e engenheiros do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes), somados a colegas de universidades brasileiras, são os primeiros artífices do sucesso da empresa em águas superprofundas e, portanto, protagonistas da autossuficiência brasileira no setor.

        Na década de 1940, o então tenente­ coronel Casimiro Montenegro Filho dava os primeiros passos para a construção da indústria aeronáutica no país. O Brasil nem sequer fabricava bicicletas, mas já começava a esboçar a Embraer, hoje terceira maior fabricante de aviões do planeta. Premonição? Não, ciência e tecnologia.

        As raízes da Embraer estão no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) e no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), duas instituições baseadas no conhecimento idealizadas por Montenegro há mais de 70 anos.

        Histórias de sucesso como essas não se repetirão em nosso país: os recentes cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações terão como consequência o desmonte dessas atividades no país.

        O aperto do cinto orçamentário começou em 2014, aumentou em 2015 e se agravou em 2016. Em 2017, piorou ainda mais: nossa ciência será tratada a pão e água.

        Os cortes anunciados pelo governo federal em 30 de março estabelecem o orçamento do ministério neste ano em R$ 3,275 bilhões para custeio e investimentos. Esse valor representa uma volta a 2005, quando o orçamento executado foi de R$ 3,249 bilhões.

        A diferença é que nesses 11 anos nosso sistema de ciência e tecnologia cresceu exponencialmente. Em 2006 publicamos 33.498 artigos em periódicos científicos indexados; em 2015, foram 61.122, o que fez o Brasil subir duas posições no ranking mundial de produção científica, alcançando o 13º lugar.

        Em 2006, nossos cursos de doutorado tinham 46.572 alunos e titularam 9.366 deles. Em 2015, foi o dobro: 102.365 e 18.625, respectivamente. Os programas de pós-graduação passaram de 2.266 para 3.828. Os grupos de pesquisa, em 2006, eram 21.024 e abrigavam 90.320 pessoas. Em 2016, passamos para 37.460 e 199.566, respectivamente.

        Essa evolução foi sustentada por um orçamento crescente. Em valores corrigidos pelo IPCA até 2016, o orçamento praticado no ano de 2005 foi de R$ 6,467 bilhões. O orçamento atual do ministério, após os cortes, corresponde a cerca de 50% desse valor, com o agravante de que agora estão inclusas as despesas do extinto Ministério das Comunicações.

        Como pesquisa e desenvolvimento não se fazem com milagres, clarividências ou premonições, mas sim com investimentos constantes, a ciência brasileira caminha para a ruína.

        Teremos um país talvez com um ajuste fiscal perfeito, mas com um atraso econômico e social digno de uma república de bananas ­exatamente o contrário dos países com economia moderna, baseada em ciência e tecnologia, como EUA, Alemanha, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul e China.

HELENA NADER, professora titular de biologia molecular da Unifesp, é presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

LUIZ DAVIDOVICH, professor titular do Instituto de Física da UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro, é presidente da Academia Brasileira de Ciências.

NADER, Helena; DAVIDOVICH, Luiz. Ciência brasileira, últimos suspiros? Folha de S. Paulo: São Paulo, 12 abr. 2017. Opinião, p. A3.

Fonte: Língua Portuguesa – Programa mais MT – Ensino fundamental anos finais – 9° ano – Moderna – Thaís Ginícolo Cabral. p. 332-340.

Entendendo o artigo de opinião:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Ajuste fiscal: processo em que se busca reequilibrar as receitas e as despesas de um governo, por meio da redução de gastos e/ou do aumento da arrecadação de impostos.

·        Artífice: trabalhador; quem cria ou inventa algo, autor.

·        Clima temperado: em que a temperatura não é muito alta nem muito baixa.

·        Exponencialmente: em grande quantidade.

·        Embrapa: sigla da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, uma instituição pública de pesquisas agropecuárias vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e fundada em 1973.

·        Hectare: unidade de medida agrária que corresponde a 10 mil m².

·        IPCA: sigla de Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, criado para medir a variação de preços para o consumidor final e, assim, verificar a inflação de um período. Ele é medido mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

·        Regiões de baixa latitude: regiões próximas da linha do Equador.

02 – Retome as ideias que você levantou antes da leitura do texto e comente com seus colegas e professor.

a)   Sua hipótese sobre a ideia defendida no texto se confirmou?

Resposta pessoal do aluno.

b)   A leitura do artigo de opinião atendeu à sua expectativa de antes da leitura? Justifique.

Resposta pessoal do aluno.

03 – Aponte qual trecho extraído do texto indica o fato que motivou a escrita do artigo de opinião.

I – Nesse ano, o Estado produzirá 30 milhões de toneladas de oleaginosa.

II – Como pesquisa e desenvolvimento não se fazem com milagres, clarividências ou premonições [...].

III – Os cortes anunciados pelo governo federal em 30 de março estabelecem o orçamento do ministério neste ano em R$ 3,275 bilhões para custeio e investimentos.

IV – Teremos um país talvez com um ajuste fiscal perfeito [...].

NADER, Helena; DAVIDOVICH, Luiz. Ciência brasileira, últimos suspiros? Folha de S. Paulo: São Paulo, 12 abr. 2017. Opinião, p. A3.

·        Por que os demais trechos são respostas incorretas? Explique.

A alternativa I é incorreta porque apresenta um fato secundário que serve à argumentação principal desenvolvida no artigo. Já os trechos II e IV representam a opinião dos autores sobre o tema em discussão.

04 – Os artigos de opinião costumam abordar assuntos e/ou acontecimentos atuais polêmicos, que foram noticiados e têm interesse público.

a)   Esse texto trata de que acontecimento relevante no âmbito social?

O texto lido trata de um acontecimento, relevante socialmente, que estava em pauta na época da publicação do artigo: a questão dos valores destinados ao investimento em Ciência e Tecnologia, pois impacta no desenvolvimento do país.

b)   Por que esse acontecimento pode ser considerado controverso?

Esse acontecimento pode ser considerado controverso porque o montante desse investimento não é um consenso. Há quem defenda que, em momentos de crise econômica, o governo deve remanejar essas verbas para outros setores.

05 – O artigo de opinião é um texto assinado que expressa um ponto de vista pessoal ou de um grupo.

a)   Quem são os autores do artigo de opinião lido?

Helena Nader e Luiz Davidovich.

b)   Que informações é possível obter sobre esses autores? Como é possível obtê-las?

É possível saber qual é a profissão e os cargos que eles ocupam nas instituições ligadas à Ciência. No final do artigo há uma breve apresentação que destaca as informações sobre cada autor.

c)   Qual é a relação dos autores com o tema abordado no artigo?

Os dois autores são professores universitários, pesquisadores e lideram instituições que congregam membros da comunidade científica brasileira.

06 – Sobre a recepção do artigo de opinião, responda:

a)   Os autores se dirigem a qual perfil de leitor? Justifique sua resposta.

A um perfil de leitor que costuma acompanhar o noticiário, pois os autores não apresentam muitos detalhes sobre o que levou ao corte orçamentário, pressupondo, assim, que os leitores tenham algum conhecimento sobre o tema em discussão.

b)   Com qual finalidade os autores apresentam essa discussão aos leitores?

Os autores apresentam a discussão a fim de sensibilizar os leitores para sua causa (contra os cortes orçamentários).

07 – O artigo de opinião é um gênero argumentativo que defende uma tese, ou seja, uma ideia central em torno da qual o texto se organiza.

a)   Como os autores se posicionam frente ao fato que motiva o texto?

Eles são contra os cortes feitos no orçamento destinado à área de pesquisa e tecnologia.

b)   Transcreva o parágrafo em que a tese do artigo lido fica evidente.

“Histórias de sucesso como essas não se repetirão em nosso país: os recentes cortes no orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações terão como consequência o desmonte dessas atividades no país.”

08 – Releia os três primeiros parágrafos do artigo de opinião.

a)   Os autores demonstram que a produção de soja no Brasil cresceu enormemente ao longo do tempo. Que dados eles utilizam para comprovar isso?

Dados a respeito da produção de soja no estado do Mato Grosso há trinta anos e hoje, e da produtividade do plantio de soja no Brasil na década de 1940 e hoje.

b)   A que se atribui o aumento de produtividade?

Ele é atribuído à ciência e à tecnologia, especialmente às pesquisas desenvolvidas pela Embrapa sobre a produção de soja.

c)   A que se refere a palavra oleaginosa no primeiro parágrafo?

Refere-se à soja.

09 – Releia os parágrafos 1° ao 7° do artigo de opinião.

a)   Em quais outros setores o Brasil se destacou, além da produção de soja?

O Brasil se destacou na exploração de petróleo a altíssima profundidade e na fabricação de aviões.

b)   Com que finalidade esses setores são destacados no texto?

Com a finalidade de exemplificar a importância da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento do país e mostrar que o desmonte dessas atividades, causado pelos cortes orçamentários, traria graves consequências para a nação.

10 – As frases a seguir foram retiradas desse artigo de opinião. Observe que há uma estrutura de pergunta-resposta que se repete três vezes, de maneira diferente.

I – Milagre? Não, ciência e tecnologia.

II – Vidência? Não, ciência e tecnologia.

III – Premonição? Não, ciência e tecnologia.

NADER, Helena; DAVIDOVICH, Luiz. Ciência brasileira, últimos suspiros? Folha de S. Paulo: São Paulo, 12 abr. 2017. Opinião, p. A3.

a)   Qual é o efeito dessa repetição no texto?

Ela dá ênfase à posição de que descobertas que beneficiam o país economicamente não são fruto de milagre, vidência ou premonição, mas sim da ciência e da tecnologia.

b)   Em que outro momento, no texto, a ideia expressa por essa repetição é retomada?

No parágrafo “Como pesquisa e desenvolvimento não se fazem com milagres, clarividências ou premonições, mas sim com investimentos constantes, a ciência brasileira caminha para a ruína.”

c)   Qual é o efeito dessa retomada de ideia?

Ao retomar essa ideia, os autores sintetizam a discussão feita no artigo e reforçam, na conclusão do artigo, sua tese de que é preciso investir nas áreas de ciência e tecnologia.

11 – Releia o trecho a seguir.

        “O aperto do cinto orçamentário começou em 2014, aumentou em 2015 e se agravou em 2016. Em 2017, piorou ainda mais: nossa ciência será tratada a pão e água.”

NADER, Helena; DAVIDOVICH, Luiz. Ciência brasileira, últimos suspiros? Folha de S. Paulo: São Paulo, 12 abr. 2017. Opinião, p. A3.

a)   Transcreva duas expressões que aparecem com linguagem figurada nesse trecho.

São as expressões aperto do cinto e a pão e água.

b)   De acordo com o contexto, qual é o sentido de cada uma dessas expressões?

A expressão apertar o cinto significa reduzir gastos e a pão e água significa com pouquíssimos recursos.

c)   Por que os autores optaram pelo uso da linguagem figurada?

Ao optar pela linguagem figurada, os autores deixam explícito seu posicionamento a respeito dos cortes e também seu julgamento sobre o modo como o governo lida com a política pública para C&T.

d)   Esse trecho ainda apresenta uma gradação. Identifique e explique o efeito de sentido que esse recurso expressivo provoca.

A gradação ocorre com a enumeração dos verbos começou, aumentou, se agravou e piorou. Essa construção e a escolha lexical fazem com que o leitor atente para a posição levantada pelos autores: a crescente piora da situação orçamentária para C&T.

12 – Por que razão os autores utilizam diversos dados numéricos referentes à produção científica nacional?

      Para comprovar que o sistema de ciência e tecnologia cresceu nos últimos 11 anos em razão de os valores para a área terem sido corrigidos pelo IPCA nesse período.

13 – A partir da apresentação dos dados numéricos e das porcentagens, é possível chegar a qual conclusão?

      A conclusão de que a ciência brasileira só pode continuar progredindo se o governo corrigir o orçamento de acordo com a inflação. Com o corte de investimentos pela metade, não será possível avançar no setor.

14 – Há vários tipos de argumento que podem ser usados para comprovar uma tese.

·        Observe o quadro e preencha-o, associando o tipo de argumento aos parágrafos correspondentes no texto, observando como os autores organizam seus argumentos.

Tipo de argumentoParágrafoscomentário

Causa-consequência: 1° ao 7° -- Os autores trazem histórias de sucesso ligadas à ciência para afirmar que a falta de investimento causará o desmonte do setor.

Comparação: 15° -- Os autores comparam o Brasil aos países desenvolvidos que, ao contrário do Brasil, investem em C&T.

Exemplificação: 11° e 12° -- Os autores exemplificam, com números, a produção cientifica nacional entre 2005 e 2011.

15 – Releia o penúltimo parágrafo do texto.

a)   Copie uma construção metafórica presente no parágrafo.

A construção metafórica é “a ciência brasileira caminha para a ruína”.

b)   Essa construção metafórica retoma qual ideia apresentada? Com qual finalidade?

Essa construção retoma a ideia já explicitada no título (“últimos suspiros”) e na tese (“desmonte do país”) de que, sem ciência, o país sofre grandes perdas, ou seja, se desestrutura por completo.

 

 

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