quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

CRÔNICA: PROVA FALSA - STANISLAW PONTE PRETA - COM GABARITO

Crônica: Prova Falsa
               Stanislaw Ponte Preta

        Quem teve a ideia foi o padrinho da caçula – ele me conta. Trouxe o cachorro de presente e logo a família inteira se apaixonou pelo bicho. Ele até que não é contra isso de se ter um animalzinho em casa, desde que seja obediente e com um mínimo de educação.
        — Mas o cachorro era um chato — desabafou.
        Desses cachorrinhos de raça, cheio de nhém-nhém-nhém, que comem comidinha especial, precisam de muitos cuidados, enfim, um chato de galocha. E, como se isto não bastasse, implicava com o dono da casa.

        — Vivia de rabo abanando para todo mundo, mas, quando eu entrava em casa, vinha logo com aquele latido fininho e antipático de cachorro de francesa.
        Ainda por cima era puxa-saco. Lembrava certos políticos da oposição, que espinafram o ministro, mas quando estão com o ministro ficam mais por baixo que tapete de porão. Quando cruzavam num corredor ou qualquer outra dependência da casa, o desgraçado rosnava ameaçador, mas quando a patroa estava perto abanava o rabinho, fingindo-se seu amigo.
        — Quando eu reclamava, dizendo que o cachorro era um cínico, minha mulher brigava comigo, dizendo que nunca houve cachorro fingido e eu é que implicava com o "pobrezinho".
        Num rápido balanço poderia assinalar: o cachorro comeu oito meias suas, roeu a manga de um paletó de casimira inglesa, rasgara diversos livros, não podia ver um pé de sapato que arrastava para locais incríveis.
        A vida lá em sua casa estava se tornando insuportável. Estava vendo a hora em que se desquitava por causa daquele bicho cretino. Tentou mandá-lo embora umas vinte vezes e era uma choradeira das crianças e uma espinafração da mulher.
        — Você é um desalmado — disse ela, uma vez.
        Venceu a guerra fria com o cachorro graças à má educação do adversário. O cãozinho começou a fazer pipi onde não devia. Várias vezes exemplado, prosseguiu no feio vício. Fez diversas vezes no tapete da sala. Fez duas na boneca da filha maior. Quatro ou cinco vezes fez nos brinquedos da caçula. E tudo culminou com o pipi que fez em cima do vestido novo de sua mulher.
        — Aí mandaram o cachorro embora? — perguntei. 
        — Mandaram. Mas eu fiz questão de dá-lo de presente a um amigo que adora cachorros. Ele está levando um vidão em sua nova residência.
        — Ué... mas você não o detestava? Como é que arranjou essa sopa pra ele?
        — Problema da consciência — explicou: — O pipi não era dele.
        E suspirou cheio de remorso.

                   Stanislaw Ponte Preta. In: Para gostar de ler, volume 13.
Histórias divertidas, São Paulo, Ática, 1997.
Vocabulário
Espinafram – criticam, falam mal
Casimira – tecido de lã, muito produzido na Inglaterra
Desalmado – desumano, cruel
Guerra fria – desentendimento que não chega à violência física
Exemplado – castigado
Culminou – atingiu o ponto máximo.

Entendendo a crônica:
01 – O texto está escrito em prosa ou verso? Essa forma é adequada ao texto?
      O texto está escrito em prosa, forma adequada ao tipo de texto.

02 – O texto “Prova Falsa” é uma crônica, isto é, um texto em que o autor conta fatos do cotidiano, com humor, ironia, estranheza, numa linguagem informal, descontraída. Qual o fato do cotidiano que originou a história?
      O fato real são as agruras de um cão dentro de casa.

03 – Quem narra a história para o leitor?
a) O antigo dono do cachorro.
b) Um amigo do antigo dono do cachorro.

c) O novo dono do cachorro.
04 – Quem teve a ideia de dar um cachorro àquela família?
      O padrinho do caçula.

05 – Como deveria ser o cachorro para agradar ao dono da casa?
      Obediente e com um mínimo de educação.

06 – O texto apresenta linguagem formal ou informal? Cite exemplos.
      A linguagem mais utilizada é informal: “Cheio de nhém-nhém-nhém; puxa-saco, vidão, pipi”, etc.

07 – O dono da casa compara o cachorro aos políticos da oposição. O que há em comum entre os dois?
      São puxa-sacos.

08 – Que pessoas do cotidiano aparecem na história? Esta história poderia acontecer na vida real? Explique.
      As pessoas citadas pertencem a uma família: mãe, pai, filhos. Poderia acontecer na vida real, pois muitas famílias têm cachorros que estragam e bagunçam a casa.

09 – O dono da casa dizia que o cachorro implicava com ele. A mulher concordava com essa opinião? O que ela dizia sobre isso?
      Não, a mulher dizia que nunca houve cachorro fingido e que ele é que implicava com o pobrezinho.

10 – A palavra “pobrezinho” aparece entre aspas na linha 21 para indicar:
a) tamanho pequeno                    
b) pobreza                         
c) deboche.

11 – O homem enumerou várias coisas que o cachorro fez. Cite-as. / Cite três delas.
     Comeu 8 meias, roeu a manga de um paletó e rasgou diversos livros.

12 – Ele tentou mandar o cachorro embora várias vezes, mas não deu certo. Por quê?
      Porque as crianças choravam e mulher brigava com ele.

13 – Afinal, o cachorro merecia ser mandado embora? Explique.
      Não, porque foi uma armação, o cachorro não tinha culpa, o pipi não era dele.

14 – Por que o título do texto é "Prova Falsa"?
      Porque o dono criou uma falsa prova contra o cachorro para mandá-lo embora.

15 – Qual o tempo verbal que predomina no texto? Esse tempo verbal é adequado ao tipo de texto? Por quê?
      O tempo verbal predominante é o Pretérito Imperfeito. É um tempo verbal adequado ao texto, pois narra fatos que estavam acontecendo no passado.

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