domingo, 9 de dezembro de 2018

POEMA: SEU DOTÔ ME CONHECE? PATATIVA DO ASSARÉ - COM GABARITO

Poema: SEU DOTÔ ME CONHECE?
     
                   Patativa do Assaré

Seu dotô, só me parece
Que o sinhô não me conhece
Nunca sôbe quem sou eu
Nunca viu minha paioça,
Minha muié, minha roça,
E os fio que Deus me deu.

Se não sabe, escute agora,
Que eu vô contá minha história,
Tenha a bondade de ouvi:
Eu sou da crasse matuta,
Da crasse que não desfruta
Das riqueza do Brasil.

Sou aquele que conhece
As privação que padece
O mais pobre camponês;
Tenho passado na vida
De cinco mês em seguida
Sem comê carne uma vez.

Sou o que durante a semana,
Cumprindo a sina tirana,
Na grande labutação
Pra sustentá a famia
Só tem direito a dois dia
O resto é pra o patrão.

Sou o que no tempo da guerra
Contra o gosto se desterra
Pra nunca mais vortá
E vai morrê no estrangêro
Como pobre brasilêro
Longe do torrão natá.

Sou o sertanejo que cansa
De votá, com esperança
Do Brasil ficá mió;
Mas o Brasil continua
Na cantiga da perua
Que é: pió, pió, pió...

Sou o mendigo sem sossego
Que por não achá emprego
Se vê forçado a seguí
Sem direção e sem norte,
Envergonhado da sorte,
De porta em porta a pedí.

Sou aquele desgraçado,
Que nos ano atravessado
Vai batê no Maranhão,
Sujeito a todo o matrato,
Bicho de pé, carrapato,
E os ataques de sezão.

Senhô dotô, não se enfade
Vá guardando essa verdade
Na memória, pode crê
Que sou aquele operário
Que ganha um nobre salário
Que não dá nem pra comê

Sou ele todo, em carne e osso,
Muitas vez, não tenho armoço
Nem também o que jantá;
Eu sou aquele rocêro,
Sem camisa e sem dinhêro,
Cantado por Juvená.

Sim, por Juvená Galeno,
O poeta, aquele geno,
O maió dos trovadô,
Aquele coração nobre
Que a minha vida de pobre
Muito sentido cantou.

Há mais de cem ano eu vivo
Nesta vida de cativo
E a potreção não chegou;
Sofro munto e corro estreito,
Inda tou do mermo jeito
Que Juvená me deixou.

Sofrendo a mesma sentença
Tou quase perdendo a crença,
E pra ninguém se enganá
Vou deixá o meu nome aqui:
Eu sou fio do Brasil,
E o meu nome é Ceará.

   Patativa do Assaré, poeta do interior cearense que fez do árduo cotidiano do sertanejo e da busca pela reforma agrária temas para o fazer poético.

Entendendo o poema:

01 – O texto foi escrito em que linguagem?
a)   Padrão.
b)   Caipira.
c)   Gíria.
d)   Sertaneja.

02 – Como você já percebeu as duas formas de falar do texto, então passe a primeira estrofe para a linguagem padrão.
      “Seu doutor, só me parece
      Que o senhor não me conhece,
      Nunca soube quem sou eu,
      Nunca viu minha casa,
      Minha mulher, minha plantação
      E os filhos que Deus me deu.”

03 – O personagem do texto fala de algumas riquezas, quais seriam elas?
      Estudo, luxo e mordomia.

04 – Qual é o assunto do poema?
      O árduo cotidiano do sertanejo e o abandono de uma gente brasileira tão trabalhadora e ávida por melhores dias.

05 – Na sua opinião, o que o dotô representa para o homem do campo?
      Um homem que tenha estudo.

06 – A partir da análise da linguagem utilizada no poema, infere-se que o eu lírico revela-se como falante de uma variedade linguística específica. Esse falante, em seu grupo social, é identificado como um falante.
a)   Escolarizado proveniente de uma metrópole.
b)   Sertanejo morador de uma área rural.
c)   Escolarizado que habita uma comunidade do interior do país.
d)   Escolarizado que habita uma comunidade urbana.

07 – Quantas estrofes tem o poema? E quantos versos?
      São 13 estrofes e 78 versos.




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