sábado, 2 de setembro de 2017

LEITURA: CAMINHO PARA A CIDADANIA E A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

LEITURA: CAMINHO PARA A CIDADANIA


        Ler e escrever são duas operações essenciais na sociedade moderna. Além de ser um eficiente instrumento para a exercício das atividades lúdicas e práticas, a leitura proporciona ao indivíduo a oportunidade de alargamento dos horizontes pessoais, culturais e profissionais, uma vez que a maioria das interações sociais e atividades profissionais, acadêmicas e científicas gira em torno da leitura e da escrita.
        O pesquisador e professor Paulo Andrade, doutorando em Estudos Literários na Unesp de Araraquara e autor do livro Torquato Neto: uma poética de estilhaços, além de vários ensaios em revistas especializadas, no artigo publicado na Página LITERATURA, no dia 12 de março de 2004, e reproduzido em partes abaixo, afirma que a “capacidade de leitura é condição fundamental para o exercício pleno da cidadania”.
        A capacidade de leitura, portanto, mais que simples decodificação, é condição fundamental para o exercício da cidadania. A importância cada vez maior da leitura e da escrita os estimula a refletir sobre a primeira, as funções que desempenha e a respeito das relações que se estabelecem entre o ato de ler e a escola, uma das principais matrizes geradoras de educação, como a família, o grupo social e os veículos de comunicação em massa.
        As principais funções sociais da leitura são: a leitura para fruição, deleite ou prazer; a leitura para a aquisição de informações de cultura geral, de atualização sobre o que ocorre na comunidade e no mundo; a leitura para fins de estudo e trabalho e a leitura para fins religiosos e de auto ajuda. A leitura, portanto, deve ser primeiramente uma opção individual prazerosa, não habitual, nem imposta.
        O prazer de ler surge na infância. A criança quando está na alfabetização sente grande prazer quando os adultos leem histórias para ela. A criança ouve, reconta, manuseia o livro e no outro dia pede que lhe contem a mesma história. A curiosidade pelo texto de leitura é marcante nessa faixa etária. Estatísticas educacionais provam que a frequência às bibliotecas, circulação de livros e projetos de leitura entre estudantes das fases iniciais do Ensino Fundamental são expressivas e superiores aos demais níveis. No entanto, ao entrar para o Ensino Médio, o próprio aluno declara que não gosta de ler. Questões como essa motivam pesquisadores a refletir o porquê desse problema e buscar soluções. E no Ensino Superior, para que serve leitura? Por que a maioria dos alunos não lê?
        Muitos, mas muitos alunos mesmo, sentem desgosto pela leitura, porque são mais atraídos pelas coisas mais fáceis, como a televisão, por exemplo. Mas os meios de comunicação não são os culpados, pois, cada um, a sua maneira, cumpre papéis importantes na sociedade. A alienação cultural de uma parcela da classe universitária é proveniente de diversos fatores, entre os quais, a ausência do apego à leitura como prática cultural nas famílias, desde a infância, prática que vai diminuindo e se perdendo com o passar dos anos escolares. A desculpa de ser pobre ou a alegação de não ter condições de acesso à leitura já não convence. Programas de leitura nas bibliotecas garantem o acesso público aos livros. O prazer de ler é, sem dúvida, uma opção de vida e uma escolha inteligente, criativa e muito esperta para quem tem visão empreendedora e busca um exercício digno de cidadania.
        Se o estudante de nossas faculdades conscientizar-se de que, por intermédio da leitura, poderá adquirir novos conhecimentos e mudar sua maneira de pensar o mundo, naturalmente garantirá seu acesso à cidadania. “Sabe que eu escutei, vi, mas não entendi.” Essa declaração é um exemplo da falta de leitura de mundo e da prática do pensamento alienado que muitas pessoas vivem. Não compreendem o que ouvem, nem o que leem. Dançar com o pensamento, segundo Rubem Alves, é garantir novas formas de repensar o mundo e a si mesmo. E a leitura permite isso.
        Caro acadêmico, invista na leitura diária como hábito cultural associado a seu projeto de vida. Só assim a conquista da cidadania pode tornar-se ainda mais fácil e rápida.
    

A IMPORTÂNCIA DA LEITURA

        A prática da leitura se faz presente em nossas vidas desde o momento em que começamos a “compreender” o mundo a nossa volta. No constante desejo de decifrar e interpretar o sentido das coisas que nos cercam, de perceber o mundo sob diversas perspectivas, de relacionar a realidade ficcional com a que vivemos, no contato com um livro, enfim, em todos estes casos estamos, de certa forma, lendo – embora, muitas vezes, não nos demos conta.
        A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de símbolos, mas significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê. Segundo Ângela Kleiman, a leitura precisa permitir que o leitor apreenda o sentido do texto, não podendo transformar-se em mera decifração de signos linguísticos sem a compreensão semântica dos mesmos.
        Nesse processamento do texto, tornam-se imprescindíveis também alguns conhecimentos prévios do leitor: os linguísticos, que correspondem ao vocabulário e regras da língua e seu uso; os textuais, que englobam o conjunto de noções e conceitos sobre o texto; e os de mundo, que correspondem ao acervo pessoal do leitor. Numa leitura satisfatória, ou seja, na qual a compreensão do que se lê é alcançada, esses diversos tipos de conhecimento estão em interação. Logo, percebemos que a leitura é um processo interativo.
        Quando citamos a necessidade do conhecimento prévio de mundo para a compreensão da leitura, podemos inferir o caráter subjetivo que essa atividade assume. Conforme afirma Leonardo Boff, cada um lê com os olhos que tem. E interpreta onde os pés pisam. Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender o que alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isto faz da leitura sempre um releitura. [...] Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor.
        A partir daí, podemos começar a refletir sobre o relacionamento leitor-texto. Já dissemos que ler é, acima de tudo, compreender. Para que isso aconteça, além dos já referidos processamento cognitivo da leitura e conhecimentos prévios necessários a ela, é preciso que o leitor esteja comprometido com sua leitura. Ele precisa manter um posicionamento crítico sobre o que lê, não apenas passivo. Quando atende a essa necessidade, o leitor se projeta no texto, levando para dentro dele toda sua vivência pessoal, com suas emoções, expectativas, seus preconceitos, etc. É por isso que consegue set tocado pela leitura.
        Assim, o leitor mergulha no texto e se confunde com ele, em busca de seu sentido. Isso é o que afirma Roland Barthes, quando compara o leitor a uma aranha: [...] o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido – nessa textura –, o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia.
        Dessa forma, o único limite para a amplidão da leitura é a imaginação do leitor; é ele mesmo quem constrói as imagens acerca do que está lendo. Por isso ela se revela como uma atividade extremamente frutífera e prazerosa. Por meio dela, além de adquirirmos mais conhecimentos e cultura – o que nos fornece maior capacidade de diálogo e nos prepara melhor para atingir às necessidades de um mercado de trabalho exigente –, experimentamos novas experiências, ao conhecermos mais em que vivemos e também sobre nós mesmos, já que ela nos leva à reflexão.
        E refletir, sabemos, é o que permite ao homem abrir as portas de sua percepção. Quando movido por curiosidade, pelo desejo de crescer, o homem se renova constantemente, tornando-se cada dia mais apto a estar no mundo, capaz de compreender até as entrelinhas daquilo que ouve e vê, do sistema em que está inserido. Assim, tem ampliada sua visão de mundo e seu horizonte de expectativas.
        Desse modo, a leitura se configura como um poderoso e essencial instrumento libertário para a sobrevivência do homem.
        Há entretanto, uma condição para que a leitura seja de fato prazerosa e válida: o desejo do leitor. Como afirma Daniel Pennac, “o verbo ler não suporta o imperativo”. Quando transformada em obrigação, a leitura se resume a simples enfado. Para suscitar esse desejo e garantir o prazer da leitura, Pennac prescreve alguns direitos do leitor, como o de escolher o que quer ler, o de reler, o de ler em qualquer lugar, ou, até mesmo, o de não ler. Respeitados esses direitos, o leitor, da mesma forma, passa a respeitar e valorizar a leitura. Está criado, então, um vínculo indissociável. A leitura passa a ser irmã que atrai e prende o leitor, numa relação de amor da qual ele, por sua vez, não deseja desprender-se.


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