domingo, 3 de setembro de 2017

TEXTO: REFRESCO - SÉRGIO PORTO - COM INTERPRETAÇÃO/GABARITO

TEXTO – REFRESCO

        No exato momento em que eu estava no botequim para comprar cigarros, ouvi a voz do homem perguntar por trás de mim:
        --- Tem refresco de cajá?
        O outro, por trás do balcão, olhou espantado:
        --- De caju?
        --- Não senhor, de cajá mesmo.
        Não tinha. Não tinha e ainda ficou danado. Ora essa, por que razão havia de ter refresco de cajá? Ainda se fosse de caju, vá lá.
        É verdade que refresco de caju também não havia, mas, de qualquer modo, era mais viável ter de caju do que de cajá, fruta difícil, que só de raro em raro se encontra e, assim mesmo, por um preço exorbitante.
        E ainda irritado, disse.
        --- Por que não pergunta na Colombo? Aposto que lá também não vendem refresco de cajá. E o senhor sabe disso, o senhor está pedindo aqui para desmoralizar o estabelecimento.
        Não era de briga e nem estava querendo desmoralizar ninguém. De repente – ao entrar ali para tomar café – sentira cheiro de cajá e, como na sua terra havia muito daquela fruta, ficara com vontade de tomar um refresco.
        O que servia caiu em si, esqueceu o seu complexo de trabalhar no café fuleiro e não na Colombo. Depois desculpou-se com um sorriso de poucos dentes e perguntou se não queria uma laranjada. Uma laranjada sempre se pode arranjar.
        O outro recusou com um abano de cabeça e saiu encabulado, talvez por ter revelado em público um tão puro sentimento íntimo – saudade de sua terra.
        Paguei os cigarros e saí atrás dele. Também eu, depois que assistira à cena, senti cheiro de cajá.
        Há dez anos – pensei – eu poderia satisfazer a sua vontade. Era só andar aquele quarteirão, entrar à esquerda e procurar o número 53. Era a nossa casa. Ali nasceram meus irmãos e nasciam cajás todos os anos.

                                     Sérgio Porto. A Casa Demolida, págs. 27-28.
                                                                Editora do Autor, Rio, 1963.

1 – Na frase “O outro olhou espantado”, nota-se:
      (   ) Susto, pavor.
      (   ) Medo, receio.
      (X)  Surpresa, estranheza.
      (   ) Raiva, irritação.

2 – Por que o rapaz do botequim olhou espantado?
      Porque estranhou o pedido, achando que o freguês se tivesse enganado.

3 – O freguês pediu refresco de cajá:
      (   ) Com intenção de desmoralizar o botequim.
      (   ) Para matar a sede.
      (X)  Porque essa fruta despertou nele a lembrança e a saudade de sua terra.

4 – Que seria “um sorriso de poucos dentes”.
      Um sorriso feio, que revelava uma boca quase sem dentes.

5 – Por que o moço do bar pediu desculpas ao freguês?
      Por tê-lo tratado mal.

6 – Releia a seguinte passagem do sexto parágrafo e, depois, responda: “Ora essa, por que razão havia de ter refresco de cajá? Ainda se fosse de caju, vá lá”.
Essa reflexão o rapaz do botequim disse em voz alta ou apenas pensou?
      (   ) Disse em voz alta.     (X) Apenas pensou.

7 – O freguês saiu humilhado, aborrecido, provavelmente porque:
      (   ) Fora tratado com grosseria.
      (X)  Revelara a pessoas estranhas um sentimento íntimo: saudade de sua terra.
      (   ) Não conseguira beber refresco de cajá.

8 – Assinale a interpretação certa da frase “Também eu senti cheiro de cajá”.
      (   ) Sentiu vontade de tomar um refresco de cajá.
      (   ) Sentiu o cheiro dos cajás que vendiam ao lado do botequim.
      (X)  Sentiu saudade da casa onde ele nascera.
      (   )  É um absurdo, pois no botequim não havia refresco de cajá.


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