TEXTO: A SURPRESA
Foi exatamente na sala de televisão que
eu dei de cara com todo mundo naquela quinta-feira. Mas a televisão não estava
funcionando. Também achei isso muito esquisito. A nossa televisão está sempre
ligada na hora do Jornal Nacional. E
é proibido conversa. Se a gente esquece, lá vem a maior bronca. Quando eu tenho
alguma coisa importante para dizer, fico esperando o plim-plim e falo bem depressinha no intervalo. Por isso fiquei
espantada quando abri a porta. Não escutei nem a voz do locutor, nem qualquer
bate-papo.
Eu gosto de dar um assobio, daqueles
que aprendi na escola, para anunciar minha chegada. O assobio não é proibido na
hora do Jornal Nacional. Mas, naquele dia, fiquei até sem graça, o assobio doeu
no meu ouvido e ninguém respondeu.
--- Oi! – falei baixinho.
--- Andréia, minha filha, venha cá.
Sente aqui – papai me chamou.
E me puxou para o seu colo. Eu já
fiquei com a pulga atrás da orelha.
Se tem uma coisa que me deixa com a
pulga atrás da orelha é quando me chamam de Andréia aqui em casa. Como sou
a caçula da família, o Nando tem dezoito anos e o Ricardo catorze, todos me
tratam por Dedéia. A não ser quando faço alguma coisa errada e eles querem me
dar aquela bronca. Aí, sim, lembram
meu nome inteirinho.
--- Dedéia – papai viu o meu medo e
mudou o jeito de falar: - Escute, filhinha, nós temos uma surpresa para você.
--- Surpresa? – perguntei meio
desconfiada.
Como podia ter uma surpresa por trás
daquelas caras tão sérias? Para mim, surpresa sempre foi uma coisa boa, tipo
presente de Natal, de aniversário, ou chocolate escondido debaixo do meu
travesseiro.
--- É, Dedéia – papai continuou: - De
hoje em diante sua mãe não vai trabalhar mais. Ela vai ficar em casa cuidando
de você.
Escutei aquilo e fiquei de bico calado.
Eu era bem grandinha para precisar de babá. Olhei para mamãe e ela não parecia
feliz com isso. Resolvi falar:
--- Mas, pai, eu já tenho dez anos. Não
preciso de ninguém pra cuidar de mim.
E virei para a mamãe:
--- Olha, mãe, se é por causa do
palavrão que eu xinguei a Teresa hoje, não falo mais, juro.
Pensei no quanto a Teresa era
linguaruda. Me dedurar daquele jeito. Depois eu acertava as contas com ela.
--- Língua de trapo! – falei para mim
mesma.
--- Não, querida. Não é nada disso –
mamãe me acalmou. – Não vou mais trabalhar fora porque me despediram.
Dei um suspiro de alívio. Perguntei,
então, se ela havia alguma coisa de errado para ser mandada embora do emprego.
Ela riu da pergunta e disse que não tinha feito nada. Muitos colegas dela
tinham sido despedidos também.
--- Foi por contenção de despesas – ela
falou.
Eu não entendi o que era contenção de despesas. Mas devia ser
uma coisa muito ruim, para deixar a mamãe tão triste.
Cristina Agostinho. Pai sem
terno e Gravata, págs. 9-12.
Companhia
Editora Nacional, São Paulo, 1985.
1 – Onde e em que parte do
dia aconteceram os fatos narrados no texto?
Os fatos aconteceram na casa de uma
família, à noite.
2 – Quais são as personagens
desta história?
As personagens
são o pai, a mãe e a filha Andréia.
3 – Quem é a personagem
principal?
A personagem
principal é Andréia.
4 – Andréia é, ao mesmo
tempo, personagem e narradora porque:
( X ) Narra a
história e participa dos acontecimentos, fala de si mesma.
(
) Participa dos acontecimentos, mas não fala de si mesma.
5 – O assunto ou a ideia
principal do texto é:
(
) Uma menina, ao chegar em casa, estranhou o televisor desligado e a
família em silêncio.
(
) Conversa dos pais com a filha, quando esta entrou em casa, no início
da noite.
(X) Uma menina,
ao chegar em casa no fim do dia, é informada pelo pai de que havia uma surpresa
para ela.
6 – Assinale a afirmação que
está de acordo com o texto:
(X) A mãe de
Andréia foi despedida do emprego porque a empresa em que trabalhava teve que
reduzir as despesas.
( )
Devido a um defeito, o televisor não estava funcionando quando Andréia entrou
em casa.
(
) Andréia costumava anunciar sua chegada ao lar com um toque de
campainha.
7 – O que a menina sentiu
quando o pai a chamou pelo nome e a mandou sentar-se junto de si? Por quê?
Ela ficou desconfiada e sentiu medo.
Porque pensou que o pai fosse repreendê-la.
8 – Vendo que a filha estava
com medo, que fez o pai?
O pai lhe falou
de modo carinhoso.
9 – Andréia não entendia
como os pais podiam ter uma surpresa para ela, se todos estavam tristes.
Explique por quê.
Porque para ela
“surpresa” só podia ser uma coisa boa.
10 – “Eu era bem grandinha
para precisar de babá”. Andréia disse isso ao pai ou apenas pensou? E a frase
traduz revolta ou ironia?
Ela
apenas pensou. A frase traduz ironia.
11 – Cite coisas que Andréia
erradamente pensou, quando o pai lhe disse que a mãe não trabalharia mais fora
de casa.
Ela pensou que a mãe ia ser sua babá, a
fim de vigiá-la, que a culpada era ela, por ter xingado a empregada, que a
empregada tinha “dedurado”.
12 – Por que a mãe de
Andréia foi despedida do emprego?
Porque a empresa teve de reduzir as
despesas com empregados.
13 – Depois que a mãe falou,
por que a menina deu um suspiro de alívio?
Porque nada
daquilo que ela pensava era verdade.
14 – Há no texto diversas
frases que não fazem do fio da história, mas que são comentários da personagem
narradora. Damos um exemplo. Cite outros.
Como
sou a caçula da família, todos me tratam por Dedéia.
Eu
gosto de dar um assobio para anunciar minha chegada.
Como podia ter uma surpresa por trás
daquelas caras tão sérias?
15 – Escreva o que a mãe
disse à filha para acalmá-la.
“Não, querida.
Não é nada disso. Não vou mais trabalhar fora porque me despediram.”
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