Conto:
SENHORA HOLLE
Uma senhora tinha duas filhas, sendo
uma bonita e aplicada e outra, feia e preguiçosa, que era sua filha legítima,
e, por isso, a outra era obrigada a realizar todo o trabalho doméstico e ser a
Gata Borralheira da casa. Diariamente a pobrezinha tinha de ir fiar, sentada
junto a um poço na rua, e tanto fiava que lhe machucava os dedos a ponto de
sangrar. Aconteceu uma vez que o fuso ficou todo ensanguentado e para lava-lo,
a menina inclinou-se no poço, momento em que ele saltou de sua mão e caiu. Em
prantos, ela correu para contar `madrasta o infortúnio, mas a viúva ficou tão
furiosa que lhe disse, sem misericórdia:
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkMmkhiJkBkz6-YOKBD6RMBfJfE97VSH252Fh9rCYq_Tje41X7n3WPWhd9YhxZdIYsx_ptsV4tu2wi8Anx7mMB_WtzMw8ngQ8zerPbJJVC59JZwGbEao4LicnZ7l611oieW5JQSFvhdZ40C2Ou4O3S3bYWktlgObfVFRghxBhdjE6ZSq8I2J7laYWztiI/s1600/GATA.jpg
-- Se deixou o fuso cair lá embaixo, vá
pegá-lo de volta.
Então a menina retornou ao poço, sem
saber o que fazer. Na angústia, atirou-se dentro dele, a fim de trazer o fuso
para cima. Acabou perdendo os sentidos e, ao voltar a si, encontrou-se num
belíssimo campo de ensolarado, no qual havia milhares de flores. Após sair
daquele prado, ela chegou a um forno onde um monte de pães esperneava,
dizendo:
-- Ah, tire-nos daqui, senão vamos
queimar! Já estamos no ponto faz tempo!
Foi quando ela se aproximou e, com a
pá, tirou os pães um a um. Continuando a caminhar, ela chegou próximo a uma
árvore carregada de maçãs, que lhe pediu:
-- Ah, sacuda-me, sacuda-me, que as
maçãs já estão todas maduras!
Então ela balançou a árvore para que as
maçãs caíssem como chuva, sacudindo até que mais nenhuma ficasse dependurada lá
em cima. Após reuni-las num montinho, prosseguiu andando. Finalmente chegou a
uma casinha, de onde uma velha senhora a olhava: a menina ficou tão assustada
com os enormes dentes que a velha senhora tinha, que ameaçou fugir. Mas a outra
a chamou de volta:
-- Do que você está com medo, linda
criança? Fique aqui comigo. Se fizer o trabalho doméstico direitinho, tudo
correrá bem. Você só deve prestar atenção ao arrumar minha cama, pois tem de
sacudi-la bem para que as penas voem e cais neve no mundo*. Sou a Senhora
Holle.
Essas palavras tranquilizaram tanto a
menina que ela ficou animada, concordando com o solicitado e pondo mãos à obra.
Ela providenciava tudo de modo a satisfazer a senhora e sempre sacudia
violentamente sua cama, em torno da qual as penas esvoaçavam como flocos de
neve. Em troca, ela tinha uma vida muito agradável, sem broncas e comendo todo
dia do bom e do melhor. Mas depois de algum tempo morando com a Senhora Holle,
começou a ficar triste, ela mesma no início não sabendo bem o que é que lhe
faltava; logo percebeu que o que sentia era saudades de casa. Apesar de agora
estar vivendo ali mil vezes melhor o que lá, desejava voltar assim mesmo.
Finalmente ela disse:
-- Senhora Holle, a senhora tem sido
muito boa para mim, mas a minha tristeza é tão grande que não posso mais
permanecer aqui embaixo. Preciso retornar para junto dos meus.
-- Agrada-me saber que deseja voltar
para casa. E por você ter me servido tão fielmente, vou eu mesma levá-la de
volta para cima.
Ela deu-lhe a mão e a conduziu até um
portão enorme. Assim que o portão se abriu e a menina o atravessou, caiu um
espessa chuva de ouro que ficou todo preso nela, cobrindo-a inteirinha.
-- Isso é para você por ter sido tão
aplicada. – disse a Senhora Holle, dando-lhe de volta o fuso que havia caído
dentro do poço.
Depois o portão fechou-se e a menina se
achou do lado de cima do mundo, aliás não muito longe da casa de sua mãe.
E, ao chegar ao quintal, o galo sentado
sobre o poço cantou:
-- Cocorocó, chegou a donzela dourada,
olhem só!
Assim que entrou por estar toda coberta
de ouro, ela foi muitíssimo bem recebida por sua mãe e irmã.
A menina relatou tudo o que lhe
ocorrera e, ao ouvir como havia alcançado tanta riqueza, a mãe quis que também
a outra filha, a feia e preguiçosa, tivesse a mesma sorte. Ela teve de se
sentar junto ao posso e fiar. E para que seu fuso se ensanguentasse, picou com
ele todos os dedos e enfiou a mão num espinheiro. Depois jogou o fuso no poço e
se atirou dentro dele. Como a outra, chegou também a um belo prado e seguiu
pelo mesmo caminho. Ao chegar ao forno, estavam os pães novamente a espernear:
-- Ah, tire-nos daqui, tire-nos daqui,
senão vamos queimar! Já estamos no ponto faz tempo!
Mas a preguiçosa respondeu:
-- Até parece que vou me sujar toda por
causa de vocês!
E foi embora, logo se deparando com a
macieira, que gritava:
-- Ah, sacuda-me, que as maçãs já estão
todas maduras!
Mas ela respondeu:
-- Você deve estar brincando! E se me
cair um na cabeça?
E continuou andando. Como já havia
escutado a respeito dos dentões da velha senhora, ela não se assustou ao chegar
à casa de Senhora Holle, e logo se dispôs ao trabalho. No primeiro dia ele se
esforçou bastante, aplicou-se e seguiu todas as orientações, pois só pensava
naquele monte de ouro com que mais tarde seria presenteada. Mas no segundo dia
já começou a ficar preguiçosa, no terceiro dia mais ainda, tanto que nem queria
se levantar de manhã. Nem mesmo a cama de Senhora Holle ela arrumava como devia
ser, e nem a sacudia de modo que as penas esvoaçassem. A velha senhora logo
desanimou e cancelou os serviços. A preguiçosa ficou então contente, achando
que receberia enfim a chuva e ouro. a Senhora Holle conduziu-a até o portão,
mas, ao atravessá-lo, em vez de ouro, despejou-se um caldeirão de piche sobre a
menina.
-- Esta é a recompensa pelos meus
serviços – disse a Senhora Holle, e trancou o portão.
As melhores história dos Irmãos Grimm & Perraut. São Paulo: Nova
Alexandria, 2004. p 11-16. Coleção Volta e Meia.
Fonte: Livro –
Português: Linguagens, 6º ano. William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães.
7ª edição reformulada – São Paulo: ed. Saraiva, 2012. p. 12-14.
Entendendo o conto:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Espesso: grosso, denso.
·
Fiar: trançar fios, confeccionar com fios.
· Fuso: pequeno instrumento de madeira, arredondado, grosso no centro
e pontiagudo nas extremidades, usado para fiar.
·
Prado: campina.
02 – Qual é a diferença entre
as duas filhas da história?
A mãe tinha duas
filhas: uma bonita e aplicada, que fazia todo o trabalho doméstico, e outra
feia e preguiçosa, que era sua filha legítima e não tinha responsabilidades.
03 – Por que a menina aplicada
se jogou no poço?
A menina aplicada
se jogou no poço para recuperar o fuso que havia caído lá dentro após ela o
manchar de sangue enquanto fiava.
04 – O que a menina encontrou
quando acordou no mundo de Senhora Holle?
Ela encontrou um
lindo campo ensolarado com flores. Depois, passou por um forno cheio de pães
prontos e por uma macieira carregada de maçãs maduras, ambos pedindo ajuda.
05 – O que a Senhora Holle
pediu que a menina fizesse?
A Senhora Holle
pediu que a menina arrumasse sua cama e sacudisse bem as penas, para que caísse
neve no mundo.
06 – Qual foi a recompensa da
menina aplicada por seu trabalho com a Senhora Holle?
A menina recebeu
uma chuva de ouro que a cobriu por completo como recompensa por ser
trabalhadora e fiel em seus serviços.
07 – O que aconteceu com a
irmã preguiçosa quando ela tentou seguir os passos da outra?
A irmã preguiçosa
não ajudou os pães no forno nem a macieira, e foi desleixada com o trabalho na
casa da Senhora Holle. Como resultado, em vez de ouro, recebeu uma chuva de
piche.
08 – Qual é a lição principal
do conto?
A história ensina
que aqueles que são trabalhadores e prestativos serão recompensados, enquanto a
preguiça e a negligência levam a consequências negativas.