quarta-feira, 8 de junho de 2022

CRÔNICA: O RECALCITRANTE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

 CRÔNICA: O recalcitrante

                    Carlos Drummond de Andrade

        O trocador olhou, viu, não aprovou. Daquele passageiro escanchado placidamente no banco lateral, escorria um fio de água que ia compondo, no piso do ônibus, a micro figura de uma piscina.

        – Ei, moço quer fazer o favor de levantar?

        O moço (pois ostentava barba e cabeleira amazônica, sinais indiscutíveis de mocidade), nem-te-ligo.

        O trocador esfregou as mãos no rosto, em gesto de enfado e desânimo, diante de situação tantas vezes enfrentada, e murmurou:

        – Estes caras são de morte.

        Devia estar pensando: Todo ano a mesma coisa. Chegando o verão, chegam problemas. Bem disse o Dario, Quando fazia gol no Atlético Mineiro: Problemática demais. Estava cansado de advertir passageiros que não aprendem como viajar em coletivos. Não aprendem e não querem aprender. Tendo comprado passagem por 65 centavos, acham que compraram o ônibus e podem fazer dele casa-da-peste. Mas insistiu:

        – Moço! Ô moço!

        Nada. Dormia? Olhos abertos, pernas cabeludas ocupando cada vez mais espaço, ouvia e não respondia. Era preciso tomar providência:

        – O senhor aí, cavalheiro, quer cutucar o braço do distinto, pra ele me prestar atenção?

        O cavalheiro, vê lá se ia se meter numa dessas. Ignorou, olímpico, a marcha do caso terrestre.

        Embora sem surpresa, o cobrador coçou a cabeça. Sabia de experiência própria que passageiro nenhum quer entrar numa “fria”. Ficam de camarote, espiando o circo pegar fogo. Teve pois que sair do seu trono, pobre trono de trocador, fazendo a difícil ginástica de sempre. Bateu no ombro do rapaz:

        – Vamos levantar?

        O outro mal olhou para ele, do longe de sua distância espiritual. Insistiu:

        – Como é, não levanta?

        – Estou bem aqui.

        – Eu sei, mas é preciso levantar.

        – Levantar pra quê?

        – Pra que, não. Por quê. Seu calção está molhado de água do mar.

        – Tem certeza que é água do mar?

        – Tá na cara.

        – Como tá na cara? Analisou?

        Forrou-se de paciência para responder:

        – Olha, o senhor está de calção de banho, o senhor veio da praia, que água pode ser essa que está pingando se não for água do mar? Só se…

        – Se o quê?

        – Nada.

        – Vamos, diz o que pensou.

        – Não pensei nada. Digo que o senhor tem de levantar porque seu calção está ensopado e vai fazendo uma lagoa aí embaixo.

        – E daí?

        – Daí, que é proibido.

        – Proibido suar?

        – Claro que não.

        – Pois eu estou suando, sabe? Não posso suar sentado, com esse calorão de janeiro? Tenho que suar de pé?

        – Nunca vi suar tanto na minha vida. Desculpe, mas a portaria não permite.

        – Que portaria?

        – Aquela pregada ali, não está vendo? “O passageiro, ainda que com roupa sobre as vestes de banho molhadas, somente poderá viajar de pé.

        – Portaria nenhuma diz que o passageiro suado tem que viajar de pé. Papo findo, tá bom?

        – O senhor está desrespeitando a portaria e eu tenho que convidar o senhor a descer do ônibus.

        – Eu, descer porque estou suado? Sem essa.

        – O ônibus vai para e eu chamo a polícia.

        – A polícia vai me prender porque estou suando?

        – Vou botar o senhor pra fora porque é um… recalcitrante.

        O passageiro pulou, transfigurado:

        – O quê? Repita se for capaz.

        – Re… calcitrante.

        – Te quebro a cara, ouviu? Não admito que ninguém me insulte!

        – Eu? Não insultei.

        – Insultou, sim. Me chamou de réu. Réu não sei o que, calcitrante, sei lá o que é isso. Retira a expressão, ou lá vai bolacha.

        – Mas é a portaria! A portaria é que diz que o recalcitrante…

        – Não tenho nada com a portaria. Tenho é com você, seu cretino. Retira já a expressão, ou…

        Retira não retira, o ônibus chegou ao meu destino, eu paro infalivelmente no meu destino. Fiquei sem saber que consequências físicas e outras teve o emprego da palavra “recalcitrante”.

Carlos Drummond de Andrade. “Recalcitrante”. In: De notícias e não-notícias faz-se a crônica. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987.

Fonte: Língua portuguesa – Palavras – Hermínio Geraldo Sargentim – 5ª série – IBEP – 1ª edição, São Paulo, 2002. p. 50-3.

Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Escanchar: sentado com as pernas abertas.

·        Ostentar: exibia.

·        Enfado: aborrecimento.

·        Olímpico: majestoso.

·        Transfigurado: transtornado.

·        Recalcitrante: indiscutível, irredutível, teimoso.

02 – Empregue convenientemente nas frases as palavras: recalcitrante, placidamente, transfigurado, indiscutível, infalivelmente, completando a frase.

a)   Depois das palavras do pai, o menino ficou transfigurado.

b)   O professor chega infalivelmente no horário.

c)   Olhou placidamente para as pessoas e saiu.

d)   Você será considerado recalcitrante se não acatar a ordem do diretor.

e)   Saber comunicar-se é uma necessidade indiscutível.

03.Apesar dos  elementos  narrativos,  o  texto  em  estudo  é  uma  crônica. Marque  um X na(s)  alternativa(s)  que  apresente(m)  características desse gênero textual.

      a)(  ) A crônica trata de temas inteiramente da fantasia, inventando acontecimentos e personagens que não poderiam existir em nosso cotidiano.

       b)( X ) Muitas crônicas usam o humor e a ironia para fazer uma crítica aos nossos costumes e modos de pensar a vida.

       c)( ) O cronista procura sempre passar informações em linguagem objetiva, sem sua interpretação pessoal, da mesma forma que as notícias e reportagens.

       d)( X  ) Diferente das notícias, a crônica apresenta um tom literário, com termos em sentido conotativo.

       e)( X  ) O cronista inspira - se a partir do contato com noticiários e/ou partindo de fatos do seu cotidiano.

 04. Que problema movimenta o enredo de O Recalcitrante?

      O enredo é um homem, com a roupa molhada, querer viajar sentado, em um ônibus, sendo que é proibido (ele só poderia viajar de pé).

 05. Qual é o clímax da crônica?

       O clímax da crônica acontece quando o homem infrator é chamado de um termo que desconhece (recalcitrante) e pensa estar sendo ofendido.

 06.Em: “Daquele passageiro, escanchado placidamente no banco lateral, escorria um fio de água”, o sujeito do verbo grifado é:

    ( a ) “Daquele passageiro”  

    ( b ) “Um fio de água”    

    ( c ) “Água” 

    ( d ) “No banco lateral”

 

07. Qual figura de construção foi aplicada ao trecho em análise na questão 06?

          ( a ) Hipérbato

         ( b ) Elipse

         ( c ) Zeugma

         ( d ) Polissíndeto

 

CRÔNICA: ESTRANHO EQUILÍBRIO - FABRÍCIO CARPINEJAR - COM GABARITO

 CRÔNICA: ESTRANHO EQUILÍBRIO

                     Fabrício Carpinejar

 Eu descobri ontem um provérbio perfeito: Se quer ser amigo feche um olho, se quer manter uma amizade feche os dois olhos.

Faz muito sentido. Amigo é não se meter, por mais que tenhamos intimidade, é respeitar a decisão mesmo que não seja o que você pensa.

Se ele procura namorar alguém que você não gosta, é dar apoio igual. Se ele pretende permanecer num emprego que você não acha justo, é dar apoio igual. Se ele busca manter uma vida que você não considera ideal, é dar apoio igual.

É estar junto apenas, para qualquer dos lados.

Amizade é dança. Acompanhar o ritmo da música.

É opinar, expor sua crítica, mas não viver pelo outro.

É não intervir, não pesar a mão, não exagerar.

Amigo não é ser pai, não é ser mãe, não é educar.

É aceitar o que ele é, é reconhecer o que ele deseja, ainda que seja muito diferente de suas crenças.

É entender o momento de falar e entender também o momento de silenciar.

Análise demais estraga a amizade. Você estará sendo terapeuta, não amigo.

É discordar e seguir adiante. Não é discordar e fazer oposição, boicote, greve. Até que nosso amigo mude de ideia.

Amigo é oferecer conselho, não um sermão. É alertar, jamais insistir.

Amizade é fugir do julgamento, é compreender a alternância, os altos e baixos, os desabafos.

Amigo não cobra coerência, não fica em cima cutucando feridas.

É saber tudo e agir como se não soubesse de nada. É não ficar apontando o que é certo ou errado.

Amizade é difícil. Amizade é um estranho equilíbrio.

Mas amizade não é cegueira. É a arte de enxergar com os ouvidos.

Disponível em: <http://carpinejar.blogspot.com/2014/03/estranho-equilibrio.html>. Acesso em: 26 mar. 2019.

 Entendendo o texto

 01.O que motivou Fabrício Carpinejar a escrever a crônica anterior? 

O que motivou a escrita da crônica foi Fabrício Carpinejar descobrir um provérbio sobre a amizade que considerou perfeito.

 02.“Faz muito sentido. Amigo é não se meter, por mais que tenhamos intimidade, é respeitar a decisão mesmo que não seja o que você pensa.” Identifique o trecho em que ocorreu silepse de pessoa e explique seu efeito para o texto.

A silepse está no trecho: “por mais que tenhamos intimidade”, pois a crônica estava na terceira pessoa, referindo-se a “você”, mas, nesse momento, o cronista usou a 1ª pessoa, a fim de se incluir na ideia apresentada.

 03. Releia:

“É não intervir, não pesar a mão, não exagerar.” Sabendo que a outra nomenclatura para conjunção é SÍNDETO, a que figura de construção Carpinejar recorreu, no trecho transcrito: Assíndeto ou polissíndeto? Explique.

Ocorreu  a  figura  de  construção  ASSÍNDETO, pois  o  autor  optou  por  não  usar  uma  conjunção  entre  a segunda  oração  e  a terceira, na qual se encerrou o período. Poderia ter usado a conjunção E.

 04. “Amigo não cobra coerência, não fica em cima cutucando feridas.” O uso da conotação, nesse trecho, foi para expressar que amigos:

( a ) não magoam.

( b ) não revelam segredos.

( c ) precisam saber cuidar.

( d ) evitam assuntos desagradáveis.

 05. Ao encerrar seu texto afirmando que a amizade “É a arte de enxergar com os ouvidos.”, o cronista ressalta qual sentido como o mais importante para sua manutenção?

( a ) Tato

( b ) Visão

( c ) Audição

( d ) Paladar

 06. O “estranho equilíbrio” a que se refere a crônica é:

( a ) fazer amigos é fácil, mas mantê-los é difícil.

( b ) estar entre amigos é bom, mas gostar de estar sozinho é fundamental.

( c ) amigos aconselham, mas não podem comandar as atitudes do outro.

( d ) amigos antigos devem se mesclar a amigos novos, para haver renovação

 

 

 

ARTIGO DE OPINIÃO: O PODER DA AMIZADE NA ADOLESCÊNCIA - ROSELY SAYÃO - COM GABARITO

 ARTIGO DE OPINIÃO: O PODER DA AMIZADE NA ADOLESCÊNCIA

                                         Rosely Sayão

         Terminada a infância, os filhos querem mais é trocar de turma porque os pais e a família já não bastam como companhia para eles. Essa é a hora de eles começarem a conquistar vida própria, de iniciarem a construção de sua privacidade, de darem os primeiros passos  rumo  à  independência  e  à  liberdade  possíveis  do  mundo  adulto.  Mesmo que os  filhos  tenham  um  grupo  de amigos que se frequenta desde muito cedo – o que tem ocorrido bastante no mundo atual –, é só a partir do início da adolescência que esse processo de estabelecimento de vínculos fora da família se consolida de fato.

 Fazer amigos ajuda a combater a ideologia consumista de nosso tempo, que pega tão pesado com os jovens, já que ter amigos subverte a lógica do consumo.

 Nunca é demais lembrar que a presença firme e tuteladora dos pais ainda é imprescindível na vida dos filhos, acima de tudo por meio de palavras e condutas que orientam, limitam, impõem e reafirmam as regras e normas de vida que são valorizadas no convívio familiar.  Ao mesmo tempo, é nessa fase que os pais devem iniciar  o  processo  de  substituição  das  imposições  por propostas e sugestões naquilo que diz respeito à vida do filho.

         Entretanto esse é um processo longo, que apenas tem sua largada nessa fase e deve terminar lá pelos 17 ou 18 a nos afim de  precipitar  a  autonomia  e  a  maturidade.  Agir com urgência ou  impaciência  e  abortar  o  processo  ainda  em  andamento prejudica sua chance de bom termo.

         Muitas coisas os jovens devem aprender com educadores escolares e pais nessa fase, e hoje vamos conversar a respeito de uma delas, que é crucial para que eles tenham um norte nos relacionamentos que passam a ter com seus pares de geração: as relações de amizade. A respeito das relações de coleguismo e das impessoais e incidentais, falaremos em outra oportunidade.

        Num mundo em que se aponta a popularidade – ser conhecido por um grande número de pessoas – como característica social das mais cobiçadas e reveladoras de prestígio, nada mais importante e necessário do que esse tema na educação.

      Muitos fatores têm contribuído para que os jovens tenham um conceito pouco sólido a respeito da amizade, já que quase todas as pessoas com quem eles se relacionam são chamadas de amigos. Talvez o mau hábito de pais e professores de, desde que a criança  é  bem  pequena,  nomearem  como  amigos  todos  os  colegas  de  classe,  de  prédio  ou  de  clube,  por  exemplo,  tenha  um grande peso nessa história. O fato é que eles não têm em conta como amigos apenas aqueles a quem eles querem bem e  a  quem  têm  grande  consideração.  Então, eles precisam saber que nem todo relacionamento é de amizade.

        Fazer amigos é uma escolha, se bem que viver sem  amigos  talvez  torne  a  vida  mais  árdua  do  que    é  ou,  quem  sabe,  até impossível  de  ser  vivida.  Amigo  não  deixa  de  ser  um  recurso  para  fazer  frente  às vicissitudes  da  vida.  E  os  jovens  precisam aprender que tal escolha traz compromissos: de disponibilidade, de dedicação, de generosidade, de tolerância e de lealdade, entre outros.

        Fazer amigos ajuda a combater a ideologia consumista de nosso tempo, que pega tão pesado com os jovens, já que ter amigos subverte a lógica do consumo. Quem cultiva amizades  entende que mais importante do que ter o poder de ter algo é ter alguém ao lado, poder contar com alguém.

         Ao despedir - se da infância, o jovem se depara com uma grande empreitada: saber quem é, reconhecer o outro e suas diferenças  e  respeitá-lo.  Essa é uma questão das mais  importantes  do  início  de  adolescência,  que acompanhará  o  jovem  pelo resto da vida, pois as relações de amizade são um campo fértil de experimentações que contribuem de forma criativa para essas descobertas.

         Tudo isso e muito mais os jovens podem aprender se pais e escolas, principalmente, contribuírem para que eles encarem a amizade como um valor. Mas, pelo jeito, temos é colaborado para que tal questão seja cada vez mais banalizada.

Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq2508200510.htm>. Acesso em: 26 mar 2019.

 Entendendo o texto

 01.  Releia um trecho transcrito do quarto parágrafo: “

A  respeito  das  relações  de  coleguismo  e  das  impessoais  e  incidentais, falaremos em outra oportunidade.” Refletindo acerca do enunciador do trecho, explique por que houve silepse de  número  no verbo grifado.

Houve silepse de número em “falaremos”, pois a mensagem do texto está sendo transmitida por uma única pessoa, Rosely Sayão, então não havia a necessidade de se usar o plural, mas, provavelmente, ela fez isso para dar um tom de humildade ao texto.

 02. O  terceiro  parágrafo  encerra - se  da  seguinte  forma:  “Agir  com  urgência  ou  impaciência  e  abortar  o  processo  ainda  em andamento prejudica sua chance de bom termo.”

O pronome em destaque refere-se à/ao:

( a ) urgência.        ( c ) processo.

( b ) impaciência.    ( d ) maturidade

 

03. Releia três trechos do texto e transcreva o único que serviria adequadamente de resposta ao título (entre as opções), caso fosse um questionamento: Qual é o poder da amizade na adolescência?

 I.“Entretanto esse é um processo longo, que apenas tem sua largada nessa fase e deve terminar lá pelos 17 ou 18 anos a fim de precipitar a autonomia e a maturidade.”

II)“Muitos fatores têm contribuído para que os jovens tenham um conceito pouco sólido a respeito da amizade, já que quase todas as pessoas com quem eles se relacionam são chamadas de amigos.”

III)“ Quem cultiva amizades entende que mais importante do que ter o poder de ter algo é ter alguém ao lado, poder contar com alguém.”

 04. Assinale a frase que constitui um período simples.

( a ) “Agir com urgência ou impaciência e abortar o processo ainda em andamento prejudica sua chance de bom termo.”

( b) “A respeito das relações de coleguismo e das impessoais e incidentais, falaremos em outra oportunidade.”

( c ) “Então, eles precisam saber que nem todo relacionamento é de amizade.”

( d ) “Mas, pelo jeito, temos é colaborado para que tal questão seja cada vez mais banalizada.”

 

 

 

domingo, 5 de junho de 2022

PINTURA: O CAFÉ - CÂNDIDO PORTINARI - COM GABARITO

 Pintura: O café

 

 Fonte da imagem -https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7OucTXjyiwCBcjHjf_eHCnVaxwg6OJKA7kYsqqkNmJOldpX73ZqCTpiirfLaprrxeUPi7S6Hul1wsJMti_BtzMpl2PQr9_z8LbGEJzdEX0oqYmVrzgSFjZLCVZQuca9yRtKJsp9el0CIHlRC68fgtPZVAK5qUZV6iOIzeev6jmfgyWJDrUD-an9XY/s1600/cafe.jpg

O café, de Cândido Portinari (1934-1935).

      Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 180-1.

Entendendo a pintura:

01 – Observe com atenção a pintura O café, do pintor brasileiro Cândido Portinari, pintado em 1935 e reproduzido acima. Em seguida, responda.

a)   Há muitas pessoas presentes na cena retratada pelo pintor. Quem são elas, o que estão fazendo e onde estão?

A pintura retrata trabalhadores em uma plantação de café, ocupados com as tarefas do mundo agrícola.

b)   Os personagens do quadro são exatamente iguais às pessoas reais? Justifique sua resposta.

Não. As figuras humanas retratadas por Portinari possuem mãos e pés intencionalmente ampliadas e desproporcionais em relação ao restante do corpo. Por meio desse recurso de representação, o pintor procurou ressaltar a força física dos trabalhadores.

c)   Parece haver, na pintura, uma divisão de trabalho entre homens e mulheres? Quais são as tarefas atribuídas a cada um desses grupos?

Sim. O trabalho de carregar as grandes quantidades de café depende de grande força física e é realizado principalmente pelas figuras masculinas, predominantes no quadro. Às mulheres ficam reservadas as funções de semear e colher os frutos da plantação.

02 – O trabalho em uma plantação de café, tal como pintado por Portinari, parece ser um trabalho leve ou pesado? Por quê?

      O trabalho nas grandes plantações de café é retratado como sendo pesado e desgastante. As tarefas exigem muita força física, exposição ao sol e contato com a terra durante longos períodos de trabalho.

03 – Você já viveu a experiência de trabalhar em uma plantação ou conhece alguém que trabalha com o cultivo da terra? Redija um pequeno parágrafo a respeito desse trabalho.

      Resposta pessoal do aluno.

04 – Observe a pintura de Portinari. Você localiza algum personagem responsável pela supervisão do trabalho na plantação de café? Em caso afirmativo, descreva esse personagem.

      No canto esquerdo do quadro, é possível identificar a figura autoritária de um capaz, responsável por supervisionar os trabalhos na plantação. Note o dedo apontado para os trabalhadores, em posição de comando, e as botas e chapéu preto que distinguem dos demais personagens presentes na obra.

05 – Em sua opinião, que objetivo teve Cândido Portinari ao pintar o quadro O café? Qual a relação entre o que ele representou e a realidade econômica da época?

      Ao retratar o cotidiano difícil de trabalhadores em uma plantação de café, o pintor registrou uma fase da história do Brasil em que predominava a economia cafeeira. Os trabalhadores negros ou mulatos, bem como os imigrantes italianos, constituíam a principal mão de obra nas fazendas de café.

06 – Que elementos ocupam o primeiro plano da cena: os trabalhadores ou a plantação? A partir de sua resposta, podemos dizer que o aspecto predominante na imagem é humano ou natural?

      Os trabalhadores ocupam o primeiro plano da pintura de Portinari. Ao destacar os elementos humanos da plantação, predominantes no quadro, o pintor procurou enfatizar não apenas a ação do homem sobre a natureza, mas também a exploração do trabalho humano no meio rural.

ENTREVISTA: ARQUEÓLOGA DESDE MENINA - CATHIA ABREU - CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS - COM GABARITO

 Entrevista: Arqueóloga desde menina

            Ainda criança, a pesquisadora Maria Beltrão resolveu o que seria no futuro: uma investigadora do passado!

        Maria da Conceição de Moraes Coutinho Beltrão nasceu em 1934, na cidade de Macaé, Rio de Janeiro. Imagine que, desde criança, ela já tinha ideia do que gostaria de fazer quando crescesse: se tornar uma investigadora do passado! Não é à toa, portanto, que os desenhos das preguiças gigantes, animais extintos há milhares de anos, eram os que mais lhe chamavam a atenção nos livros que lia na infância. A menina cresceu mantendo o interesse pelo antigo: tornou-se arqueóloga, uma cientista que estuda a cultura e os costumes de povos que viveram na Terra há milhares de anos. Seu trabalho consiste em encontrar e analisar ossos, objetos, pinturas, enfim, qualquer prova da existência desses povos do passado, que tenha sido preservada pela natureza.

        Para saber mais sobre essa profissão, acompanhe a conversa que a CHC teve com Maria Beltrão. Além de cientista, ela também é escritora e nos contou como nasceu o seu livro de arqueologia para crianças: O homem pré-histórico e o céu.

        Revista CHC – Quando e por que a senhora decidiu ser arqueóloga?

        Maria Beltrão – Eu tinha nove anos e gostava muito de ler. Com a autorização do meu pai, fui lendo vários livros de sua biblioteca. Mas, certo dia, ele me viu lendo um livro bastante adiantado para a minha idade. Delicadamente, disse-me que o livro não era apropriado e me indicou um outro de ciências naturais e acrescentou: “Maria, você gosta muito da natureza, vive observando tudo e cavoucando a terra. Tenho certeza que você vai gostar de ciências”. E ele tinha razão.

        Revista CHC – O que faz um arqueólogo?

        Maria Beltrão – Sempre fui muito curiosa e, desde pequena, queria saber como eram as coisas e as pessoas que viveram neste mundo antes de nós. Por isso, resolvi estudar arqueologia. Os arqueólogos participam de escavações, analisam objetos e pinturas antigas, procurando pistas sobre o que aconteceu por aqui no passado. Já descobri muita coisa legal! A maioria dos objetos que encontro vai para os museus. Outros são mais divertidos de ver lá mesmo nos locais onde ficaram durante todo esse tempo. Às vezes, parece que estou brincando de detetive. A cada momento aparece um sinal diferente e a nossa investigação fica mais emocionante.

        Revista CHC – Seu trabalho envolve trocas de conhecimentos com outras áreas? Por quê?

        Maria Beltrão – Sim. O arqueólogo trabalha escavando as várias camadas da terra, por isso, precisa ter conhecimentos de geologia, que estuda a Terra e suas transformações. Às vezes, ao escavar um terreno, encontro animais que se extinguiram há milhares de anos. Nestes casos, preciso ter conhecimentos de paleontologia – que estuda animais e fósseis extintos. Quando encontro esqueletos recentes, preciso ter conhecimentos sobre a antropologia biológica – ciência que analisa o homem de hoje. Se os esqueletos são muito antigos, vou precisar dos conhecimentos da paleontologia humana – que estuda a evolução do homem primitivo. Por isso, é muito importante fazer um trabalho interdisciplinar, com equipes de diversas áreas, para dar conta do trabalho.

        Revista CHC – Quando criança, a senhora pensou em ter outra profissão?

        Maria Beltrão – Nunca pensei. Desde que vi no livro do meu pai uma preguiça gigante, nunca mais deixei de me interessar pelo assunto. Curioso é que, nas minhas escavações pela Bahia, encontrei vários ossos de preguiça gigante. Se fosse escolher hoje uma nova profissão, eu escolheria a astronomia. Como as estrelas são muito antigas, eu poderia também vasculhar o passado e fazer descobertas. A astronomia tem uma maneira bonita de olhar para o passado: observando as estrelas.

        Revista CHC – A senhora também é escritora. Quantos livros já escreveu? Todos centrados na arqueologia?

        Maria Beltrão – Já escrevi nove livros sobre arqueologia e tenho dois livros infantis em preparação. Já publiquei também algumas poesias.

        Revista CHC – O homem pré-histórico e o céu é o seu primeiro livro para crianças? Como nasceu a ideia de escrever um livro de pano para esse público?

        Maria Beltrão – Sim. Eu quis fazer um livro que tivesse características antigas, por isso, escolhi o livro de pano. Os livros de pano e as colchas de retalhos são tradições passadas de mãe para filhos e combinam muito com a proposta arqueológica. É também um material que resiste mais ao tempo, além disso, ele pode ser lavado e compartilhado com a família e os amigos. Mas, infelizmente, a edição é muito cara. Acabei fazendo uma edição pequena (500 exemplares) e artesanal para ser distribuída. Tenho um projeto de republicá-lo em parceria com uma instituição ligada à astronomia.

        Revista CHC – A senhora pensa em escrever outros livros para crianças?

        Maria Beltrão – Sim, já tenho dois em andamento. Quero levar o conhecimento científico para as crianças, pois são elas que podem modificar o mundo. Elas serão os nossos cientistas no futuro.

        Revista CHC – O que a senhora diria para as crianças que pensam ser um dia arqueólogos?

        Maria Beltrão – O arqueólogo é um cientista e deve ser contestador por natureza. Portanto, não deve aceitar apenas as ideias dos outros. Ao contrário, o cientista deve procurar outros caminhos, ir adiante e além. Eu sempre procurei também desenvolver trabalhos que ultrapassassem os limites da universidade. É preciso popularizar a informação e aproximar o homem comum do conhecimento.

               Cathia Abreu. Arqueóloga desde menina. In: Ciência Hoje das Crianças. São Paulo: IBPC, 4 jan. 2005.

Fonte: Língua Portuguesa – Caminhar e transformar – Aos finais do ensino fundamental – 1ª edição – São Paulo – FTD, 2013. p. 164-7.

Entendendo a entrevista:

01 – Leia a entrevista com atenção e responda: De acordo com a entrevista, qual é o trabalho do arqueólogo?

      Realizar escavações, analisar objetos históricos e pinturas antigas e estudar o passado.

02 – Releia estes dois trechos do texto. Ambos tratam do mesmo assunto.

        “Eu quis fazer um livro que tivesse características antigas, por isso escolhi o livro de pano.”

        “[...] infelizmente, a edição é muito cara.”

Agora, responda: A ideia do segundo fragmento se caracteriza como uma consequência do primeiro?

      Não, uma ideia se opõe a outra. Mostrar que o desejo era fazer o livro e que esse desejo não se realiza devido ao alto custo envolvido em sua confecção.

03 – De acordo com a autora, os conhecimentos devem ser restritos ao ambiente universitário? Explique.

      Não, segundo ela, o conhecimento deve ser difundido, popularizado, para aproximar o homem comum do conhecimento.

04 –A que a autora compara o trabalho do arqueólogo? Essa comparação faz sentido?

      Ao trabalho de um detetive. Sim, pois ambos investigam, procuram por fatos e objetos.

05 – Responda.

a)   Identifique o entrevistador e o entrevistado do texto que você acabou de ler.

Entrevistador: Cathia Abreu, da revista Ciência Hoje das Crianças. Entrevistada: arqueóloga Maria Beltrão.

b)   Qual é o objetivo da entrevista?

Buscar informações sobre a profissão de arqueólogo.

c)   As informações do texto são reais ou foram inventadas?

Reais, pois trata de um texto informativo comprometido com a realidade das informações.

d)   Geralmente uma entrevista é feita oralmente e registrada num gravador. Depois, é feita a transcrição, isto é, alguém ouve a gravação e faz o registro escrito. Como a entrevista transcrita se organiza na página.

Organiza-se em duas colunas; o nome da revista aparece antes das perguntas e o nome da entrevistada também em negritos.

e)   Que informações aparecem no texto apresentado antes da entrevista? Qual é a finalidade desse texto?

Há uma apresentação com informações pessoais da entrevistada para despertar o interesse do leitor.