Poema: Achando-se um braço perdido do Menino Deus
Gregório de Matos
ACHANDO-SE UM BRAÇO PERDIDO DO MENINO
DEUS DE N. S. DAS MARAVILHAS, QUE DESACATARAM INFIÉIS NA SÉ DA BAHIA
O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo
parte,
Não se diga, que é parte, sendo
todo.
Em todo o Sacramento está Deus
todo,
E todo assiste inteiro em
qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a
parte,
Em qualquer parte sempre fica o
todo.
O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes
todo,
Assiste cada parte em sua parte.
Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo
parte,
Nos disse as partes todas deste
todo.
MATOS, Gregório de. In: WISNIK, José Miguel (Sel. E Org.). Poemas
escolhidos de Gregório de Matos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 326.
Fonte: Língua
Portuguesa. Se liga na língua – Literatura – Produção de texto – Linguagem.
Wilton Ormundo / Cristiane Siniscalchi. 1 Ensino Médio. Ed. Moderna. 1ª edição.
São Paulo, 2016. p. 97-98.
Entendendo o poema:
01 – De acordo com o texto, qual o significado
das palavras abaixo:
·
Sacramento: ritual cristão feito com o intuito de confirmar a fé dos
homens em Deus.
·
Assiste: cuida.
02 – Por que Gregório de Matos
dedica seu poema ao braço da estátua e não à figura inteira do Menino Jesus?
Porque o braço da
estátua não representa uma parte dela, mas um todo. Dessa forma, o braço
representa o Menino Jesus, e não uma parte dele.
03 – A qual figura de linguagem
você associaria o poema? Como você chegou a essa conclusão?
Podemos associar
o poema à metonímia porque o poeta utiliza uma parte para representar um todo.
04 – No quarteto inicial do
poema, faz-se um complexo jogo com as palavras parte e todo.
a) Coloque o primeiro verso em ordem direta e explique-o sucintamente.
O todo não é todo sem a parte. Para o todo ser todo, uma unidade,
não poderá faltar nele a parte.
b) No segundo verso, afirma-se que, sem o todo, isto é, isolada, a parte não é, de fato, uma parte. Nesse caso, o que seria ela?
Ela seria o próprio todo, pois não havendo um todo que ela pudesse
compor, não haveria a parte. Dessa forma, o pedaço constituiria um todo.
c) O que se pode concluir a partir da leitura dos dois últimos versos do primeiro quarteto?
Se o “todo” é formado pela “parte”, conclui-se que a “parte” é o
“todo”, ou seja, o braço da imagem encontrado não é simplesmente uma parte
dela, mas ela toda.
05 – Releia o poema e,
retomando as estrofes, explique de que maneira cada uma delas se articula à
conclusão feita no primeiro quarteto.
Segundo
quarteto: da mesma maneira que a “parte” é o
“todo”, cada um dos Sacramentos católicos – partes – constituem o todo da fé em
Deus. Primeiro terceto: o braço de Jesus não pode ser visto como
“parte”, pois ele, mesmo estando estilhaçado em partes, foi feito “todo”. Segundo
terceto: o braço não se sabe parte de um todo, por isso “diz”, como se
fosse um todo, a fé cristã do povo.
06 – Que mensagem você acha
que o eu lírico pretende passar aos fiéis?
Não importa ao
homem de fé que a imagem tenha sido despedaçada. Cada pedaço dela encontrado
deveria servir como elemento renovador da fé do cristão.
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