CRÔNICA: ADORÁVEIS FELINOS - WALCYR CARRASCO - COM GABARITO

Crônica: Adoráveis Felinos

                Walcyr Carrasco

 SOU UM CASO ÚNICO. Dizem que os gatos jamais abandonam o lar. Mas eu tive uma gata branca que partiu sem dar satisfações. Encontrei-a em frente à casa de um amigo, de noite, miando com ar sofredor. Não tive dúvidas. Botei no carro e levei para casa. Nunca vou esquecer como era gostoso passar a mão em seus pêlos, horas e horas, meditando sobre a vida. Às vezes me lambia com sua linguinha cor-de-rosa, o que eu considerava um privilégio. Ficou por lá três meses. Um dia desapareceu.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3JwL39VaFMZAGEvW6CIzLYkoETo7jK3jMVFsB4ekPbgqNfXMbCl34jHmOSYpLhzdmu6Nk3WgZiqc4wUgvWTxCRypxhkxATNICHZg_qqU-MvEHNOBiOUzz_YY3rfb8w7uc3k2TTFCVRctov2EpYofnD76LIDTgHBTOa1PJIqiOwNkKLiy3sTjH1Esh8sU/s320/gato-do-deserto-conexao-planeta.jpg

Sofri. Imagino que voltou a seu antigo lar, utilizando seu absoluto senso de direção. Ou, pior, foi miar em outra freguesia com a mesma aparência de abandonada. Desde então passei a me dedicar aos cães. Nem por isso deixo de admirar os felinos. Têm personalidade. Só fazem o que querem. Mas quem ama os gatos faz qualquer coisa por eles. Um amigo separou-se da mulher. Sofria como doido. Por causa da gata, que ficara em seu antigo lar. Finalmente, ligou exultante:

           — Agora está tudo certo. Acabou-se o drama.

           — Que bom! Voltou com ela?

           — Não... mas trouxe a gata pra viver comigo.

Em outra oportunidade fui a uma gravação de um programa de televisão que exigia um gato azul. O gato devia ser perseguido, correr e pular para cima de uma árvore. Quanto otimismo! Ao chegar, vi um gato gordo pintado de azul — com uma rinçagem especial para pêlos de animais. Mais adiante, em outra gaiola, outro gato, também pintado. Era o duble. Puseram o primeiro gato no chão. Todos os atores saíram correndo, espantando. Ele continuou imóvel. Botaram o segundo. Mais imóvel ainda. Eram gatos gordos e peludos, que preferiam ficar deitados enquanto todos se esgoelavam em torno. Voltaram ao primeiro. A veterinária encarregada amarrou suas patas com umas cordinhas e puxou, para ver se ele andava. O bichano deixou-se arrastar no chão. Decidiram gravar por partes. Assim, os atores ficaram correndo de um lado para o outro, gritando.

      — Olha o gato!, olha o gato!

Enquanto isso, o astro observava a gritaria placidamente, certamente imaginando que os humanos são uns bichos muito esquisitos. Chegou o momento final. Bastava colocar o felino em cima da árvore. Todos olhariam para o galho e gritariam. Quem conseguiu? Tomado de fúria, o gato arranhou a todos que tentavam tirá-lo de seu cantinho confortável. Começou a chover e o gato desbotou. Exaustos, todos transferiram a gravação para outro dia.

Há alguns anos eu ia passando pelo Itaim. Em uma casa de esquina havia bem uns cem gatos no jardim. Parei para admirar. A dona, encantada, comentou.

         — Quer um filhotinho para começar sua coleção? Esse é o problema. Quem começa com um termina com vinte. Ou trinta, ou mais. Os filhotinhos são tão bonitos, tão graciosos! Dá dó de oferecer, a não ser que já se tenha chegado à centena.

São também bons gourmets. Gostam do que é bom. Conheci uma garota que tinha o hábito de comer latinhas de ração para gato. Dizia ter um sabor delicioso de peixe. Nunca tentei experimentar. Ainda! Pois um guloso como eu pode chegar a tudo. 

         Muita gente discute o amor felino.           

         — Gato não serve para guardar a casa.

De fato. Nunca ouvi dizer que um bichano tenha atacado ladrões, ou miado para prevenir o dono. Mas possuem uma fidelidade exemplar. São uma companhia silenciosa mas cálida. Ninguém se sente realmente sozinho quando tem um gato. E quem disse que um gato não tenta contribuir para o orçamento familiar? Observe. Basta caçar uma ratazana das bem grandes para atirá-la na porta da cozinha, de presente. Como se dissesse.

         -— Trouxe o jantar!       

Por mais que eu ame os cães, sou obrigado a reconhecer. Quando se diz que alguém é um cachorro, bem... tome cuidado. Gato ou gata é elogio. E pura sabedoria popular. Isso deve significar alguma coisa.

Entendendo o texto

01. Por que o autor afirma ser um caso único no que diz respeito ao abandono de um gato?

a) Porque ele encontrou uma gata branca abandonada e a levou para casa.

b) Porque ele nunca teve um gato como animal de estimação. c) Porque ele nunca teve problemas com gatos que abandonaram sua casa.

d) Porque ele prefere cães como animais de estimação.

   02. O que o autor considerava um privilégio em relação à interação com sua gata?

         a) As brincadeiras de caça que faziam juntos.

         b) Passar horas meditando enquanto acariciava seus pelos.

         c) Receber presentes que ela trazia da rua.

         d) Poder levá-la para qualquer lugar sem problemas.

   03.Por que o autor passou a se dedicar aos cães depois que sua gata desapareceu?

         a) Porque preferia animais mais ativos e brincalhões.

         b) Porque tinha medo de se apegar novamente a um gato.

         c) Porque acredita que os cães são mais fiéis que os gatos.

         d) Porque acha que os gatos são muito independentes.

    04. O que aconteceu durante a gravação do programa de televisão que exigia um gato azul?

        a) O gato fugiu do set de filmagem.

        b) O gato arranhou todos os atores.

        c) O gato ficou imóvel apesar das tentativas de animá-lo.

        d) O gato se recusou a ser pintado de azul.

  05. O que a dona da casa cheia de gatos ofereceu ao autor quando ele parou para admirar os felinos?

        a) Uma oportunidade de adotar um filhote de gato.

        b) Um jantar com pratos feitos à base de carne de gato.

        c) Um conselho sobre como cuidar de gatos de forma responsável.

       d) Um emprego na sua empresa de criação de gatos.

  06. O que a garota mencionada no texto tinha o hábito de comer?

       a) Latas de atum.

       b) Bolinhos de carne.

       c) Latas de ração para gatos.

       d) Comida enlatada para cachorros.

  07. Qual é a opinião do autor sobre a capacidade dos gatos de guardar a casa?

        a) Eles são excelentes guardiões e protetores.

        b) Eles não se preocupam em proteger a casa.

        c) Eles são melhores que os cães nessa função.

        d) Eles são mais agressivos que os cães.

   08. O que os gatos costumam fazer para contribuir com o orçamento familiar, de acordo com o autor?

        a) Trabalhar como caçadores de ratos.

        b) Pedir esmolas na rua.

        c) Ajudar nas tarefas domésticas.

        d) Assustar intrusos que tentam invadir a casa.

   09. O que o autor quer dizer quando afirma que "quando se diz que alguém é um cachorro, tome cuidado"?

       a) Que os cães são animais perigosos.

       b) Que os cães são mais leais que os humanos.

       c) Que chamar alguém de cachorro pode ser ofensivo.

       d) Que os cães são geralmente associados a qualidades negativas.

   10. Qual é a mensagem final que o autor quer transmitir sobre os gatos?

        a) Que são animais perigosos e não confiáveis.

        b) Que são mais inteligentes que os cães.

        c) Que são companheiros silenciosos e reconfortantes.

        d) Que são incapazes de contribuir para a família de forma útil.