sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

CONTO: OS TRÊS PORQUINHOS, NA REAL! LUÍS CAMARGO - COM GABARITO

 Conto: Os três porquinhos, na real!

            Luís Camargo

         Mermão, eu vou te dizer que vida de lobo não é moleza! Eu sei que sou mal falado, que nem aquele bode, sabe qual? O bode expiatório, que leva culpa de tudo. Esse, pelo menos, tem vida mansa, dono e tal, refeição garantida e cama quentinha. Pra ele tanto faz se é benquisto, xingado, odiado!

         Já eu tenho que malhar o dia inteiro pra ter o que comer, e ainda querem ditar meu cardápio. Querem que eu coma capim, cogumelo ou ervas daninhas, aquelas que não servem pra nada, muitas vezes até intoxicam.

          Tô te contando isso pra ver se você entende meu lado, o lado do sofredor, passando fome, frio e humilhação!

           Pois veja se minha história real, essa que vou te contar, bate com aquilo que já ouviu por aí.

            Então, um dia frio em que não encontrei nem uma lagartixa pro café, fui andando à beira de um rio pra ver se algum peixe pulava da água na minha boca... Daí avistei uma moita de flores brancas, cheguei perto e elas pareciam bem carnudas. A fome apertou e nhoct! Abocanhei uma. Hum, meio amarga!

            Imediatamente comecei a babar, minha garganta foi se fechando, as pernas cambaleando. Eu precisava de socorro! Mas  quem ia me ajudar, no meio da floresta? Minha visão ficou embaçada e comecei a andar em zigue-zague.

             Finalmente, avistei uma casinha que – juro! – eu nem tinha  ideia de quem morava lá. Comecei a gritar:

             - Socorro, alguém me ajude!

             Lá de dentro veio uma voz:

             - Quem é? O que foi?

             - Acho que engoli uma flor envenenada...

             - Era uma flor branca?

             - Isso mesmo!

             - Ah!, é a que se chama copo-de-leite, todo mundo acha uma gracinha, mas ninguém sabe que é tóxica. Chega mais perto que eu tenho aqui o antídoto.

              - O quê?...

              - O antídoto, o remédio contra o veneno dessa flor. Fui cambaleando em direção à casa, sem enxergar nada! De repente, tudo desmoronou na minha frente e eu caí espatifado sobre uma espécie de colchão. Colchão que nada! Não é que a casa era de palha? E não tinha ninguém lá dentro!

          Pois é, naquela história mentirosa que contam, quem morava nessa casa era  um porquinho, e as más-línguas dizem que eu o comi! Que tinha alguém lá dentro, tinha, pois me respondeu, mas deve ter se apavorado e fugiu. Também, faz uma casa de palha e quer o quê?

           Voltou tudo à estaca zero! Eu, com uma tremenda dor de barriga e sem enxergar nada, continuei andando em zigue-zague, até que avistei outra casa, então pedi novamente socorro.

           Uma voz respondeu:

           - Quem é?

           - Acho que engoli uma flor envenenada!

           - Já caí uma vez nessa conversa, conta outra!

           - Não é conversa, não, preciso do antídoto!

           - O quê?

           - O antídoto, o remédio contra o veneno daquela flor!

           - Aqui não é o Instituto Butantan!

           - Então me arruma um pouco de água pra beber, quem sabe alivia!

           Você acredita que a criatura que morava naquela casa mandou um baita esguicho de água pra cima de mim? Tive que sair correndo pra não pegar uma pneumonia!

            A boa notícia é que aquela água realmente me deu alívio e assim consegui, pelo menos, voltar para a minha toca, bem longe daquele lugar horroroso.

             Se você prestou atenção, percebeu que nessa história toda a vítima fui eu! Pois é, dizem que a casa do esguicho era do irmão do primeiro porquinho, que a construiu com madeira. Que eu teria derrubado também essa casa e comido o segundo porquinho! Eu estava fraco e quase cego...Estou indignado!

              Mas a calúnia não termina aí! Ainda dizem que eu fui até à casa  de um terceiro porquinho, irmão dos primeiros, que tentei entrar lá e comer mais esse. Que só não consegui porque ele era mais esperto e construiu a casa com tijolos!

               É por mentiras desse tipo que o mundo vai cada vez pior. Tem mais: bichos como esses porquinhos não tem moral pra criticar ninguém... Na minha humilde toca sempre cabe mais um! E esses porquinhos, não podiam morar juntos? Onde já se viu deixar irmão morar em casa de palha, heim?...

            Bicho que não sabe o que é família!... Bicho que não sabe o que é fraternidade!... Bicho que não sabe o que é solidariedade!... Na real, até parece gente!

Luís Camargo. Os três porquinhos, na real!

Fonte: Encontros língua portuguesa, 4º ano: componente curricular língua portuguesa: ensino fundamental, anos iniciais/Isabella Pessoa de Melo Carpaneda, Angiolina Domanico Bragança – 1 ed. São Paulo: FTD, 2018, p.114-9.

Entendendo o texto

            01. Responda.

     a)   O conto Os três porquinhos, na real! é uma paródia? Por quê?

Sim, é uma paródia porque reconta uma história já conhecida, mas de uma forma diferente, divertida e bem-humorada.

b)   Na sua opinião, o conto tem a mesma graça se o leitor não conhecer o conto tradicional Os três porquinhos?

Resposta pessoal. A compreensão desse conto depende de conhecimentos do conto original dos porquinhos.

c)   Que sentido a expressão na real dá ao título do conto? Por quê?

É importante que os alunos percebam que a expressão na real sugere que a versão original está incorreta ou à falsa.

 d)   Depois de conhecer a versão do lobo, você acha que ele é culpado ou inocente? Por quê?

Resposta pessoal.

02. Você já estudou que o narrador é quem conta a história. É ele quem apresenta os elementos da narrativa: personagens, ambiente, tempo e tudo o mais.

·        Nesse conto, o narrador é:

(    ) observador, ou seja, narra os fatos sem fazer parte da história.

( X ) personagem, ou seja, narra os fatos sob o seu ponto de vista.

03. Na sua opinião, qual a intenção do autor em escolher esse tipo de narrador para contar os fatos da história?

   A escolha de um narrador-personagem dá oportunidade ao narrador de não só narrar os fatos, mas de mostrar suas emoções diante dos fatos, na tentativa de convencer o leitor de que seu ponto de vista é o correto. Além disso, o fato de a história ser narrada pelo “vilão” do conto clássico contribui para dar humor à versão.

04. Responda.

a)                       Na história original, o lobo vai até a casa dos porquinhos com o intuito de comê-los. De acordo com essa versão, foi isso que aconteceu? Justifique.

        Espera-se que os alunos respondam que não. Nessa versão o lobo diz que foi à casa dos porquinhos para buscar socorro, pois havia comido em planta (copo-de-leite) que o intoxicou.

 b)   Que justificativa o lobo deu para o fato de as casas dos dois primeiros porquinhos terem caído?

Ele justificou dizendo que, como estava sem enxergar direito e cambaleando, caiu e tudo desmoronou.

 c)   O que você acha que aconteceu com o lobo no final da história? Justifique sua resposta.

       Resposta pessoal.

       05. A linguagem utilizada no conto Os três porquinhos, na real! é informal, por esse motivo apresenta expressões comuns do dia a dia, na comunicação com pessoas com quem temos intimidade.

Escreva o significado das expressões sublinhadas a seguir.

a)   “[...] as más-línguas dizem que eu o comi!”

As pessoas que costumam falar mal dos outros.

b)   “Voltou tudo à estaca zero!”

Começou tudo de novo.

c)   “- Já cai uma vez nessa conversa, conta outra!”

Já acreditei nessa história uma vez.

06. O lobo faz uma crítica no último parágrafo do conto. A quem?

Espera-se que os alunos concluam que o lobo faz uma crítica aos seres humanos que não são solidários e não têm sentimentos de amor ao próximo.

 

 

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