Texto: AS
PALAVRAS
As palavras são parte dinâmica do mundo de símbolos que nos cerca.
O texto a
seguir nos fala de sua importância fundamental para o pensamento e para a
própria cultura.
PALAVRAS
E IDEIAS
Há alguns anos, o Dr. Johnson O’Connor, do Laboratório de Engenharia Humana, de
Boston, e do Instituto de Tecnologia, de tecnologia, de Hoboken, Nova Jersey,
submeteu a um teste de vocabulário cem alunos de um curso de formação de
dirigentes de empresas industriais (industrial executives), os executivos.
Cinco anos mais tarde, verificou que os dez por cento que haviam revelado maior
conhecimento ocupavam cargos de direção, ao passo que dos vinte e cinco por
cento mais “fracos” nenhum alcançara igual posição.
Isso não prova, entretanto, que, para vencer na vida, basta ter um bom
vocabulário; outras qualidades se fazem, evidentemente, necessárias. Mas parece
não restar dúvida de que, dispondo de palavras suficientes e adequadas à
expressão do pensamento de maneira clara, fiel e precisa, estamos em melhores
condições de assimilar conceitos, de refletir, de escolher, de julgar, do que
outros cujo acervo léxico seja insuficiente ou medíocre para a tarefa vital da
comunidade.
Pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras são
o revestimento das ideias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar.
Como pensar que “amanhã tenho uma aula às 8 horas”, se não prefiguro
mentalmente essa atividade por meio dessas ou de outras palavras equivalentes?
Não se pensa in vácuo. A própria clareza das ideias (se é que as temos sem
palavras) está intimamente relacionada com a clareza e a precisão das
expressões que as traduzem. As próprias impressões colhidas em contato com o
mundo físico, através da experiência sensível, são tanto mais vivas quanto mais
capazes de serem traduzidas em palavras – e sem impressões vivas não haverá
expressão eficaz. É um círculo vicioso, sem dúvida: “... nossos hábitos
linguísticos afetam e são igualmente afetados pelo nosso comportamento, pelos
nossos hábitos físicos e mentais normais, tais como a observação, a percepção,
os sentimentos”. De forma que um vocabulário escasso e inadequado, incapaz de
veicular impressões e concepções, mina o próprio desenvolvimento mental, tolhe
a imaginação e o poder criador, limitando a capacidade de observar, compreender
e até mesmo de sentir. “Não se diz nenhuma novidade ao afirmar que as palavras,
ao mesmo tempo que veiculam o pensamento, lhe condicionam a formação. Há século
e meio, Heder já proclamava que um povo não podia ter uma ideia sem que para
ela possuísse uma palavra”, testemunha Paulo Rónai em artigo publicado no
Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, e mais tarde transcrito na 2ª edição de
Enriqueça o seu vocabulário (Rio, Civilização Brasileira, 1965), de Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira.
Portanto, quanto mais variado e ativo é o vocabulário disponível, tanto mais
claro, tanto mais profundo e acurado é o processo mental da reflexão.
Reciprocamente, quanto mais escasso e impreciso, tanto mais dependentes estamos
do grunhido, do grito ou do gesto, formas rudimentares de comunicação capazes
de traduzir apenas expansões instintivas dos primitivos, dos infantes e ... dos
irracionais.
GARCIA, Othon
Moacir. Comunicação em prosa moderna.
8. ed. Rio de Janeiro, FGV, 1980. p. 155-6.
Entendendo
o texto:
01 – O
que revelaram as pesquisas do Dr. Johnson O’Connor?
Suas pesquisas revelaram que, dentre os alunos de um curso para executivos, os
dez por cento que tinham maior vocabulário alcançaram sucesso profissional
maior que os vinte e cinco por cento de vocabulário mais fraco – isso cinco
anos após a conclusão do curso.
02 – Observe o
trecho “Isso não prova, entretanto, ...” e responda:
a) A que se refere o pronome isso?
O pronome se refere ao dado apontado na
resposta à questão anterior. Destacar para o aluno o valor do demonstrativo
isso, sempre usado no interior do texto para recuperar um dado apresentado
anteriormente.
b) Qual a relação de significado
estabelecida pela palavra entretanto?
Ela estabelece uma relação de oposição
entre o que já foi e o que será apresentado.
03 – Qual
a comparação feita no segundo parágrafo.
Comparam-se, em termos de eficiência expressiva, as pessoas que dominam um bom
vocabulário com aquelas que têm acervo léxico insuficiente; essa eficiência é
maior no primeiro grupo de pessoas.
04 –
Retire do texto a frase que melhor sintetiza o conteúdo do terceiro parágrafo.
“Pensamento e expressão são interdependentes, tanto é certo que as palavras são
o revestimento das ideias e que, sem elas, é praticamente impossível pensar.”
Pode-se adiantar alguma coisa sobre o conceito de tópico frasal.
05 –
Explique com suas palavras o “círculo vicioso” a que o texto se refere.
Não só as palavras permitem traduzir melhor o que se sente e pensa, mas também
o que se sente e pensa é afetado pelo vocabulário que se domina.
06 –
Observe a locução de forma que. Qual a relação de significado que
estabelece entre o que a antecede e o que a segue?
Exprime uma relação de especificação: anteriormente, abordou-se a questão num
nível abrangente (“hábitos linguísticos”); o período iniciado por “de forma
que” dirige a discussão para o caso mais particular do vocabulário.
07 – O
que nos indica a palavra portanto, na abertura do quarto parágrafo?
Que o texto
se encaminha para uma conclusão.
08 – O
quarto parágrafo é construído com base em proporções e contraste. Aponte essas
proporções e esse contraste e indique as palavras que os evidenciam.
Proporções: vocabulário mais ativo e variado produz um processo mental de
reflexão mais claro, profundo e acurado; vocabulário escasso e impreciso produz
dependência maior de formas rudimentares de expressão. O contraste ocorre
entre essas duas proporções.
09 – Qual
é, na sua opinião, o papel das reticências no final do texto?
É fundamentalmente irônico, pois indica uma pausa de leitura introdutória ao
último termo, que vem carregado de ironia.
10 –
Elabore um esquema do texto lido, transformando cada parágrafo numa frase que
contenha suas ideias principais. A seguir, explique o percurso seguido pelo
autor na exposição do assunto.
1º
parágrafo: Dados do Dr. O’Connor sobre domínio de vocabulário e sucesso
profissional.
2º
parágrafo: Relação entre posse de um bom vocabulário e facilidade para
realizar operações mentais.
3º
parágrafo: interdependência entre pensamento e expressão: a boa expressão
depende da clareza de pensamentos, que por sua vez é determinada pela riqueza
expressiva.
4º
parágrafo: conclusão, que reafirma as ideias colocadas anteriormente e
acrescenta uma nota irônica ao texto.
O texto parte de dados concretos, estatísticos, ampliando-os para discutir a
relação entre pensamento e expressão. Curioso notar como o texto começa falando
em profissionais bem-sucedidos, executivos de alto nível, e se encerra falando
em irracionais.
11 – Você
concorda com as relações que o texto estabelece entre o domínio do vocabulário
e a capacidade de compreensão e expressão? Por quê?
Resposta
pessoal do aluno.
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