segunda-feira, 25 de novembro de 2024

FÁBULA: GANSA DOS OVOS DE OURO - COM GABARITO

 Fábula: Gansa dos Ovos de Ouro

"Quem tudo quer tudo perde"

 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwVf4jC6EqdreKDFiml0uFUwLJSzL2nIqP5RFK6eP6P8HWC3wYD8qIzhEdo1jp42EUd7w37mqv-JVKW6avxdnXhEnCHBnJb55ZmWVdDzSileqh3ZGb-2AhtG2Oi-q1CuJuRXhqqmNSWgj2pkoJmVOgciT_uSTNrVB1pgvYgLsZwJ9bPVfsDthKgcfRpLk/s1600/ovos.jpg


Certa manhã, um fazendeiro descobriu que sua gansa tinha posto um ovo de ouro. Apanhou o ovo, correu para casa, mostrou-o à mulher, dizendo:

- Veja! Estamos ricos! Levou o ovo ao mercado e vendeu-o por um bom preço. 

Na manhã seguinte, a gansa tinha posto outro ovo de ouro, que o fazendeiro vendeu a melhor preço. E assim aconteceu durante muitos dias. Mas, quanto mais rico ficava o fazendeiro, mais dinheiro queria. E pensou: 

"Se esta gansa põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!" 

Matou a gansa e, por dentro, a gansa era igual a qualquer outra.

Entendendo o texto

01.Marque P para efeitos de sentidos PERTINENTES ao texto-discurso e I para efeitos de sentidos IMPERTINENTES:

a- ( P ) percebe-se uma crítica à ambição;

b- ( P ) percebe-se o vale tudo para enriquecer, quando matou-se a gansa;

c- ( I ) percebe-se o contentamento com o que se tem, mesmo que a vida nos ofereça pouco;

d- (P )percebe-se a tentativa de passar uma moral ao leitor, a de que quem tudo quer tudo perde;

e- (  I )percebe-se que “quem nada quer é que já tem tudo”;

f- ( P )percebe-se que os ambiciosos são tratados como tolos

02-Qual o gênero textual concernente ao texto-discurso lido? 

        a- conto;

        b- crônica;

        c- fábula;

        d- parábola

03-O objetivo central desse texto-discurso seria:

       a- informar;

       b- ensinar moral;  

       c- aconselhar;

      d- provocar humor

04-Qual a tese central defendida?

     a- não seja ambicioso;

     b- ambição demais pode deixa-lo sem nada;

     c- todo dinheiro que vem fácil vai fácil;

     d- cuidado com para não fazer tolices nos negócios

05-As expressões “Certa manhã” e “Na manhã seguinte” demarcam:

     a- o lugar em que se passam os fatos narrados;

     b- o momento em que se passam os fatos narrados;

     c- o modo tal qual se passam os fatos narrados;

     d- a causa geradora dos fatos narrados

06-O motivo principal que levou o personagem fazendeiro ter matado a gansa foi:

      a- a curiosidade do fazendeiro;

      b- o fato de o fazendeiro ser muito rico;

      c- a ambição do fazendeiro por mais ovos de ouro;

      d- a tolice do fazendeiro

07-Os verbos grifados acima descrevem ações ocorridas em momentos:

      a- presentes;

      b- passados;

      c- futuros;

      d- repetidos

08-E se o argumento moralista “quem tudo quer tudo perde” fosse transformado em outro argumento moralista “quem nada quer nada ganha”. Qual diferença faria?

O primeiro argumento alerta sobre os perigos da ganância excessiva, enquanto o segundo incentiva a proatividade e a busca por objetivos. Ambos são generalizações e podem não se aplicar a todas as situações.

 

09-A ambição seria uma prática social destrutiva ou existe algum tipo de ambição saudável? Argumente, produzindo um texto-discurso de sua autoria, abordando a questão.

A ambição é um impulso humano complexo. Em excesso, pode levar a atitudes egoístas e destrutivas, como demonstra a fábula da gansa. No entanto, uma ambição moderada e direcionada a metas positivas, como o desenvolvimento pessoal e o bem-estar da comunidade, pode ser um motor para o crescimento e a realização. É importante que a ambição seja equilibrada com valores como empatia, cooperação e respeito ao próximo.

10-A quem ou a que se referem os verbos sublinhados no texto-discurso?

Os verbos se referem ao fazendeiro.

11-Retire do texto-discurso um argumento que demonstre delírio do personagem fazendeiro e outro argumento que demonstre choque de realidade do personagem.

Delírio: "Se esta gansa põe ovos de ouro, dentro dela deve haver um tesouro!"

Choque de realidade: "Mas, por dentro, a gansa era igual a qualquer outra."

 12- Em “bom preço” e “melhor preço”, quais são os dois adjetivos usados para qualificar positivamente o preço dos ovos de ouro?

Os adjetivos são: "bom" e "melhor".

 

ARTIGO DE OPINIÃO: O LOBO E O CORDEIRO - CARLOS HEITOR CONY - COM GABARITO

 Artigo de opinião: O lobo e o cordeiro

           Carlos Heitor Cony

        Rio de Janeiro – Outro dia, li no noticiário que já começam a falar em trincheira. Parece que ainda é uma metáfora, uma licença poética, alguma coisa assim. Sem entrar no mérito da briga entre Minas e Governo Federal, achei a ideia boa.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLkW6XMk7FyO9xUBRzE3q1l3xYlgPDtKHL0db-K79g2_gg30C2U6PsUK-rVuvKuNaO238EqEZY05UfvHmN8dFKUELa6HfNKwknd8razH3B4UPCMpLkfygtsKahHUEL1oKV8ie4suecABqIVkNrF6mN5dklP2Y1WHSLWNG3bg_zkFbXAschAP828gCJ-Y4/s320/MG.jpg


        A taxa de desemprego no país anda alta e a tendência é subir mais. Ao longo da história, sempre que a população crescia em tempos de paz, havia uma guerra para absorver mão-de-obra e manter a humanidade em patamares decentes, sem o inchaço das cidades e aldeias.

        Assim foram formados os exércitos que, andando de um lado para o outro, criaram impérios, reinos, ducados, colônias, etc. Brecht, acho que em “Mãe coragem”, faz um personagem elogiar a guerra, que pelo menos em termos economia e mercado regulariza as coisas, cortando o supérfluo, mantendo os estoques básicos e evitando a explosão demográfica que cria problemas inúteis para o Estado.

        Para uma boa guerra é preciso um motivo, que nem precisa ser bom. Qualquer um serve. Na fábula de Esopo, além de ser o mais fraco, o cordeiro encheu o saco de lobo ao exigir um motivo decente para ser engolido.

        O lobo podia integrar a equipe econômica de qualquer governo tutelado pelo FMI. Em vez de um, deu dois bons motivos para comer o cordeiro. O primeiro até que não colou: o cordeiro estaria sujando a água que o lobo bebia. “Mas como?” – estranhou o cordeiro. “Você está em cima, eu estou em baixo, a água do rio passa primeiro por você, se alguém suja a água é você que suja a minha!”

        O lobo foi tão paciente quanto os ficais do sr. Camdessus. Deu outro motivo: “No ano passado, seu pai sujou a minha água”. E comeu o cordeiro.

        De Esopo para cá, a razão sempre esteve com o lobo. Não havia desemprego então, de maneira que hoje a guerra entre os dois é mais necessária. Quanto menos cordeiro, mais farta será a água do rio.

O lobo e o cordeiro, de Carlos Heitor Cony. Folha de São Paulo, 28/02/1999, fornecido pela Folhapress.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 232.

Entendendo o artigo:

01 – Qual a principal tese defendida por Cony no artigo?

      A principal tese defendida por Cony é que a guerra, embora cruel e injusta, pode ser vista como uma solução para problemas sociais como o desemprego. O autor utiliza a fábula de Esopo como metáfora para criticar a lógica de poder e as justificativas utilizadas para iniciar conflitos.

02 – Como Cony relaciona a fábula de Esopo com a realidade política?

      Cony utiliza a fábula de Esopo como um ponto de partida para analisar a relação entre os poderosos e os mais fracos. Ele mostra como os poderosos, assim como o lobo, encontram justificativas para seus atos, mesmo que sejam injustos e arbitrários.

03 – Qual a crítica de Cony ao sistema econômico e político?

      Cony critica o sistema econômico e político que, segundo ele, prioriza os interesses de poucos em detrimento das necessidades da maioria. Ele sugere que a guerra pode ser utilizada como uma ferramenta para controlar a população e manter o status quo.

04 – Qual o papel do FMI na metáfora utilizada por Cony?

      O FMI é utilizado como uma metáfora para representar as forças econômicas internacionais que impõem condições aos países em desenvolvimento. A figura do fiscal do FMI, Sr. Camdessus, é associada à paciência e à frieza do lobo ao encontrar justificativas para devorar o cordeiro.

05 – Qual a ironia presente no texto?

      A ironia está presente na forma como Cony trata um tema tão sério como a guerra. Ao utilizar a fábula de Esopo e uma linguagem irônica, ele demonstra a absurda lógica por trás dos conflitos e a indiferença dos poderosos diante do sofrimento humano.

06 – Qual a principal mensagem que Cony deseja transmitir?

      A principal mensagem de Cony é um alerta sobre os perigos da manipulação do poder e da justificativa de ações injustas. O autor busca provocar uma reflexão sobre as causas dos conflitos e sobre as consequências da guerra para a sociedade.

07 – Por que o título "O lobo e o cordeiro" é adequado ao texto?

      O título "O lobo e o cordeiro" é adequado ao texto porque resume a metáfora utilizada por Cony para analisar a relação entre os poderosos e os mais fracos. A fábula de Esopo é um arquétipo que representa a luta entre o bem e o mal, entre o forte e o fraco. Ao utilizar essa referência, Cony torna sua crítica mais universal e atemporal.

 

TEXTO: COMO DISTINGUIR O BAJULADOR DO AMIGO - (FRAGMENTO) - PLUTARCO - COM GABARITO

 Texto: Como distinguir o bajulador do amigo – Fragmento

           Plutarco

        Platão disse, meu caro amigo Antíoco, que se pode perdoar de bom grado a confissão de qualquer homem de amar-se excessivamente, mas, dentre os vários vícios que nascem desse amor-próprio, um dos mais perigosos é aquele que impede um julgamento equilibrado e imparcial de si mesmo; pois a amizade deixa-nos facilmente cegos a respeito do que amamos, a menos que uma educação sábia tenha nos acostumado a preferir o que é belo e honesto em si mesmo ao que nos interessa pessoalmente. Aliás, o amor-próprio oferece à bajulação um vasto campo para nos atacar e, sob a aparência da amizade, dominar nossa confiança. Como transforma cada um de nós nos primeiros e maiores bajuladores de nós mesmos, ele facilita a entrada de estranhos, para obtermos deles os testemunhos e a aprovação da justa opinião que este amor-próprio tem de si mesmo. Todo homem acusado com justiça de amar os bajuladores ama-se sempre apaixonadamente, e este amor cego faz com que deseje e acredite possuir todas as perfeições. Na verdade, o desejo de possuí-las não é insensato; mas a convicção a seu respeito está sujeita a erro, e não devemos acreditar facilmente nelas. [...]

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8vdK9oA0f5TXwJMe5L0sD2uF6D1W33n5-QZGcm7OvvIRWpi_yC58dt3n82t_tsbUCrchn7c-OgMGfBOz9sRGr75NlnqwsqH8S85SvVVJ8sig4KrePfVg5APbVplNVI_KMZqRVwb62zb8rJMt8yta5aIRDkCWJGrIncwTKocPBSCTer-U7SWCtmvzVa5c/s1600/BAJU.jpg

        Se a bajulação, como a maioria dos vícios, corrompesse apenas com mais frequência homens via e obscuros, talvez fosse mais fácil defender-se dela. Mas, tal como os cupins, que penetram mais facilmente nas madeiras mais macias, ela se liga às almas mais elevadas, cuja simplicidade e a bondade de caráter tornam mais suscetíveis à sedução. “Não é um pobre camponês”, diz Simonides, “mas o proprietário de belas terras que pode alimentar os cavalos.” Do mesmo modo, não é aos homens pobres, fracos e desconhecidos que a bajulação se liga, mas às casas opulentas, e mesmo aos reinos e impérios, dos quais frequentemente é a causa da ruína.

        [...].

Plutarco. Como distinguir o bajulador do amigo. São Paulo: Scrinium, 1997, p. 11-12.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 200.

Entendendo o texto:

01 – Qual o principal tema abordado no fragmento?

      O tema central do texto é a distinção entre a amizade verdadeira e a bajulação. Plutarco busca analisar as características de cada uma dessas relações e os perigos da adulação.

02 – Qual o papel do amor-próprio na atração pela bajulação?

      O amor-próprio é apresentado como o principal fator que torna as pessoas vulneráveis à bajulação. Ao amar-se excessivamente, o indivíduo busca a aprovação dos outros e se torna mais suscetível aos elogios e às falsas demonstrações de afeto.

03 – Como a bajulação se infiltra na alma das pessoas?

      Plutarco compara a bajulação aos cupins, que atacam as madeiras mais nobres. Assim como os cupins corroem a madeira, a bajulação corrompe as almas mais elevadas, aquelas que possuem qualidades como a simplicidade e a bondade.

04 – Qual o perfil das pessoas mais suscetíveis à bajulação?

      Segundo Plutarco, as pessoas mais suscetíveis à bajulação são aquelas que possuem uma alta autoestima e buscam constantemente a aprovação dos outros. Essas pessoas são mais propensas a acreditar nos elogios e a se deixar levar pela adulação.

05 – Quais as consequências da bajulação para o indivíduo?

      A bajulação pode levar o indivíduo a uma falsa percepção de si mesmo, impedindo-o de reconhecer seus próprios defeitos e de se desenvolver como pessoa. Além disso, a adulação pode levar a decisões equivocadas e a perdas significativas, como a ruína de reinos e impérios.

06 – Qual a importância da educação para evitar a influência da bajulação?

      A educação sábia é fundamental para desenvolver um senso crítico e a capacidade de distinguir a amizade verdadeira da bajulação. Ao aprender a valorizar a honestidade e a virtude, o indivíduo se torna menos vulnerável à sedução dos aduladores.

07 – Qual a principal mensagem que Plutarco busca transmitir com este texto?

      A principal mensagem do texto é um alerta sobre os perigos da bajulação e a importância de cultivar a amizade verdadeira. Plutarco busca conscientizar o leitor sobre a necessidade de desenvolver um olhar crítico sobre as pessoas que o cercam e de não se deixar levar pelas falsas aparências.

 

 

CONTO: VESTIDA DE PRETO -(FRAGMENTO) - MÁRIO DE ANDRADE - COM GABARITO

 Conto: Vestida de Preto – Fragmento

            Mário de Andrade

        [...]

        [...] Se a criançada estava toda junta naquela casa sem jardim da Tia Velha, era fatal brincarmos de família, porque assim Tia Velha evitava correrias e estragos. Brinquedo aliás que nos interessava muito, apesar da idade já avançada para ele. Mas é que na casa de Tia Velha tinha muitos quartos, de forma que casávamos rápido, só de boca, sem nenhum daqueles cerimoniais de mentira que dantes nos interessavam tanto, e cada par fugia logo, indo viver no seu quarto. Os melhores interesses infantis do brinquedo, fazer comidinha, amamentar bonecas, pagar visitas, isso nós deixávamos com generosidade apressada para os menores. Íamos para os nossos quartos e ficávamos vivendo lá. O que os outros faziam, não sei. Eu, isto é, eu com Maria, não fazíamos nada. Eu adorava principalmente era ficar assim sozinho com ela, sabendo várias safadezas já mas sem tentar nenhuma. Havia, não havia não, mas sempre como que havia um perigo iminente que ajuntava o seu crime à intimidade daquela solidão. Era suavíssimo e assustador.

 
Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivNWymCsDlg0Sfv13wqAY2oydVP1zB98dB0Wh_UJD3SGoF5F3kV4Cjyzz5lCrM8ATz_U0wju6yYEXE6aAvpJul4zVNEp1Z7LQ5UAMKVtfZhNaEerGKkJfauCRx-bFuD_U7wI_wFZmx7TlvjItVM-LnTODaHybYeTcf-5K90ZA4wLp9pJ5Mfg0CvOIRMig/s1600/BRINQUEDOS.jpg



        Maria fez uns gestos, disse algumas palavras. Era o aniversário de alguém, não lembro mais, o quarto em que estávamos fora convertido em dispensa, cômodas e armários cheios de pratos de doces para o chá que vinha logo. Mas quem se lembrasse de tocar naqueles doces, no geral secos, fáceis de disfarçar qualquer roubo! estávamos longe disso. O que nos deliciava era mesmo a grave solidão.

        Nisto os olhos de Maria caíram sobre o travesseiro sem fronha que estava sobre uma cesta de roupa suja a um canto. E a minha esposa teve uma invenção que eu também estava longe de não ter. Desde a entrada no quarto eu concentrara todos os meus instintos na existência daquele travesseiro, o travesseiro cresceu como um danado dentro de mim e virou crime. Crime não, “pecado” que é como se dizia naqueles tempos cristãos… E por causa disto eu conseguira não pensar até ali, no travesseiro.

        [...]

        — Você não vem dormir também? — ela perguntou com fragor, interrompendo o meu silêncio trágico.

        — Já vou — que eu disse — estou conferindo a conta do armazém.

        Fui me aproximando incomparavelmente sem vontade, sentei no chão tomando cuidado em sequer tocar no vestido, puxa! também o vestido dela estava completamente assustado, que dificuldade! Pus a cara no travesseiro sem a menor intenção de. [...]

        Fui afundando o rosto naquela cabeleira e veio a noite, senão os cabelos (mas juro que eram cabelos macios) me machucavam os olhos. Depois que não vi nada, ficou fácil continuar enterrando a cara, a cara toda, a alma, a vida, naqueles cabelos, que maravilha! até que o meu nariz tocou num pescocinho roliço. Então fui empurrando os meus lábios, tinha uns bonitos lábios grossos, nem eram lábios, era beiço, minha boca foi ficando encanudada até que encontrou o pescocinho roliço. Será que ela dorme de verdade?… Me ajeitei muito sem-cerimônia, mulherzinha! e então beijei. Quem falou que este mundo é ruim! só recordar… Beijei Maria, rapazes! eu nem sabia beijar, está claro, só beijava mamães, boca fazendo bulha, contato sem nenhum calor sensual.

        Maria, só um leve entregar-se, uma levíssima inclinação pra trás me fez sentir que Maria estava comigo em nosso amor. Nada mais houve. Não, nada mais houve. Durasse aquilo uma noite grande, nada mais haveria porque é engraçado como a perfeição fixa a gente. O beijo me deixara completamente puro, sem minhas curiosidades nem desejos de mais nada, adeus pecado e adeus escuridão! Se fizera em meu cérebro uma enorme luz branca, meu ombro bem que doía no chão, mas a luz era violentamente branca, proibindo pensar, imaginar, agir. Beijando.

        Tia Velha, nunca eu gostei de Tia Velha, abriu a porta com um espanto barulhento. Percebi muito bem, pelos olhos dela, que o que estávamos fazendo era completamente feio.

        — Levantem!… Vou contar pra sua mãe, Juca!

        Mas eu, levantando com a lealdade mais cínica deste mundo!

        — Tia Velha me dá um doce?

        Tia Velha – eu sempre detestei Tia Velha, o tipo da bondade Berlitz, injusta, sem método — pois Tia Velha teve a malvadeza de escorrer por mim todo um olhar que só alguns anos mais tarde pude compreender inteiramente. Naquele instante, eu estava só pensando em disfarçar, fingindo uma inocência que poucos segundos antes era real.

        — Vamos! saiam do quarto!

        Fomos saindo muito mudos, numa bruta vergonha, acompanhados de Tia Velha e os pratos que ela viera buscar para a mesa de chá.

        [...].

Mário de Andrade. Vestido preto. In: Contos novos. Belo Horizonte: Vila Rica, 1996, p. 23-25.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 162-163.

Entendendo o conto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Iminente: próximo, prestes a acontecer.

·        Com fragor: ruidosamente.

·    Berlitz: nas primeiras décadas do século XX, o termo era usado para indicar rigidez, sobriedade, comumente identificada no comportamento dos imigrantes alemães.

02 – Qual a principal atividade das crianças no fragmento e qual o significado que ela carrega para os personagens?

      A principal atividade das crianças é brincar de família, dividindo-se em casais e "vivendo" em quartos separados. Essa brincadeira, embora infantil, carrega um significado profundo para os personagens, especialmente para o narrador e Maria. Ela representa a descoberta da sexualidade, do desejo e da intimidade, ainda que de forma inocente e idealizada.

03 – Qual o papel do travesseiro na narrativa e qual o seu significado simbólico?

      O travesseiro representa o objeto do desejo e da transgressão. Ele se transforma em um símbolo da descoberta do corpo e da sexualidade, incitando nos personagens sensações de culpa e de desejo ao mesmo tempo. O travesseiro é um catalisador para o primeiro beijo entre o narrador e Maria, marcando um momento de intensa emoção e descoberta.

04 – Como a figura de Tia Velha é apresentada no fragmento e qual o seu papel na narrativa?

      Tia Velha é apresentada como uma figura autoritária e moralista, que representa a censura e a repressão à expressão da sexualidade infantil. Sua descoberta do beijo entre o narrador e Maria interrompe bruscamente o momento de intimidade e inocência, introduzindo o sentimento de culpa e vergonha.

05 – Qual a importância do primeiro beijo entre o narrador e Maria para a narrativa?

      O primeiro beijo entre o narrador e Maria é um momento de grande intensidade emocional e transformação. Ele representa a passagem da infância para a adolescência, a descoberta do amor e da sexualidade. Esse momento marca profundamente o narrador, que o descreve como uma experiência de pureza e perfeição.

06 – Qual o tom predominante do fragmento e como ele contribui para a construção do significado?

      O tom predominante do fragmento é sensível e melancólico, com momentos de intensa emoção e lirismo. Esse tom contribui para a construção do significado, pois ele transmite a delicadeza e a complexidade dos sentimentos experimentados pelos personagens, especialmente a descoberta da sexualidade e do amor.

07 – Como o ambiente físico da casa de Tia Velha influencia a narrativa?

      O ambiente físico da casa de Tia Velha, com seus muitos quartos e a atmosfera de repressão, influencia a narrativa ao proporcionar o espaço ideal para a realização da brincadeira de família e para a descoberta da sexualidade. A casa se torna um microcosmo onde os personagens exploram seus desejos e confrontam seus medos.

08 – Qual a importância da memória para a narrativa e como ela se manifesta no fragmento?

      A memória é fundamental para a narrativa, pois ela permite ao narrador adulto relembrar e reinterpretar os acontecimentos de sua infância. A memória se manifesta no fragmento através da linguagem rica e sensorial, que evoca as sensações e as emoções daquela época. Através da memória, o narrador busca compreender a si mesmo e o mundo ao seu redor.

 

 

CONTO: CONSCIÊNCIA BREVE - IVÁN EGUEZ - COM GABARITO

 Conto: Consciência breve

           Iván Eguez

        Esta manhã Cláudia e eu saímos, como sempre, rumo a nossos empregos no carrinho que meus pais nos deram há dez anos, quando nos casamos. De repente senti um corpo estranho junto aos pedais. Uma bolsa? Um ...? Então lembrei-me de que ontem à noite fui deixar Maria em casa e o beijinho inocente de sempre escorregou, sem querer, para a comissura dos lábios, para o pescoço, os ombros, para a alavanca de câmbio, para o corpete, para o assento reclinável, enfim.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-58gP1IaOTnEmnMV0aa_cPRPsn8aoI-AE3Tf2qlTssnwKUrrczUYdP1Dk1BjcOBDJ2Jk77cZVj_nPqnfa-z_H0YgtCDiLj06EDbxR03T-0n5gbNnQ4_z8x-E4hBoyInQ6lUhO2fMNgF0D6aOeOzxft7wSRZrG47bhlj-H97GFauryEktwn-Dk1poqM6M/s1600/CASAL.jpg

        Você está distraído, me disse Cláudia quando quase avanço o sinal. Depois continuou resmungando alguma coisa, mas eu já não a ouvia. Minhas mãos suavam e senti que meu pé queria desesperadamente transmitir o dom do tato à sola de meu sapato para saber exatamente o que era aquilo, para pegá-lo sem que ela nada notasse. Finalmente consegui passar o objeto do lado do acelerador para o lado da embreagem. Empurrei-o para a porta com a intenção de abri-la de forma sincronizada e jogar o treco na rua. Apesar das acrobacias que fiz, foi impossível. Então resolvi distrair Cláudia, pegar aquilo com a mão e atirá-lo pela janela. Mas Cláudia estava encostada em sua porta, praticamente virada para mim. Comecei a me desesperar. Aumentei a velocidade e, em seguida, vi um carro da polícia pelo retrovisor. Achei melhor acelerar para me afastar da patrulha policial, pois se vissem o treco saindo pela janela podiam ficar imaginando coisas.

        -- Por que você está correndo? – perguntou Cláudia, enquanto se acomodava de frente como quem começa a pressentir uma batida. Vi que a polícia ficava para trás pelo menos uma quadra. Então, aproveitando que íamos fazer o contorno, eu disse a Cláudia ponha a mão para fora que vou virar à direita. Enquanto ela fazia isso, peguei o corpo estranho: era um sapato leve, de tirinhas azuis e salto alto. Sem pensar duas vezes atirei-o pela janela. Fiz orgulhoso o contorno, senti vontade de gritar, de descer para me aplaudir, comemorar minha façanha, mas fiquei gelado ao ver outra vez a polícia pelo retrovisor. Tive a impressão de que eles paravam, que apanhavam o sapato, que me faziam sinais.

        -- O que está acontecendo com você? – perguntou Cláudia com sua voz ingênua.

        -- Não sei, respondi, esses tiras são capazes de tudo.

        Mas a viatura dobrou a esquina e eu segui em frente até o estacionamento da empresa onde Cláudia trabalhava. Um táxi freou atrás de nós cantando os pneus. Era outra atrasada, dessas que acabam de se maquiar no táxi.

        -- Tchau, amor, me disse Cláudia, enquanto com seu pezinho brincalhão procurava inutilmente seu sapato de tirinhas azuis.

Iván Eguez. In: conto-americanos (coedição latino-americana). Tradução de Josely Vianna Baptista. São Paulo: Ática, 1992, p. 109-110.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 181-182.

Entendendo o conto:

01 – Qual a principal ação que desencadeia a trama do conto?

      A principal ação é o beijo "inocente" que o protagonista dá em Maria, que acaba por deixar um objeto pessoal dela no carro. Esse ato, aparentemente banal, desencadeia uma série de eventos que revelam a fragilidade da mentira e a complexidade das relações humanas.

02 – Que sentimentos o protagonista experimenta ao longo do conto?

      O protagonista experimenta uma gama de sentimentos, como culpa, ansiedade, medo, alívio e, por fim, um profundo sentimento de culpa. Inicialmente, ele tenta se livrar do objeto para esconder sua infidelidade, mas à medida que a situação se complica, ele sente a angústia da mentira e o medo das consequências.

03 – Qual o papel da polícia na história?

      A polícia representa uma figura de autoridade que ameaça a ordem estabelecida pelo protagonista. A presença da viatura policial intensifica o sentimento de culpa e ansiedade do personagem, que teme ser descoberto.

04 – Qual o significado do sapato azul na história?

      O sapato azul é um objeto simbólico que representa a mentira, a infidelidade e as consequências das ações do protagonista. Ele é um lembrete constante da traição e da tentativa de esconder a verdade.

05 – Como a personagem de Cláudia se comporta diante da situação?

      Cláudia demonstra uma ingenuidade e uma confiança na relação que contrastam com a culpa e a ansiedade do protagonista. Sua busca pelo sapato perdido revela sua despreocupação com a infidelidade do marido, ao menos até aquele momento.

06 – Qual a importância do cenário (carro) para a narrativa?

      O carro funciona como um microcosmo onde se desenvolve a trama. Ele é o palco das tentativas do protagonista de esconder a verdade e o lugar onde a tensão aumenta a cada momento. O carro também simboliza a rotina do casal, que é abalada pela infidelidade.

07 – Qual a mensagem principal do conto?

      O conto "Consciência" explora a fragilidade da mentira e as consequências da infidelidade. A história demonstra que a tentativa de esconder a verdade pode gerar mais problemas do que resolvê-los. Além disso, o conto levanta questões sobre a natureza das relações conjugais e a importância da honestidade na comunicação.

 

 

 

CRÔNICA: FOLHAS SOLTAS, CONVERSA COM OS MEUS LEITORES - (FRAGMENTO) - JOSÉ DE ALENCAR - COM GABARITO

 Crônica: Folhas soltas, conversa com os meus leitores – Fragmento

              José de Alencar

        [...]

        Houve tempo em que na sociedade não havia homens, porém nomes; os indivíduos eram como esses bustos de mármore que se encontram nas galerias de escultura, e no capitel das quais vemos escritos os nomes de César, Sólon, Licurgo, Platão e outros. [...]

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLE3kg3KKx_weMWOeOKO4MUZ6OfSaHcXP_xtLuLJDPyiv-FnttDtE1NwnVa3rAqUHJgSZqbnmtw_xQr3156C65AOCmlYgjA9HGUUP70U22TJnSX8A87QopSjr1jRuJ4lUF5VP4toihZkR8MCGk9avsCLlWzciumuMbF-4AOhwiKy5LLDycNVWezFA-zY8/s1600/BUSTO.jpg


        Os pais eram para os filhos um nome, e nada mais; as mulheres casavam-se com um nome, e a crônica ou a história registrava, não as ações de um homem, mas os títulos de uma descendência.

        Hoje isto passou.

        Um nome é uma combinação de letras que significa tanto como qualquer palavra do dicionário; um título é muitas vezes um apelido que não vale a firma de um homem honesto.

        Atualmente a nobreza mudou de sistema.

        Em vez de nomes, os homens tornaram-se números ou cifras; os indivíduos, de bustos de mármore, passaram a ser cofres de ferro, cheios de bilhetes do banco ou de moedas de ouro.

        Se quando vos achais em sociedade pensais que aqueles cavalheiros e senhoras que vedes, moças ou velhas, pertencem à espécie humana, estais em um erro, do qual deveis emendar-vos.

        Todas aquelas figuras com forma humana são bilhetes de tesouro, letras de câmbio, ações de companhia, vales de banqueiro; nenhuma delas tem nome, nem parentes, nem família. São letras de conta, números e cifras que se combinam. [...]

        Agora, apresenta-se na sociedade um número, um número de contos de réis de renda, um número representativo de um capital.

        Virá tempo em que substituirá a forma cediça das apresentações por outra mais original e mais diplomática.

        Em lugar de se dizer: “Tenho a honra de apresentar-lhe o Sr. F., pessoa digna de estima”, a gente [...] servir-se-á desta fórmula: “Dou-lhe a honra de apresentar-lhe uma fortuna de duzentos e cinquenta contos de réis”.

        Então o homem ou senhora, com o sorriso o mais amável, apertará a mão da fortuna, e lhe responderá com um cumprimento gracioso. [...]

José de Alencar. “Folhas soltas: conversa com os meus leitores”. In: Crônicas escolhidas de José de Alencar. São Paulo: Ática / Folha de São Paulo, 1995, p. 186-188.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 201-202.

Entendendo a crônica:

01 – Qual a principal crítica social presente no fragmento?

      A principal crítica social presente no fragmento é a valorização exacerbada do dinheiro e dos bens materiais em detrimento das qualidades humanas. Alencar critica a superficialidade das relações sociais e a importância que a sociedade atribui à riqueza.

02 – Como Alencar descreve a mudança na forma como as pessoas se relacionam?

      Alencar descreve uma mudança radical na forma como as pessoas se relacionam. Antigamente, as pessoas eram identificadas por seus nomes e títulos, que representavam uma linhagem e uma história. Atualmente, as pessoas são reduzidas a números e cifras, sendo valorizadas apenas por sua riqueza.

03 – Qual a função das metáforas utilizadas por Alencar para descrever essa transformação?

      As metáforas utilizadas por Alencar, como "bustos de mármore" e "cofres de ferro", servem para ilustrar de forma clara e impactante a transformação ocorrida nas relações sociais. Elas criam uma imagem vívida da superficialidade e da materialidade das novas relações.

04 – Qual a ironia presente no final do fragmento?

      A ironia está presente na sugestão de uma nova forma de apresentação social, onde as pessoas são introduzidas não por seus nomes, mas pelo valor de sua fortuna. Essa proposta irônica evidencia a crítica de Alencar à valorização excessiva do dinheiro.

05 – Qual a relação entre o título do fragmento e o conteúdo?

      O título "Folhas soltas" sugere a ideia de reflexões soltas, de pensamentos que surgem de forma espontânea e que não seguem uma ordem lógica. Essa característica se encaixa perfeitamente com o tom crítico e irônico do texto, que aborda de forma livre e informal as transformações da sociedade.

06 – Qual a importância desse fragmento para a compreensão da obra de Alencar?

      Esse fragmento revela a preocupação de Alencar em analisar as transformações sociais de sua época. Ele demonstra um olhar crítico em relação à valorização do materialismo e à superficialidade das relações humanas, temas que permeiam toda a sua obra.

07 – Qual a atualidade da crítica de Alencar?

      A crítica de Alencar continua atual, pois a valorização excessiva do dinheiro e a superficialidade nas relações sociais são problemas ainda presentes na sociedade contemporânea. As redes sociais, por exemplo, intensificaram essa tendência, com a exposição constante de bens materiais e a busca por validação através de likes e seguidores.

 

 

SONETO: NÃO VI EM MINHA VIDA A FORMOSURA - GREGÓRIO DE MATOS - COM GABARITO

 Soneto: Não vi em minha vida a formosura

Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh87jTaCmutoLYt0UicF8B8FdaxWK41LELP6asygUxESvI1J-IfkkTtl954yzXpXo-TNbwElKs0I-qMLDzo-gImBmzI1MsfNC7Fp8ffVBbx1u7xiEthO0VaoxQjnpVTwp4BIKxs1Kk19oOJOpjx60VRHUqpLyCYX_hwlROr7GmHBbm_3rUKxtz_x9WNkiM/s320/MULHER.jpg



Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher, que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava em criatura.

Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Saiba o mundo, e tanto exagerar-me.

Olhos meus (disse então por defender-me)
Se a beleza hei de ver para matar-me,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.

Gregório de Matos. Poemas escolhidos (seleção, introdução e notas José Miguel Wisnik). São Paulo: Cultrix, 1981, p. 201.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 170.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal emoção transmitida pelo eu lírico ao longo do poema?

      O eu lírico demonstra uma intensa ambivalência em relação à beleza feminina. Inicialmente, a curiosidade e o desejo o impulsionam a querer ver a mulher descrita. No entanto, ao finalmente vê-la, ele é tomado por um sentimento de desilusão e sofrimento, expresso em versos como "Me matem (disse então vendo abrasar-me)". A emoção predominante é a de um conflito entre desejo e sofrimento, entre a expectativa e a realidade.

02 – Que figura de linguagem é predominante no soneto e qual seu efeito?

      A figura de linguagem predominante é a antítese, que consiste em contrapor ideias opostas. Exemplos como "Anjo se mentia" e "Sol, que se trajava em criatura" evidenciam essa característica. O efeito da antítese é intensificar o contraste entre a imagem idealizada da mulher e a realidade, realçando a desilusão do eu lírico.

03 – Qual a relação entre a beleza física e a alma da mulher, de acordo com o poema?

      O poema sugere uma dicotomia entre a beleza física e a alma da mulher. A beleza exterior é comparada a uma "arquitetura", algo belo e perfeito à vista, mas que esconde uma interioridade que não corresponde àquela imagem idealizada. A mulher é descrita como um "Anjo" que "se mentia", indicando uma falsidade ou superficialidade por trás da beleza.

04 – Qual o significado dos versos finais "Se a beleza hei de ver para matar-me, / Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me"?

      Os versos finais expressam o desejo do eu lírico de não ter visto a mulher, pois a beleza dela o levou à sofrimento. Ele prefere a cegueira à dor de amar e perder. Essa atitude revela a fragilidade do eu lírico diante da intensidade do sentimento amoroso e a impossibilidade de conciliar o desejo com a realidade.

05 – Qual a visão de mundo sobre a beleza feminina que o poema transmite?

      O poema transmite uma visão complexa e ambivalente sobre a beleza feminina. Por um lado, a beleza é exaltada como algo capaz de incitar o desejo e a admiração. Por outro lado, ela é apresentada como uma ilusão, uma máscara que esconde a verdadeira natureza humana. A beleza se torna, assim, uma fonte de sofrimento e desilusão para o eu lírico.

 

 

 

CONTO: O PLANTADOR DE ÁRVORES - LEONARDO FRÓES - COM GABARITO

 Conto: O plantador de árvores

           Leonardo Fróes

        Ninguém sabia o nome verdadeiro de Camelo Guo. Tinham lhe posto esse apelido, já conhecido em toda a vizinhança, por ele ser muito corcunda e seu defeito assumir avantajado relevo quando andava. Sem se importar, o homem adotou a alcunha e como tal passou a apresentar-se, nunca lhe ocorrendo dizer o antigo nome.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCz8LHO7tzaf2T83jZHwT7zBvKj64ZJeKfgm3nw0rMLEyQ-4NVM4L8m0PUB7-Pv7FkRnsK3g5fUN60Tl2zcxdOBDrjuAejp03qfPzonWQ-gfcVJSDiFPyVap4h6brdhu_ypHSF9yPQW-cd5wm47fR8-qxk4pK9_vEd7oLd7tIOZ4JUOR2e7Dq7jdPrPgI/s1600/CAMELO.jpg


        Morava ele no distrito de Fengle, a oeste de Chang-na, e vivia de plantar árvores. Todos os ricos moradores, que adoravam jardins, e todos os que cultivavam pomares, dependendo das boas safras para fazer boas vendas, tentavam contatar seus serviços, pois árvores plantadas por ele floresciam com exuberância e davam frutas precoces, sempre em quantidade notável. Outros jardineiros, observando-o, tentavam imitar seus métodos, mas nenhum obtinha o mesmo sucesso. Um dia alguém lhe perguntou seu segredo.

        “Não tenho receitas mágicas”, respondeu Camelo Guo. “Simplesmente respeito a natureza das árvores, para obter de cada uma o melhor. As raízes necessitam de espaço, por onde crescer com o tempo, e não podem ficar embaraçadas; a terra deve ser velha, curtida e bem socada ao redor. Nunca mexa na muda, depois de plantá-la, nem a cerque de atenções. Vá cuidar de sua vida e não fique ali vigiando-a. Na hora de plantar, trate-a como um filho; depois, deixe-a em paz, porque assim ela se desenvolverá como é, para chegar à plenitude a seu modo. Eu apenas me refreio de interferir com o crescimento da árvore. Não a faço florir, muito menos amadurecer com presteza, apenas me abstenho de estragar seus frutos. Nem todos os jardineiros são assim. Muitos usam terra nova, a mais ou a menos, e deixam que as raízes se embolem. Quando não cometem tais erros, mexem na árvore e se preocupam demais com ela, contemplando-a de dia e tateando-a de noite, indo toda hora até lá para lhe dar uma olhada. Alguns chegam até a arranhar sua casca, para saber se ainda está viva, ou a puxá-la pelas raízes, para verificar se já se firmaram. A planta, incomodada sem descanso, murcha cada vez mais. Quem assim procede, embora diga amar as árvores, na verdade as mata. E está lhes causando dano, quando julga se redobrar em cuidados. É nisso que se distinguem de mim. Mas o que mais posso dizer?”

        “Seu método poderia aplicar-se à arte de governar?”, perguntou outro.

        “Só entendo do plantio de árvores”, respondeu Camelo Guo. “Governar não é comigo. Porém, vivendo aqui no campo, vejo que as autoridades, como se tomassem a peito o bem-estar do povo, estão sempre ditando novas ordens, das quais, porém, só resultam novas desgraças. Dia a dia seus emissários vêm e gritam: ‘De ordem superior, lavrem a terra! Plantem, colham! Sejam rápidos, não se atrasem na produção de seda! Teçam! Cuidem bem de seus filhos! Muita atenção com a alimentação dos porcos e galinhas!’ Para convocar as pessoas, os homens do governo batem seus ruidosos tambores, e nós, largando nossas tarefas para ouvir tais discursos, passamos horas sem comer. Contudo, se não tivermos um tempo para nós, como poderemos nos desenvolver e viver em paz? Em vez disso, o cansaço nos toma, e é assim que chegamos à exaustão. Nesse sentido, sim, concordo, a arte de governar tem algo a ver com o plantio de árvores”.

        Os outros acharam graça.

Leonardo Fróes, baseado em texto do autor chinês Liu Zongyuan. In: Contos orientais. Rio de Janeiro: Rocco, 2003, p. 163-164.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 230-231.

Entendendo o conto:

01 – Qual o segredo do sucesso de Camelo Guo como plantador de árvores?

      O segredo de Camelo Guo reside em sua paciência e respeito pela natureza das árvores. Ele entende que cada árvore tem seu próprio ritmo de crescimento e que interferências excessivas podem prejudicá-las. Ao contrário dos outros jardineiros, ele não força o desenvolvimento das plantas, mas sim cria as condições ideais para que elas floresçam naturalmente.

02 – Qual a crítica implícita à figura do governante na história?

      A figura do governante é comparada à de um jardineiro que interfere excessivamente no crescimento das árvores. A história critica a prática de governos que impõem regras e regulamentações excessivas à população, impedindo que as pessoas se desenvolvam de forma natural e autônoma.

03 – Qual a relação entre a natureza e a condição humana na história?

      A história estabelece uma analogia entre o crescimento das árvores e o desenvolvimento humano. Assim como as árvores precisam de espaço e tempo para crescer de forma saudável, os seres humanos também precisam de liberdade e autonomia para se desenvolverem plenamente.

04 – Qual a importância do apelido "Camelo Guo" para a caracterização da personagem?

      O apelido "Camelo Guo" serve para destacar a diferença de Camelo Guo em relação aos outros. Ele se torna uma marca registrada, identificando-o como um homem simples e humilde, que não se importa com aparências e que possui um conhecimento profundo sobre a natureza.

05 – Qual a mensagem principal do conto?

      A mensagem principal do conto é a importância de respeitar a natureza e os processos naturais. A história nos ensina que a interferência excessiva pode trazer mais danos do que benefícios e que a melhor forma de alcançar um resultado positivo é permitir que as coisas se desenvolvam em seu próprio ritmo.

06 – Como a história se relaciona com a filosofia oriental?

      A história apresenta elementos da filosofia oriental, como a valorização da natureza, a busca pela simplicidade e a importância da não interferência. A ideia de que a natureza deve seguir seu próprio curso e que o homem deve se adaptar a ela é um princípio fundamental em muitas filosofias orientais.

07 – Qual o papel do humor na história?

      O humor está presente na história através da ironia e da sátira. Ao comparar os governantes com jardineiros que estragam as plantas, o autor cria uma situação cômica que serve para enfatizar a crítica social. O humor também contribui para tornar a história mais leve e agradável de ler.