Conto: Planetas habitados
André Carneiro
— Olhe como são bonitas, milhares de
estrelas...
— E quase todas devem ser rodeadas de
planetas como o nosso, habitados, provavelmente...
Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXtXoYv3R9lvnC5dz6aZt6lX2dIUb5-4KRX4-_qbLr7g2S8qaiEMz27S_wkEnYB0bO8PX7ySyYktGHZm43dyBFnmTM052srO8vUqbdz55zTkRJMCkg76po3sovDDeYdCS7ocUhkglqKbmg-STsbv5wOzmQov6E9kkzzKmiKSfw-MBW_LJ3zCZ_TEN3lIg/s1600/ESTRELAS.jpg — Custa-me acreditar...
— Os cientistas dizem que há milhões,
talvez trilhões de planetas, só nas galáxias mais próximas. A vida existiria
como aqui.
— Devo ter pouca imaginação. Acho
difícil visualizar planetas habitados, com seres iguais a nós, vivendo como
nós.
— Por que “iguais e vivendo como nós”?
É pretensão injustificável deduzir que só animais semelhantes tenham
desenvolvidos inteligência. E os objetos de forma arredondada, vistos em nossa
órbita? Muita gente os vê a olho nu.
— Não seriam pessoas sugestionáveis ou
com defeitos na vista? Li num artigo: essas aparições são fenômenos naturais
pouco estudados, ou máquinas voadoras feitas aqui mesmo, em experiências
secretas.
— Talvez, em parte. Mas já há uma boa
documentação e não vejo motivo de espanto em supor que outros planetas do nosso
sistema sejam habitados.
— Mas os seres que comandam ou pilotam
essas naves espaciais, por que não pousam e entram em contato?
— Não passa de orgulho gratuito pensar
que habitantes de outros planetas estejam interessados em dialogar conosco.
Esses engenhos talvez sejam minúsculos, comandados a distância. Estarão apenas nos
estudando com seus aparelhos? E é bem possível que eles sejam tão diferentes de
nós que não haja uma possibilidade de entendimento imediato.
— Falariam línguas impossíveis de se
aprender? Quem sabe emitam ruídos, ou comuniquem-se por gestos...
— Nossos cientistas acabariam
descobrindo a chave. Ou eles, mais inteligentes, nos ajudariam a compreendê-la.
— Aquela estrela brilhante não é um
planeta?
— É. Ali há condições para a vida.
Talvez primitiva e diversa da nossa, pois sua temperatura é extraordinariamente
alta.
— Escrevem muitas histórias sobre
aquele planeta. Costumam inventar seus habitantes como sendo monstros
destruidores, interessados em conquistar a galáxia...
— Histórias e hipóteses... Quem sabe
eles têm mesmo duas antenas na cabeça, um olho atrás, outro na frente, quatro
braços e seis patas.
— Seria engraçado se fosse assim.
— Por quê?
— Pior se tivessem dois braços, um par
de olhos em cima do nariz...
— Seu conceito de beleza é muito
exclusivista.
— Gente normal como nós poderia se
entender com monstros pavorosos?
— Fique tranquilo. É provável que eles
só existam nas histórias. E descobriram que lá a atmosfera é oxigênio puro. De
mais a mais, o terceiro planeta possui só um terço de matéria sólida. O resto é
uma substância líquida onde a vida é improvável.
— Esta conversa me abala os nervos.
Imaginar monstros pernaltas, com dois olhos na frente. Toque aqui a antena.
— Adeus. Não pense mais no assunto. E
saia com cuidado para não incomodar as crianças. Seis patas fazem muito
barulho...
Fonte: André Carneiro.
Planetas Habitados. CARNEIRO, André et. Al. Histórias de ficção
científica. São Paulo: Ática, 2005. p. 27-30. (Adaptado).
Fonte: Coleção Rotas.
Língua Portuguesa. Ensino fundamental. Anos finais. 8º ano/Sandra Moura
Severino (org.) – Brasília: Caderno de atividades – Editora Edebê Brasil, 2020.
p. 45-46.
Entendendo o conto:
01 – Qual é a crença inicial
de um dos personagens em relação à vida em outros planetas, e o que o outro
personagem usa para argumentar contra essa crença?
Um dos
personagens expressa dificuldade em acreditar e visualizar planetas habitados
por seres "iguais a nós, vivendo como nós". O outro personagem
argumenta que essa é uma "pretensão injustificável" e que não se deve
deduzir que apenas animais semelhantes aos humanos tenham desenvolvido
inteligência.
02 – Que fenômeno incomum é
mencionado no conto como possível evidência de vida extraterrestre, e quais são
as explicações alternativas dadas por um dos personagens?
O fenômeno
mencionado são objetos de forma arredondada, vistos em nossa órbita. As
explicações alternativas citadas por um dos personagens incluem: Pessoas
sugestionáveis ou com defeitos na vista. Fenômenos naturais pouco estudados.
Máquinas voadoras feitas na Terra (em experiências secretas).
03 – Por que, na visão de um
dos personagens, os seres que pilotam as naves espaciais (OVNIs) não pousam e
entram em contato com os humanos?
O personagem sugere que é um "orgulho gratuito"
pensar que habitantes de outros planetas estariam interessados em dialogar
conosco. Ele levanta a hipótese de que: Os engenhos sejam minúsculos e
comandados a distância, apenas nos estudando. Os seres sejam tão diferentes dos
humanos que não haja possibilidade de entendimento imediato.
04 – Como os personagens
descrevem a possível aparência e forma de comunicação dos habitantes de outros
planetas?
As aparências são
descritas de forma especulativa e até irônica, mencionando "duas antenas
na cabeça, um olho atrás, outro na frente, quatro braços e seis patas". A
comunicação é sugerida como sendo feita por "línguas impossíveis de se
aprender", "ruídos" ou "gestos".
05 – Qual é o conceito de
beleza questionado no diálogo e qual a analogia final usada para ilustrar essa
exclusividade?
O conceito de
beleza exclusivista de um dos personagens é questionado. O personagem que
critica essa exclusividade inverte a situação, sugerindo que seria
"pior" se os seres tivessem "dois braços, um par de olhos em
cima do nariz" – ou seja, fossem semelhantes aos humanos, o que seria
considerado "normal" por um dos interlocutores, mas não
necessariamente por todos.
06 – Que informação científica
é dada no conto sobre o terceiro planeta (que é o objeto da conversa,
provavelmente Marte ou Vênus em uma especulação antiga) que tornaria a vida
improvável lá?
A informação é
que a atmosfera desse terceiro planeta é oxigênio puro, mas que o planeta
"possui só um terço de matéria sólida", e o resto é uma substância
líquida onde a vida é improvável.
07 – Qual é a revelação
surpreendente (e cômica) do conto que muda o contexto de toda a conversa,
sugerindo a identidade oculta do narrador ou de um dos interlocutores?
A revelação
ocorre na última fala, quando um personagem se despede e pede ao outro para
sair com cuidado para não incomodar as crianças, pois "Seis patas fazem
muito barulho...". Isso implica que o personagem que está saindo (ou o
narrador) tem seis patas, confirmando a aparência "monstruosa" que
eles estavam discutindo e indicando que ele é o próprio ser extraterrestre.
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