quarta-feira, 29 de novembro de 2023

CRÔNICA: O MÁGICO ERRADO - LUIZ GALDINO - COM GABARITO

 Crônica: O mágico errado 

               Luiz Galdino

    Arquibaldo era um mágico. Exatamente. Um homem capaz de realizar maravilhas. Ou de maravilhar outras pessoas, se preferir. Mas havia um probleminha. E probleminha é modo de dizer, porque ele achava um problemão. Arquibaldo era um mágico diferente. Um mágico às avessas, sei lá como dizer.     Esse era o problema de Arquibaldo. Ele não sabia. Não conseguia, por mais que se concentrasse. Ele tirava bichos da cartola e do lenço. Era capaz de passar o dia inteirinho tirando bichos. Mas, se falasse: ―Vou tirar...‖ Pronto! Tirava tudo que era bicho, menos o bicho anunciado. Por isso, andava tristonho da vida. 

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiu4I5-ISkCVsltTKmrCG7fxK1qIpBiXb5YGD-SECFGwjsENP44b387Z1f0JsCbqRbVTJSnKiKyxoXvy6FjvkjZNGED3-EF2HGYJRkTTJGVTTceyUFCwx1CFHnLIeYQi2AfwtASengYCsQYnnAtg7p40N5j98I8UhY9Cw2E1Y7T2DM4Jb24zw8X9FsLrjE/s320/magico.jpg 


    Arquibaldo recordava-se dos espetáculos no circo. Embora preferisse nem lembrar. O apresentador apresentava com ar solene e voz emocionada. 

— E agora, com vocês, Ar-qui-bal-do, o maior mágico do mundo! 

GALDINO, Luiz 

Entendendo o texto

01. No trecho: “― E agora, com vocês, Ar-qui-bal-do, o maior mágico do mundo! ”. A palavra destacada foi escrita dessa forma para

a)   explicar a pronúncia correta do nome do mágico.

b)   imitar a forma como o apresentador apresentou o mágico.

c)   indicar o perigo da mágica para os espectadores.

d)   reforçar a importância do mágico para o espetáculo.

 

02. No contexto da crônica "O mágico errado", por que Arquibaldo se sentiu tristonho da vida?

a) Porque ele não gostava de realizar truques mágicos.

b) Porque ele era incapaz de tirar o bicho anunciado durante seus truques.

c) Porque o público não apreciava sua habilidade mágica.

d) Porque ele preferia não se apresentar em espetáculos no circo.

03.Qual foi a especialista que tornou Arquibaldo um mágico diferente?

a) Ele tinha a habilidade de realizar truques extremamente complexos.

b) Ele prefere não se apresentar em locais públicos.

c) Ele conseguiu tirar diversos objetos da cartola e do lenço.

d) Ele era incapaz de tirar o bicho anunciado durante seus truques.

04. Por que o apresentador anunciou Arquibaldo como "o maior mágico do mundo" nos espetáculos de circo?

a) Porque Arquibaldo realmente era o maior mágico em habilidade. b) Para enfatizar a importância de Arquibaldo para o espetáculo.

c) Por ironia, devido à suspeita de Arquibaldo não conseguir tirar o bicho anunciado.

d) Porque o apresentador gostou de exagerar nas apresentações.

05.Qual é o problema peculiar enfrentado por Arquibaldo no enredo?

         Arquibaldo encarregou-se de não conseguir realizar o truque que anuncia, tirando sempre outros objetos, mas nunca o anunciado.

06. Existe algum momento específico na crônica que pode ser considerado o clímax da história?

         O momento em que Arquibaldo é anunciado como "o maior mágico do mundo" pode ser considerado como um ponto de clímax na crônica.

07. Como a crônica "O mágico errado" se encerra para Arquibaldo?

         A crônica não fornece informações explícitas sobre o estágio de Arquibaldo, mas até o momento, ele parece viver uma vida tristonha devido à sua supervisão como mágica.

 

POEMA: A VIDA - MÁRIO QUINTANA - COM GABARITO

 POEMA: A VIDA

               Mario Quintana

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê, passaram-se 50 anos!

Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZx6MAlODwMLOOU26aLYYIqYXKlxd-VTaA223V_1sKV_IdZNgpMdbR4RmFkV-jTeuHBXrlwiLSk0QYpEDF_vY4eQNTIWvsCzMvfaqRZI2TUNIwiyH3O8QRhGsFaNyJpChsQm9uRdoRT2FHbHzWgeXACMAHN2-93VxsOgYS6WqOKFQIYj9PKBTyLj3N8vI/w236-h234/VIDA.png

 Agora, é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade,

Eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando,

pelo caminho, a casca dourada e inútil das

horas...

De forma eu digo:

Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta

De tempo, a única falta que terá,

será desse tempo

que infelizmente não voltará mais.

Entendendo o texto

01. Qual é o tema central abordado no poema "A Vida" de Mário Quintana?

O tema central do poema é uma reflexão sobre o tempo e a vida, destacando a rapidez com que o tempo passa.

02. Como o eu lírico expressa a passagem do tempo ao longo do poema?

O eu lírico expressa a passagem do tempo de forma surpreendente e rápida, usando a repetição de situações cotidianas para mostrar a velocidade com que os anos se sucedem.

03. Que figura de linguagem é utilizada na expressão "a casca dourada e inútil das horas"?

A expressão "a casca dourada e inútil das horas" utiliza a metáfora, comparando as horas a uma casca dourada e inútil para enfatizar a efemeridade e a superficialidade do tempo.

04. Qual é a mensagem principal transmitida pelo eu lírico no trecho "Agora, é tarde demais para ser reprovado..."?

A mensagem principal é a consciência de que o tempo passa rápido demais e que é preciso aproveitar cada momento, pois, uma vez passada, não há mais oportunidade de reviver o tempo perdido.

05. Como o poeta sugere que as pessoas devem lidar com o tempo e as oportunidades na vida?

O poeta sugere que as pessoas devem seguir em frente sem se prender ao passado, aproveitando as oportunidades e não deixando de fazer o que amam devido à falta de tempo.

06. Quais são as diferentes etapas mencionadas que indicam a passagem do tempo ao longo do poema?

As diferentes etapas mencionadas que indicam a passagem do tempo são as horas, os dias, as semanas, os anos, destacando como essas unidades temporais se acumulam rapidamente.

07. O que significa a expressão "pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas"?

A expressão significa que ao longo da vida, o eu lírico vai descartando as superficialidades e valorizando o essencial, simbolizado pela metáfora da "casca dourada e inútil das horas".

08. Como o poema aborda a questão da reprovação em relação ao tempo?

O poema aborda a reprovação em relação ao tempo indicando que, uma vez passado, o tempo não pode ser recuperado, destacando a importância de viver plenamente cada momento.

09. Que conselho o eu lírico dá no poema para evitar tristezas futuras?

O eu lírico aconselha a não deixar de fazer algo que se gosta devido à falta de tempo, pois a única falta que terá esse tempo que não voltará mais.

10. Como o poeta utiliza o recurso da antítese ao longo do poema?

O poeta utiliza a antítese ao contrastar a rapidez com que o tempo passa (horas, dias, anos) com a ideia de seguir em frente sem se prender ao passado, criando um contraste entre a fugacidade do tempo e a atitude de aproveitar cada momento.

 

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NOTÍCIA: FUI PROCURAR O ENDREÇO DA SAUDADE E O ENCONTREI BEM NO MEIO DO CÉREBRO - LÚCIA HELENA - COM GABARITO

 Notícia: Fui procurar o endereço da saudade e o encontrei bem no meio do cérebro

  Lúcia Helena 16/01/2020 04h00 iStock

        A notícia derreteu o meu mundo, aquele que eu conhecia até o último domingo, onde soava a risada solta de minha tia Consuelo. Primeiro, senti uma fisgada. E, se tivesse um médico perguntando "como ficou essa dor?", diria que agora mesmo ela lateja. "E lateja onde?", perguntaria o doutor.  Não saberia dizer. Mas descobri, tentando esquadrinhar o sofrer, que existe um pedaço específico do cérebro o qual registra as nossas dores. 

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLpDNP0LRZ3rM5hxsr4sLs3jh4LYmM856snqfg8VdL_9XURniYdRuZdbOE2NvvWdTxBGmvbOcJH5QpUnkiSa7n7_fMSdSjYJyw5KzC5Ssp8kkRCjfX_lUEnqNrJq3pSg_e6HpnfuJNLcASg_lany1X-YvGBsvVy6pp8xdvScxOQWT3k7JI5qy2tHiyAiY/s320/c%C3%A9rebro-6.jpg


      Ao olhar a sua imagem, parece até um pequeno anzol no meio da massa cinzenta, apontando para a testa. Tem um nome esquisito: córtex cingulado anterior. E não faz distinção entre sofrimentos do corpo e da alma. Para ele, dor é dor e ponto. Foi ainda em 2003 que surgiu um primeiro experimento provando isso. Ele usou exames de imagem para flagrar o cérebro de pessoas vítimas de rejeição social e não deu em outra: nessa gente sofrida, a região ativada era o mesmo córtex cingulado anterior que se acendia quando alguém sentia cólica na barriga ou enxaqueca, se contraía para dar à luz ou para expelir uma pedra nos rins.

        Um chute na perna? O córtex cingulado anterior registra. Daí outras estruturas cerebrais que guardam uma espécie de mapa do corpo apontam: foi ali o golpe, bem na panturrilha! E você fica sabendo exatamente onde está o seu padecer. Por isso, não vai levar as mãos ao rosto, como se tivesse recebido um soco no nariz. Elas irão descer abaixo dos joelhos. Mas a dor da saudade, percebida no mesmo lugar na massa cinzenta, ah, ela não está neste mapa. Daí ser tão sentida e, ao mesmo tempo, difícil de descrever. 

        Apesar de saudade, a palavra, só existir em bom português, ela é universal. No entanto, curiosamente, você pode fuçar o PubMed, dar um Google Acadêmico, folhear livros de neurociências e quase não encontrará estudo científico a seu respeito. Em tempo, embora minha dor seja a do luto, sobre o qual há excelentes referências na psicologia, queria entender a saudade mesmo — até as mais doces, como as das brincadeiras da infância —, do ponto de vista das neurociências. Portanto, liguei para o Ricardo Monezi, doutor em psicobiologia, professor da PUC de São Paulo. 

        "A saudade é um dos sentimentos mais fortes que o ser humano traz dentro de si", me disse, logo no início da conversa. "Isso porque pode abarcar diversas emoções." Vale explicar: embora a gente use e abuse dos termos sentimento e emoção como sinônimos, para a ciência da mente eles são diferentes. A emoção surge no corpo amigdaloide, uma estrutura que lembra uma amêndoa e que fica bem no miolo dos nossos miolos. 

        Pequenina, ela é o berçário de medos, tristezas, raivas, amores e alegrias. Na maioria das vezes, nem nos damos conta das emoções que brotam ali, porque elas permanecem submersas no inconsciente. Mas estão o tempo inteiro mexendo com a gente. "Sim, mexendo. A própria palavra emoção vem do que seria 'por em movimento', em latim. E, de fato, as emoções agitam o sistema nervoso, liberam neurotransmissores e hormônios que, por sua vez, irão promover uma série de ações e reações no corpo, como acelerar o coração ou contrair os músculos", exemplificou Monezi.

        Já o sentimento, por definição dos neurocientistas, é quando uma emoção é notada conscientemente. A saudade, portanto, é um sentimento. Ora, a gente sabe bem quando ela bate — "a presença dos ausentes", escreveu o poeta Olavo Bilac. Mas pode ter por trás da alegria à tristeza, tudo misturado e junto. A alegria de reviver na imaginação algo agradável e a tristeza de cair na real — terminou.

        Por ser emoção na origem, a saudade surge na amígdala, certo? Só que então aprendo que ela tem, no mínimo, endereço duplo, localizado no meio, bem no meio mesmo, do nosso cérebro — no chamado sistema límbico. "O corpo amigdaloide também fica ali, mas não podemos nos esquecer de outra região cerebral nessa vizinhança, que é o hipocampo", falou Monezi. "Mais do que guardar memórias, ele discrimina o que é importante para você. Ao rever o rosto de alguém que é apenas um conhecido, o seu hipocampo pode jogá-lo para escanteio. Mas, ao ver uma fotografia da sua tia, essa região do seu cérebro avisa que você a ama e a informação se torna prioritária", me ensinou. 

        Detalhe: esse amor vem daquela outra parte, a amígdala, certo? "Sim, e vou dizer mais", continuou o professor. "É como se arquivo de uma lembrança ocupasse mais e mais espaço no hipocampo, quanto mais intensas foram as emoções ou quanto mais vezes as experiências com determinada pessoa se repetiram." Claro, o mesmo vale para situações ou lugares — lembranças de casa quando estamos distantes, memórias da adolescência quando estamos crescidos e por aí vai.

        Talvez você pense: alguns sujeitos e episódios na vida são bem ruins. Verdade. A amígdala impregnará a memória deles com emoções negativas. E não sentiremos um pingo de saudade. Ora, o seu cérebro, inteligentíssimo, não quer repetir más experiências. Quer ser inundado da dopamina do prazer, das endorfinas do relaxamento, da serotonina do bem-estar e de todas as substâncias prazerosas que o replay de uma memória feliz é capaz de liberar. Portanto, devemos até agradecer pela saudade, já que vem de algo que pareceu muito bom.

        "O problema é que o córtex pré-frontal, na altura da testa, pode avisar se aquela pessoa nunca mais estará presente, por exemplo. Isso não só corta o barato e causa sofrimento, como surge uma cilada", conta Monezi. "O cérebro, egoísta, não se conforma em perder algo que, para ele, foi registrado como importante. Reage de maneira semelhante ao que faz com pessoas que sofreram uma amputação, quando continuam sentindo dor e coceira na parte do corpo que não está mais ali." No caso, vai insistir em lembranças, acionando o seu sistema de recompensa como se fosse um vício. É a tal história da pessoa que vive de saudade. Há um quê de química cerebral nisso, oscilando entre o bem-estar da boa recordação e o mal-estar doído da ausência.

        Mas a saudade também pode se transformar em algo positivo. Afinal, as mesmas partes do cérebro que armazenam os registros do passado se encarregam de projetar nosso futuro. Isso implica, é fato, em ansiedade — como explica Monezi, "o cérebro quer que você se mexa correndo para reencontrar quem ou o que é importante". Assim, ficamos ansiosos para fazer a viagem em família porque temos saudades das férias. Ficamos loucos para voltar para casa porque nos lembramos dos abraços dos filhos. É claro, eu sei, essa ansiedade nunca vai se resolver se perdemos uma pessoa querida. No entanto, aprendendo com o cérebro, onde passado e futuro se fundem, posso projetar meus passos partir dos exemplos saudosos que guardo e dar também aqueles risos soltos que sempre irão soar no ponto mais central da minha cabeça.

Oliveira, Lúcia Helena de. Fui procurar o endereço da saudade e o encontrei no meio do cérebro. UOL, VivaBem, 16 jan. 2020. Disponível em:

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa/Faraco, Moura, Maruxo. – 1.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. P. 158 – 160.

https://luciahelena.blogosfera.uol.com.br/2020/01/16/fui-procurar-o-endereco-da-saudade-e-o-encontrei-bem-no-meio-do-cerebro. Acesso em: 22 maio 2020.

Entendendo a notícia:

01 – Junte-se a um ou dois colegas, escrevam então uma síntese do texto para explicitar: o assunto tratado nele e o que motivou a jornalista a escrever sobre isso, além das informações que resumem as descobertas dela sobre o assunto pesquisado.

      Resposta pessoal dos alunos.

02 – Em quais fontes a jornalista se apoiou para buscar informação e explicar o assunto do texto? De que maneira essas fontes de pesquisa se relacionam com a temática tratada no texto?

      A jornalista usou como fonte estudos resultantes de experimentos feitos em 2003 (sem citar uma fonte específica) e uma entrevista com especialista em psicobiologia, ocorrida por telefone.

03 – Leia sobre a ferramenta de busca PubMed mencionada pela jornalista.

        PubMed: serviço da Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos que dá livre acesso à base de dados MEDLINE (sistema on-line de busca e análise de literatura médica), que traz referências a artigos de jornais e revistas cientificas, abrangendo as áreas de Ciências da Saúde e Ciências Biológicas. Conta com mais de 24 milhões de citações e resumos em inglês.

Levando em conta o trecho em que essa ferramenta é citada, é possível afirmar que ela pode ter sido uma fonte de pesquisa para a jornalista? Explique.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Sim, de acordo com o texto no quarto parágrafo. “No entanto, curiosamente, você pode fuçar o PubMed, dar um Google Acadêmico, folhear livros de neurociências e quase não encontrará estudo científico a seu respeito.”.

04 – Há outra fonte citada pela jornalista que pode ser considerada confiável na busca de informação? Explique.

      Sim, de acordo com as citações do especialista Ricardo Monezi, doutor em psicobiologia e professor de uma universidade renomada, ele representa a voz de uma autoridade no assunto abordado e traz confiabilidade ao texto.

05 – Por que podemos afirmar que a experiência profissional da jornalista a qualifica para escrever sobre o assunto tratado no texto?

      Pelas informações sobre a responsável pelo blogue, dando ênfase à área de interesse e às experiências profissionais, como a edição de livros. Pelos dados, percebe-se que ela se especializou na área de divulgação científica, o que a qualifica para produzir textos dessa natureza.

06 – Em certa passagem de texto, a autora afirma: “Ao olhar a sua imagem, parece até um pequeno anzol no meio da massa cinzenta, apontando para a testa. Tem um nome esquisito: córtex cingulado anterior. E não faz distinção entre sofrimentos do corpo e da alma. Para ele, dor é dor e ponto”. Responda no caderno.

a)   Considerando o contexto e seus conhecimentos, o que a jornalista chama de massa cinzenta? Como você chegou a essa resposta?

Resposta pessoal do aluno.

b)   No texto, a autora sinaliza com negrito o nome de uma estrutura cerebral, “córtex cingulado anterior”. Explique o que você entende pelo emprego desse recurso tipográfico.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Além da marca tipográfica, a autora personifica o córtex cingulado anterior. Explique como ela constrói essa figura de linguagem no trecho.

Resposta pessoal do aluno.

d)   Você deve ter-se apoiado em conhecimentos prévios de uma área da ciência para responder aos itens anteriores. Que área é essa?

Resposta pessoal do aluno.

e)   Em sua opinião, qual seria o leitor suposto capaz de entender as informações do texto? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

segunda-feira, 27 de novembro de 2023

NOTÍCIA: CRIADORA DA FEIRA PRETA, [...] - FERNANDA FROZZA - COM GABARITO

 Notícia: Criadora da Feira Preta, Adriana Barbosa está entre os 51 negros mais influentes do mundo

          A paulista conta a trajetória para valorizar sua cultura e realizar anualmente o maior evento de empreendedorismo negro da América Latina

Por Depoimento à Fernanda Frozza

27/02/2019 05h51. Atualizado há 4 anos

 


Adriana usa macacão Beira. Colar de concha, Lool x Pinga; colar de cordas, MEudoxia — Foto: Glamour

        Como pode ter demorado tanto para mais da metade da população ganhar voz? Quando era adolescente, andava pelo mercado e só encontrava xampu “para cabelos rebeldes”, não se falava em representatividade e eram os homens brancos que contavam dinheiro no fim da noite em uma casa noturna de black music. Foi um longo processo, mas hoje finalmente vivemos em um País diferente, e me orgulho de ter contribuído para essa mudança de desenvolvimento e consumo. Meu nome é Adriana Barbosa, tenho 41 anos, e sou idealizadora da FEIRA PRETA, plataforma responsável por criar projetos para valorizar nossa cultura e realizar anualmente o maior evento de empreendedorismo negro da América Latina.

        Não imaginava que chegaria aqui. Até porque meus pais sempre trabalharam em produção de rádio e TV, então sem querer a vida me levou para o mesmo caminho. Aos 18, arrumei meu primeiro emprego como recepcionista em uma rádio, depois fui parar na área de promoção em uma produtora de TV e cheguei a fazer divulgação de artistas em uma gravadora. Segui na área de comunicação até 2002, quando fui demitida e tive que me reinventar. Nessa época, já frequentava as baladas da Vila Madalena, zona oeste de São Paulo, com uma amiga. E como as duas estavam desempregadas, tivemos a ideia de transformar nosso espaço de diversão em dinheiro. Ela começou a vender pastel nas feiras e decidi fazer um brechó em mercados alternativos com minhas roupas e acessórios. Sabe a ideia de ganhar hoje para comer amanhã? Era isso.

        Um dia, rolou um arrastão e perdemos parte da nossa mercadoria. Voltamos para casa lamentando e decidimos que não dava para viver mais naquele esquema. Até que veio a ideia: por que a gente não cria uma feira com a nossa identidade e cultura?

        Dona da própria história

        Já existia uma cena negra muito forte na Vila Madalena, principalmente entre produtores e técnicos de som das festas. O problema é que as baladas eram feitas por negros, frequentadas por negros, mas estavam nas mãos de homens brancos. Não fazia sentido, né? Tiramos o plano do papel. Como já tínhamos os contatos, fomos atrás de expositores nas feiras de São Paulo, desde a República até o Embu das Artes. A ideia era que empreendedores e artistas negros divulgassem seus trabalhos e pudessem viver a partir dele. Dito e feito: pela primeira vez, éramos proprietárias da nossa história! No mesmo ano, demos vida à Feira Preta, na praça Benedito Calixto, em Pinheiros, SP. Conseguimos reunir 40 expositores e um público de 5 mil pessoas. Foi um sucesso! Os números mostravam a demanda reprimida, o que não queria dizer que o caminho seria fácil. Pelo contrário.

        No começo, foi muito suado conversar sobre patrocínio e consumo negro no meio corporativo. Eu tinha 22 anos e fazia parte da população que não era vista com perspectiva econômica. Acredite, uma das coisas que eu mais ouvi é que não queriam associar a marca a um evento que chamava Feira Preta, alegando “conflito racial”, mas o intuito do nome era mostrar que parte da população precisava ser percebida.

        Coincidência ou não, nessa época, a Unilever estava lançando o primeiro sabonete para pele negra e, assim, conseguimos patrocínio. Por causa desse pontapé, nos anos seguintes tivemos grandes novas conquistas: atraímos outras marcas, a cantora Paula Lima virou nossa madrinha e começaram a rolar atividades culturais e de empreendedorismo. Ali, vi que tinha encontrado uma nova profissão. Definitivamente, a área de Comunicação era passado na minha vida.

        Profissão: empreendedora

        Foi um processo até descobrir meu papel nesse ecossistema de empreendedorismo social, que tem que dar lucro, mas também tem que impactar a sociedade. Decidi me profissionalizar e fazer faculdade. Em 2008, aos 30 anos, me formei em Gestão de Eventos, pela Anhembi Morumbi, e depois fiz pós-graduação em Gestão Cultural na USP. A Feira Preta deixou de ser só um evento para virar uma plataforma.

        Durante todo o ano, passamos a tocar muitos projetos para valorizar nossa cultura. Dentre eles, o Afrohub, workshop de redes sociais para negócios, e o Afrolab, programa de formação de microempreendedores de várias partes do País [como a Monique Santos, da Ayo Moda Casa e Design, dos tecidos que você vê nas fotos], em que a gente discute e acompanha processos de criação, produção e chegada dos produtos ao consumidor, seja por marketplace ou pela feira. Tem gente que diz: “Ah, mas meu negócio é pequeno, só vendo tapioca”. E o que a gente responde é: “Não, você vende ‘a’ tapioca. Você é empreendedora”. E transforma o negócio.

        Sou um exemplo disso, de quem foi do micro para o macro. A feira começou bem pequenininha e ganhou mais espaço do que imaginava, tanto que participei de um evento em que ninguém menos que Barack Obama também estava. Dá para acreditar? Foi em 2017, quando fui premiada em Nova York e entrei para a lista dos 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo, pelo Most Influential People of African Descent, o MIPAD. Além de mim, só outros dois brasileiros entraram para a lista: Lázaro Ramos e Taís Araújo – ela, inclusive, colaborou com uma “vaquinha” ao lado de outras 90 pessoas para me ajudar a viajar e receber o prêmio. Sou muito grata!

        Ninguém segura

        Olho para trás e vejo 17 anos de história em que a gente descentraliza o conteúdo de cultura negra pelo menos uma vez por ano em São Paulo e esporadicamente em outras cidades do Brasil. Nossa equipe fixa é formada por 25 pessoas, mas no dia do festival chega a 150, sempre com essa lógica de priorizar microempreendedores negros, desde a assessoria de imprensa ao técnico de som.

        Na última edição, em novembro de 2018, batemos recorde de público, com 52 mil pessoas e mais de 120 empreendedores de diversos Estados. Ocupamos a capital e mostramos o nosso espaço. E apesar de ser idealizadora do projeto, faço parte de um time. Muita gente me ajudou a construir a visibilidade negra nessa trajetória, como o conteúdo da programação cultural, a Companhia de Teatro Os Crespos, a Companhia de Artes Capulanas, artistas como Mano Brown, Criolo e Karol Conká, além de todo mundo que faz a Feira Preta acontecer. Não fiz isso sozinha, rolou um movimento para que a gente chegasse onde está hoje. Isso me impulsionou.

        A partir do momento em que a população se autodeclarou negra, desenvolveu autoestima e começou a reivindicar direitos, produtos e experiências de consumo, rolou uma transformação. É por isso que vivemos em um País completamente diferente. Trocamos o xampu “para cabelos rebeldes” por ativador de cachos, desenvolvemos produtos que atendem o consumidor negro e fizemos muita gente enxergar o que já sabíamos: mais da metade da categoria dos microempreendedores no Brasil é negra. Mais precisamente 51%, de acordo com o Sebrae.

        Posso fazer uma lista de conquistas ao longo desses anos, mas também consigo enumerar uma série de projetos que ainda quero tirar do papel. Já percebeu que eu sonho alto, né? Tenho vontade de levar a feira para outros cantos do mundo, como Colômbia, Estados Unidos e países africanos de língua portuguesa. Sei que somos uma marca forte, mas temos potencial para chegar ainda mais longe e há uma longa luta pela frente.

        Ainda lido com situações de discriminação no meu dia a dia de trabalho e o racismo é presente. Até por isso, o mais difícil durante esse tempo foi diferenciar a Adriana Barbosa da Feira Preta. Quando recebia a negativa de uma marca que não queria se associar a uma mulher negra, imediatamente pensava: “então você não quer se associar a mim”. Trabalhei na terapia para que meus dilemas enquanto mulher negra não se envolvessem nas minhas negociações profissionais. Foi preciso muita autoestima para fazer o que eu faço hoje. Mas se tem uma coisa que não me falta nesta vida, além de autoestima, é coragem. E ela segue comigo nessa caminhada que, sem dúvida, não para por aqui.

FROZZA, Fernanda. Criadora da Feira Preta, Adriana Barbosa está entre os 51 negros mais influentes do mundo. Glamour. Rio de Janeiro, 27 fev. 2019. Disponível em: https://revistaglamour.globo.com/Na-Real/noticia/2019/02/criadora-da-feira-preta-adriana-barbosa-esta-entre-os-51-negros-mais-influentes-do-mundo.html. Acesso em: 18 jun. 2020.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa/Faraco, Moura, Maruxo. – 1.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 234-237.

Entendendo a notícia:

01 – O texto pode ser dividido em quatro partes: a introdução e as outras três partes do texto, organizadas nos tópicos Dona da própria história, Profissão: empreendedora e Ninguém segura.

a)   No caderno, faça uma síntese de cada uma dessas quatro partes, para ter uma visão geral sobre o modo como o conteúdo do texto foi organizado.

Resposta pessoal do aluno.

b)   Em sua opinião, a organização do conteúdo em tópicos colabora para a progressão das ideias no texto? Por quê?

Resposta pessoal do aluno.

02 – O texto, publicado originalmente em uma revista digital, é de responsabilidade da jornalista Fernanda Frozza. Contudo, o enunciador que se projeta no texto é da jornalista ou de Adriana Barbosa? Justifique sua resposta.

      O enunciador do texto é a empreendedora Adriana Barbosa que relata a sua trajetória em primeira pessoa.

03 – Releia o trecho inicial da matéria.

        “Como pode ter demorado tanto para mais da metade da população ganhar voz? Quando era adolescente, andava pelo mercado e só encontrava xampu “para cabelos rebeldes”, não se falava em representatividade e eram os homens brancos que contavam dinheiro no fim da noite em uma casa noturna de black music.”

a)   Considerando o enunciador que se projeta no texto e a experiência relatada, a quem se refere a expressão mais da metade da população?

Resposta pessoal do aluno.

b)   O que o enunciador lamenta nesse trecho?

Adriana lamenta que os negros tenham demorado tanto para terem voz, para serem percebidos e considerados como parte da sociedade brasileira e terem seu lugar reconhecido na cultura e no mercado.

04 – No início do texto, Adriana Barbosa, afirma se orgulhar de “ter contribuído para essa mudança de desenvolvimento e consumo “. A que mudança de desenvolvimento e consumo exatamente ela se refere? De que maneira você chegou a essa conclusão?

      Adriana se refere ao fato de a população negra, ao ter se autodeclarado negra, passou a ser vista como consumidora de produtos. Consequentemente, o mercado começou a investir em produtos destinados aos negros, como itens de higiene pessoal. Além disso, a própria população negra se tornou produtora de produtos e de conteúdos, tornando-se empreendedores.

05 – Releia o trecho: “Já existia uma cena negra muito forte na Vila Madalena, principalmente entre produtores e técnicos de som das festas.”

a)   No texto, que contradição a empreendedora sinaliza em relação a essa cena negra?

A empreendedora enfatiza a contradição de se ter muitos negros frequentando e trabalhando nos estabelecimentos noturnos enquanto os lucros iam para os brancos, donos desses estabelecimentos.

b)   Em que medida os planos iniciais de Adriana e de sua amiga podem ser considerados uma tentativa de “dissolver” essa contradição?

Em razão do tipo de empreendimento feito e dos objetivos do evento – valorizar a cultura negra –, é possível inferir que elas propuseram condições de trabalho que eram mais vantajosas para os profissionais negros.

06 – De acordo com o texto sobre Adriana Barbosa, quais são os maiores desafios que ela enfrentou durante a trajetória profissional? A que ela atribui essas dificuldades?

      Resposta pessoal do aluno.

07 – Pelo que você conheceu da trajetória de Adriana Barbosa como empreendedora, que características destacaria como fundamentais para ser um empreendedor?

      Resposta pessoal do aluno.

 

NOTÍCIA: PRESERVAR AMAZÔNIA É MAIS LUCRATIVO QUE DESMATAR, DIZ ECONOMISTA - RICARDO ABRAMOVAK - COM GABARITO

Notícia: Preservar Amazônia é mais lucrativo que desmatar, diz economista

        Segundo Ricardo Abramovay, economia baseada no conhecimento da floresta favorece inovação e riqueza

        Resumo: Autor argumenta que manancial da Amazônia precisa de políticas favoráveis à emergência de uma economia do conhecimento (e não da destruição) da natureza. A devastação não produz riqueza ou inovação – favorece o extrativismo primitivo e sufoca a produção mais lucrativa de itens nativos da floresta.

        O Brasil é o sexto maior emissor global de Gases de Efeito Estufa. Mas há uma diferença fundamental entre a natureza de nossas emissões e as dos países que nos acompanham neste lamentável desempenho.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9Gk6vAwJqACTYzoHuDskNDp1IgzvmFB_vANUbCcNSDItbRUYRzIh_D1h6k0SPts16HZQpnGvRMCtLCltZaemhsXE5putxOaD2v4vAe7JofCNTI4H5nR9aMxv9NKEUdDFNVxSmbJCBlbbTBkb4bOD6ZQC2AeqAejCDPpobW-lniHipH5n1eCEtywvmNdE/s1600/EFEITO%20ESTUFA.jpg


        Na China, nos Estados Unidos, na Índia, ou no Japão, as emissões derivam do uso em larga escala de combustíveis fósseis na geração de energia, nos transportes e na indústria.

        Reduzir estas emissões num prazo compatível com a urgência da crise climática exige mudanças na maneira como se produzem cimento, aço, plásticos, na forma como se organiza o transporte de passageiros e de carga, na aviação – em suma, naquilo que o recente relatório da Energy Transitions Commission, da Grã-Bretanha, chama de setores de mais difícil redução (harder to abate).

        Transformar os modelos econômicos em que se apoiam estes setores exige muita ciência e inovações tecnológicas disruptivas. Plantas industriais terão que ser inteiramente substituídas. No caso dos automóveis elétricos, postos de gasolina e oficinas mecânicas vão desaparecer. Mesmo que os investimentos nestas mudanças tenham retorno econômico, os custos são imensos.

        Os avanços globais nesta direção são significativos, embora largamente insuficientes: em 2009, na Conferência Climática de Copenhague (COP 15), China e Índia opuseram-se a qualquer acordo de redução das emissões sob o argumento de que não tinham alternativas ao uso do carvão, caso quisessem ampliar o acesso de sua população à energia e acelerar sua industrialização.

        Seis anos depois este quadro mudou de forma impressionante. China e Índia converteram-se em protagonistas no Acordo de Paris, de 2015 (COP 21), com base justamente no ritmo acelerado de redução do preço das fontes renováveis de energia, nas perspectivas oferecidas pelo automóvel elétrico e em diversas técnicas voltadas a uma indústria menos emissora.

        O dilema entre crescimento econômico e redução de emissões está sendo enfrentado (embora não resolvido, longe disso) por meio de ciência e tecnologia.

        E nós neste contexto? Temos a matriz energética menos emissora do mundo, quando o Brasil é comparado com países de importância territorial, demográfica e econômica equivalente à sua. Nossos transportes contam igualmente com uma fonte não emissora, o etanol, usado muito menos do que deveria, infelizmente, graças aos subsídios concedidos aos fósseis. Onde se concentram então nossas emissões?

        Resposta: na destruição florestal.

        O Brasil e a Indonésia são os únicos países do mundo em que mais da metade das emissões vem do desmatamento. E é importante não confundir devastação florestal com a própria agricultura, embora, com muita frequência a floresta destruída (e não só na Amazônia) dê lugar a atividades agropecuárias. A agropecuária responde por 22% de nossas emissões graças a dois fatores: por um lado à fermentação entérica dos ruminantes da qual resulta um dos mais potentes gases de efeito estufa, o metano.

        Como o Brasil possui o maior rebanho bovino comercial e é o mais importante exportador de carne do mundo, reduzir estas emissões é um imenso desafio, que exige (da mesma forma que na indústria, na mobilidade e na energia) muita ciência e muita inovação tecnológica. O mesmo pode ser dito das emissões derivadas do uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura.

        Todavia, contrariamente ao que ocorre com a agropecuária, com a indústria ou com os transportes, zerar o desmatamento (e, portanto, reduzir a contribuição do Brasil à crise climática) não é algo que depende de ciência e de tecnologia ou que exija investimentos vultosos. Cabe então perguntar: quais os custos de interromper a devastação? Será que desmatar a Amazônia não é o equivalente à recusa da China e da Índia em subscrever um acordo climático ambicioso em 2009?

        Seria válido o argumento de que, da mesma forma que, em 2009, os indianos e os chineses não tinham alternativa ao uso do carvão, a sobrevivência e o desenvolvimento dos 25 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia depende de sua possibilidade de colocar a floresta abaixo, nela implantando atividades agropecuárias convencionais? Não estará a Amazônia presa a um dilema insuperável entre gerar renda para os que nela vivem ou preservar a floresta?

        É fundamental enfrentar estas perguntas pois elas estão na base da tentativa de imprimir algum fundamento racional àquilo que o Brasil e o mundo assistem hoje com tanto temor e tanta indignação na Amazônia.

        O principal erro dos que toleram, compactuam ou promovem o desmatamento é não se dar conta de que desmatar a Amazônia não produz nem riqueza, nem bem-estar.

        Na verdade, o desmatamento é o mais importante vetor da perenização do atraso e das precárias condições de vida na região. Ele exprime uma forma primitiva de extrativismo que se materializa, por exemplo, na importância do tráfico de madeira clandestina, que funciona como obstáculo à exploração madeireira sustentável, para a qual existem tecnologias e até sistemas de certificação baseados no uso de blockchain, como mostram os trabalhos da BVRio.

        Além disso, como é, na sua esmagadora maioria ilegal, o desmatamento na Amazônia funciona com base na formação de quadrilhas que se especializam em invadir terras públicas e territórios pertencentes a comunidades indígenas e ribeirinhas.

        A construção de pistas de pouso clandestinas e a contratação de motoqueiros que colocam fogo no capim seco dos acostamentos nos distritos à beira da BR-163 e no município de Altamira – é apenas um entre vários indícios dos efeitos da legitimação da destruição florestal sobre o tecido cívico da região.

        Tão importante quanto a criminalidade ligada à esmagadora maioria do desmatamento na Amazônia é a avaliação que se pode fazer hoje de seus resultados econômicos e socioambientais.

        Um gráfico, elaborado pelo professor Raoni Rajão da UFMG, compara a área e a produção de soja e de açaí no Pará entre 1996 e 2015. Vê-se que o açaí tem rendimento por hectare muito maior que a soja.

        Segundo o trabalho de Raoni Rajão, o valor por hectare da soja em 2015 era de RS$ 2.765,79. O do açaí chegava a R$ 26.844,00. Embora seja um produto consumido fundamentalmente na Amazônia, existe hoje uma cadeia global de açaí na casa das centenas de milhões de dólares. Quem poderia prever, quinze anos atrás, que um alimento “de índio” iria converter-se em ingrediente global das dietas de esportistas!

        Os trabalhos recentes de Carlos Nobre e Ismael Nobre listam um vasto conjunto de produtos do extrativismo com imenso potencial econômico. Uma das bases para a exploração sustentável destes produtos é a unidade entre trabalho científico e a própria cultura material dos povos da floresta.

        Um dos mais emblemáticos exemplos desta junção é a Rede de Sementes do Xingu, organizada pelo Instituto Socioambiental. Populações indígenas e ribeirinhas coletam sementes que são selecionadas por técnicos da EMBRAPA e do Instituto Socioambiental e vendidas a fazendeiros para que possam cumprir seus compromissos de reflorestamento.

        Mel, óleo de pequi, copaíba, borracha, castanha, são inúmeros os produtos de uso alimentar, farmacêutico e cosmético que a ciência, aliada aos povos da floresta, pode revelar e ajudar a explorar de maneira sustentável.

        O selo Origens Brasil, que certifica estes produtos e já está em grandes cidades brasileiras acaba de receber um importante reconhecimento internacional por parte da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO/ONU).

        É um exemplo das oportunidades do uso sustentável da floresta em pé com produtos capazes de exprimir nos mercados os valores contidos na preservação da floresta e no respeito aos povos que nela vivem.

        A manutenção da floresta em pé não corresponde, portanto, a uma redoma de contemplação, economicamente paralisada. Ao contrário, ela é um manancial de riquezas que se exprimem tanto em seus serviços ecossistêmicos e na cultura dos que aí habitam como no valor de seus produtos.

        A equipe coordenada pelo professor Britaldo Soares-Filho da UFMG e o economista Jon Strand do Banco Mundial estimaram o valor de alguns destes serviços. Em artigo publicado na prestigiosa Nature Sustainabillity, eles mostram que o desmatamento de um hectare gera perdas anuais de até US$ 40 para a produção de castanha do Pará e US$ 200 para a produção madeireira sustentável.

        Além disso, como o avanço do desmatamento compromete a produção de água por parte da floresta, seus impactos sobre a agricultura e a produção de energia nas hidrelétricas são altamente ameaçadores.

        Em suma, mais que apagar os incêndios que hoje a destroem, a Amazônia precisa de políticas que estimulem a emergência de uma economia do conhecimento (e não da destruição) da natureza, que represente aquilo que temos de melhor: a capacidade de fazer da ciência a base para produzir riqueza e bem-estar, valorizando os ensinamentos e a sabedoria dos povos da floresta.

ABRAMOVAY, Ricardo. Preservar Amazônia é mais lucrativo que desmatar, diz economista. Folha de S. Paulo. São Paulo 1° set. 2019. Ilustríssima. Disponível em: https://www1.folhauol.com.br/ilustrissima/2019/09/preservar-e-mais-lucrativo-que-desmatar-diz-economista.shtml. Acesso em: 7 jul. 2020.

Fonte: Práticas de Língua Portuguesa/Faraco, Moura, Maruxo. – 1.ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. p. 185-190.

Entendendo a notícia:

01 – O cientista político Ricardo Abramovay inicia seu texto com um dado: “O Brasil é o sexto maior emissor global de Gases de Efeito Estufa.” Na sequência, afirma que há diferença entre a natureza de nossas emissões de gases e a de outros países poluidores. Qual é essa diferença e de que modo ela se relaciona diretamente com o tema do ensaio?

      Enquanto nos demais países mais poluidores (China, Estados Unidos, Índia e Japão) as fontes poluidoras são os combustíveis fósseis usados amplamente na geração de energia, nos transportes e na indústria, no Brasil (e na Indonésia) mais da metade das emissões de gases vem do desmatamento. Essa diferença de natureza de poluição se relaciona diretamente com tema do ensaio porque está ligada ao desmatamento.

02 – Ao falar sobre as ações necessárias para a redução de emissão de gases no mundo, Abramovay aponta para os graus de complexidade das soluções, dependendo das fontes emissoras.

a)   Expliquem de modo resumido: Que considerações ele faz sobre os diferentes graus de complexidade?

Ele aponta a alta complexidade que envolve a redução de emissão de gases resultantes do uso de combustíveis fósseis, uma vez que implica mudanças profundas na economia e na indústria, que envolvem soluções científicas e tecnológicas sofisticadas e de alto custo financeiro.

b)   De que modo o grau elevado de complexidade apontado contribui na defesa do ponto de vista principal do ensaio?

O ensaio ressalta que preservar é uma atitude que gera economia, portanto, se a redução de gases poluentes depende de soluções complexas e, consequentemente, caras, isso reforça a ideia de que preservar é um bom caminho.

03 – No momento em que apresenta as implicações para a redução de emissão de gases advindas do uso de combustíveis fósseis, Abramovay comenta avanços globais na questão, feitos desde 2009, resgatando o histórico da posição de dois países altamente poluentes.

a)   Elaborem uma síntese desse histórico.

Resposta pessoal do aluno.

b)   O cientista político se posiciona em relação a esses avanços? Explique, recorrendo à observação das escolhas linguísticas feitas por ele.

Resposta pessoal do aluno.

c)   Consultem suas anotações feitas durante a leitura individual e compartilhem com os colegas outras escolhas linguísticas do ensaísta que evidenciam o modo de ele modalizar seu discurso: suas apreciações subjetivas, seus julgamentos e posicionamentos em relação ao que diz.

Resposta pessoal do aluno.

04 – Ao citar as principais fontes de emissão de gases do Brasil, o cientista destaca uma fonte que envolve soluções complexas e outra que, em sua percepção, é mais fácil de solucionar. De acordo com o que você leu, quais são elas?

      Resposta pessoal do aluno.

05 – No parágrafo 15, o ensaísta lança uma questão que representa o momento de problematizar e se posicionar. De que modo ele apresenta essa questão ao leitor e que posição assume em relação a ela?

      Resposta pessoal do aluno.

06 – Na publicação original, versão on-line do caderno, o ensaio é acompanhado de fotografias apresentadas no modo slide show, ou seja, há várias fotos, que você pode visualizar ao clicar na imagem em evidência. Aqui, reproduzimos apenas uma delas. Retorne ao texto e observe a foto, a legenda e o parágrafo do ensaio logo abaixo dela. Que tipo de relação de sentido foto, legenda e texto mantêm entre si?

      A foto e a legenda sinalizam para uma atividade econômica sustentável e vão ao encontro do que o ensaísta defende: manter a floresta em pé não é olhar para ela de forma contemplativa, mas é explorar o que ela tem de riqueza enquanto ecossistema.