Conto: Marcelo, marmelo, martelo – Fragmento
Ruth Rocha
[...]
Uma vez, Marcelo cismou com o nome das
coisas:
— Mamãe, por que é que eu me chamo
Marcelo?
— Ora, Marcelo foi o nome que eu e seu
pai escolhemos.

— E por que é que não escolheram
martelo?
— Ah, meu filho, martelo não é nome de
gente! É nome de ferramenta...
— Por que é que não escolheram marmelo?
— Porque marmelo é nome de fruta,
menino!
— E a fruta não podia chamar Marcelo, e
eu chamar marmelo?
No dia seguinte, lá vinha ele outra
vez:
— Papai, por que é que mesa chama mesa?
— Ah, Marcelo, vem do latim.
— Puxa, papai, do latim? E latim é
língua de cachorro?
— Não, Marcelo, latim é uma língua
muito antiga.
— E por que é que esse tal de latim não
botou na mesa nome de cadeira, na cadeira nome de parede, e na parede nome de
bacalhau?
— Ai, meu Deus, este menino me deixa
louco!
Daí a alguns dias, Marcelo estava
jogando futebol com o pai:
— Sabe, papai, eu acho que o tal de
latim botou nome errado nas coisas. Por exemplo: por que é que bola chama bola?
— Não sei, Marcelo, acho que bola
lembra uma coisa redonda, não lembra?
—
Lembra, sim, mas... e bolo?
— Bolo também é redondo, não é?
— Ah, essa não! Mamãe vive fazendo bolo
quadrado...
O pai de Marcelo ficou atrapalhado.
E Marcelo continuou pensando:
"Pois é, está tudo errado! Bola é
bola, porque é redonda. Mas bolo nem sempre é redondo. E por que será que a
bola não é a mulher do bolo? E bule? E belo? E bala? Eu acho que as coisas
deviam ter nome mais apropriado. Cadeira, por exemplo. Devia chamar sentador,
não cadeira, que não quer dizer nada. E travesseiro? Devia chamar cabeceiro,
lógico! Também, agora, eu só vou falar assim".
[...]
ROCHA, Ruth. Marcelo,
marmelo, martelo e outras histórias. 27. ed. São Paulo: Salamandra, s.d. p.
9-13. (Fragmento).
Fonte: Língua
Portuguesa: Singular & Plural. Laura de Figueiredo; Marisa Balthasar e
Shirley Goulart – 6º ano – Moderna. 2ª edição, São Paulo, 2015. p. 202-203.
Entendendo o conto:
01 – Qual é a principal
"cisma" de Marcelo que inicia o conto?
A principal
cismada de Marcelo é com o nome das coisas. Ele questiona por que cada objeto e
pessoa tem um nome específico e não outro.
02 – Que exemplos Marcelo usa
para questionar o nome dele próprio e de outras coisas?
Marcelo questiona
por que se chama Marcelo e não "martelo" ou "marmelo".
Depois, ele pergunta por que mesa se chama mesa, e não "cadeira",
"parede" ou "bacalhau". Por fim, ele indaga sobre o nome de
bola e bolo.
03 – Como a mãe de Marcelo
tenta explicar o nome dele?
A mãe de Marcelo tenta explicar que
"Marcelo" foi o nome que ela e o pai escolheram. Para justificar a
não escolha de "martelo" ou "marmelo", ela diz que
"martelo não é nome de gente" e "marmelo é nome de fruta".
04 – Qual é a explicação do
pai de Marcelo para o nome "mesa" e como Marcelo reage a ela?
O pai de Marcelo
explica que a palavra "mesa" vem do latim. Marcelo reage de forma
curiosa, perguntando se "latim é língua de cachorro", e depois
questiona por que o latim não "botou na mesa nome de cadeira, na cadeira
nome de parede, e na parede nome de bacalhau".
05 – Por que o pai de Marcelo
fica "atrapalhado" ao discutir o nome "bola" e
"bolo" com o filho?
O pai de Marcelo
fica atrapalhado porque, ao tentar explicar que "bola" lembra uma
coisa redonda, Marcelo contrapõe que "bolo nem sempre é redondo", já
que a mãe faz bolo quadrado. Isso desestabiliza a lógica simples que o pai
tentava apresentar.
06 – Quais são as propostas de
Marcelo para novos nomes para "cadeira" e "travesseiro"?
Marcelo propõe
que "cadeira" devia chamar "sentador" e
"travesseiro" devia chamar "cabeceiro", argumentando que
esses nomes seriam mais "apropriados" e lógicos em relação à função
dos objetos.
07 – O que a insistência de
Marcelo em questionar os nomes das coisas revela sobre sua forma de pensar?
A insistência de
Marcelo em questionar os nomes das coisas revela que ele tem um pensamento
crítico e uma lógica própria e criativa. Ele não aceita as convenções sem
questionamento, buscando uma coerência e um sentido mais direto na linguagem.
Isso demonstra uma mente curiosa e original, característica da fase infantil de
descoberta do mundo.
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