segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

POEMA: DE ENCANTAÇÃO - JORGE DE LIMA - COM GABARITO

 POEMA: DE ENCANTAÇÃO

               Jorge de Lima 

Arraial d’Angola de Paracatu,

Arraial de Mossâmedes de Goiás,

Arraial de Santo Antônio do Bambe,

vos ofereço quibebê, quiabo, quitanda, quitute, quingombô.

Tirai-me essa murrinha, esse gôgo, esse urufá,

que eu quero viver molecando, farreando, tocando meus ganzás!

 

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBdMMDS8jqQR3lKHufal7HJcrszKzBcruRdOtzT-5Mw3S1tX3YLU5llfgNIx8llGFV9Zn-5x58s-4o7pzkW7VwnYQhqwhFAkEKnG2xixQT6PVSl9MPp44rbat829Zx_xxQ5J0spqt77b4TPocbPadIbstbkXWd11fCyhpCCKPKbQiFOAxNy2VaqsQHxWQ/s1600/PARACATU.jpg

Arroio dos Quilombos de Palmares,

Arroio do Desemboque do Quizongo,

Arroio do Exu do Bodocô,

vos ofereço maconha de pito, quitunde, quibembe, quingombô.

Assim, sim! 

Arraial d’Angola de Paracatu, 

Arraial do Campo de Goiás, 

Arraial do Exu do Aussá,

vos ofereço quisama, quinanga, quilengue, quingombô. 

Tomai acaçá, abará, aberém, abaú!

Assim, sim! 

Tirai-me essa murrinha, esse gôgo, esse urufá! 

Vos ofereço quitunde, quitumba, quelembe, quingombô.

LIMA, Jorge de. Poesia completa. v. 1. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1974, p. 173-174.

Fonte: livro Português: Língua e Cultura – Carlos Alberto Faraco – vol. único – Ensino Médio – 1ª edição – Base Editora – Curitiba, 2003. p. 231.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema "De Encantação"?

      O poema "De Encantação" é uma invocação, um tipo de prece ou encantamento, dirigida a diversos arraiais (comunidades) de origem africana no Brasil. O eu-lírico oferece comidas e elementos típicos da cultura africana, pedindo em troca a cura de males (murrinha, gôgo, urufá) e a permissão para viver livremente, "molecando", "farreando" e expressando sua cultura através da música ("tocando meus ganzás").

02 – Quem é o eu-lírico do poema e qual sua intenção?

      O eu-lírico parece ser alguém que se identifica com a cultura africana e que busca uma conexão com suas raízes. Sua intenção é clara: através da oferta de elementos culturais (comidas, instrumentos), ele busca estabelecer uma troca com as entidades espirituais ou ancestrais africanos, pedindo por saúde, bem-estar e a possibilidade de viver livremente, celebrando sua cultura.

03 – Quais são os elementos culturais africanos presentes no poema?

      O poema é rico em referências à cultura africana, tanto na culinária (quibebe, quiabo, quitanda, quitute, quingombô, acaçá, abará, aberém, abaú) quanto em outros elementos (ganzá, maconha de pito, quitunde, quibembe, quisama, quinanga, quilengue). Esses elementos representam a força e a riqueza da cultura africana no Brasil, bem como sua presença em diversas regiões do país (Paracatu, Goiás, Palmares, etc.).

04 – O que significam as palavras "murrinha", "gôgo" e "urufá" no contexto do poema?

      Essas três palavras se referem a males ou doenças. "Murrinha" pode se referir a uma doença ou de espírito ruim. "Gôgo" é um termo popular para bócio, uma doença da tireoide. "Urufá" é uma palavra de origem africana que se refere a uma doença ou feitiço. Ao pedir para ser liberado desses males, o eu-lírico busca a cura e o bem-estar.

05 – Qual a importância do verso "Assim, sim!" que se repete no poema?

      O verso "Assim, sim!" é uma expressão de afirmação e de aceitação. Ele reforça a intenção do eu-lírico de estabelecer a troca com as entidades africanas e de receber as bênçãos desejadas. É como se ele estivesse dizendo: "Sim, é isso que eu quero! É assim que deve ser!". O verso também evoca a musicalidade e o ritmo do poema, aproximando-o de um cântico ou de uma reza.

 

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