domingo, 10 de janeiro de 2021

SONETO: SUAVE MARI MAGNO - MACHADO DE ASSIS - COM GABARITO

 SONETO: Suave Mari Magno

                     Machado de Assis

Lembra-me que, em certo dia,

Na rua, ao sol do verão,

Envenenado morria

Um pobre cão.

 

Arfava, espumava e ria,

De um riso espúrio e bufão,

Ventre e pernas sacudia

Na convulsão.

 

Nenhum, nenhum curioso

Passava, sem se deter,

Silencioso,

 

Junto ao cão que ia morrer,

Como se lhe desse gozo,

Ver padecer.

 Fonte da imagem: https://www.google.com/url?sa=i&url=http%3A%2F%2Fwww.literatura-brasileira.com%2F2015%2F09%2Fsuave-mari-magno.html&psig=AOvVaw1MmuBxafTIeDg336JOFgJQ&ust=1610367351832000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCKDw1YSske4CFQAAAAAdAAAAABAD

Glossário:

Espúrio: não genuíno, ilegítimo, ilegal, falsificado.

 

Entendendo o poema

 1.   Que paradoxo o poema aponta nas reações do cão envenenado?

Ao mesmo tempo em que ‘arfava’, ‘espumava’ e ‘sacudia o ventre e as pernas’ – reações esperadas no caso de um animal em convulsão causada pelo veneno -, o cão, surpreendentemente, ‘ria’ ‘um riso espúrio e bufão’.

2.   Por que se pode afirmar que os passantes, diante dele, também agem de forma paradoxal?

Pode-se afirmar que os passantes também agem de forma paradoxal porque seria de se esperar deles algum compadecimento diante do animal. No entanto, o que se nota é que ‘todo’ passante detinha-se, em silêncio, com quem experimenta um prazer ao observar o padecimento do animal que ia morrer.

 3.   Em vista dessas reações paradoxais, justifique o título do poema.

O título do poema indica o sentimento de prazer dos passantes que se comportam como se estivessem imunes ao sofrimento de que padece o cão, muito embora ninguém esteja livre da dor e da morte.

Por isso, o riso espúrio e bufão do animal agonizante parece assinalar a ironia diante dessa pretensa isenção por parte daqueles que o observam com perversa curiosidade.

4.   A maioria das palavras empregadas é de substantivos concretos? Isso determina que o texto é figurativo ou abstrato?

O texto é figurativo, pois faz uso de vários substantivos concretos. É um texto que representa o mundo.

5.   Há presença de paradoxos no texto de Machado de Assis?

Utiliza-se da figura de um cão para analisar as ações humanas e seus acontecimentos. São vários os substantivos concretos que denotam as reações paradoxais do cão: dia, rua, sol de verão, cão, riso, ventre, pernas, convulsão. Tais elementos determinam o paradoxo que consiste na coexistência da dor com o riso no momento da morte.

6.   Qual a reação dos curiosos que passavam por ali?

Concomitantemente, os curiosos que por ali passavam também agiam de forma paradoxal, pois se detinham junto ao cão, silenciosamente, em atitude contemplativa que sugere muita atenção. O paradoxo, nesse caso, consiste no prazer diante da dor alheia.

7.   O que se pode concluir da análise do poema?

O eu lírico faz uso de vários substantivos concretos para criar uma atmosfera abstrata que traduz uma alegoria em que a dor de um cão moribundo desperta prazer nos passantes. A dor alheia causa prazer porque quem a contempla não a está sentindo.

 

 

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