CRÔNICA: QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO
Naquele tempo eu até que achava natural
que as coisas fossem daquele jeito. Eu ia pra escola todos os dias de manhã e
quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.
É, no vidro! Cada menino ou menina tinha
um vidro. O tamanho dependia da classe em que a gente estudava. Se você estava
no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho. Se estava no segundo, o vidro
era um pouquinho maior. E assim por diante.
A gente só podia tirar o vidro na hora
do recreio ou na aula de educação física. Mas aí a gente já estava desesperado
de tanto ficar preso, e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.
Se a gente reclamava? Alguns
reclamavam. E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim
o resto da vida. Uma vez um colega meu disse que existiam lugares onde as
escolas não usavam vidro nenhum. Então a professora respondeu que era mentira,
que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior...
Mas, um dia veio para a minha escola
um menino, o Firuli, que parece que era favelado, carente, essas coisas. Aí não
tinha vidro pra botar esse menino. Então os professores acharam que não fazia
mal, não, já que ele não pagava a escola mesmo...
Então o Firuli começou a assistir às
aulas sem estar dentro do vidro. Ele desenhava melhor, respondia perguntas mais
depressa e era muito mais engraçado. Os professores não gostavam nada disso...
Nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada.
Então um dia um menino da minha
classe falou que também não ia entrar no vidro. Dona Demência ficou furiosa,
deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro. Já no outro dia a
coisa tinha engrossado. Oito meninos não queriam saber de entrar nos vidros.
Dona Demência mandou chamar seu
Hermenegildo, o diretor da escola. Ele começou a pegar os meninos e enfiar à
força dentro dos vidros. Para cada um que ele enfiava dentro do vidro – já tinha
dois fora. Todo mundo começou a correr dele e na correria começamos a quebrar
os vidros. E quebramos um, depois outro e outro.
Os professores das outras classes
mandaram ver o que estava acontecendo. Ao saber da farra que estava na 6ª série
todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros. Na pressa começaram a
esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.
Foi um custo botar ordem na escola e
o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa. Então eles descobriram que a
maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela
vidraria toda de novo.
Diante disso seu Hermenegildo pensou
um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha
umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças
gostavam muito mais. E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro. E
que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.
Dona Demência ainda disse
timidamente:
- Mas seu Hermenegildo, Escola
Experimental não é bem isso...
Seu Hermenegildo não se perturbou:
- Não tem importância. A gente começa
experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...
E foi assim que na minha terra
começaram a aparecer as Escolas Experimentais.
Adaptado de: Ruth Rocha. Admirável mundo louco; uns pelos outros; quando
a escola é de vidro. Rio de Janeiro: Salamandra, 1986.
Fonte: Livro – Português – 5ª série – Palavra Aberta-
Isabel Cabral – Atual Editora- São Paulo, 1995 – p.86-89.
Fonte da imagem acima:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.slideshare.net%2Fmaristelamafort%2Fescola-de-vidro1%2F2&psig=AOvVaw3D7K8M2JFcC4lF2TZwiZMF&ust=1610819442504000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNDnsKHAnu4CFQAAAAAdAAAAABAD
Entendendo o texto
1. Vamos dividir essa história em três grandes partes.
A
primeira parte mostra como funcionava a escola de vidro.
A segunda parte mostra a chegada de um novo aluno e as suas diferenças em relação
aos demais.
A terceira
parte mostra as consequências da chegada desse novo aluno.
Agora,
você vai identificar onde começa e onde termina cada parte.
1º Do início até “coisa pior”;
2º “Mas, um dia, veio [...]” até “perna esticada”;
3º “Então um dia” até o final.
2. Pense e responda:
a) Onde
se passa a história?
Nossa escola.
b) Quem
são as personagens da história?
Os alunos antigos; Firuli, o novo
aluno; dona Demência e o diretor.
c) O
narrador também é personagem?
Sim.
3. Com base no que conta o narrador-personagem, caracterize as seguintes personagens:
a) Firuli
Menino pobre, com habilidades mais
desenvolvidas devido à liberdade que tinha.
b) Dona
Demência
Professora rígida, tradicional.
4. Imagine-se dentro de um vidro.
a) Você
pode se mexer livremente?
Possivelmente não.
b) Você
pode falar com outras pessoas?
Resposta pessoal.
c) Como
você se sente dentro do vidro?
Resposta pessoal.
5. Todos nós sabemos que é impossível assistir às aulas dentro de um vidro de verdade.
a) Então,
o que significa, no texto, os alunos permanecerem “dentro de um vidro”?
Falta de liberdade.
b) Como
seria uma “escola de vidro”? Descreva-a com suas palavras.
Uma escola sem participação dos
alunos, alunos passivos.
Porque não estavam acostumados a ter liberdade.
a) O
que causou esse fato?
Firuli não ter de ficar dentro do
vidro.
b) Qual
foi a consequência da recusa dos alunos em entrar nos vidros?
Uma confusão, na qual os vidros foram
quebrados.
que tipo de cronica é essa ?
ResponderExcluirÉ UMA ADAPTAÇÃO DO LIVRO DA RUTH ROCHA, É UMA CRITICA À ESCOLA NO ASPECTO DA DISCIPLINA E DA FORMATAÇÃO
ExcluirMuito obrigado
ResponderExcluirÓtijma contribuição
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