sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

CRÔNICA: QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO - ADAPTADO DE: RUTH ROCHA - COM GABARITO

 CRÔNICA: QUANDO A ESCOLA É DE VIDRO

                                        Adaptado de Ruth Rocha


       Naquele tempo eu até que achava natural que as coisas fossem daquele jeito. Eu ia pra escola todos os dias de manhã e quando chegava, logo, logo, eu tinha que me meter no vidro.

      É, no vidro! Cada menino ou menina tinha um vidro. O tamanho dependia da classe em que a gente estudava. Se você estava no primeiro ano ganhava um vidro de um tamanho. Se estava no segundo, o vidro era um pouquinho maior. E assim por diante.

       A gente só podia tirar o vidro na hora do recreio ou na aula de educação física. Mas aí a gente já estava desesperado de tanto ficar preso, e começava a correr, a gritar, a bater uns nos outros.

        Se a gente reclamava? Alguns reclamavam. E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida. Uma vez um colega meu disse que existiam lugares onde as escolas não usavam vidro nenhum. Então a professora respondeu que era mentira, que isso era conversa de comunistas. Ou até coisa pior...

         Mas, um dia veio para a minha escola um menino, o Firuli, que parece que era favelado, carente, essas coisas. Aí não tinha vidro pra botar esse menino. Então os professores acharam que não fazia mal, não, já que ele não pagava a escola mesmo...

         Então o Firuli começou a assistir às aulas sem estar dentro do vidro. Ele desenhava melhor, respondia perguntas mais depressa e era muito mais engraçado. Os professores não gostavam nada disso... Nós morríamos de inveja dele, que ficava no bem-bom, de perna esticada.

          Então um dia um menino da minha classe falou que também não ia entrar no vidro. Dona Demência ficou furiosa, deu um coque nele e ele acabou tendo que se meter no vidro. Já no outro dia a coisa tinha engrossado. Oito meninos não queriam saber de entrar nos vidros.

          Dona Demência mandou chamar seu Hermenegildo, o diretor da escola. Ele começou a pegar os meninos e enfiar à força dentro dos vidros. Para cada um que ele enfiava dentro do vidro – já tinha dois fora. Todo mundo começou a correr dele e na correria começamos a quebrar os vidros. E quebramos um, depois outro e outro.

          Os professores das outras classes mandaram ver o que estava acontecendo. Ao saber da farra que estava na 6ª série todo mundo ficou assanhado e começou a sair dos vidros. Na pressa começaram a esbarrar uns nos outros e os vidros começaram a cair e a quebrar.

          Foi um custo botar ordem na escola e o diretor achou melhor mandar todo mundo pra casa. Então eles descobriram que a maior parte dos vidros estava quebrada e que ia ficar muito caro comprar aquela vidraria toda de novo.

          Diante disso seu Hermenegildo pensou um bocadinho, e começou a contar pra todo mundo que em outros lugares tinha umas escolas que não usavam vidro nem nada, e que dava bem certo, as crianças gostavam muito mais. E que de agora em diante ia ser assim: nada de vidro. E que a escola agora ia se chamar Escola Experimental.

          Dona Demência ainda disse timidamente:

          - Mas seu Hermenegildo, Escola Experimental não é bem isso...

         Seu Hermenegildo não se perturbou:

         - Não tem importância. A gente começa experimentando isso. Depois a gente experimenta outras coisas...

         E foi assim que na minha terra começaram a aparecer as Escolas Experimentais.

               Adaptado de: Ruth Rocha. Admirável mundo louco; uns pelos outros; quando a escola é de vidro. Rio de Janeiro: Salamandra, 1986.

Fonte: Livro – Português – 5ª série – Palavra Aberta- Isabel Cabral – Atual Editora- São Paulo, 1995 – p.86-89.

Fonte da imagem acima:https://www.google.com/url?sa=i&url=https%3A%2F%2Fwww.slideshare.net%2Fmaristelamafort%2Fescola-de-vidro1%2F2&psig=AOvVaw3D7K8M2JFcC4lF2TZwiZMF&ust=1610819442504000&source=images&cd=vfe&ved=0CAIQjRxqFwoTCNDnsKHAnu4CFQAAAAAdAAAAABAD


Entendendo o texto

        1.   Vamos dividir essa história em três grandes partes.

             A primeira parte mostra como funcionava a escola de vidro.

         A segunda parte mostra a chegada de um novo aluno e as suas diferenças em relação aos demais.

        A terceira parte mostra as consequências da chegada desse novo aluno.

       Agora, você vai identificar onde começa e onde termina cada parte.

      1º Do início até “coisa pior”;

      2º “Mas, um dia, veio [...]” até “perna esticada”;

      3º “Então um dia” até o final.

         2.   Pense e responda:

a)   Onde se passa a história?

Nossa escola.

b)   Quem são as personagens da história?

Os alunos antigos; Firuli, o novo aluno; dona Demência e o diretor.

c)   O narrador também é personagem?

Sim.

3.   Com base no que conta o narrador-personagem, caracterize as seguintes personagens:

a)   Firuli

Menino pobre, com habilidades mais desenvolvidas devido à liberdade que tinha.

b)   Dona Demência

Professora rígida, tradicional.

4.   Imagine-se dentro de um vidro.

a)   Você pode se mexer livremente?

Possivelmente não.

b)   Você pode falar com outras pessoas?

Resposta pessoal.

c)   Como você se sente dentro do vidro?

Resposta pessoal.

5.   Todos nós sabemos que é impossível assistir às aulas dentro de um vidro de verdade.

       a)   Então, o que significa, no texto, os alunos permanecerem “dentro de um vidro”?

Falta de liberdade.

 

       b)   Como seria uma “escola de vidro”? Descreva-a com suas palavras.

  Uma escola sem participação dos alunos, alunos passivos.

 6.   No recreio e na aula de Educação Física, sem os vidros, os alunos corriam, gritavam e se batiam. Por quê?

              Porque não estavam acostumados a ter liberdade.

              7.   Alguns alunos começaram a se recusar a entrar nos vidros.

      a)   O que causou esse fato?

      Firuli não ter de ficar dentro do vidro.

     b)   Qual foi a consequência da recusa dos alunos em entrar nos vidros?

     Uma confusão, na qual os vidros foram quebrados.

 

 

 

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