Texto: O Almoço
Trouxeram a travessa de bacalhoada e
botaram bem na minha frente. A bacalhoada soltava mais fumaça que qualquer
chaminé, e a fumaceira passava rentinho do meu nariz.
Encheram o meu prato. Tomei coragem e
falei:
- Tia Brunilda, a senhora vai me
desculpar, mas se tem comida que eu não topo é bacalhau.
- Bobagem da Raquel, ela gosta sim –
o meu pai falou.
Olhei pra minha mãe e ela fez cara de
quem diz: “não cria caso, sim, Raquel?” Vi que ia dar alteração. Então mandei
recado pro estômago aguentar firme, e comecei a mastigar devagar. Foi aí que o
Alberto se abaixou pra apanhar o guardanapo e gritou:
- Ih pessoal, vocês já viram o
tamanho da bolsa da Raquel? O que é que você carrega aí dentro, hem, Raquel?
- Nada. Não carrego nada, viu? –
respondi já meio afobada. Aí o Alberto falou:
- Vou espiar essa bolsa, pra ver o que
é que ela tem. – Mas disse aquilo cantando. Com a música de “Vou passear na
floresta, enquanto seu lobo não vem”.
Meu coração disparou. Tudo que o
Alberto dizia que ia fazer, fazia mesmo.
- Vou espiar essa bolsa, pra ver o
que é que ela tem. – Se levantou da mesa e veio vindo pra perto de mim.
Estendia as mãos assim que nem garra de monstrinho, e fazia cada careta
horrível.
O pessoal desatou a rir:
Principalmente a tia Brunilda. Ria de chorar. Me levantei, e botei a bolsa
atrás de mim. Aí o Alberto começou a me fazer cócega pra ver se eu saía da
frente da bolsa. Pra quê! Fiquei na maior chateação:
- Tia Brunilda, diz pro Alberto
parar com isso, sim?
Ela ria.
- Vou espiar essa bolsa, pra ver o que é
que ela tem. – E toca a fazer cócega.
Fui pra perto da tia Brunilda:
- A senhora acha engraçado tudo o que
o Alberto faz, não é? Ele pode fazer maior besteira do mundo que a senhora acha
graça.
Minha irmã fechou a cara:
- Não fala assim com a tia Brunilda.
- Ela não tá ligando a mínima o que o
Alberto faz comigo, por que é que eu vou ligar pra ela?
- Raquel?
- Porque vocês tão sempre ligando, é?
- Não precisa dizer mais nada,
Raquel.
- Vou espiar essa bolsa...
- Porque vocês tão sempre paparicando
ela, é?
- Raquel, eu disse chega.
- ...pra ver o que é que ela tem.
- Porque ela é rica, é?
- Eu disse chega!
- Vou espiar essa bolsa...
- Porque ela tá sempre dando
presente, é?
- Chega!!!
Adaptado de: Lygia Bojunga Nunes. A bolsa amarela. Rio de Janeiro: Agir,
1979.
Fonte: Livro: Português – 5ª série – Palavra Aberta- Isabel Cabral – Atual Editora – p. 66-68.
Entendendo o texto
1. Várias personagens participam do almoço na casa da tia Brunilda.
a) Quais
são as personagens dessa história?
Raquel, Alberto, tia Brunilda, os
pais e a irmã de Raquel.
Raquel.
2. O narrador também é personagem?
Sim. Raquel narra a história.
a) Ela
conseguiu deixar de comer dessa comida? Por quê?
Não. Sua mãe a repreendeu, dando a
entender que haveria problemas sérios se ela não comesse.
Resposta pessoal.
4. Alberto cismou em pegar a bolsa de Raquel para ver o que tinha dentro.
a) Como
Raquel se sentiu?
Ficou desesperada, seu coração
disparou.
Resposta pessoal.
Desrespeitoso, cruel, provocativo,
invasivo.
5. “O pessoal desatou a rir. Principalmente a tia Brunilda. Ria de chorar.”
a) O
que você acha da atitude que os adultos tiveram diante do que acontecia com
Raquel?
Resposta pessoal.
Resposta pessoal.
a) O
que ela disse que é “indesejável”? Escreva com suas próprias palavras.
Ela acusou a família de “paparicar”
a tia Brunilda porque era rica e dava presentes.
b) Como a família reagiu ao que Raquel disse?
Impediram-na de continuar a falar.
7. O “clima” do almoço na casa da tia Brunilda estava calmo ou tenso?
Tenso.
O
que você acha que aconteceu depois disso? Escreva um ou dois parágrafos,
finalizando a história.
Resposta pessoal.
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