Aníbal Machado
Tati esperava amanhecer para se dirigir
ao mar. O mar estava sempre em seu pensamento, diante do olhar ou nos ouvidos.
Louca por ele. Respeitava-o como à sua mãe. Ambos eram até parecidos, não sabia
bem por quê. Grandes, poderosos e macios, podendo enraivecer de repente,
podendo matá-la se quisessem. Misteriosa, sua mãe era também; mas perto dela,
como agora, Tati se sentia obrigada, ao passo que o mar era terrível, oh!
Terrível...
-- Não brinca muito longe de casa,
recomendou-lhe Manuela, quando o sol do dia seguinte clareou a praia. A criança
respondeu que tinha pensado num brinquedo muito bom para não ir longe – o de
horta. Num canto do terreiro abriu com a amiguinha uns buraquinhos, atirou
dentro grãos de milho e feijão. Uma empregada da lavanderia disse que dava. Os
dias iam passando.
-- Quando você for na cidade, você me
leva mamãe.
Delícia era ver as vitrinas. A
princípio Tati queria possuir tudo que aparecia nelas. Custara a compreender
como é que as pessoas não furtavam aquelas maravilhas. Agarrada ao dedo de sua
mãe, vai ouvindo as razões por que não se podia fazer isso. A explicação não a
convence, tanto mais que outros mostruários belíssimos de frutas, brinquedos e
objetos bonitos vão sucessivamente se oferecendo e provocando.
-- Eu acho que neste mundo tem tudo,
não é, mamãe?
Impressionada com uma vitrina de
queijos, pergunta qual a árvore que dava aquilo. Alguns manequins, parecendo
gente de verdade, a irritavam; tinha vontade de atirar pedra neles. Se a mãe se
demora nas compras, a garota aproveita as quadras do passeio para jogar
amarelinha. Indiferente aos empurrões, vai sendo arrastada para longe, pela
onda de transeuntes apressados. Meu Deus, em que casa mesmo entrou sua mãe?
Tati já está longe, mais absorta no jogo do que amedrontada. Mas sua mãe está
demorando. De que porta sairá Manuela? Sente-se perdida, angustiada, a querer
gritar pela salvadora, quando uma mão aflita a agarra e lhe dá um beliscão.
Viera assustada sua mãe. A garotinha chora. E como pede entre lágrimas um
automovelzinho, a mãe não sabe se está chorando pelo beliscão ou pela falta do
brinquedo. A costureira consulta a bolsa. O dinheiro não dá.
Machado,
Aníbal M. Tati, a garota. In: Ramos, Graciliano.
Seleção de contos
brasileiros. Rio de Janeiro;
Ed. de Ouro, 2. vol.
p. 233.
Entendendo o conto:
01 – O que é sentir-se
abrigada?
Sentir-se protegida.
02 – Sucessivamente é um advérbio derivado do adjetivo
sucessivo. O que é sucessivo?
É o
que ocorre um após o outro.
03 – O que designa o vocábulo manequim?
É boneco para exposição de roupas.
04 – Passeio, em alguns lugares, é chamado de calçada. O
passeio ou calçada tem, de um lado, os prédios. O que tem do outro lado?
Sarjeta, meio-fio.
05 – O que são transeuntes?
Pedestres.
06 – Qual o significado de absorta?
Pensativa.
07 – Você também é louco pelo mar? Por quê?
Resposta pessoal do aluno.
08 – Qual a sua brincadeira preferida? Justifique.
Resposta pessoal do
aluno.
09 - Como você
interpreta a fala da menina: “— Eu acho que neste mundo tem tudo, não é, mamãe?
Resposta pessoal do aluno.
10 – O que você acha do beliscão dado pela mãe?
Resposta pessoal do aluno.
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