Conto: Visita
a Mildendo
Clarice Lispector
A primeira coisa que quis conhecer
quando me vi em liberdade foi Mildendo, a capital de Lilipute.
O imperador não só me concedeu a
permissão como no fundo ficou bem vaidoso de minha curiosidade: achava Mildendo
uma cidade linda, bem digna de ser visitada por um estrangeiro. Advertiu-me,
contudo, que tivesse cuidado: não fosse eu pisar em um de seus súditos com o
meu pé gigantesco ou esmagar uma das bonitas construções da capital.
O povo foi avisado do dia e horário de
minha visita, e deram-se ordens para que todas as pessoas permanecessem dentro
de casa. Para minha sorte todos obedeceram, pois, havendo um acidente e meu pé
atropelando alguém, não sobraria do Liliputiano nem a alma para ser enterrada.
Fora, é claro, as consequências funestas que recairiam sobre a minha liberdade
recém-conquistada.
A muralha que rodeia Mildendo mede dois
pés e meio de altura, sendo flanqueada por grandes torres que vigiam o
horizonte. Na maior parte das ruas consegui caminhar, em outras contentei-me em
dar uma espiada de longe por serem estreitas em demasia. A cidade, no entanto,
é bem grande, sendo capaz de abrigar quinhentas mil pessoas. Suas construções
são bastante sólidas, possuindo geralmente de três a cinco andares. Vi também
na cidade muitas lojas e mercados sortidos e fiquei contente: por mais que eu
estivesse trazendo despesas a Lilipute, seu povo ainda dispunha de grande
variedade de comezainas ao alcance da mão.
Eu caminhava com extremo cuidado, pois
tinha medo de que algum fanfarão ou maluco ainda se encontrasse pelas ruas. Mas
se não vi ninguém andando por Mildendo, as janelas das casas, em compensação,
estavam apinhadas de gente: todos queriam ver passar o Homem-Montanha.
No centro da cidade ergue-se o
importante palácio imperial, circundado por um grande muro. Como entre este e o
palácio há um espaço considerável, transpus o muro e deitei-me no chão, colando
meu rosto às janelas de Sua Majestade. Que beleza! Os magníficos salões eram
forrados de brocados e veludos, mas arrumados de um modo muito característico
de Lilipute. Os móveis, delicadamente esculpidos, nada ficavam a dever a nossos
mais famosos artistas europeus, como também os quadros e tapeçarias que
enfeitavam as paredes.
A imperatriz e os jovens príncipes
chegaram às janelas para me verem, fazendo-lhes eu a mais graciosa reverência
de que Lemuel Gulliver, marinheiro e cirurgião, seria capaz. Sua Majestade
sorriu e deu-me a mão para beijar, o que fiz respeitosamente.
(...)
Jonathan
Swift. Viagens de Gulliver. Adaptação de
Clarice Lispector. São Paulo, Melhoramentos, 1963.
01 – Por que o imperador
ficou vaidoso da curiosidade de Gulliver em conhecer a capital de Lilioute?
Possivelmente,
porque ele era o governante de Mildendo e a achava uma cidade linda e digna de
ser visitada por um estrangeiro.
02 – Em que momento do texto
fica evidente que Gulliver era um gigante naquele reino?
“Advertiu-me, contudo, que tivesse cuidado:
não fosse eu pisar em um de seus súditos com o meu pé gigantesco ou esmagar uma
das bonitas construções da capital.”
03 – Por que ele teve de
tomar cuidado ao andar pelas ruas de Mildendo?
Pelo fato de ele ser gigante, poderia
esmagar as pessoas e destruir as construções de Mildendo.
04 – No texto, a capital de
Lilipute, Mildendo, foi bem detalhada, ou seja, descrita. A seguir,
apresentamos dois trechos do texto. Leia-os e anote o trecho que apresenta uma
descrição.
·
“O imperador não só me concedeu a permissão
como no fundo ficou bem vaidoso de minha curiosidade: achava Mildendo uma
cidade linda, bem digna de ser visitada por um estrangeiro.”
·
“A cidade, no entanto, é bem
grande, sendo capaz de abrigar quinhentas mil pessoas. Suas construções são
bastante sólidas, possuindo geralmente de três a cinco andares.”
05 – A frase abaixo, ela é a
resposta de uma determinada pergunta: “A cidade era capaz de abrigar quinhentas
mil pessoas.”
Agora, elabore uma pergunta
para essa resposta.
Quantas pessoas a
cidade era capaz de abrigar?
06 – Gulliver desejava
entrar e conhecer o interior da casa de Sua Majestade, mas seu tamanho o
impedia. Qual foi a solução que ele encontrou?
Havia um espaço
considerável entre o palácio imperial e o muro; então, ele transpôs o muro e
deitou-se no chão, colando o seu rosto às janelas.
07 – Ao observar o palácio,
Gulliver demonstra admiração diante do que vê. Que expressão ele utilizou para
manifestar esse sentimento?
“Que beleza!”
08 – Quantas e quais eram as
profissões de Lemuel Gulliver? Qual é a opção adequada?
a)
Eram três: marinheiro, pintor e cirurgião.
b)
Eram duas: pintor e cirurgião.
c)
Eram duas: marinheiro e cirurgião.
09 – Releia o trecho do
texto abaixo:
“Mas se não vi ninguém andando por
Mildendo, as janelas das casas, em compensação, estavam apinhadas de gente:
todos queriam ver passar o Homem-Montanha.”
No trecho acima, aparece a
expressão Homem-montanha.
a)
A quem essa expressão está se referindo?
A expressão está se referindo a Gulliver.
b)
O que ela indica?
Ela indica que Gulliver é um homem muito grande, um gigante.
10 – Leia esta informação:
Aquele que narra os acontecimentos de uma história é chamado narrador. Ele pode
apenas contar a história, sem participar dos acontecimentos, ou pode narrá-la
participando como personagem.
No texto lido, o narrador participa dos
acontecimentos ou não? Comprove sua resposta com um trecho do texto.
No texto o narrador participa dos
acontecimentos. “Eu caminhava com extremo cuidado, pois tinha medo de que algum
fanfarão ou maluco ainda se encontrasse pelas ruas.”
11 – Como você se sentiria
se estivesse no lugar de Gulliver?
Resposta pessoal
do aluno.
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