sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): AMOR MAIOR - JOTA QUEST - COM GABARITO

MÚSICA(ATIVIDADES):   AMOR MAIOR

                                                                                JOTA QUEST

Eu quero ficar só
Mas comigo só eu não consigo
Eu quero ficar junto
Mas sozinho só não é possível

É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Amor de dentro pra fora
Amor que eu desconheço

Quero um amor maior
Um amor maior que eu
Quero um amor maior, yeah!
Um amor maior que eu

Eu quero ficar só
Mas comigo só eu não consigo
Eu quero ficar junto
Mas sozinho assim não é possível

É preciso amar direito
Um amor de qualquer jeito
Ser amor a qualquer hora
Ser amor de corpo inteiro
Um amor de dentro pra fora
Um amor que eu desconheço

Quero um amor maior
Um amor maior que eu (que eu)
Quero um amor maior, yeah!
Um amor maior que eu
Yeah! Yeah!

Então seguirei meu coração até o fim
Pra saber se é amor
Magoarei mesmo assim
Mesmo sem querer
Pra saber se é amor
Eu estarei mais feliz
Mesmo morrendo de dor, yeah!
Pra saber se é amor
Se é amor

Quero um amor maior, yeah!
Um amor maior que eu (que eu)
Quero um amor maior, yeah!
Um amor maior que eu
Um amor maior que eu, yeah!

Maior que eu
Um amor maior que eu
Maior que eu

Um amor maior que eu!
                                         FLAUSINO, Rogério. Jota Quest – MTV ao vivo. Sony/BMG, 2003.CD.
Entendendo a canção

01 – Quem é o eu lírico do poema: homem ou mulher?
      Pela análise do segundo e do nono versos constata-se que seja um homem, pois usa a expressão “sozinho” nesses versos.

02 – O eu lírico desse poema se refere a alguém? Quem?
      O eu lírico, nesse poema, faz uma reflexão sobre o amor, quer um amor maior, no entanto ainda desconhece tal sentimento. Sendo assim, ele fala para ele mesmo.

03 – Nos versos 1 e 2, é possível destacar uma figura de linguagem a partir das expressões “comigo só” e “sozinho só”? Qual a contribuição dela para a canção?
      A figura destacada é um pleonasmo. Ela contribui para intensificar a ideia de solidão por meio da repetição da palavra que transmite essa sensação.

04 – Qual o sentido do verso “Amor de dentro pra fora”?
      O verso representa que o amor seja verdadeiro, um sentimento que brota do seu interior, e não que seja apenas uma convenção, uma aparência.

05 – Qual o sentido dos 1° e 2° verso?
      Parece que o eu lírico, inicialmente, gostaria de ficar sozinho, mas não consegue, porque na verdade ele quer encontrar um amor, alguém com quem possa ficar junto, pois não consegue mais ficar só.

06 – “É preciso amar direito”. O que seria “amar direito”?
      Amar direito seria o sentimento de um amor verdadeiro, sem exigências ou sem restrições.

07 – Como poderia ser explicado o verso: “Ser amor a qualquer hora, ser amor de corpo inteiro”.
      Se entregar completamente ao amor, um amor pleno.

08 – A expressão “Se é amor” aparece várias vezes na penúltima estrofe da canção. Por quê?
      Com a intenção de reforçar a ideia, ou seja, para ter a certeza de que realmente é amor.

09 – Qual o significado do verso: “Eu estarei mais feliz mesmo morrendo de dor”?
      Mesmo que o amor lhe traga dor e sofrimento, valerá a pena se ele vivenciar esse sentimento.

10 – Que tipo de AMOR é retratado pelo autor?
      O amor verdadeiro, com entrega de corpo, de alma, algo maior que tudo.

11 – Qual sentido poderia ter a expressão “Amor Maior” na canção? Explique por meio de exemplos da canção.
      Um amor completo, pleno, absoluto. De entrega e abdicação a qualquer outra coisa por este amor, pois é maior, mais valioso que tudo.
      “Um amor de qualquer jeito
       Ser amor a qualquer hora
       Ser amor de corpo inteiro
       Um amor de dentro pra fora”

       [...]
12 -   O que quer dizer o seguinte verso na canção?
             “Quero um amor maior, um amor maior que eu”
       O eu poético deseja um amor que seja intenso, um amor que ele ainda não sentiu.

13 -   Algumas palavras e expressões da canção contrastam entre si, expressando ideias opostas. Transcreva-as em seu caderno e depois responda: O que essas oposições indicam a respeito do eu poético?
        “ficar só” X “ficar junto”; “amar direito” X “amar de qualquer jeito”; “amor de corpo inteiro” X “amor que eu desconheço”; “estarei mais feliz” X “morrendo de dor”. Indicam que o eu poético não consegue fiar só e possivelmente está disposto a amar intensamente, mesmo que isso lhe traga mágoas, dores ou outros conflitos.

14 -   Identifique as diferenças e as semelhanças entre “Órion” e “Amor maior” quanto aos seguintes aspectos:
a)      O tipo de linguagem empregada (popular, formal, coloquial)
Uma linguagem mais formal, e o emprego das normas urbanas de prestígio. A canção usa essas mesmas normas, mas de maneira coloquial.

b)      A estrutura do texto.
Ambos se apresentam em versos.

c)       O uso de linguagem figurada
Os dois apresentam linguagem figurada.

d)      A relação entre o que poético e a pessoa amada.
Em “Órion”, o eu poético é distante da pessoa amada, mas existe o par amoroso; já em “Amor maior”, não existe o par amoroso; o eu poético está à procura de um amor intenso.

  

CRÔNICA: ANTIGAMENTE - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE - COM GABARITO

                     
CRÔNICA: ANTIGAMENTE
                 Carlos Drummond de Andrade

         Antigamente as moças se achavam mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pés de alferes, arrastando as asas, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E, se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar noutra freguesia. As pessoas, quando corriam, antigamente, era para tirar o pai da forca, e não caíam de cavalo magro. Algumas jogavam verde para colher maduro, e sabiam com quantos paus se faz uma canoa. O que não impedia que, nesses entrementes, esse ou aquele embarcasse em canoa furada. Encontravam alguém que lhes passasse a manta e azulava, dando às de vila-diogo. Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisa de onze varas, e até em calças pardas, não admira que dessem com os burros n`´agua. [...]
                                                                                 ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e prosa.
                                                                                                       Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988.
a)      Por que o título do texto é “Antigamente”?
Porque o texto refere-se a comportamento de outra época e para isso emprega palavras e expressões usadas antigamente.

b)      O texto apresenta uma série de expressões populares nascidas da tradição oral. Quais delas você pôde identificar no texto?
Possibilidades: “completar primaveras”, “arrastar asas”, “tirar o cavalo da chuva”, “pregar em outra freguesia”, “tirar o pai da forca”, etc.

c)       Há alguma palavra ou expressão antiga cujo significado você já conhecia?
Resposta pessoal.

d)      Que palavra você achou mais interessante conhecer? Qual lhe parece mais estranha ou mais engraçada?
Resposta pessoal.

e)      De que maneira a relação entre passado e presente é estabelecida no texto?
Por meio do título “Antigamente”, que indica ao leitor que o comportamento era diferente do atual, assim como a linguagem, as palavras e as expressões.

f)       Provavelmente, com que intenção o autor escreveu esse texto?
Informar o leitor de que muitas palavras e expressões ainda hoje empregadas têm origem muito antiga e, ao mesmo tempo, apresentar outras que possivelmente ele ainda não conhece. Além disso, busca provocar no texto efeitos de humor a fim de divertir o leitor.

g)      De que maneira o texto mostra os diferentes usos dos termos correspondentes à atual palavra “cinema”?
O texto apresenta ao leitor as palavras “animatógrafo” e “cinematógrafo”, nomes dados antigamente ao cinema, indicando a ordem de uso desses termos.

h)      O texto lhe ajudou a conhecer melhor a história de alguns costumes das pessoas? Por que?
Resposta pessoal.





segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

MÚSICA(ATIVIDADES): VENTO DO LITORAL - LEGIÃO URBANA - COM GABARITO

MÚSICA(ATIVIDADES): VENTO DO LITORAL
 LEGIÃO URBANA  

De tarde quero descansar
Chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
Vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora...

Agora está tão longe
Ver a linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudades
Quando olhávamos juntos
Na mesma direção

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim...

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo
O tempo todo

E quando vejo o mar
Existe algo que diz
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem...

Já que você não está aqui!
O que posso fazer
É cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos,
Lembra que o plano
Era ficarmos bem...

Eieieieiei !
Olha só o que eu achei
Humrun
Cavalos-marinhos...

Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora

RUSSO, Renato. Vento no litoral. Intérprete: Legião Urbana.
      In: Legião Urbana. Legião Urbana V. Brasil: EMI Music, 1991. 1 CD. Faixa 7.


   Relendo a letra, responda:

1)   Na personificação do tempo em “Foi só o tempo que errou”, o eu lírico
a)   acredita não ter responsabilidade pelo que acontece e culpa o tempo.
b)   responsabiliza o mal tempo por levar tudo que possuía embora.
c)   demonstra ter perdido a hora em algum momento.
d)   sente a força dos ventos ao observar o horizonte.

2)   De acordo com a letra da música, o eu lírico
a)   procura o mar para contemplar seu amor.
b)   faz planos para reencontrar seu amor.
c)   fica feliz ao ter contato com a natureza.
d)   sente a falta de alguém que partiu.

          3)      Ao buscar um lugar tranquilo, o eu lírico encontra na praia o seu refúgio. De que, na verdade, ele deseja descansar?
      De seu desencontro amoroso, da desilusão de seus sonhos de amor.

           4)  Como o eu lírico tenta apagar as possíveis lembranças que o fazem sofrer?
Ele vai em busca da natureza, procura ouvir o vento que acalma, e brinca com as ondas do mar.

         5)   Que advérbio ou locuções adverbiais, na primeira estrofe, situam o lugar onde ele estava?
Até a praia e nas pedras.

        6)     Explique por que ele diz, na segunda estrofe, que: “...o vento vai levando tudo embora”.
Além de carregar o que encontra pela frente, o vento leva consigo as  recordações e tristezas do eu lírico.

7 -   Releia a primeira estrofe.
          a) Por que será que o eu lírico quer ir à praia?
Para esquecer o que faz sofrer, para se livrar do sofrimento e para espairecer.

   b) Que advérbio, na primeira estrofe, funciona como um pressuposto, isto é, sugere que o vento já estava mais forte antes? Esclareça sua resposta.
Porque nos faz pressupor que o vento esteve muito forte, mas poderia estar mais forte ou não à tarde.

       c) Na segunda estrofe, que palavra retoma todo o conteúdo da primeira estrofe, resumindo-a?
O pronome demonstrativo isso, que funciona como elemento de coesão referencial no texto.

8) -    Aos poucos o eu lírico vai falando de seu desencanto e revela o que o deixou meio perdido. Releia a terceira estrofe.
   a)   Interprete este verso: “Agora está tão longe [....]”. O que se distanciou?
A presença física da pessoa amada e o que eles viveram enquanto se amavam.

        b) Ainda na terceira estrofe, o que se pode concluir quanto ao motivo da separação?
     Eles passaram a ter sonhos diferentes, não se entendiam mais e acabaram se afastando um do outro.

      c)  Nessa estrofe, que advérbio altera o sentido de outro advérbio? O que ele expressa?
              O advérbio tão, que intensifica o sentido do advérbio de lugar longe.

     d) Que locução prepositiva une versos e advérbios de tempo e lugar, na terceira estrofe? Qual é o seu sentido?
      Além de: expressa a ideia de inclusão.

       e)  Releia este verso: “Dos nossos planos é que tenho mais saudade”. A locução destacada chama-se expletiva ou de realce, porque podemos tirá-la sem alterar o sentido do verso. Com que objetivo ela foi empregada?
Para realçar o termo “Dos nossos planos”, que representa a ideia mais Importante no verso.

  f)  Que outro recurso estilístico se empregou para realçar esse termo?
A anástrofe, ou seja, a inversão na ordem da frase. Na ordem direta teríamos: É que tenho mais saudade dos nossos planos.

      g)  A ideia de tempo é determinada por quais palavras na terceira estrofe?
    Pela repetição do advérbio agora e pela conjunção subordinativa quando.

 h)     No último verso da terceira estrofe, por que ocorre elipse?
     Não se repetiu o verbo estar, expresso no verso anterior.

9 -   De acordo com esse último verso, o eu lírico ainda não havia esquecido a pessoa amada, e esse fato se confirma na quarta estrofe.
  a) Explique por que ele prefere culpar o tempo pelo fracasso de seus planos.
Durante algum tempo, era fácil o entendimento entre ele a amada; mas o tempo fez com que isso acabasse, e o amor se desgastasse.

    b)  No verso “Agimos certo sem querer”, a palavra destacada é adjetivo ou advérbio? Por que?
Advérbio, pois modifica o verbo agir, expressando modo. Não caracteriza um substantivo.

 c) Releia estes versos: “vai ser difícil sem você”; “Era ficarmos bem...”.  Que sentido expressam as palavras destacadas?
A preposição sem expressa falta ou carência de algo ou alguém; e o advérbio bem indica o modo como os dois viveriam.

10 -    Apesar da saudade, o eu lírico reage e procura novos caminhos. Releia a quinta e sexta estrofes.
        a)   Interprete o sentido deste verso: “Quero ser feliz ao menos”.
O eu lírico deseja apenas viver com alegria, mesmo não tendo a  pessoa amada ao seu lado.

   b) Na quinta estrofe, a locução conjuntiva subordinativa já que, que constitui um elemento de coesão entre as estrofes, apresenta que sentido?
Exprime a causa ou o motivo de ele não se entregar.

 c) Observe o emprego das interjeições, na última estrofe. O que elas expressam?
Pode ser uma interjeição para chamar a atenção do outro, para o seu achado ou exprimir a alegria de encontrar os cavalos-marinhos, e a outra, “Humrun”, pode indicar que ele está pensativo ou feliz diante do fato.

     d)  Que relação teria o fato de ele ter achado cavalos-marinhos e a decisão tomada?
Talvez esse achado fosse para ele o prenúncio de uma vida mais feliz, renovada.

    e)   Observe o emprego das reticências no final de todas as estrofes, com exceção da primeira. Que sentido elas apresentam no contexto?
Há a suspensão de um pensamento que parece ainda continuar na mente do eu lírico.


domingo, 22 de janeiro de 2017

CRÔNICA: CIRANDA DA INDIFERENÇA - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO - COM GABARITO

Crônica: Ciranda da Indiferença 
 Ignácio de Loyola Brandão

          Em troca de algumas moedas, um menininho joga várias bolinhas para o alto com a destreza de um malabarista. Enquanto isso, uma menina se esmera para limpar o vidro dos carros com uma flanela suja, outro menino vende balas, e outro, limão. Qual o futuro dessas crianças?
         
                  NO TRÂNSITO, A CIRANDA DAS CRIANÇAS
              Então sempre na esquina da Avenida Brasil com a Rua Colômbia. Duas meninas e dois meninos, num dia. No outro, três meninas, dois meninos. Parecem se alternar. Irão para outros pontos? Mas três crianças são fixas, donas do lugar. Conquistaram por usucapião. Dominam o território. Como e quem faz essa divisão? Por que não aparecem outras? Chegam cedo e só vão embora quando o tráfego diminui, depois das oito da noite. Cada um carrega sua caixinha de Mentex, de chicletes, de bombom. Ainda que seja a região propícia ao luxuoso chocolate Godiva, se vende bem o Sonho de Valsa, dos mais gostosos. Faça sol ou chuva, as crianças estão ali, alertas, correndo da avenida para a rua, da rua para a avenida, ao sabor dos sinais de trânsito. Num canto da Imi, a loja de decorações, ficam duas mulheres. Talvez as mães ou quem quer que sejam. Não arredam o pé do lugar, não se levantam nunca. Ficam apenas fiscalizando, atentas ao movimento das crianças. Passam o dia sentadas. Nunca sentem vontade de ir ao banheiro? E quando necessitam, como fazem? As empresas por aqui certamente não as deixam entrar. Há uns arbustos perto da Rua México. Seria ali que deságuam? De vez em quando, as duas tomam sorvete. Ou um Yakult ocasional, quando passam aquelas mulheres puxando um carrinho branco.
              As crianças possuem, entre elas, um gentlemen´s agreement. Quando o sinal vermelho acende, elas correm, distribuindo as tarefas.
              --- O BMW é seu!
              --- O Mercedes fica comigo!
              --- Corra para a Alfa!
              Conhecem todas as marcas de “carrões”! As crianças executam uma ciranda em meio aos carros, correndo agarradas às caixinhas. Os que aproximam, dentro dos veículos, mantêm os vidros fechados. Defesa paulistana. O vidro erguido isola o motorista do mundo.
              As crianças rodeiam, olham para dentro, como esfomeados olham alguém comendo num restaurante. Há quem faça um aceno com a cabeça, sempre negativo. Outros abanam as mãos. Há os impacientes, os irritados. Terceiros continuam a conversar com os parceiros ao lado. O mundo no interior dos carros é uma bolha, cápsula espacial. As pessoas estão na estratosfera. Nada têm a ver com o que se passa fora. Todos fazem questão de não olhar, não ouvir. Como se estas crianças fossem invisíveis ou transparentes. Os olhares as atravessam, sem que elas se materializem, se corporifiquem, se tornem humanas.
             Parecem não se cansar nunca. Sempre sorridentes. Brincam entre si. O não constante não as desilude, nem tira o ânimo. Sabem, desde cedo, que o não faz parte da vida delas, permanece grudado na pele. Conhecem mais o não que sim. Correm de um lado para o outro. Os que estão nos “carrões” são os que nunca compram. Quem chega em carros “inferiores”, em vulgares Fuscas, Gols, Voyage, Unos, em geral abre o vidro, dá uma palavra. Muitas vezes, as crianças querem apenas conversar com alguém diferente. Enfiam a cabeça dentro da janela, com olhos excitados. Sempre pedem alguma coisa, para não perder o hábito: “Tia, me dá aquele batom? Tio, me dá essa caneta!” E querem a revista, o jornal, o chaveiro que ficou no console, até mesmo os folhetos recebidos na esquina anterior.
             Às vezes, chove. E o abrigo é original, ainda que não proteja muito. As crianças procuram se enfiar nos vãos das letras gigantescas que formam a palavras Imi. Letras de concreto, verdes. Há uma ligação entre o I e o M. O M abriga em suas curvas duas crianças. Claro que há proteção no caso da chuva ser vertical. Se tem vento ou a chuva vem inclinada, elas se molham. Também não se importam. Existe coisa melhor, quando a gente é criança, que brincar na chuva? Ainda que estas crianças, de oito ou nove anos, mirradas, sejam adultas no que possuem de experiência, vivência. Amadurecem cedo. Olhamos e não sabemos. Quanto tempo terão de vida pela frente? Que caminhos existem diante delas?
             Onde moram? Foram à escola algum dia? Faço mentalmente estas perguntas. Por que não faço direto para elas em lugar de ficar imaginando? É que sabemos as respostas. Neste Brasil sabemos todas as respostas sobre miséria, fome, subvidas. Por isso não perguntamos. As crianças desta esquina se reproduzem em centenas de outras esquinas desta cidade. Deste Brasil. Mas houve um dia em que elas estiverem especialmente excitadas. E felizes. Foi na manhã em que o cortejo levando Senna ao cemitério passou aqui. As crianças, contentíssimas, venderam, como nunca, suas balas, chocolates, mentex, bombons. As coisas se esvaziaram. Tristezas de uns, meio de vida e alegria de outros.

                                 (Ignácio de Loyola Brandão. Calcinhas secreta. São Paulo: Ática, 2003. P.
                                                                                  76-8. Col. Para Gostar de Ler.)
1 -     O narrador volta seu alhar atento para as crianças que ele vê num farol, em uma esquina.
a)     Em que cidade os fatos acontecem? Justifique sua respostas.
Os fatos acontecem em São Paulo, pois o narrador, no 6º parágrafo, usa a expressão “defesa Paulistana”, além disso, faz referência a Avenida Brasil, Rua Colômbia, Rua México, locais conhecidos da cidade de São Paulo.

b)    No último parágrafo, o narrador afirma; “As crianças desta esquina se reproduzem em centenas de outras esquinas desta cidade. Deste Brasil”. Interprete essa afirmação.
Ele quer dizer que crianças como as retratadas no texto não existem apenas naquela esquina da cidade de São Paulo; elas podem ser vistas em outras esquinas, da cidade e do país.

2 -     Ao longo do texto, o narrador se faz várias perguntas, que aparecem em frases interrogativas diretas.
a)     O que intriga o narrador, por exemplo, no 1º parágrafo?
Intriga-o o modo como as crianças são organizadas para realizar o trabalho e o número de horas que as mulheres que acompanham as crianças ficam ali, sem ter nenhum banheiro para utilizar.

b)    Existem no texto respostas para as perguntas que o narrador se faz?
Não. As perguntas são reflexos que ele ou qualquer transeunte faria.
3 -          Pelo 1º parágrafo do texto, sabemos que o trabalho das crianças não é espontâneo.
a)     Quem está por trás desse trabalho?
Adultos, como as mulheres que fiscalizam as crianças e podem ser suas próprias mães.

b)    Levante hipóteses: Por que crianças são postas para executar esse trabalho?
Porque os adultos ficam com pena das crianças e assim se motivam a ajudar comprando; porque a crianças pouco ou nada se paga.

4 -     No 6º e 7º parágrafos, o narrador descreve o comportamento das pessoas dentro dos carros quando o semáforo fecha.
a)       Levante hipóteses: Por que as pessoas, especialmente as mais ricas, mantêm os vidros do carro permanentemente fechados?
Porque sentem medo, ou porque querem evitar o contato direto com o mundo exterior.

b)      Interprete a imagem: “O mundo no interior dos carros é uma bolha, cápsula espacial”.
O mundo no interior dos carros está vedado pelo vidro fechado, o qual impede a passagem do som externo, o contato direto com as pessoas, etc. Como uma cápsula espacial.

c)       O que o narrador denuncia com essas observações?
O narrador denuncia a insensibilidade e a indiferença das pessoas em relação a essas crianças de rua.

5 -        No 8º parágrafo, o narrador afirma que as crianças “parecem não se cansar nunca”.
a)     Por que ele imagina isso?
Porque elas estão sempre sorridentes e brincam entre si.

b)    Que razão o narrador apresenta para justificar a ânimo das crianças?
Elas não se desiludem com nada, porque sabem que o não faz parte da vida delas.

6 -        No penúltimo parágrafo, há uma reflexão sobre o futuro das crianças. De acordo com o texto, que futuro elas terão?
          O futuro delas é uma incógnita, para o narrador e para as outras pessoas. Diz o narrador. “Olhamos e não sabemos”.

7 -        No último parágrafo, ao questionar a respeito da moradia e da educação das crianças daquela esquina, o narrador se coloca como sujeito da ação, dizendo: “Faço mentalmente estas perguntas. Por que não faço direto para elas em lugar de ficar imaginando”.?
a)       Ao se colocar como sujeito da ação, o que muda na postura até então observadora do narrador?
Nesse momento, ele assume que também tem responsabilidade sobre o que está vendo, mas que está tendo um comportamento semelhante ao das pessoas em relação a essas crianças.

b)      Por que o narrador usa a 1ª pessoa do plural ao concluir: “É que sabemos as respostas”?
Porque, ao usar a 1ª pessoa do plural, ele se inclui entre os cidadãos de todas as cidades do país que sabem as respostas para as perguntas que formulou.

c)       Troque ideias com os colegas: Quais são as respostas que conhecemos e que não foram explicitadas?
Resposta pessoal. Sugerimos abrir uma discussão com a classe. Referente ao trabalho e exploração infantil.

8 -        A palavra CIRANDA tem mais de um sentido. Veja alguns deles:
a)     Que sentido essa palavra assume no título quando se considera o trabalho cotidiano e incansável das crianças?
Assume o sentido de “movimentação, agitação”.

b)    Por que o título se torna irônico quando se associam à palavra ciranda os sentidos de “roda” ou de “roda infantil”?
O título se torna irônico porque a ciranda infantil, que deveria ser uma brincadeira e acontecer, por exemplo, num parque, tristemente tonou-se trabalho infantil e é feita em meio aos carros, na maior cidade do país, sem que ninguém faça nada para impedir tal situação.