segunda-feira, 10 de setembro de 2018

CRÔNICA: A GRAMA DO VIZINHO - MARTHA MEDEIROS - COM QUESTÕES GABARITADAS

Crônica: A GRAMA DO VIZINHO
            Martha Medeiros


        Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma.
        Estamos todos no mesmo barco.
        Há no ar certo queixume sem razões muito claras.
        Converso com mulheres que estão entre os 40 e 50 anos, todas com profissão, marido, filhos, saúde, e ainda assim elas trazem dentro delas um não-sei-o-quê perturbador, algo que as incomoda, mesmo estando tudo bem.
        De onde vem isso? Anos atrás, a cantora Marina Lima compôs com o seu irmão, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: “Eu espero / acontecimentos / só que quando anoitece / é festa no outro apartamento”.
        Passei minha adolescência com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar para o qual eu não tinha convite. É uma das características da juventude: considerar-se deslocado e impedido de ser feliz como os outros são, ou aparentam ser. Só que chega uma hora em que é preciso deixar de ficar tão ligada na grama do vizinho.
        As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação, que é infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias. Os notáveis alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim. Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente.
        Só que os motivos pra se refugiar no escuro raramente são divulgados.
        Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores.
        “Nunca conheci quem tivesse levado porrada/ todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
        Fernando Pessoa também já se sentiu abafado pela perfeição alheia, e olha que na época em que ele escreveu estes versos não havia esta overdose de revistas que há hoje, vendendo um mundo de faz-de-conta. Nesta era de exaltação de celebridades – reais e inventadas – fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas, tem. Paz interior, amigos leais, nossas músicas, livros, fantasias, desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na nossa biografia. Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores? Compensa passar a vida comendo alface para ter o corpo que a profissão de modelo exige? Será tão gratificante ter um paparazzo na sua cola cada vez que você sai de casa? Estarão mesmo todos realizando um milhão de coisas interessantes enquanto só você está sentada no sofá pintando as unhas do pé? Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista.
        As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento.

                                                                                Martha Medeiros

Entendendo a crônica:

01 – Quando Martha Medeiros escreveu “Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma”, ela quis dizer que
a) as pessoas não devem se incomodar com a vida dos outros, mas com a sua.
b) a vida dos outros é sempre melhor do que a nossa.
c) a nossa vida é melhor do que a dos outros e nós não percebemos.
d) a vida dos outros nem sempre é melhor do que a nossa como, às vezes, nós pensamos.
e) ninguém deve julgar o comportamento de ninguém, pois não sabemos o que realmente acontece.

02 – Segundo a autora, a vida do outro parece sempre ser melhor, mais emocionante e animada porque
a) as pessoas buscam a felicidade a qualquer custo, mesmo que para isso seja necessário passar por cima dos outros.
b) as pessoas estão sempre insatisfeitas com as suas vidas e ficam com inveja da vida dos outros.
c) os problemas e angústias não são revelados, mantendo-se sempre a aparência de uma vida perfeita.
d) os seres humanos acreditam que a felicidade só será alcançada pela conquista de uma vida surreal.
e) a tristeza e a depressão estão tomando de conta das pessoas na atualidade.

03 – “Pra consumo externo, todos são belos, sexys, lúcidos, íntegros, ricos, sedutores”. A expressão destacada significa
a) a opinião que a pessoa tem sobre si mesma.
b) o consumo exagerado da sociedade atual.
c) a imagem dos brasileiros no exterior.
d) o narcisismo estimulado pela mídia.
e) a imagem que é divulgada e exibida aos outros.

04 – Ao citar em seu texto versos da música de Marina Lima e Antônio Cícero e versos do poema de Fernando Pessoa, Martha Medeiros utiliza uma estratégia textual denominada
a) Ambiguidade.
b) Intertextualidade.
c) Ironia.
d) Polissemia
e) Referenciação

05 – Ao dizer que “As melhores festas acontecem dentro do nosso próprio apartamento”, a autora deixou clara a lição de que
a) não devemos comparar a nossa vida com a de ninguém, pois cada sabe de si e de seus problemas.
b) mesmo com alegrias e tristezas, a nossa vida é a mais importante e, por isso, devemos valorizá-la.
c) os problemas dos outros não mais importantes do que os nossos.
d) todas as festas que nós fazemos, sendo grande ou pequena, sempre terão um significado maior.
e) devemos dar valor ao que as pessoas são e não ao que as pessoas têm.

06 – No penúltimo parágrafo do texto, Martha Medeiros fez várias perguntas com o objetivo de
a) levantar questionamentos que todos os seres humanos fazem a si mesmos.
b) expor aos leitores dúvidas existenciais que a autora guarda em seu íntimo.
c) defender que a vida das celebridades realmente é mais glamourosa do que a nossa.
d) provocar a reflexão dos leitores sobre o assunto comentado no texto.
e) saber dos leitores as respostas que a autora tanto busca em sua vida.

07 – Ao analisar a expressão destacada “Ao amadurecer, descobrimos que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma”, podemos afirmar que a autora fez uso da figura de linguagem denominada
a) Eufemismo
b) Ironia
c) Antítese
d) Metonímia
e) Metáfora

08 – “Favor não confundir uma vida sensacional com uma vida sensacionalista”. O termo grifado foi empregado com o sentido de
a) uma vida de aparências e de exibicionismo.
b) uma vida centrada no ser e não no ter.
c) uma vida marcada por tragédias.
d) uma vida boa, tranquila e feliz.
e) uma vida cheia de dificuldades e problemas.

09 – Em: “...fica difícil mesmo achar que a vida da gente tem graça. Mas, tem”. O uso da conjunção “mas” deixa claro que autora:
a) concorda com a afirmação feita anteriormente.
b) acrescenta uma informação que complemente a anterior.
c) discorda com a afirmação feita anteriormente.
d) indica a finalidade da ação citada anteriormente.
e) conclui o pensamento exposto na oração anterior.

10 – No período “Ou será que é tão divertido passar dois dias na Ilha de Caras fotografando junto a todos os produtos dos patrocinadores?”, o uso da conjunção “ou” foi feito com a função de
a) provocar uma reflexão no leitor sobre a exposição de artistas.
b) incluir uma ideia no período.
c) oferecer ideias para o leitor escolher a mais pertinente.
d) alternar ideias que têm a mesma relevância.
e) excluir uma ideia que contraria o pensamento anterior.


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