LENDA: O
Lobisomem
O lobisomem é um ser fantástico e
assustador que, como o nome indica, é meio lobo, meio homem. Durante os dias de
semana é um homem comum, magro, alto, de pele macilenta, com um olhar
melancólico. Normalmente afável e calma, de uma hora para outra pode tornar-se
irritadiço. De vez em quando dá longos suspiros, como se fossem uivos
silenciosos. E, às sextas-feiras, precisamente à meia noite, esse homem se
transforma. Adquire característica de lobo: as orelhas crescem, surgem pelos
espessos no rosto e no corpo, a boca se escancara mostrando dentes afilados. As
mãos mais parecem patas ou garras. Torna-se então perigoso para os outros
animais, sobretudo para o homem.
É difícil saber de onde o lobisomem é
originário. O maior estudioso dos seres fantásticos do Brasil, o folclorista
Câmara Cascudo, afirma que se trata de um bicho universal, encontrável em todos
os países. Em cada um ele recebe um nome diferente: Licantropo (na Grécia),
Versiopélio (em Roma), Volkdlack (nos países 10 eslavos), Loup-Garou (na
França), Obototen (na Rússia), Banramr (nos países nórdicos) ... Nossos
caboclos dizem “Lobisome” e têm muito medo dele.
Sexta-feira, da meia-noite às duas da
manhã, o lobisomem sai numa corrida barulhenta e atropelada para percorrer ou
sete cemitérios, ou sete outeiros, ou sete encruzilhadas, ou sete vilas. Nas
vilas, sítios e fazendas por onde passa, os moradores rezam e atiçam os cães
para persegui-lo, para afugentá-lo. Perto das casas, plantam arruda e alecrim.
Percorridos os sete lugares, ele retorna ao local de partida, onde há uma
umburana, árvore frondosa na qual esconde sua roupa, e volta à forma humana...
Diz a lenda que lobisomem é filho homem
que nasce depois de sete filhas mulheres e só começa a se transformar depois
dos trezes anos de idade. Trata-se de uma sina, de um triste destino. Mas que
pode ser curado, desencantado. Para tanto, basta um ferimento, ainda que
pequeno, que sangre, ou um tiro de bala untada em vela que ardeu numa missa.
Contam que em Lambari, perto do Porto
Martins, um casal teve um filho homem depois de já ter sete filhas mulheres. O
menino estava predestinado a ser um lobisomem. Seus pais rezavam todas as
noites para que esse destino não se cumprisse. Mas na noite em que fez treze
anos ele saiu correndo até uma umburana, em frente de sua casa, estrebuchou e
virou lobisomem. Já estava pronto para percorrer sete vilas quando ouviu uma
algazarra. Eram seus colegas de classe que estavam vindo para fazer-lhe uma
festa de aniversário, de surpresa. Quando viram a fera, saíram em disparada.
Menos uma menina de nome Mariza, que, além de não acreditar em lobisomem, usava
óculos por ser muito míope. Na correria, um colega derrubou seus óculos no
chão. Sem enxergar direito, Mariza foi em frente, carregando o bolo de
aniversário e uma faca para cortá-lo. O lobisomem avançou. Mariza, vendo sem
nitidez um vulto que ameaçava sobre o bolo, cutucou-o, pensando que fosse um
convidado guloso. Gritou:
--- Sai pra lá e espera! Primeiro o
aniversariante.
Ao cutucar com a faca, feriu a pata do
lobisomem, que começou a sangrar. E a fera, na mesma hora, se transformou
novamente no menino, que se apressou em cortar o bolo. Enquanto isso a turma
voltava para cantar o “Parabéns a você.”
O menino cresceu normal e nunca mais se
transformou em lobisomem. Terminado o colégio, montou uma doceria chamada AO
BOLO DO LOBO, que até hoje existe em Lambari. Mariza formou-se em História e
tornou-se professora. Diz a seus alunos que essa história de lobisomem é
bobagem, que nunca viu nenhum. A propósito, gosta de citar o filósofo Hobbes,
para quem o verdadeiro lobo do homem é o próprio homem.
Samir Meserani.Os
incríveis seres fantásticos, São Paulo: FTD, 1997.
Entendendo o texto:
01 – Você acredita em lobisomem?
Resposta pessoal do aluno.
02 – Que características tem esse ser fantástico, para
receber esse nome?
Tem
características de um lobo: as orelhas crescem, surgem pelos espessos no rosto
e no corpo, a boca se escancara, as mãos parecem garras.
03 – Como você acha que ele
é antes de se transformar? E depois da transformação?
Resposta pessoal do aluno.
04 – O lobisomem é uma lenda
brasileira, ou é conhecida de outros povos?
De acordo com o
folclorista Câmara Cascudo, trata-se de um bicho universal, encontrável em
todos os países.
05 – Em que condições você
acha que um ser humano pode se transformar em lobisomem?
Resposta pessoal
do aluno.
06 – Como você acha que as
pessoas podem se defender do lobisomem?
Resposta pessoal do aluno.
07 – Como fazer para quebrar
o encanto para sempre (para ele voltar ao normal)?
De acordo com o
texto, basta um ferimento, ainda que pequeno, que sangre, ou um tiro de bala
untada em vela que ardeu numa missa.
08 – Por que o texto é
considerado um texto informativo?
Porque é um texto
que traz informações sobre esse personagem folclórico.
09 – O que diz a lenda do
lobisomem?
Que é filho homem que nasce depois de
sete filhas mulheres e só começa a se transformar depois dos treze anos de
idade.
10 – Em que dia e hora que
se dá a transformação do lobisomem?
Na sexta-feira, da meia-noite às duas da
manhã.
11 – Quais os locais que o
lobisomem, precisa percorrer para completar o ciclo e voltar forma humana?
Ele precisa percorrer: sete cemitérios;
ou sete outeiros; ou sete encruzilhada, ou sete vilas.
12 – O que ocorre após
percorrer estes locais?
Ele retorna ao
ponto de partida, onde há uma umburana, árvore frondosa na qual esconde sua
roupa.
13 – Qual era o nome da
doceria do menino que o encanto foi quebrado?
Chamava-se AO
BOLO DO LOBO.
14 – De quem é a frase:
“Para quem o verdadeiro lobo do homem é o próprio homem”?
O filósofo
Hobbes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário