TEXTO: HISTÓRIAS DE
PAIS EM ESTÚDIOS DE TATTOO
A lei estadual
sobre piercings e tatuagens, que acabar de completar um ano, atingiu em cheio
não apenas filhos, mas pais. Há quem esteja satisfeito porque agora tem o apoio
legal para o que pensa a respeito de tatuar o corpo ou colocar um piercing
antes de completar a maioridade. Mas há também os indignados. Confira abaixo
algumas histórias Free-lance para a folha.
Independentemente da vontade dos pais, a lei nº 9.828, de 6/11/97,
proíbe a aplicação de tatuagem e piercing em menores de 18 anos.
Entre os pais,
as opiniões divergem. De um lado, estão os que consideram a lei um instrumento
válido para defender o cidadão de um arrependimento futuro. Do outro, os
indignados. É o caso do advogado Robson [...], pai de Thais, 16, que, há três
semanas, tentava sem sucesso colocar um piercing na clínica [...].
“Essa lei é
inconstitucional, o Estado não pode interferir na minha decisão sobre as
vontades da minha filha, principalmente no que diz respeito à aparência dela”,
disse o advogado.
Dias depois,
na Clínica [...], outro pai indignado se manifestava. “Para mim, essa lei é
ridícula: piercing e tatuagem não prejudicam a sociedade”, disse José Américo
[...], cuja filha, Lia [...] 14, havia sido barrada em dois respeitados
estúdios de piercing em São Paulo.
“Eu quero que
minha filha aprenda a se indignar, é uma questão de liberdade. Daí, amanhã ela
vai em qualquer lugar e volta com um negócio malfeito”, disse ele.
Foi o que
acorreu com as irmãs Ana Paula, 16, e Juliana [...] 15. Com o consentimento dos
pais, foram à Clínica [...], um dos melhores estúdios de pierceng do Brasil,
que não fez o trabalho. Acabaram na mão de um profissional sem habilitação.
“O furo das
duas infeccionou, e a joia era de ferro” (a joia, como é chamado o pierceng,
deve ser de aço cirúrgico), conta a mãe, Vera [...]. “Não associo piercing ou
tatuagens à droga ou marginalidade. Há tantos jovens desassistidos com
problemas de drogas, por que não fazer algo por eles?”, diz ela.
Já V. C. S. –
ela pediu para não ser identificada – diz que chorou uma semana por causa da
filha, B. F. S., 16, dona de dois piercengs e que acaba e tatuar um gnomo de 10
cm na batata da perna.
“Uma menina de
16 anos não tem cabeça para avaliar as consequências de uma tatuagem. Ela vai
ter problemas profissionais porque o preconceito existe. Uma coisa é fazer uma
tatuagem com 21 anos de idade, consciente da profissão que vai seguir, e outra,
embalada pelos amigos”, diz a mãe.
Esperar, sim, mas não à força.
“Ninguém pode
ter o direito de proibir uma pessoa de enfeitar o próprio corpo. Mas é legal
esperar ter maturidade”, diz Fernando [...] 19, feliz dono de três tattoos
feitas aos 18. Douglas [...], 19, conta arrependido: “Fiz quatro tatuagens com
15 anos e tiraria todas. Elas foram malfeitas, diz o bagulho chapado. Um
moleque menor de idade não tem noção e faz muita besteira.”
A estudante
Roberta [...], 18, esperou três anos para imprimir um sol tribal nas costas.
“Não fiz antes porque queria que fosse em um lugar legal para ter segurança”,
conta ela, que chegou ao estúdio [...] acompanhada das amigas.
Uma delas, Bruna [...], 15, foi
categórica: acha legal ter maturidade, mas acha a lei “ridícula porque tira a
liberdade e o direito de as pessoas fazerem o que quiserem com o próprio
corpo”.
Seguir a lei
pede paciência e é o que Rachel [...], 15, acredita não ter. Em vez de esperar
os 18, a garota pensa em apelar para a Nova Zelândia: “Como eu vou fazer
intercâmbio, talvez eu faça por lá, já que para eles tattoo é supercomum.”
Folha de São
Paulo, São Paulo, 7 dez. 1998, Caderno Folhateen, p. 6.
(Sobrenome de pessoas e nome de clínicas foram retirados).
1 – Recorde o início da reportagem:
“A lei estadual
sobre piercengs e tatuagens [...]”
a) O que é uma lei estadual?
Uma lei que só vigora no
âmbito do estado em que foi aprovada.
b) A lei sobre piercings e tatuagens a
que se refere a reportagem se aplica a você?
A resposta depende do
Estado em que residem os alunos e de sua idade: sim, se residem em São Paulo e
são menores, não, se residem em outros estados.
2 – A reportagem começa afirmando que a lei sobre piercings e
tatuagens acaba de completar um ano.
-- Identifique
as datas que confirmam essa afirmação.
A
reportagem é publicada em 7 de dezembro de 1998. A lei é de 06 de novembro de
1997.
3 – Identifique na reportagem e registre em seu caderno, em
listas separadas:
a) Os argumentos dos indignados contra a lei sobre piercings e
tatuagens.
A lei é inconstitucional: o
Estado não pode interferir na decisão dos pais sobre os filhos; piercing e
tatuagem não prejudicam a sociedade; a lei interfere na liberdade das pessoas.
b) Os argumentos dos satisfeitos a favor da lei.
A lei dá apoio legal para
os pais que são contra piercings e tatuagens em filhos menores; defende o
cidadão de um arrependimento futuro: menores não tem condições de avaliar as
consequências de piercing e tatuagens, que podem trazer problemas
profissionais, menores ainda não sabem escolher o que querem.
4 – Releia a fala de Vera, mãe de Ana Paula e Juliana.
a) Está implícito na fala de Vera que há
um preconceito em relação a piercings e tatuagens. Que preconceito?
O preconceito de quem usa
piercing e tem tatuagens também usa drogas e é marginal.
b) Vera é a favor ou contra a lei que
proíbe piercings e tatuagens em menores de idade? Justifique sua resposta.
É contra, porque: trouxe
prejuízo para suas filhas; piercing e tatuagem não são problemas que mereçam
uma lei; a preocupação dos legisladores deveria voltar-se para verdadeiros
problemas, como jovens desassistidos que usam drogas.
5 – Que problemas as pessoas entrevistadas apontam como
possíveis consequências negativas de piercings e tatuagens?
Piercings colocados por profissionais sem habilitação podem infeccionar;
tatuagens podem ser mal feitas; piercings e tatuagens podem causar problemas
profissionais, porque há preconceito contra quem os usa; a pessoa pode se
arrepender da tatuagem no futuro.
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