Notícia: Túnel do tempo, o sonho secreto dos físicos
Eles
não contam para ninguém e não gostam de comentar o assunto em público. Mas
muita gente de primeiro time anda atrás da resposta: como é que se faz
para viajar no tempo?
Por Flávio Dieguez e
Carlos Eduardo Lins da Silva, de Washington, com Cássio Leite Vieira
Não existe sonho mais fantástico do que
viajar através do tempo, voltar ao passado ou avançar pelas décadas à frente. O
problema é que, além de fantástico, esse é um sonho comprometedor. Nenhum
cientista pode sonhá-lo em público sem correr o risco sério de dar uma de
maluco. Mas agora, para surpresa dos próprios físicos, a possibilidade de
atravessar os séculos para a frente e para trás não pode ser de forma alguma
descartada. Desde o final da década passada o físico americano Kip Thorne, do
Instituto de Tecnologia da Califórnia, trouxe à tona um objeto simplesmente
estupendo: o wormhole, que, em inglês, quer dizer buraco de minhoca. Com esse
nome nada futurista, até meio invertebrado, o wormhole pode ser a peça-chave de
um futuro ônibus do tempo.
E o que é esse bicho? É uma espécie de
túnel que, segundo a teoria, pode existir no Universo. Como se fosse um atalho
cósmico, ele ligaria pontos superdistantes de um modo tal que, se alguém
pudesse caminhar por ele, chegaria rapidamente à outra extremidade. Ou seja,
ganharia um tempo enorme. A ideia de Thorne, então, seria aproveitar esses
túneis, deslocando suas extremidades para os pontos desejados e conseguir, com
idas e voltas por dentro deles, saltos não apenas no espaço, mas também no
tempo.
Por enquanto, essa máquina do tempo só
existe na teoria. Mas, exatamente porque só existe na teoria, tem aquele
fascínio dos aviões e helicópteros esboçados nas pranchetas do século XV pelo
italiano Leonardo da Vinci. Como o velho gênio italiano, Kip Thorne foi além
dos limites do que é possível em sua era. (...)
Ir para a frente é fácil. Duro é andar
para trás
Você pode não levar a sério, mas viajar
no tempo não é apenas possível. É até inevitável, em certas circunstâncias. A
ciência sabe disso desde 1905, data em que o alemão Albert Einstein formulou a
Teoria da Relatividade. “O princípio é muito simples”, disse à SUPER o
americano Michael Morris, da Butler University, em Indianápolis, pesquisador
vital nos mais importantes avanços da atualidade. “Basta embarcar numa nave que
alcance velocidade bem próxima à da luz, de 300.000 quilômetros por segundo”, explica
Morris. “Automaticamente o tempo na nave vai começar a passar mais devagar do
que na Terra.” Na volta, portanto, o viajante estará mais jovem do que os que
não voaram. Em números, se o relógio da nave, nessa velocidade, marca a
passagem de 12 horas, os da Terra marcam muito mais: uma década. Ou seja, em
relação a quem ficou aqui, o viajante terá feito uma travessia de dez anos para
o futuro.
Já não há dúvida alguma sobre esse
efeito, que foi testado e comprovado exaustivamente nos últimos trinta anos. A
precisão dos resultados só não é maior porque, como as velocidades usadas são
muito inferiores à da luz, o ritmo do tempo também não se altera muito. Assim,
as viagens já feitas ao futuro geralmente são curtas, da ordem de frações de
segundo. Mas a possibilidade, hoje, é um consenso tranquilo entre todos os
físicos, diz Morris.
Em 1985, ele embarcou numa investigação
muito mais complicada: era a possibilidade de viajar para o passado. (...)
Como
tirar as dúvidas?
Antes de começar a falar em passeios ao
passado, duas coisas precisam ficar claras. Primeiro, a possibilidade é real,
existe mesmo. Não é mágica, não é bruxaria. Segundo, essa possibilidade está
sendo estudada com extrema cautela, pois os conhecimentos atuais da Física podem
não ser suficientes para resolver as dúvidas que ainda existem. Enfim, os meios
materiais para construir uma máquina do tempo como a que a teoria sugere estão
muito além da tecnologia disponível. Muito, muito além. Como escreveu Thorne em
seu livro: “Mesmo se as máquinas do tempo fossem possíveis pelas leis da Física
ainda estaríamos mais longe delas do que o homem das cavernas estava das
viagens ao espaço”.
Como
cavar um buraco de metrô no espaço vazio
Para viajar no tempo da maneira como o
teórico americano Kip Thorne visualizou é preciso embarcar num paradoxo: abrir
um buraco no espaço vazio, bem do tipo que liga nada a lugar nenhum. Para
entender melhor, pense por um momento nos buracos negros. Eles nascem quando
uma estrela superpesada (pelo menos três vezes e meia maior do que o Sol) se
apaga e fica sem energia luminosa. A estrela escurecida desaba sobre si mesma,
produzindo uma esfera absolutamente preta, ultracompacta, com uma força
gravitacional apavorante. Traga até mesmo os raios de luz. Dentro dela, ninguém
sabe direito o que existe. Certamente não é o espaço comum. Será que, entrando
lá, alguém iria sair em outro lugar do Universo?
Passeio
num wormhole
Em 1986, Thorne já sabia que não. Tudo
o que cai num buraco negro é esmagado. Propôs então viajar dentro de wormholes,
os tais “buracos de minhoca” que já eram descritos em outros estudos de
Cosmologia. A grande vantagem dos wormholes (que são conhecidos apenas em
teoria) sobre os buracos negros é que, apesar de também ter densidade
altíssima, eles não trituram ninguém.
Mais do que isso: como os wormholes têm
duas bocas, situadas em locais diferentes do Universo, seriam os túneis ideais.
Só faltava direcioná-los. A partir da Teoria da Relatividade – que ensina que
um relógio em movimento marca o tempo mais devagar em relação a um relógio que
está imóvel –, Thorne imaginou pôr uma das bocas de um wormhole dentro de uma
nave, mandando-a para uma velocíssima viagem. A outra boca ficaria na Terra. Na
volta, uma das bocas, a que viajou, estaria atrasada no tempo. É claro! Se essa
viagem acontecesse hoje, numa velocidade bem próxima à da luz, bastariam 12
horas de passeio para conseguir um intervalo de dez anos na Terra. Pronto! Sai
um túnel do tempo para viagem: uma das bocas estaria em 2006; a outra, em 1996.
E quanto tempo levaria para atravessar o túnel do tempo depois de pronto? Menos
de 1 segundo! (...).
Revista
Superinteressante, set. 1996. p. 46-53.
Fonte: Português – Linguagem
& Participação, 6ª Série – MESQUITA, Roberto Melo/Martos, Cloder Rivas –
Ed. Saraiva, 1ª edição – 1998, p. 136-140.
Entendendo a notícia:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Décadas: espaço de dez anos.
·
Comprometedor: prejudicial, que causa problemas.
·
Físicos: aqueles que estudam Física.
·
Trazer
à tona: mencionar, lembrar, trazer ao
debate.
·
Estupendo: formidável.
·
Fascínio: encanto.
·
Inevitável: que não pode ser evitado.
·
Consenso: unidade de pensamento.
·
Plausível: em que se pode acreditar.
·
Conclusão: ideia final.
·
Paradoxo: afirmação que parece impossível, contrária ao senso comum.
·
Gravitacional: da gravidade; força que atrai os corpos para o centro do
planeta.
·
Zeloso: cuidadoso.
·
Temer: ter medo.
·
Estigma: marca, sinal.
02 – Copie a frase em que a
palavra em destaque tenha o mesmo sentido do que no texto.´
a)
Chuva, frio e vento, que tempo horrível.
b)
Vivi num tempo difícil, tempo de trabalho e carestia.
c)
Geralmente as crianças pequenas adoram ouvir histórias.
d)
Getúlio Vargas é um vulto importante da nossa
história.
e)
Quem pratica esportes geralmente tem um belo físico.
f)
Albert Einstein foi o físico mais importante deste século.
03 – Dê o substantivos
correspondentes a estes verbos:
a)
Sonhar – sonho.
b)
Cruzar – cruzamento.
c)
Caminhar – caminhada.
d)
Correr – corrida.
e)
Existir – existência.
f)
Virar – virada.
04 – Qual é o assunto deste
texto?
O texto trata da
viagem através do tempo.
05 – Por que os cientistas
têm medo de se comprometer com a máquina do tempo?
Eles sentem medo de serem chamados de
malucos.
06 – Qual foi a contribuição
do físico Kip Thorne para o assunto máquina do tempo?
O físico Kip
Thorne esboçou a teoria do wormhole (“buraco de minhoca”), uma espécie de túnel
que pode existir no Universo.
07 – Como seria possível
viajar no tempo?
Só seria possível
com um veículo que estivesse a velocidade da luz.
08 – Por onde seria possível
viajar no espaço?
Seria possível
viajar através do wormhole, deslocando-se para os pontos desejados como se
fizéssemos uma velocíssima viagem num gigantesco túnel no espaço vazio.
09 – Por que a máquina do
tempo ainda não é possível nos dias de hoje?
Porque não existe
tecnologia disponível nem conhecimento teórico suficiente para tal empreitada.
10 – Numere as frases
segundo a ordem em que aparecem no texto:
(5) Viagens ao futuro são possíveis.
(2) A explicação do buraco negro.
(8) Viajar nos wormholes – buracos de
minhoca.
(1) Um sonho fantástico.
(7) O buraco negro.
(4) Albert Einstein criou a Teoria da
Relatividade.
(9) A duração da viagem.
(6) Estamos muito longe da máquina do
tempo.
(3) Uma máquina que só existe na
teoria.