terça-feira, 20 de junho de 2023

CORDEL: A HORA DA MORTE - CHICO SALLES - COM GABARITO

 CORDEL: A HORA DA MORTE

                 Chico Salles

Esta primeira história

Me contou Jota Canalha

Afirmando ser verídica

Se deu em Maracangalha

O conto do Carochinho

Foi com Nelson Cavaquinho

Que se passou a batalha.

 https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnEIHb0Laj3HptRJEfGc8zIVj92ShOhMpXNaX0yThdOhOSDJ7YX40JR5kbgVhW6nKd0-YcsUSI33gaFkUaXvrhH-IXp8b8U2azhkm5ZGLZXqkWMyEJBpAMMniqpom787xzO9XnAW_AUAjagiml77txc0tRymdmknB-EH15N4AivskPZ--i-otx7iTEfMw/s320/CORDEL.jpg


O sujeito teve um sonho
Do dia em que morreria
Seria na terça-feira
Vinte oito era o dia
Do primeiro fevereiro
Já estava em janeiro
Começou sua agonia.

No dia seguinte do sonho
Procurou a cartomante
Que confirmou a história
Ele mudou de semblante
Dizendo-lhe até o horário
Marcando no calendário
Ali naquele instante.

Seria às vinte e três horas
Reafirmou com certeza
O cara saiu dali
Carregado de tristeza
Murmurando repetia
Meu Deus mas que agonia
Mostre-me sua grandeza.

E com o passar dos dias
Aumentava a aflição
Ele cheio de saúde
E naquela situação
Meu Deus o que faço agora
Passava outra aurora
E nada de solução.

Quando chegou fevereiro
Seu peito alto batia
Procurou um hospital
E na cardiologia
Naquela dúvida infame
Fez tudo o que é exame
Até radiografia.

[...]

A saúde era perfeita
Não tinha nem dor de dente
Ficou um pouco animado
Mais ou menos sorridente
Outra semana passou
O calendário voou
Deixando-lhe impaciente.

Até que chegou o dia
Daquela interrogação
Foi então dormir mais cedo
Mas sua imaginação
Resolveu naquele instante
Tomar um duplo calmante
Haja, haja coração.

O relógio despertador
Em cima de uma banqueta
Ele embaixo do lençol
Aquela triste faceta
Um minuto era um mês
Olha o relógio outra vez
Batendo feito o capeta.

Depois, se passar das onze
Ele estaria salvo
Daquela situação
Não seria mais o alvo
Mas o tempo é assim
Quando quer fazer patim
Não dá nem um intervalo.

Passava das dez e meia
Quando chegou o destino
Bateu na sua cabeça
Feito badalo de sino
Ali naquele momento
Veio no seu pensamento
Sair daquele pepino.

Pegou o despertador
Atrasou em quatro horas
Em seguida adormeceu
Feito anjos na aurora
Isto já faz vinte anos
Vivinho e cheio de planos
Nem pensa em ir embora.

SALLES, Chico. A hora da morte. In: ______. 3 em 1. p. 2-6. Disponível em:<http://docvirt.com/docreader.net/DocReader.aspx?bib=cordel&pagfis=82741>. Acesso em: 12 jun. 2018.

 

 

Fonte: Livro – Português – Conexão e Uso -7º Ano – Dileta Delmanto/Laiz B. de Carvalho, Editora Saraiva, 1ª ed., São Paulo, 2018.p.136-9.

Vocabulário

verídico: verdadeiro.

agonia: sofrimento intenso.

cartomante: pessoa que, supostamente, faz adivinhações e previsões com base na leitura de cartas.

semblante: fisionomia, rosto.

cardiologia: no contexto do poema, setor do hospital que se ocupa das doenças do coração e dos vasos sanguíneos.

fazer pantim: dar notícias alarmantes; espalhar boatos.

Entendendo o texto

01. No início do cordel, a “voz” no poema fica mais evidente.

a)   Leve em conta essa voz e explique a diferença entre a primeira estrofe e o restante do trecho.

Na primeira estrofe, há a apresentação da história que será contada, indicando com quem ela ocorreu e quem contou o causo. No restante do cordel, temos a história em si sendo narrada.

b)   Considerando essas duas “partes” do cordel, responda: Qual é o assunto do poema?

O poema retrata um homem que, por meio de um sonho e da previsão de uma cartomante, fica sabendo o dia e a hora de sua morte, mas, pouco antes do momento final, encontra um jeito de se salvar.

02. No cordel “A hora da morte” é possível identificar alguns momentos-chave. Localize-os no trecho conforme pedido nos itens a seguir.

a)   Situação inicial da história.

O personagem teve um sonho sobre o dia em que morreria.

b)   Momento de complicação, de conflito.

Ele vai consultar uma cartomante, que confirma a data de sua morte, indicando também a hora exata em que aconteceria.

c)   Desenvolvimento dos acontecimentos.

O homem, cada vez mais aflito, vai ao médico, faz exames, implora a ajuda de Deus, toma calmantes, tudo para tentar escapar do problema.

03. Analise agora o final dessa história.

a)   O cordel termina como pareceu indicar o início da história?

Não. A profecia não se cumpriu, e o homem viveu tranquilo pelo resto da vida.

b)   O que o texto sugere sobre a relação entre as ações do personagem e o desfecho que você mencionou?

Segundo a história, a profecia não se cumpriu porque o homem atrasou o relógio, de modo que, quando o marcador mostrou as 23 horas do dia 28 de fevereiro, na realidade já era o dia 29.

c)   Você acredita que as ações do personagem foram a causa do desfecho? Explique.

Resposta pessoal. Possibilidade: Pode-se também pensar que o homem não morreu porque não havia perigo algum, pois a profecia não era real.

04. Analise agora outro componente essencial da narrativa: o foco narrativo.

a)   Nesse cordel, que foco narrativo foi usado? Que efeito de sentido essa escolha provoca?

O cordel é narrado em 3a pessoa. Possibilidade: O foco narrativo escolhido, juntamente com a introdução da história, indica certo distanciamento, deixando claro que é uma história que aconteceu com outra pessoa e que pode ou não ser verdadeira.

b)   A hora da morte” é um poema narrativo organizado na ordem cronológica? Justifique sua resposta.

Sim, a narrativa vai do fato mais antigo (a previsão da morte) para o mais recente (a vida do personagem depois do momento de “libertação”).

c)   O cordel apresenta alguma crítica direta em relação à maneira como o personagem enfrenta seu problema? Justifique sua resposta.

Não, em nenhum momento há crítica ao personagem. Os fatos são apenas apresentados ao leitor.

05. No cordel, pode-se dar voz aos personagens para que o leitor saiba o que pensam, o que sentem. No cordel lido, isso é feito em alguns momentos utilizando dois recursos diferentes.

a)   Identifique esses momentos.

Ao expressar as informações apresentadas pela cartomante e os pensamentos do personagem principal.

        b) Explique que recursos foram utilizados e dê um exemplo de cada caso.

Por meio de discurso direto ou indireto. Possibilidades: Discurso indireto: “Procurou a cartomante / Que confirmou a história [...] / Dizendo-lhe até o horário /Marcando no calendário.”. Discurso direto: “Meu Deus mas que agonia / Mostre-me sua grandeza.” e ”Meu Deus o que faço agora”.

06. Pense na caracterização do personagem central da história. Quais são os principais traços que o caracterizam? Explique.

Possibilidade: O personagem é supersticioso, pois acreditou que um sonho e uma cartomante pudessem prever o futuro. É também apresentado como esperto, pois conseguiu encontrar um jeito de enganar a morte.

 

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