Poema: NAMORO
A CAVALO
Eu moro em Catumbi: mas a desgraça,
Que rege minha vida maldada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Alugo três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
Que rege minha vida maldada,
Pôs lá no fim da rua do Catete
A minha Dulcinéia namorada.
Alugo três mil réis) por uma tarde
Um cavalo de trote que esparrela!)
Só para erguer meus olhos suspirando
A minha namorada na janela...
Todo o meu ordenado vai-se em flores
E em lindas folhas de papel bordado...
Onde eu escrevo trêmulo, amoroso,
Algum verso bonito... mas furtado.
Morro pela menina, junto dela
Nem ouso suspirar de acanhamento...
Se ela quisesse eu acabava a história
Como toda a comédia - em casamento...
Ontem tinha chovido... Que desgraça!
Eu ia a trote inglês ardendo em chama,
Mas lá vai senão quando... uma carroça
Minhas roupas tafuis encheu de lama...
Eu não desanimei. Se Dom Quixote
No Rocinante erguendo a larga espada
Nunca voltou de medo, eu, mais valente,
Fui mesmo sujo ver a namorada...
Mas eis que no passar pelo sobrado,
Onde habita nas lojas minha bela,
Por ver-me tão lodoso ela irritada
Bateu-me sobre as ventas a janela...
O cavalo ignorante de namoro,
Entre dentes tomou a bofetada,
Arrepia-se, pula e dá-me um tombo
Com pernas para o ar, sobre a calçada...
Dei ao diabo os namoros. Escovado
Meu chapéu que sofrera no pagode...
Dei de pernas corrido e cabisbaixo
E berrando de raiva como um bode.
Circunstância agravante. A calça inglesa
Rasgou-se no cair de meio a meio,
O sangue pelas ventas me corria
Em paga do amoroso devaneio!...
Álvares de Azevedo.
Entendendo o poema:
01 – A obra de Álvares de
Azevedo, contida principalmente no seu livro póstumo, Lira dos Vinte Anos
(1853), consta, por um lado, de poemas de tom grave, linguagem formal e temas
românticos “sérios”. Por outro lado, há poemas de tom brincalhão, linguagem
coloquial e romantismo irônico. Em qual dos dois grupos você classificaria o
poema transcrito? Por quê?
Romantismo
irônico.
02 – No romantismo, a
originalidade e a expressão individual são muito importantes para o poeta, pois
garantem a expressão sincera e autêntica de suas emoções. Em “Namoro a Cavalo”,
Álvares de Azevedo faz uma zombaria que envolve esse ponto. Em que trecho tal
zombaria ocorre?
Ocorre nos dois
últimos versos da 3ª estrofe.
03 – Pode-se dizer que
também o casamento é objeto de zombaria neste poema? Por quê?
Sim. Porque o
casamento não era tratado como algo sério.
04 – Qual a diferença entre
a figura feminina deste poema e a que aparece nos poemas românticos “sérios”,
inclusive os de Álvares de Azevedo (como, por exemplo. “Lembrança de Morrer”)?
Sérios poemas
românticos que traziam como lembrança a morte do personagem.
05 – Apresente dois trechos
do texto em que o poeta explore o ridículo, invertendo situações românticas.
São dois trechos
em que exploram o ridículo, ou seja, foge da situação de todo texto.
06 – Como o poema é
dividido?
São quarenta
versos (cada uma das linhas gráficas) divididos em dez estrofes (conjunto de
versos).
07 – O que o jovem faz para
ver a namorada?
Aluga um cavalo
por três mil reis, gasta seu ordenado em flores, furta versos bonitos, sonha
com o casamento, reclama que um dia fora ver a namorada e uma carroça jogara
lama em suas roupas bonitas, etc.
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