quarta-feira, 12 de outubro de 2022

CARTA A UM ADOLESCENTE - RUBEM ALVES - COM GABARITO

 CARTA A UM ADOLESCENTE

          Rubem Alves

Você pediu que eu escrevesse sobre a maldade. Foi a primeira vez que uma pessoa me pediu isso. Você foi corajoso porque falar sobre a maldade é falar sobre nós mesmos. A maldade é algo que mora dentro de nós, à espera do momento certo para se apossar do nosso corpo. Ao pedir que eu falasse sobre a maldade você me pediu que o ajudasse a entender o lado escuro de você mesmo.

Para a gente entender a maldade é preciso entender, antes, os dois poderes de que somos feitos. Somos feitos de uma mistura de amor e poder. Amor é um sentimento que nos liga a determinadas coisas, e vai desde o simples gostar até o estar apaixonado. O amor quer abraçar, ficar perto, proteger. Amo meu cachorrinho: quero brincar com ele, tenho saudade dele. Se ele morrer eu vou chorar. Gosto da minha casa. Dói muito – dá raiva – se alguém picha de preto o muro que tinha justo sido pintado de branco. Gosto muito de uma pessoa: pode ser o pai, a mãe, o avô, a namorada. Por causa desse sentimento fico triste vendo que aquela pessoa está triste. O amor faz isso: coloca o outro dentro da gente. O que o outro sente, a gente sente também. Um amigo meu, pedreiro, senhor João, a primeira coisa que fazia quando me visitava em minha casa era salvar, com um peneira, as abelhas que estavam morrendo afogadas na piscina. Ele sofria com as abelhas.
Por isso, muitas pessoas são vegetarianas. Elas não suportam pensar na dor por que passam os bichos para que nós nos lambuzemos com a carne deles. Uma pessoa muito querida, que não é vegetariana, não consegue comer frango ao molho pardo. O molho pardo desse frango se faz com sangue – e ela se lembra de haver visto frangos de pescoço cortado, pendurados num gancho, agonizantes, seu sangue vagarosamente pingando num prato. Agora, sempre que ela vê frango ao molho pardo, ela se lembra do sofrimento daquela ave inocente. Os bichos também sofrem.

O amor nos liga à natureza toda. Eu amo a natureza – os riachos de água limpa, as cachoeiras frias, as matas com suas samambaias, avencas, orquídeas, bananeiras, as borboletas, cigarras, pássaros. Nós humanos, temos olhos deformados – não percebemos a beleza dos seres que são diferentes da gente. Mas todos eles, inclusive os besouros (que alguns chamam de “bisorros”), as rãs, os lagartos, as marias-fedidas, as taturanas, os urubus – todos eles querem viver, sofrem, fazem parte desse nosso mundo e são necessários à sua existência. Todos eles são nossos irmãos – porque todos nós teremos o mesmo fim. Um dia nós voltaremos à terra e, quem sabe, renasceremos como besouro ou galinha…

Aquilo que eu amo eu quero proteger. Proteger o cachorrinho, o muro de casa, a natureza… Às vezes, a gente quer algo anterior ao proteger: a gente crer criar. Você ainda não é pai. Não tem, portanto nenhum filho para proteger. Chegará um dia, entretanto, em que você desejará ter um filho que você ainda não tem. Para isso é preciso que você tenha os poderes de homem – para semear no ventre de uma mulher a semente do filho que você ama, mas ainda não tem. Você deseja ser (ainda não é) administrador de empresa, cozinheiro, médico ou flautista: você ama essas coisas; mas ainda não é. O amor sozinho, não faz milagres. Para ser qualquer dessas coisas você terá que, devargazinho, ir desenvolvendo poderes no seu corpo, poderes que tornarão a forma ou de conhecimentos ou de habilidades.

Quando você tem essas duas coisas juntas o amor e o poder, coisas muito bonitas acontecem. O poder torna possível a existência daquilo que a gente ama: gero um filho, planto um jardim, construo uma casa.
O poder, assim está a serviço da alegria. Pelo poder eu posso contribuir para que o mundo seja melhor. O poder e o amor juntos, estão a serviço da preservação da vida.

Acontece, entretanto que a vida anda devagar. Leva tempo para uma criança ser gerada. Leva tempo para uma árvore crescer. Por vezes, ao plantar uma árvore, a gente sabe que nunca se assentará à sua sombra.
Já a morte anda rápido. Mata-se numa fração de segundo. Basta puxar um gatilho. Ou pisar o bicho. Ou quebrar o ovo. Corta-se uma árvore que levou cem anos para crescer em poucos minutos: se for uma bananeira, basta um golpe de facão.

Você me perguntou sobre a maldade: a maldade é isso – quando as pessoas sentem prazer no ato de destruir, isto é quando as pessoas sentem prazer no exercício puro do poder, sem que esse poder tenha um objetivo de vida. Bondade é o poder usado para a vida. Maldade é o poder usado para a morte.

A adolescência é o momento da vida quando se descobrem as delícias do poder. Criança tem amor mas não tem poder. Ela quer sorvete mas não tem o dinheiro. A mãe segura, põe de castigo, dá palmada. A criança é impotente. Na adolescência o corpo se desenvolve. Fica maior que o corpo da mãe, o corpo do pai. Ganha força. Juntos, então os adolescentes se constituem num exército poderoso. É por isso que os adolescentes gostam de estar juntos: isso lhes dá um sentimento de poder. Há coisas que nunca fariam sozinhos. Mas, em grupo, tudo é permitido. As pessoas mais mansas podem se tornar monstruosas em grupo. No grupo a gente perde o senso da responsabilidade moral.

Como eu já disse, o poder, como fim em sim mesmo, sem um propósito de amor, dá prazer rápido. Quebrar, pichar, arrancar, bater, cortar esmagar, derrubar – todas essas são formas do poder-prazer a serviço da morte. É uma coisa demoníaca.
Por isso, meu amigo, adolescente, quero confessar uma coisa que nunca confessei: “Tenho medo de vocês”. O fascínio que vocês têm pelo poder me assusta. É isso que é maldade: poder sem amor.
Eu queria poder dar para vocês, como herança, o ovo onde moram os meus sonhos, na esperança de que vocês continuassem a chocá-lo, depois da minha partida. Sim, o mundo que eu amo se parece com um ovo: está cheio de vida mas é muito frágil. Dentro dele estão coisas delicadas, fáceis de serem destruídas: plantas, insetos, ninhos, aves, músicas, poemas, memórias, livros, peixes, muros brancos, crianças, velhos, jardins…
Mas eu tenho medo que vocês não resistam à tentação de quebrar o ovo onde eu e o meu mundo moramos. Como é fácil quebrar um ovo! Fácil e irreversível: nunca mais! Assim, por enquanto, o ovo onde moram meus sonhos fica sob a minha guarda. Até encontra os herdeiros que eu espero.

Rubem Alves,
In Correio Popular, Campinas, 24.II.96

https://alforje.wordpress.com/2013/06/05/carta-a-um-adolescente-rubem-alves/

Fonte: Figueiredo, Adriana Giarola Ferraz-Sistema Maxi de Ensino: ensino médio: língua portuguesa 2º ano: cadernos de1 a 4: manual do professor/Adriana Giarola Ferraz Figueiredo, Denise Silveira Silva Barros, Alberto Luís Pugina Silva. 1.ed. São Paulo: Maxiprint Editora,2018. p.15-7.

Entendimento do texto

01. O Texto “Carta a um adolescente” foi escrito a partir de uma condição especial. Que condição é essa? Justifique a sua resposta.

Trata-se de um texto que foi escrito a partir de um pedido, um pedido feito por um adolescente que solicitou que o autor escrevesse sobre o tema maldade. Esse pedido pode ser comprovado já no título do texto, que nos remete a uma carta, uma resposta destinada a um destinatário definido.

02.  É possível perceber, ao longo do texto, que o autor formula a sua argumentação para defender um ponto de vista em relação ao tema abordado, a maldade.

a)   Qual é a estratégia escolhida pelo autor para se posicionar diante desse tema?

Para se posicionar diante do tema maldade, o autor opta por fazer uma reflexão acerca dos “poderes” que, segundo ele, circundam o ser humano, o amor e o poder.

b)   E qual  é a tese do autor a respeito da maldade? Exemplifique a sua resposta com um trecho do texto.

Para o autor, a maldade é uma atitude ruim, que destrói e que condena  o mundo e as pessoas aos caos: “[...] a maldade é isso – quando as pessoas sentem prazer no ato de destruir; isto é quando as pessoas sentem prazer no exercício puro do poder, sem que esse poder tenha um objetivo de vida.[...] Maldade é o poder usado para a morte.”

c)   Em certo momento do texto, o autor confessa que tem medo dos adolescentes. Em que alicerces ele fundamenta esse medo? Explique.

O autor fundamenta o medo que tem dos adolescentes no fato de perceber que estes têm um fascínio muito grande pelo poder. Mais que isso, ele teme que o poder seja usado, pelos adolescentes, desvinculado do amor, que é o grande problema apontado pelo escritor na carta.

03.  Observe os trechos retirados do texto e justifique a presença da crase nos contextos destacados.

a)   “A maldade ´algo que mora dentro de nós, à espera do momento certo para se apossar do nosso corpo”.

Trata-se da crase empregada em locução prepositiva.

b)   “O amor nos liga à natureza toda”.

Trata-se da crase empregada na junção da preposição “a”, pedida pelo verbo “ligar”, + o artigo “a” que acompanha o substantivo “natureza”.

c)   Às vezes, a gente quer algo anterior ao proteger: a gente quer criar”.

Trata-se da crase em uma locução adverbial de tempo.

04. Releia este período: “Um dia nós voltaremos à terra e, quem sabe, renasceremos como besouro ou galinha...”. O uso do acento indicativo da crase, na expressão destacada, está correto? Por quê?

O uso do acento indicativo da crase, na expressão “à terra”, nesse contexto, está adequado, pois aqui não está se referindo à terra em oposição à água ou ao mar, mas sim à terra como um lugar de origem.

 



sábado, 24 de setembro de 2022

REPORTAGEM: FUTEBOL FEMININO É ATO DE RESISTÊNCIA NA PERIFERIA - ALEXANDRE PUTTI - COM GABARITO

 Reportagem: Futebol feminino é ato de resistência na periferia [...]

        Mesmo com a visibilidade trazida pela Copa, o futebol feminino continua refletindo a desigualdade de gênero no esporte

        “Não vai ter uma Formiga para sempre, uma Marta, uma Cristiane. O futebol feminino depende de vocês para sobreviver. Pensem nisso, valorizem mais. Chorem no começo para sorrir no fim”. Essa foi a fala da integrante da Seleção Brasileira Marta, melhor jogadora do mundo de futebol, que fez um discurso emocionante na despedida do Brasil na Copa do Mundo feminina, que aconteceu neste ano [2019], na França.

        E o discurso emocionado de Marta encerra a primeira copa do mundo de futebol feminino transmitida nos canais de televisão. Além disso, algumas empresas deram direitos iguais aos seus funcionário: folga para todos assistirem as partidas que a seleção brasileira disputava.

        E mesmo com toda a visibilidade trazida pela Copa, o futebol feminino continua em desvantagem, refletindo a desigualdade de gênero dentro do esporte. Salários infinitamente menores, menos visibilidade, falta de patrocínio e a luta diária contra o preconceito.

        E essa dificuldade vai piorando conforme ela [vai] chegando nas periferias das cidades. Em São Paulo, no bairro Jardim Castelo, nos campos que são alugados pelo equipes de várzea – nome paulistano dado ao futebol amador – as mulheres ficam com a xepa.

        Os campos só podem ser utilizados pelos times femininos depois que os masculinos acabarem seus jogos. Os vestiários ficam todos sujos com a passagens dos homens por lá. Além disso, os times femininos encontram dificuldades em obter patrocínio, o mínimo que seja, ficando impossível de investir em coisas básicas como estrutura, uniforme e até mesmo água para a equipe.

        A diretora da Liga Feminina de Futebol Amador, Maria Amorim, conversou com nossa reportagem para contar como é a realidade do futebol de várzea feminino. Segundo ela, é um “ato de resistência”.

        [...]

PUTTI, Alexandre. Futebol feminino é ato de resistência na periferia. Assista ao vídeo. Carta Capital, 9 ago. 2019. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/futebol-feminino-e-ato-de-resistencia-na-periferia-assista-ao-video/. Acesso em: 11 maio 2020.

Fonte: Estações e Linguagens – Rotas da Ciência e Tecnologia – Ensino Médio – Editora Ática – 1ª edição, São Paulo, 2020. p. 58-9.

Entendendo a reportagem:

01 – Você acha que a resistência feminina acontece apenas nas corridas? Explique.

      Resposta pessoal do aluno.

02 – No trecho: “[...] nos campos que são alugados pelo equipes de várzea – nome paulistano dado ao futebol amador – as mulheres ficam com a xepa.”, as palavras destaque são regionalismos, isto é, utilizadas em determinadas regiões dentro do território em que se fala uma língua.

a)   O que elas significam no contexto em que foram usadas?

Enquanto a palavra várzea é usada para designar um campo de futebol utilizado por times de amadores; xepa é utilizada em referência às últimas mercadorias expostas em uma feira livre, os alimentos que não foram vendidos e que são oferecidos por preço mais baixo aos consumidores.

b)   Elas são faladas na região onde você mora? Você as utiliza no dia a dia?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Por que o futebol feminino de várzea é um “ato de resistência”, segundo Maria Amorim, diretora da Liga Feminina de Futebol Amador?

      Segundo Maria Amorim, o futebol feminino de várzea é um ato de resistência porque, apesar de todo o preconceito machista enfrentado pelas mulheres, o qual resulta em ações como usar o campo apenas depois dos homens, sujeitar-se a usar vestiários sujos pelos jogadores e não ter patrocínio para comprar o básico para a equipe, ainda jogam e reforçam que o futebol é também um esporte feminino.

04 – Considerando as informações do texto, é possível afirmar que a resistência das mulheres vale também para o futebol profissional? Por quê?

      É importante que eles percebam que o discurso de Marta, a jogadora mais premiada da história da FIFA até 2020, questiona a atitude machista em relação ao futebol feminino e pede que as mulheres se imponham no esporte. No texto, a frase “Salários infinitamente menores, menos visibilidade, falta de patrocínio e a luta diária contra o preconceito.”, destaca as principais dificuldades enfrentadas pelas mulheres no futebol profissional.

 

TEXTOS: ALIMENTAÇÃO BALANCEADA E BOM SONO - COM GABARITO

 Textos: Alimentação balanceada e Bom sono

Texto 1 – Alimentação balanceada potencializa resultados da prática esportiva

        [...]

        A alimentação pode ser uma aliada e tanto de quem procura obter resultados com atividades esportivas, tais como: perda de gordura corporal, ganho de massa muscular, desempenho superior, dentre outros objetivos.

        Dr. Fábio Pizzini, médico especialista em Nutrologia Esportiva e Avançada da Ápice Medicina Integrada, de Sorocaba (SP), explica que essa área da saúde cuida das necessidades individuais de cada atleta ou esportista, na busca por resultados positivos e no acompanhamento de seu desenvolvimento físico. “Uma dieta balanceada e saudável é importante para todas as pessoas, porém, atletas e esportistas precisam ter atenção redobrada com o que consomem”, comenta.

        O especialista afirma que cada esporte exige uma dieta específica a ser seguida pelo praticante. “Atividades que demandam alto gasto calórico, como a natação, exigem uma alimentação com mais carboidratos. Outros atletas, que necessitam de massa muscular forte, precisam de uma dieta rica em proteínas e, assim, por diante”, exemplifica.

        Outro fator que também influencia diretamente no rendimento físico e na energia demandada é o metabolismo do atleta, que varia muito entre as pessoas. “Alguém com metabolismo acelerado necessita de uma dieta diferente de quem possui esse mecanismo mais lento, mesmo que as duas pessoas pratiquem os mesmos exercícios e com a mesma frequência”, diz Dr. Fábio.

        A intensidade dos exercícios igualmente interfere no ganho de massa muscular, na perda de gordura e, consequentemente, nas necessidades nutricionais. “Quem pratica uma hora de atividade, por dia, possui uma realidade nutricional completamente diferente dos atletas profissionais, que passam praticamente o dia todo se exercitando”, pontua o médico.

        [...]

ALIMENTAÇÃO balanceada potencializa resultados da prática esportiva. Gazeta de Votorantim, 15 fev. 2019. Disponível em: http://www.gazetadevotorantim.com.br/noticia/28414/alimentacao-balanceada-potencializa-resultados-da-pratica-esportiva.html. Acesso em: 13 jul. 2020.

Fonte: Estações e Linguagens – Rotas da Ciência e Tecnologia – Ensino Médio – Editora Ática – 1ª edição, São Paulo, 2020. p. 54.

Texto 2 – Entenda porque o bom sono é quase tão importante quanto o treino para um atleta

11/12/2015 às 10:28 – Atualizada em 11/12/2015 às 10:28

         [...]

        A equação treinos e descanso é algo muito particular a cada atleta, pois depende da rotina diária de cada um. Para muitos técnicos, a principal diferença entre um atleta amador e um atleta profissional é, exatamente, o tempo dedicado à recuperação e ao descanso.

        No que se refere à recuperação, o sono cumpre um papel fundamental, pois é o período quando os tecidos corporais mais se regeneram, especialmente pela síntese do hormônio do crescimento (HGH). Alguém pode imaginar que, quanto mais treino, basta dormir mais, mas o que pesquisadores têm encontrando mostra, na verdade, um dilema na relação sono e exercício. Segundo o famoso fisiologista Asker Jeukendrup, um estudo recente da Universidade de Loughborough e publicado no prestigiado Journal os Sports Science, há algumas evidências de que o bom sono pode melhorar o desempenho no exercício. Há também evidências de que o exercício em si pode melhorar a qualidade do sono, mas isso só acontece até certo ponto. Um dos sintomas do overtraining é, exatamente, a insônia [...]

        O estudo submeteu os participantes, 13 ciclistas bem treinados, a uma carga de 9 dias com o dobro do volume em relação ao que estavam realizando antes do experimento e com intensidade maior [...].

        Além das conclusões sobre o efeito do excesso de treino sobre o sono, a equipe de pesquisadores descobriu que o aumento da ingestão de carboidratos pode reduzir a fadiga e os sinais de overtraining, melhorando a qualidade do sono. A mudança na dieta, no entanto, não pode eliminar completamente os efeitos do overtraining.­   

        Assim, parece haver um ponto ideal para cada indivíduo no que se refere ao equilíbrio entre treinos e sono. Nesse ponto, o atleta usa o exercício para ter uma boa qualidade de sono e, ao mesmo, utiliza o bom sono para se recuperar melhor.

        Há casos emblemáticos do uso do bom sono para recuperação. A maratonista medalhista olímpica Deena Kastor (EUA) sempre foi uma grande defensora de muitas horas de sono. A recordista norte-americana de maratona e meia maratona costumava dormir 10 horas por dia, além de mais 2 horas de soneca após o almoço. Apesar de poucos atletas amadores poderem ter essa rotina, eles podem tentar melhorar a quantidade e a qualidade do sono, evitando interrupções.

        [...]

        Os atletas precisam compreender que treino e sono andam juntos. A ótima performance vem de um equilíbrio sutil entre eles. Não pense que dormir é perda de tempo, se você procura longevidade e qualidade de vida no esporte, esse deve ser um aspecto central de sua rotina.

ENTENDA por que o bom sono é quase tão importante quanto o treino para um atleta. MundoTRI, 24 nov. 2011. Disponível em: http://www.mundotri.com.br/2015/11/entenda-porque-o-sono-e-quase-tao-importante-quanto-o-treino-par-um-atleta/. Acesso em: 13 jul. 2020.

 Fonte: Estações e Linguagens – Rotas da Ciência e Tecnologia – Ensino Médio – Editora Ática – 1ª edição, São Paulo, 2020. p. 55.

Entendendo os textos:

01 – Uma boa alimentação está relacionada a um bom desempenho nos esportes. De acordo com o texto 1, que relações podem ser estabelecidas entre a nutrição e o desempenho de atletas?

      Quanto mais adequada for a alimentação, mais o atleta vai ter condições de melhorar o desempenho para tingir os objetivos. Uma dieta balanceada e individualizada com orientação especializada é a mais adequada para os atletas.

02 – O descanso também é fundamental. De acordo com o texto 2, como a qualidade do sono pode interferir no desempenho do atleta?

      O período de descanso, no qual se inclui o sono. É essencial para o bom desempenho de um atleta. Além de ter treinamento regrado e alimentação saudável, o atleta deve contar com o período de descanso para se recuperar dos desgastes físicos da musculatura durante o treino, evitando assim possíveis lesões. Além disso, o descanso contribui para a melhora no desempenho mental.

03 – Com a leitura dos textos, o que é possível concluir sobre a relação entre treinamento, alimentação saudável e qualidade do sono na vida de um atleta?

      Conclui que o sono e a alimentação são importantes para os atletas, bem como para as pessoas de maneira geral, entretanto, é essencial que eles saibam que o treinamento esportivo, o sono e a alimentação compõem o tripé que determina o desempenho de um atleta, que inclui o repouso para restabelecimento do corpo.

04 – Você já pensou em ser um atleta? Por qual modalidade esportiva você tem interesse?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Aa intenção é levar os estudantes a perceber a supremacia de alguns esportes sobre outros. Acredita-se que boa parte dos jovens, principalmente masculino, ainda tenha como referência esportiva o futebol.

05 – Se você optasse, hoje, por seguir uma vida de atleta, o que mudaria em seu comportamento e em suas atitudes do dia a dia?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: É preciso desenvolver hábitos saudáveis, incluindo dieta adequada, treinos e descanso. Reforce a ideia de que não é preciso ser atleta para ter hábitos saudáveis, mas que, para ser atleta profissional, é necessário seguir com mais rigidez as normas para alcançar os resultados desejados. Tudo isso com a orientação de profissionais.

 

 

NOTÍCIA: MULHERES NAS OLIMPÍADAS: UMA LONGA TRAJETÓRIA - THAIS SOARES - COM GABARITO

 Notícia: Mulheres nas Olimpíadas: Uma Longa Trajetória

A atriz Katerina Lehou acendeu a chama olímpica que veio para os jogos Olímpicos no Brasil, em 2016, na representação das antigas sacerdotisas dos Jogos da Antiguidade, em Olímpia (Grécia).

[...]

Proibição das Mulheres nos Jogos Olímpicos da Antiguidade

        No ano de 776 a.C. foram iniciadas as Panateias, um evento que acontecia de quatro em quatro anos em que os homens se reuniam para honrar os deuses com jogos e lutas. Era um evento religioso, que as mulheres não podiam nem participar, nem assistir. E pior: se uma mulher casada fosse vista assistindo a algum jogo ela poderia ser condenada à morte.

        A única presença feminina permitida nos Jogos era a de Sacerdotisas, que eram consideradas “mensageiras dos deuses”, trazendo boa sorte para os competidores. Elas eram as responsáveis pela entrega das coroas de oliveira para os vencedores.

        Curiosidade: uma das mais famosas histórias sobre mulheres nas Olimpíadas da Antiguidade vem de uma mulher chamada Kallipateria, treinadora do seu próprio filho, um lutador de boxe chamado Pisidoros. Ela correu risco de morte ao se tornar treinadora, e se vestia de homem para assumir o papel, mas quando seu filho ganhou a luta, ela não se aguentou e acabou se expondo ao
 público. Felizmente ela foi poupada da morte, mas só porque seu pai, seu irmão e seu filho foram campeões olímpicos.

        [...].

SOARES, Thais. Mulheres nas Olimpíadas: Uma Longa Trajetória. Nó de Oito. Disponível em: http://nodeoito.com/mulheres-nas-olimpiadas/. Acesso em: 11 maio 2020.

Fonte: Estações e Linguagens – Rotas da Ciência e Tecnologia – Ensino Médio – Editora Ática – 1ª edição, São Paulo, 2020. p. 57.

Entendendo a notícia:

01 – De acordo com o texto, como era a participação das mulheres nos Jogos Olímpicos da Antiguidade?

      De acordo com o texto, as mulheres não podiam participar dos Jogos Olímpicos nem assistir a eles. A única presença feminina permitida era a de sacerdotisas, que eram consideradas “mensageiras dos deuses” e faziam a entrega das coroas de oliveira para os vencedores.

02 – É possível estabelecer relações entre a atitude de Kathrine Switzer, cuja história é narrada no vídeo, e a de Kallipateria, cuja história é contada no texto? Justifique sua resposta.

      Tanto Kathrine Switzer quanto a Kallipateria transgrediram as normas de suas épocas, que determinavam que mulheres não poderiam participar de jogos e competições: a primeira correu uma maratona que aceitava apenas inscrições masculinas; a segunda era treinadora do próprio filho e se vestia de homem para assumir tal papel.

03 – Em sua opinião, nos dias de hoje ainda há atitudes discriminatórias em relação à presença das mulheres no esporte? E em outras esferas sociais, como as do trabalho, da política e da ciência? Comente com os colegas.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Apesar de já terem passado mais de 50 anos da Maratona de Boston, as mulheres continuam sendo vítimas de atitudes machistas no esporte, assim como em várias outras esferas sociais, como as do trabalho, da política e da ciência.

 


NOTÍCIA: ESTUDANTE CRIA EMOJIS PARA RESSALTAR RIQUEZA DA ÁFRICA E ACABAR COM ESTEREÓTIPOS -HYPENESS - COM GABARITO

 Notícia: Estudante cria emojis para ressaltar riqueza da África e acabar com estereótipos

        O artista O’Plerou Denis Grebet, da Costa do Marfim, criou emojis que ressaltam a riqueza cultural da África. A ideia surgiu quando ele buscava por fotografias para um projeto sobre o continente e encontrou apenas imagens que remetiam à pobreza e doenças.

        À CNN, o jovem de 22 anos contou ter percebido que a mídia sempre retratava o lado negativo da África, mostrando guerras, fome e pobreza. E, embora estes elementos sejam também uma das faces do continente, eles não estão por toda a parte e é possível encontrar uma enorme diversidade cultural nos países africanos.

        Desde então, Grebet passou a pensar em como divulgar imagens positivas relacionadas à África e começou a criar emojis gratuitos para celebrar a cultura do continente. Nos dois últimos anos, mais de 350 imagens foram criadas por ele.

        Os emojis foram desenhados à mão e transformados em imagens digitais após o jovem assistir a um vídeo tutorial no Youtube. O primeiro deles homenageava o Foutou, um prato feito com farinha de mandioca moída e banana amassada [...]

        Em 2018, Grebet passou a compartilhar suas criações no Instagram e ganhou 2.000 seguidores apenas na primeira semana. Durante todo o ano, ele divulgou um emoji por dia ressaltando a cultura africana.

        Em dezembro do mesmo ano, o artista incorporou as imagens a um aplicativo chamado Zouzoukwa, para que pessoas pudessem usá-las em seu dia a dia. Com o app, os usuários podem transformar os emojis em figurinhas para usá-las em suas conversas no Whatsapp e outras redes sociais.

        Ainda de acordo com a CNN, [...] Zouzoukwa também foi nomeado como o melhor aplicativo de 2019 pela African Talents Awards, mostrando o potencial da ideia para ir ainda mais longe.

REDAÇÃO. Estudante cria emojis para ressaltar riqueza da África e acabar com estereótipos. Hypeness, [S. l.], jan. 2020. Disponível em: https://www.hypeness.com.br/2020/01/estudante-cria-emojis-para-ressaltar-riqueza-da-africa-e-acabar-com-estereotipos/. Acesso em: 15 jul. 2020.

Fonte: Estações e Linguagens – Rotas da Ciência e Tecnologia – Ensino Médio – Editora Ática – 1ª edição, São Paulo, 2020. p. 121-2.

Entendendo a notícia:

01 – As notícias sobre os países de África que você ouve e lê geralmente falam de quais assuntos? Você acha que o conteúdo dessas notícias ajuda a formar um conceito, uma ideia sobre os países africanos e sobre a África como um todo?

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Geralmente, nas notícias que circulam na mídia tradicional sobre os países africanos e sobre a África como um todo, predominam as referências a problemas sociais, como fome, doença, guerra, escravidão e pobreza.

02 – Em sua opinião, essa abordagem é adequada? Se você fosse desafiado a problematizar a cobertura da mídia tradicional sobre a África, como procederia?

      Resposta pessoal do aluno.

03 – É possível falar em representatividade com base nos emojis de Grebet?

      Sim, já que, de acordo com o texto, Grebet criou diversos emojis que retratam aspectos de diferentes povos e culturas africanas. O objetivo é leva-los a perceber que a criação dos emojis por Grebet é uma contribuição para o combate das visões estereotipadas em relação ao continente africano.

04 – Observe as imagens e responda às questões a seguir.

a)   O que os emojis representam?

Os emojis representam pessoas com diversos tons de pele.

b)   Por que essa representatividade é importante nas mídias sociais?

É importante para que todas as pessoas se sintam representadas socialmente.


NOTÍCIA: COMO A MÚSICA PODE INFLUENCIAR O TREINO E A PRÁTICA DE ESPORTES -(FRAGMENTO) - JAQUELINE SORDI - COM GABARITO

 Notícia: Como a música pode influenciar o treino e a prática de esportes – Fragmento

              Jaqueline Sordi

        [...]

        Estudos mostram que as melodias podem influenciar o exercício físico de diversas formas. A música pode elevar o humor, dar mais disposição, distrair da dor e do cansaço, aumentar a resistência e reduzir a percepção do esforço. Ela tem o potencial, inclusive, de melhorar o desempenho do atleta.

        – Os sons podem ser eficientes para produzir uma sincronização das ondas cerebrais e para a execução dos movimentos do corpo. Isso pode ser produtivo para o aumento do rendimento dos exercícios – explica o psicólogo Vinícius Ferreira, professor de neuropsicologia da Faculdade Imed e membro da Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp) e da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento (SBNeC).

        Conforme o especialista, a melhora no desempenho se dá também porque as melodias podem favorecer a liberação de noradrenalina, substância que prepara o corpo para o exercício físico, aumentando a capacidade respiratória e a frequência dos batimentos cardíacos.

        [...]

SORDI, Jaqueline. Como a música pode influenciar o treino e a prática de esportes. GaúchaZH, 221 set. 2013. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2013/09/como-a-musica-pode-influenciar-o-treino-e-a-pratica-de-esportes-4276368.html. Acesso em: 14 jul. 2010.

Fonte: Estações e Linguagens – Rotas da Ciência e Tecnologia – Ensino Médio – Editora Ática – 1ª edição, São Paulo, 2020. p. 74.

Entendendo a notícia:

01 – Você sabia que a música pode influenciar a prática esportiva?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – Em quais outras situações você gosta de ouvir música?

      Resposta pessoal do aluno.

·        Você costuma ouvir sempre o mesmo gênero musical ou gosta de mesclá-los?

Resposta pessoal do aluno.

·        Você costuma ouvir música quando está praticando alguma atividade física? Você tem um gênero musical preferido para esses momentos?

Resposta pessoal do aluno.

03 – Segundo o texto, a influência da música na prática esportiva é apenas psicológica? Converse com os colegas.

      De acordo com o texto, não.

04 – A música pode despertar várias sensações: alegria, tristeza, melancolia, nostalgia, força, disposição. Converse com a turma sobre as questões a seguir.

a)   Você já ficou alegre ou triste ao ouvir uma música?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: As músicas podem gerar sentimentos diferentes em quem as escuta.

b)   Para você, o que faz uma música ser alegre ou triste?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Algumas possibilidades são: as notas da melodia, o ritmo, a velocidade em que a música é executada, os acordes e, no caso das canções, a letra, a maneira de o artista cantar, etc.

c)   Qual é a sua reação ao ouvir uma música que considera triste?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Algumas reações possíveis são: trocar de música, ouvi-la até o final para prestar atenção na letra ou mesmo chorar.

 

CONTO: O MELHOR AMIGO DE UM GAROTO - ISAAC ASIMOV - COM GABARITO

 Conto: O Melhor Amigo de um Garoto

             Isaac Asimov      

        – Onde está Jimmy, querida? – perguntou o Sr. Anderson.

        – Lá fora, na cratera – disse a Sra. Anderson. – Ele está bem. Está junto com Robobo… Sabe se já chegou?

        – Chegou. Está na estação de foguetes, fazendo os testes. Na realidade, eu mesmo mal posso esperar para vê-lo. Não vi nenhum de verdade desde que deixei a Terra, quinze anos atrás. Os que passaram nos filmes não contam.

        – Jimmy nunca viu nenhum – disse a Sra. Anderson.

        – Porque ele nasceu na Lua e não pode ir à Terra. E é por isso que estou trazendo um para cá. Acho que é o primeiro a aparecer na Lua.

        – Custou bastante caro – disse a Sra. Anderson com um ligeiro suspiro.

        – Manter Robobo também não é barato – disse o Sr. Anderson.

        Jimmy estava lá fora, na cratera, como sua mãe tinha dito. Pelos padrões da Terra, ele era espigado, um tanto alto para os seus dez anos de idade. Seus braços e pernas eram compridos e ágeis. Parecia mais gordo e troncudo, vestido com o traje espacial, mas podia lidar com a gravidade lunar como nenhum ser humano, nascido na Terra, seria capaz. O pai não podia acompanhar-lhe os passos quando ele esticava as pernas e entrava no salto de Canguru.

        A face exterior da cratera inclinava-se para o sul, e a Terra, que surgia baixa no céu meridional (onde sempre surgia, quando vista da Cidade Lunar) estava quase cheia, de modo que todo o declive da cratera ficava brilhantemente iluminado.

        O declive era suave e mesmo o peso do traje espacial não impedia que Jimmy disparasse em cima dele num salto flutuante que fazia a gravidade parecer não existente.

        – Venha, Robobo – ele gritou.

        Robobo, que podia ouvi-lo pelo rádio, guinchou e pulou atrás.

        Jimmy, embora fosse ágil, não podia correr mais depressa que Robobo, que não precisava de um traje espacial e tinha quatro pernas e tendões de aço. Robobo navegava sobre a cabeça de Jimmy, dando saltos imensos e aterrando quase sob os pés do garoto.

        – Não precisa se exibir, Robobo – disse Jimmy – e não saia de vista.

        Robobo guinchou outra vez o guincho especial que significava “Sim”.

        – Eu não confio em você, seu enrolador – gritou Jimmy, subindo num último salto, que o conduziu sobre a curva da beira superior da parede da cratera, e o largou do outro lado, num declive interno.

        A Terra mergulhou abaixo do topo da parede da cratera e, de imediato, ficou escuro como breu em volta de Jimmy. Uma escuridão amistosa e quente, que dissipava a diferença entre solo e céu, exceto pelo brilho das estrelas.

        Na verdade, Jimmy não devia brincar no lado escuro da parede da cratera. Os adultos diziam que era perigoso, mas isso acontecia porque nunca estiveram ali. O chão era macio e ondulado, e Jimmy conhecia a localização exata de cada uma das poucas rochas.

        Além disso, como podia ser perigoso correr no escuro se Robobo estava bem ali a seu lado, pulando em volta, guinchando e cintilando? Mesmo sem cintilar, Robobo podia dizer onde estava, e onde Jimmy estava, pelo radar. Jimmy não podia se machucar enquanto Robobo estivesse por perto, detendo-o quando ele se aproximava demais de uma rocha, ou pulando sobre ele para mostrar o quanto o amava, ou circulando em volta e guinchando baixo e assustado quando Jimmy se escondia atrás de uma rocha, embora nessas ocasiões Robobo soubesse todo o tempo, e suficientemente bem, onde ele estava. Certa vez, Jimmy se esticou imóvel no chão e fingiu estar ferido. Robobo acionou o rádio alarme e o pessoal da Cidade Lunar chegou ali às pressas. O pai de Jimmy disse-lhe poucas e boas sobre aquele pequeno embuste, e Jimmy nunca mais o repetiu.

        Quando estava se lembrando disso, Jimmy ouviu a voz do pai no seu rádio individual de ondas longas.

        – Jimmy, volte. Tenho uma coisa para lhe contar.

        Jimmy tirou o traje espacial e se lavou. Você sempre precisa se lavar quando vem de fora. Mesmo Robobo tinha de ser borrifado, mas ele gostava disso. Ficava de gatinhas, o pequeno corpo, com menos de meio metro de comprimento, tremia e exibia uma minúscula cintilação. A cabecinha, sem boca, possuía dois grandes olhos vidrados e uma protuberância onde ficava o cérebro. Ele guinchou até ouvir a voz do Sr. Anderson:

        – Quieto, Robobo!

        O Sr. Anderson sorria.

        – Temos uma coisa para você, Jimmy. Ainda está na estação de foguetes, mas estará conosco amanhã, depois de todos os testes terminarem. Achei que tinha de lhe contar isso agora.

        – É da Terra, papai?

        – Um cachorro da Terra, filho. Um cachorro de verdade. Um cãozinho “terrier” escocês. O primeiro cachorro na Lua. Não precisará mais de Robobo. Não podemos ficar com os dois, você sabe. Ele ficará com algum outro menino ou menina.

        O Sr. Anderson pareceu esperar que Jimmy dissesse alguma coisa.

        – Você sabe o que é um cachorro, Jimmy. É a coisa real. Robobo não passa de uma imitação mecânica, um robô boboca. Ê isso que seu nome significa.

        Jimmy fez cara feia.

        – Robobo não é uma imitação, papai. É o meu cachorro.

        – Não um cachorro verdadeiro, Jimmy. Robobo é apenas aço, fiação e um simples cérebro positrônico. Não é um ser vivo.

        – Ele faz tudo que eu quero que ele faça, papai. Ele me compreende. Sem dúvida, é um ser vivo.

        – Não, filho. Robobo é só uma máquina. É apenas programado para se comportar do modo como se comporta. Um cachorro está vivo. Você não vai mais querer Robobo depois de ter o cachorro.

        – O cachorro precisará de um traje espacial, não é?

        – Sim, naturalmente. Mas será um dinheiro bem empregado e o cão se acostumará. E não precisará usá-lo na Cidade. Você vai ver a diferença quando ele estiver aqui.

        Jimmy olhou para Robobo, que estava guinchando outra vez, um guincho lento, muito baixo, parecendo amedrontado. Jimmy estendeu os braços e Robobo deu um salto para eles.

        – Qual será a diferença entre Robobo e o cachorro? – Jimmy perguntou.

        – É difícil explicar – disse o Sr. Anderson – mas será fácil de perceber. O cachorro realmente gostará de você. Robobo está apenas ajustado para agir como se gostasse de você.

        – Mas, papai, não sabemos o que há dentro de um cachorro ou quais são as suas sensações. Talvez seja também apenas um modo de agir.

        O Sr. Anderson franziu a testa.

        – Jimmy, você saberá a diferença quando experimentar o amor de uma coisa viva.

        Jimmy segurou Robobo com força. Também estava franzindo a testa e o olhar desesperado em seu rosto significava que não estava disposto a mudar de ideia.

        – Mas qual é a diferença no modo como eles agem? E quanto ao modo como eu sinto? Eu gosto de Robobo e isso é o que importa.

        E o pequeno robô-boboca, que nunca fora abraçado com tanta força em toda a sua vida, guinchou rápidos e altos guinchos… guinchos felizes.

Asimov, Isaac. O melhor amigo de um garoto. In: Os melhores contos de Isaac Asimov. São Paulo: Editora LeBooks, 2018. (Coleção Os Melhores Contos).

Fonte: Estações e Linguagens – Rotas da Ciência e Tecnologia – Ensino Médio – Editora Ática – 1ª edição, São Paulo, 2020. p. 93-7.

Entendendo o conto:

01 – Você tem animal de estimação? Qual? Ele vive dentro de casa? Como se chama?

      Resposta pessoal do aluno.

02 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Guinchou: produziu um som agudo.

·        Positrônico: que é formado artificialmente por uma partícula chamada pósitron, nome dado ao elétron positivo.

03 – Em relação a aspectos da construção do conto, responda no caderno.

a)   Qual é o enredo da história?

A história trata da relação de Jimmy com seu cachorro-robô e do momento em que sua família decide dar um cachorro de verdade para ele. Quando avisam que o cão chegou à Lua e que Jimmy terá de se desfazer do cachorro-robô, o menino não gosta da ideia, sugerindo que prefere continuar com o robô de estimação.

b)   Quais são as personagens da trama?

As personagens são o Sr. Anderson; a Sra. Anderson; Jimmy, o filho do casal; e Robobo, o cachorro-robô de estimação de Jimmy.

c)   Os nomes que as personagens recebem contribuem para a caracterização delas no conto? Explique.

Sim. Sr. e Sra. Anderson são nomes que caracterizam um típico casal estadunidense; Jimmy, que é diminutivo de Jim, caracteriza uma criança; e o nome Robobo caracteriza o robô que imita um cachorro, que “não passa de uma imitação mecânica, um robô boboca”.

d)   Quando e onde se passa a história?

A história se passa na Lua, quinze anos depois de o Sr. Anderson ter chegado lá. Outra marca temporal que pode ser mencionada é o fato de que Jimmy tem dez anos de idade.

e)   O narrador é uma das personagens? Ele sabe o que as personagens pensam e sentem? Cite trechos do conto para comprovar qual é o foco narrativo do conto.

O narrador não é uma personagem, mas é onisciente, ou seja, sabe o que as personagens pensam e sentem. Isso pode ser observado no trecho: “Quando estava se lembrando disso, Jimmy ouviu a voz do pai no seu rádio individual de ondas longas”. O narrador sabe de que Jimmy estava se lembrando, o que significa que sabe o que ele estava pensando.

f)    O texto se inicia com o diálogo entre o Sr. e a Sra. Anderson, o que cria certo suspense no conto. Que estratégia é usada pelo narrador para construir esse efeito de sentido?

O conto tem início com um diálogo entre o Sr. e Sra. Anderson, em que eles usam frases com sujeito elíptico “[...] Sabe se já chegou?”; “— Chegou. Está na estação de foguetes, fazendo os testes”; “— Custou bastante caro [...]”. Além disso, fazem referências ao assunto por meio de pronomes sem antecedentes expressos anteriormente, usam artigo não acompanhado do substantivo que determina, e usam o pronome indefinido nenhum em função adjetiva sem apresentar o substantivo a que se refere. Por meio dessas estratégias, o narrador cria uma atmosfera de suspense e prende a atenção do leitor até o clímax da história, quando o Sr. Anderson conta para Jimmy que chegou um cachorro da Terra para ele. O objetivo é explorar a identificação de elementos linguísticos que contribuem para a criação do suspense no diálogo entre o Sr. e Sra. Anderson em torno do cachorro que veio da Terra.

04 – Você já tinha lido algum outro conto do escritor Isaac Asimov? A leitura desse texto fez com que você se interessasse por conhecer mais obras dele? Por quê? Comente com os colegas.

      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Esta atividade é uma oportunidade para que os estudantes compartilhem gostos e interesses, identificando eventuais afinidades, respeitando e valorizando diferentes pontos de vista.

05 – Leia novamente estes trechos do conto e responda às questões no caderno.

Trecho I – Você sabe o que é um cachorro, Jimmy. É a coisa real. Robobo não passa de uma imitação mecânica, um robô boboca. É isso que seu nome significa.

Trecho II – Os adultos diziam que era perigoso, mas isso acontecia porque nunca estiveram ali.

Trecho III – Além disso, como podia ser perigoso correr no escuro se Robobo estava bem ali a seu lado, pulando em volta, guinchando e cintilando?

a)   O trecho I caracteriza o uso do discurso direto. De quem é a fala nesse trecho? Que efeito pode gerar esse uso do discurso direto?

O discurso direto acontece quando o narrador reproduz fielmente a fala da personagem. A fala é do Sr. Anderson.

b)   Nos trechos II e III, observa-se o uso do discurso indireto livre, trazendo o ponto de vista de uma personagem. De qual personagem é esse ponto de vista? Que efeito o uso do discurso indireto constrói nesse trecho?

Nos dois trechos, em que se usa o discurso indireto livre, personagem e narrador se confundem, não ficando claro de quem é o posicionamento. Os pontos de vista são de Jimmy. Ainda que o narrador não seja Jimmy, o uso do discurso indireto livre sinaliza o ponto de vista de Jimmy como sendo o ponto de vista narrativo. Essa é uma maneira de o narrador levar o leitor a pensar que o ponto de vista de Jimmy corresponde à verdade.

06 – Que acontecimento muda os rumos da história? O desequilíbrio instaurado nesse momento é solucionado ao final?

      A história muda de rumo quando o Sr. Anderson fala para o filho que ele vai ganhar um cachorro da Terra e que terá de doar Robobo a outra criança. Jimmy não fica feliz com o fato de ter de trocar Robobo por um cachorro terráqueo. O conto não deixa clara a solução do desequilíbrio. Quando Jimmy declara que gosta de Robobo e isso é o que importa, demonstra que não mudou de opinião.

07 – Quais são as características dessa história que a definem como um conto de ficção científica?

      A história transcorre em uma época em que os seres humanos não vivem mais na Terra, mas na Lua, e lá existe uma estação de foguetes; os animais de estimação são robôs que guincham em vez de latir; a presença de um cachorro vindo da Terra causa estranhamento.

08 – Releia este trecho do conto e discuta a questão com os colegas.

        “– Qual será a diferença entre Robobo e o cachorro? – Jimmy perguntou.

        – É difícil explicar – disse o Sr. Anderson – mas será fácil de perceber. O cachorro realmente gostará de você. Robobo está apenas ajustado para agir como se gostasse de você.

        – Mas, papai, não sabemos o que há dentro de um cachorro ou quais são as suas sensações. Talvez seja também apenas um modo de agir.”

·        Qual é o contraste que existe entre o pensamento do pai e o do menino sobre os “modos de agir” do Robobo e do cachorro terráqueo?

      Para o pai, o modo de agir de Robobo é apenas resultado de treinamento e programação: o robô não expressa sentimentos reais. Já os cães terráqueos, que são seres vivos e não máquinas, expressariam sentimentos verdadeiros. Para Jimmy, não haveria como garantir que os cães terráqueos agem movidos por sentimentos verdadeiros, já que não se sabe o que se passa dentro de um cachorro.

09 – Você acha que a situação apresentada no conto pode se tornar realidade um dia? Compartilhe com os colegas a sua opinião.

      Resposta pessoal do aluno.