sábado, 10 de maio de 2025

POEMA: FOLHAS CAÍDAS - CAP. XVI - OS CINCO SENTIDOS - ALMEIDA GARRETT - COM GABARITO

 Poema: Folhas Caídas Cap. XVI – Os cinco sentidos

            Almeida Garrett

São belas – bem o sei, essas estrelas,

Mil cores – divinais têm essas flores;

Mas eu não tenho, amor, olhos para elas:

          Em toda a natureza

          Não vejo outra beleza

          Senão a ti – a ti!

Fonte:  https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVhEVds8X-voIzO9lIhj5i7QQdarsjZfFFDWt9cl5g5-1BNNO-9BE1Pb8t_ZE2OV2vwa4ILU4R78QZC6wtwTLS3SOI_iKBCTxGh50w7B3KTyIxRpKGYG1hvn-8cnIluAkzuToSCtdA2V2Pvu5cFRWhhyphenhyphenZSvYhkC3oY15jl9Zevpzj-7s_MDpXhWphYXzQ/s320/desenhar-Estrelas-passo-5-2.png


Divina – ai! sim, será a voz que afina

Saudosa – na ramagem densa, umbrosa.

Será; mas eu do rouxinol que trina

          Não oiço a melodia,

          Nem sinto outra harmonia

          Senão a ti – a ti!

Respira – n’aura que entre as flores gira,

Celeste – incenso de perfume agreste.

Sei... não sinto: minha alma não aspira,

          Não percebe, não toma

          Senão o doce aroma

          Que vem de ti – de ti!

Formosos – são os pomos saborosos,

É um mimo – de néctar o racimo:

E eu tenho fome e sede ... sequiosos,

          Famintos meus desejos

          Estão... mas é de beijos,

          É só de ti – de ti!

Macia – deve a relva luzidia

Do leito – ser por certo em que me deito.

Mas quem, ao pé de ti, quem poderia

          Sentir outras carícias,

          Tocar noutras delícias

          Senão em ti – em ti!

A ti!, ai, a ti só os meus sentidos,

          Todos num confundidos,

          Sentem, ouvem, respiram;

          Em ti, por ti deliram.

          Em ti a minha sorte,

          A minha vida em ti;

          E quando venha a morte,

          Será morrer por ti.

Almeida Garrett. In: Alexandre Pinheiro Torres, org. Antologia da poesia portuguesa. Porto: Lello & Irmão, 1997. v. 2. p. 755-756.

Fonte: Livro – Português: Linguagens, 2ª Série – Ensino Médio – William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães, 9ª ed. – São Paulo: Saraiva Editora, 2013. p. 38.

Entendendo o poema:

01 – Qual é o tema central do poema e como ele se relaciona com o título "Os cinco sentidos"?

        O tema central do poema é a intensa paixão e a completa absorção do eu lírico pela pessoa amada, a ponto de seus sentidos se tornarem indiferentes a todas as outras belezas e estímulos do mundo exterior. O título "Os cinco sentidos" ironicamente destaca como esses sentidos, normalmente voltados para diversas experiências, estão agora unicamente focados na amada.

02 – Identifique e explique dois exemplos de elementos da natureza mencionados no poema que o eu lírico afirma não perceber ou apreciar.

      Dois exemplos são:

      -- As estrelas e as flores: O eu lírico reconhece a beleza e as cores divinas das estrelas e das flores ("São belas – bem o sei, essas estrelas, / Mil cores – divinais têm essas flores;"), mas declara não ter olhos para elas, pois sua atenção está totalmente voltada para a amada.

      -- O canto do rouxinol: O eu lírico admite a melodia saudosa do rouxinol ("Divina – ai! sim, será a voz que afina / Saudosa – na ramagem densa, umbrosa. / Será; mas eu do rouxinol que trina"), mas afirma não ouvi-la, pois a única harmonia que sente é a presença da amada.

03 – Como o sentido do olfato é apresentado no poema e qual a sua relação com a amada?

      O sentido do olfato é apresentado através da imagem do "celeste incenso de perfume agreste" que emana da aura que gira entre as flores. No entanto, o eu lírico afirma não sentir esse perfume, pois sua alma só aspira e percebe o "doce aroma / Que vem de ti – de ti!". A amada se torna a única fonte de um perfume que realmente o atrai.

04 – De que "fome e sede" o eu lírico se declara sequioso e faminto? Qual sentido está associado a essa metáfora?

      O eu lírico se declara sequioso e faminto de "beijos". Essa metáfora está associada ao sentido do paladar, embora transcenda o alimento físico. O desejo de contato íntimo e afetuoso com a amada é apresentado como uma necessidade vital, superior a fome e à sede literais.

05 – Como o sentido do tato é abordado no poema e qual a comparação estabelecida pelo eu lírico?

      O sentido do tato é abordado através da imagem da relva macia como um possível leito confortável ("Macia – deve a relva luzidia / Do leito – ser por certo em que me deito."). No entanto, o eu lírico questiona quem poderia sentir outras carícias ou tocar em outras delícias estando perto da amada, indicando que o toque dela é a única experiência tátil que lhe importa.

06 – Qual a intensidade da paixão expressa no poema no que se refere à união dos sentidos na amada?

      A paixão expressa é de uma intensidade avassaladora. O eu lírico afirma que todos os seus sentidos se confundem e se unem na amada ("A ti! ai, a ti só os meus sentidos, / Todos num confundidos, / Sentem, ouvem, respiram; / Em ti, por ti deliram."). Isso demonstra uma completa obsessão e dependência emocional da presença da pessoa amada.

07 – Como o poema conclui em relação à vida e à morte do eu lírico e qual a importância da amada nesse contexto?

      O poema conclui com a afirmação de que a sorte e a vida do eu lírico estão inteiramente na amada ("Em ti a minha sorte, / A minha vida em ti;"). Ele chega ao ponto de declarar que, se a morte vier, será "morrer por ti", elevando a amada à condição de razão de sua existência e até mesmo de seu último suspiro. Isso reforça a ideia de uma paixão totalizante e incondicional.

 

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