sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

HISTÓRIA: ROBINSON CRUSOÉ - (FRAGMENTO I E III) - DANIEL DEFOE - COM GABARITO

 História: Robinson Crusoé (Fragmento I e III)

I – Minha primeira viagem

        Muito cedo me convenci de que minha mãe tinha toda a razão. Vida de marinheiro é vida pesada. Não sobra tempo para brincar, a bordo dum navio, ou pelo menos não sobrava a bordo do meu navio. Mesmo quando o mar estava sereno e o dia lindo, serviços não faltavam, um atrás do outro.

        Uma noite o vento começou a soprar com fúria cada vez maior. O navio era jogado em todas as direções, como se fosse casca de noz. Nunca supus que tempestade fosse assim.

        Toda a noite o vendaval soprou e nos judiou. Fiquei tão amedrontado que não sabia o que fazer, nem o que pensar. Era impossível que o navio não fosse ao fundo.

        Lembrei-me então de casa e das palavras de minha mãe. – Se escapo desta – disse comigo –, outra não me pilha. Chega de ser marinheiro. Só quero agora uma coisa – voltar para casa e nunca mais deixar a companhia dos meus pais.

        A manhã rompeu e a tempestade ainda ficou pior que de noite. Convenci-me de que estava tudo perdido e resignei-me. De tarde, entretanto, o céu começou a clarear e o vento a diminuir. As ondas perderam a fúria. O navio foi parando de pinotear. A tempestade chegara ao fim.

        Na manhã seguinte o sol apareceu, o céu fez-se todo azul e o mar parecia um carneirinho, de tão manso. Que beleza foi essa manhã!

        Eu estava de pé no convés, olhando o mar, quando ouvi passos atrás de mim. Era o imediato do navio, um homem que sempre se mostrava bondoso para comigo.

        – Que é isso, Bob? Você parece que teve medo do ventinho da noite passada.

        – Ventinho? – respondi. – Tempestade e das boas, isso sim.

        O velho marujo riu-se.

        – Você é muito novato, Bob. Não sabe ainda o que é uma tempestade. Mas saberá qualquer dia e então há de rir-se de si próprio de haver chamado tempestade ao ventinho de ontem.

        [...]

III – O naufrágio

        Quando tudo ficou pronto para a longa viagem, embarquei no naviozinho. Fazia justamente oito anos que tinha deixado a casa de meus pais. Qualquer coisa me dizia que não fizesse tal viagem, mas eu havia me comprometido e não podia voltar atrás.

        O vento estava de feição, como dizem os marinheiros. As velas se enfunaram e o navio lá se foi.

        Por muitos dias só tivemos bom tempo. O navio navegava firme, tudo parecendo indicar que a viagem seria das mais felizes. Mas não foi assim.

        Uma violenta tempestade veio de sudoeste, e eu, que em oito anos de vida marítima tinha visto muitas, nunca vi tempestade mais furiosa. Nada pudemos fazer senão deixar o navio flutuar ao sabor dos ventos. Dias e dias fomos assim arrastados pelo mar afora, esperando a todo momento um fim terrível.

        A tempestade crescia de violência. Nenhum de nós conservava esperança de salvar-se. Mas no décimo segundo dia o vento amainou e as vagas perderam a fúria. Nossas esperanças renasceram.

        No décimo terceiro dia, pela manhã, um marinheiro gritou: “Terra!”

        Corri ao convés para ver, mas justamente nesse instante o navio bateu num banco de areia e ficou imóvel. Estava encalhado. Grandes ondas vinham quebrar-se no convés, e toda a tripulação teria sido varrida para o mar se não se houvesse escondido nas cabinas. “Que havemos de fazer?”, gritou um marinheiro.

        – Nada – respondeu o capitão. – Nossa viagem está no fim. Só nos resta esperar que as ondas despedacem o navio e nos engulam a todos.

        – Há ainda uma esperança – gritou o imediato. – Sigam-me!

        Corremos todos para o convés atrás dele e pudemos ver que um dos escaleres ainda estava no seu lugar. Num relance cortamos as cordas que o prendiam aos ganchos e o pusemos n’água, com todos os homens dentro.

        Nenhum bote poderia flutuar por muito tempo num mar agitado como aquele, mas nós estávamos vendo terra por perto e tínhamos esperança de chegar até lá. Era a única salvação possível.

        Vagalhões furiosos nos foram levando em direção dumas pedras que pareciam ainda mais terríveis que as ondas. De repente uma vaga maior cobriu o bote. Ninguém teve tempo de gritar ou pensar. Fomos todos engolidos pelas águas.

        [...]

DEFOE, Daniel. Robinson Crusoé: aventuras dum náufrago perdido numa ilha deserta, publicadas em 1719. Tradução e adaptação de Monteiro Lobato. São Paulo: Brasiliense, 1980. p. 6, 7, 9 e 10.

        Fonte: Língua Portuguesa – Português – Apoema – Editora do Brasil – São Paulo, 2018. 1ª edição – 6° ano. p. 143-6.

Entendendo a história:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Enfunar: inflar-se com o vento.

·        Imediato: oficial que ocupa o segundo lugar de comando num navio.

·        Amainar: diminuir.

·        Escaler: pequeno barco, bote.

·        Vagalhão: grande onda.

02 – O texto começa com a seguinte afirmação do narrador.

        “Muito cedo me convenci de que minha mãe tinha toda a razão”.

a)   O que é possível pressupor por meio da afirmação?

A mãe de Robinson teria dado uma opinião sobre a vida de marinheiro; a mãe teria dado conselhos ao filho.

b)   Por que o narrador faz essa afirmação?

Porque, ao viajar, ele constata que a vida de marinheiro é pesada, com muito trabalho e pouco tempo para brincar.

03 – Identifique, no texto do Capítulo I, as sequências descritivas que caracterizam a situação em que se encontrava Robinson Crusoé.

      - “Mesmo quando o mar estava sereno e o dia lindo [...]”;

      - “Uma noite o vento começou a soprar com fúria cada vez maior”;

      - “[...] o céu começou a clarear e o vento a diminuir. As ondas perderam a fúria. O navio foi parando de pinotear”; “[...] o céu fez-se todo azul e o mar parecia um carneirinho [...]”.

04 – No 2° parágrafo do texto do Capítulo I, o narrador fala sobre a tempestade e descreve a própria reação diante dela. Como as sequências descritivas caracterizam a tempestade? E como é descrita a reação do narrador?

      Como uma tempestade forte, capaz de levar o navio a afundar. O narrador ficou apavorado, com muito medo e confuso.

05 – No 3° parágrafo do texto do Capítulo I, o narrador interrompe a narrativa sobre a tempestade para fazer uma reflexão. Em que ele pensou?

      Ele pensou em sua mãe, nos conselhos que ela lhe dera, e decidiu que nunca mais seria marinheiro, pois só desejava voltar para a casa dos pais.

06 – Releia o trecho a seguir:

        “Uma noite o vento começou a soprar com fúria cada vez maior. O navio era jogado em todas as direções, como se fosse casca de noz.”

a)   Que expressão indica o momento em que se inicia um novo acontecimento?

“Uma noite”.

b)   Por que esse acontecimento pode ser considerado uma complicação na narrativa?

Porque mudam as condições do mar e isso representa perigo para a navegação.

c)   Agora, imagine-se no lugar de Robinson Crusoé. Elabore um parágrafo que mostre como você se sentiria no momento da tempestade.

Resposta pessoal do aluno.

07 – Mais adiante, o narrador diz:

        “A manhã rompeu e a tempestade ainda ficou pior que de noite. Convenci-me de que estava tudo perdido e resignei-me. De tarde, entretanto, o céu começou a clarear e o vento a diminuir. As ondas perderam a fúria.”

a)   Como a complicação se resolveu?

O tempo voltou a ficar bom, a temperatura terminou e o navio continuou sua viagem.

b)   Como termina esse trecho da aventura? Qual é a situação final?

Ao final desse episódio, Robinson Crusoé, que tinha ficado assustado durante a tempestade, achando que o navio afundaria, contempla o mar e conversa com o imediato do navio.

08 – Releia o diálogo final do Capítulo I, entre o menino e o imediato do navio.

a)   Há alguma diferença entre as opiniões deles sobre a tempestade? Explique sua resposta.

Sim. Para o menino, tinha havido uma tempestade forte e perigosa, mas, para o imediato, a tempestade não passara de um “ventinho”.

b)   A atitude do marujo, ao rir da resposta do menino, possibilita que o leitor avalie se a resposta que deu a Robinson Crusoé era verdadeira. O que você pensa sobre esse diálogo?

Resposta pessoal do aluno. Sugestão: O riso indica que o marujo falou com ironia, brincando com o menino, porque os ventos foram fortes, jogaram o navio de um lado para o outro. Dessa forma, poderia demonstrar coragem e rir do medo de Robinson.

09 – O Capítulo III, narra uma viagem que Robinson fez oito anos mais tarde. Observe:

        “O vento estava de feição, como dizem os marinheiros. As velas se enfunaram e o navio lá se foi.”

a)   Com base no significado de enfunar, no glossário, aponte o sentido da expressão “o vento estava de feição”.

As velas inflaram, pois o vento estava bom, favorável.

b)   De acordo com trecho, explique como foi a partida da viagem.

A partida foi fácil e rápida.

10 – O terceiro parágrafo do Capítulo III, descreve o início da viagem.

        “Por muitos dias só tivemos bom tempo. O navio navegava firme, tudo parecendo indicar que a viagem seria das mais felizes. Mas não foi assim.”

a)   Que sequência descritiva mostra como estava o tempo?

“Por muitos dias só tivemos bom tempo”.

b)   Qual sequência descreve como o navio segura?

“O navio navegava firme”.

c)   No trecho em destaque, que palavra dá, ao leitor, uma pista de que algo acontecerá? Explique sua resposta.

Parecendo, pois apenas parecia que tudo seria tranquilo; mas, na verdade, algo estava para acontecer.

d)   Em sua opinião, a descrição do início da viagem e o título do Capítulo, “O Naufrágio”, provocam que efeitos no leitor?

Deixam o leitor curioso. O título já informa que haverá um naufrágio e a descrição do início da viagem deixa o leitor na expectativa dos acontecimentos seguintes.

11 – Até o penúltimo parágrafo do trecho do Capítulo III, há uma sequência narrativa que conta um episódio ocorrido antes do naufrágio. Identifique, nessa sequência, a situação inicial, a complicação e a resolução da complicação.

      Situação inicial: Robinson sai em viagem oito anos mais tarde. Complicação: uma forte tempestade cai e o barco encalha. Resolução da complicação: os tripulantes do navio conseguem escapar em um bote.

12 – Releia o último parágrafo do Capítulo III.

        “Vagalhões furiosos nos foram levando em direção dumas pedras que pareciam ainda mais terríveis que as ondas. De repente uma vaga maior cobriu o bote. Ninguém teve tempo de gritar ou pensar. Fomos todos engolidos pelas águas.”

a)   O que assombrava os tripulantes? Se for preciso, consulte o glossário para explicar.

As imensas ondas que os levavam em direção às pedras.

b)   Que fato conduz à situação final do capítulo?

O fato de o bote ter virado durante a tempestade.

c)   O que há de diferente entre a situação final do Capítulo I e a do Capítulo III?

Em I, tudo fica resolvido de forma positiva; Em III, o acontecimento é negativo, pois todos os tripulantes foram “engolidos pelas águas”.

d)   Que efeitos essa diferenças constroem na narrativa? Como o leitor reage a cada uma dessas situações finais?

Em I, a tensão acaba, tudo fica resolvido e o leitor pode ficar tranquilo. Em III, gera-se tensão e suspense, e o leitor fica impactado, querendo saber o que virá em seguida.

 

 

 

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