CLARICE LISPECTOR
Meu pai acreditava que todos os anos se devia fazer uma cura de banhos de mar.
E nunca fui tão feliz quanto naquelas temporadas de banhos em Olinda.
Meu pai também acreditava que o banho de mar salutar era o tomado antes do sol
nascer. Como explicar o que eu sentia de presente inaudito em sair de casa de
madrugada e pegar o bonde vazio que nos levaria para Olinda, ainda na
escuridão?
De noite eu ia dormir, mas o coração se mantinha acordado, em expectativa. E de
puro alvoroço, eu acordava às quatro e pouco da madrugada e despertava o resto
da família. Vestíamos depressa e saíamos em jejum. Porque meu pai acreditava
que assim devia ser: em jejum. (...)
Eu não sei da infância alheia. Mas essa viagem diária me tornava uma criança
completa de alegria. E me serviu como promessa de felicidade para o futuro.
Minha capacidade de ser feliz se revelava. Eu me agarrava, dentro de uma
infância muito feliz, a essa ilha encantada que era a viagem diária.
O mar de Olinda era muito perigoso. Davam-se alguns passos em um fundo raso e
de repente caía-se num fundo de dois metros, calculo.
Outras pessoas também acreditavam em tomar banho de mar quando o sol nascia.
Havia um salva-vidas que, por uma ninharia de dinheiro, levava as senhoras para
o banho: abria os dois braços, e as senhoras agarravam-se a eles para lutar
contra as ondas fortíssimas do mar.
O cheiro do mar me invadia e me embriagava. As algas boiavam. Oh, bem sei que
não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses banhos em jejum,
com o sol se levantando pálido ainda no horizonte. Bem sei que estou tão
emocionada que não consigo escrever. O mar de Olinda era muito iodado e
salgado. E eu fazia o que no futuro sempre iria fazer: com as mãos em concha,
eu as mergulhava nas águas e trazia um pouco de mar até minha boca: eu bebia
diariamente o mar, de tal modo queria me unir a ele.
Não demorávamos muito. O sol já se levantara todo, e meu pai tinha que
trabalhar cedo. Mudávamos de roupa nas cabinas, e a roupa ficava impregnada de
sal. Meus cabelos salgados me colavam na cabeça.
Então esperávamos, ao vento, a vinda do bonde para Recife. No bonde a brisa ia
secando meus cabelos duros de sal.
A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a
frescura da inocência o sol vermelho se levantar? Nunca mais?
Nunca mais. Nunca.
Clarice
Lispector. A descoberta do Mundo.
Págs. 249-251. Editora Nova fronteira, Rio, 1984.
Entendendo
o texto:
01 – Para
o pai da autora os banhos de mar eram uma forma de fazer ou uma terapia
(tratamento de doenças)?
Para eles os banhos de mar eram uma terapia.
02 –
Segundo ele, quais as duas condições para que o banho de mar fosse bom para a
saúde?
Devia ser
tomado em jejum e antes do sol nascer.
03 – No
texto, a autora dá maior destaque:
( ) Ao prazer físico que os banhos de mar lhe davam.
(X) À grande alegria e felicidade que as temporadas de banhos de mar lhe
proporcionavam.
( ) À animação e alegria dos banhistas na praia.
04 –
Aponte as afirmativas que estão de acordo com o texto.
Para a
menina Clarice Lispector (que morava em Recife), a viagem diária às praias de
Olinda era:
(X) Um presente extraordinário.
( ) A melhor maneira de passar as férias.
(X) Uma promessa, um sinal de felicidade futura.
(X)
Uma ilha encantada, onde esquecia as amarguras de menina pobre.
05 –
Releia o quarto parágrafo e diga se a infância da autora, na época, era feliz
ou infeliz.
A infância da autora, na época, era muito infeliz.
06 – Ao
relembrar aqueles momentos felizes de sua infância, a autora sente-se:
( ) Triste.
( ) Desanimada. (X)
Emocionada.
07 – Cite
a frase em que a autora fala do encantamento, do enlevo que ela sentia no
contato com o mar.
O cheiro do
mar me invadia e me embriagava.
08 – A
autora interrompe frequentemente a sua narrativa para fazer comentários, falar
de si mesma, expor seus sentimentos. Comprove isso com frases do texto.
E nunca fui tão feliz quanto naquelas
temporadas de banhos em Olinda.
Oh, bem sei que não estou transmitindo o que significavam como vida pura esses
banhos em jejum.
Obrigadooo
ResponderExcluirBanho de mar que imagens a narradora utiliza para representar essa transformação
ResponderExcluirEu queria frases afirmativas,interogativas é exclativas dotexto
ResponderExcluirQuais eram os costumes de seu pai?
ResponderExcluirTomar banho de mar antes do sol nascer
ExcluirSair para tomar banho de mar em jejum
Acho que e isso pelo oque eu li 🤔🤔🤔
Tomara que eu tenha ajudado 😆😆😆😃
Porque a família acostumava ir na aquelas praias
ResponderExcluirPorque ela gostava da praia der
ExcluirQual era o fato marcante destacados pela narradora no seu relato
ResponderExcluirQuando ela foi para a praia kkkkkkkkkkkkkkkkk
ResponderExcluir"A quem devo pedir que na minha vida se repita a felicidade? Como sentir com a frescura da inocência o sol vermelho se levantar?"
ResponderExcluirnão entendi nada o que voce disse aí
ResponderExcluirObrihado
ResponderExcluirGostei muito do Blog. Estava procurando a Crônica Banho de Mar de Clarice e encontrei aqui.
ResponderExcluirMuito obrigado me ajudou dms obrigadoooooo
ResponderExcluirCOMO VOU ESCREVER ESTE CONTO DE FORMA NARRATIVA? ALGUÉM ME AJUDA
ResponderExcluir