POESIA: IMPORTÂNCIA
DA ESCOVA
Carlos Drummond de Andrade
Gente grande não sai à rua,
Menino não sai à rua
Sem escovar bem a roupa.
Ninguém fora se escandalize
Descobrindo farrapo vil
Em nossa calça ou paletó.
Questão de honra, de brasão.
Ninguém sussure:
A família está decadente?
A escova perdeu os pelos?
A fortuna do Coronel
Não dá pra comprar escova?
Toda invisível poeirinha
Ameaça-nos a reputação.
Por isso a mãe, sábia, serena,
Sabendo que sempre esqueço
Ou mesmo escondo, impaciente,
Esse objeto sem fascínio,
Me inspeciona, me declara
Mal preparado para o encontro
Com o olho crítico da cidade.
E firme, religiosamente,
Vai-me passando, repassando
Nos ombros, nas costas, no peito, nas pernas,
Na alma talvez (bem que precisava)
A escova purificadora.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Esquecer
para lembrar:
Boitempo
III. 2. ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1980. p. 36.
1 – O poema nos conta alguns
fatos a partir do ponto de vista de um “eu” que pode ser detectado nas
terminações verbais (esqueço, escondo) e no pronome me. Como é esse “eu” que narra os fatos?
O “eu lírico” é um garoto de família
tradicional que olha ironicamente para as convenções sociais que o cercam.
2 – Como você interpreta a
expressão “o encontro com o olho crítico da cidade” (terceira estrofe)?
Essa expressão se refere às relações do
grupo social com os seus próprios padrões culturais, exigidos de cada um de
seus membros.
3 – “A comunicação foi o
canal pelo qual os padrões de vida de sua cultura foram-lhe transmitidos, pelo
qual aprendeu a ser ‘membro’ de sua sociedade...” Relacione essa afirmação com
a situação apresentada em “Importância da escova”.
O texto mostra uma
experiência de aquisição cultural por meio do cotidiano comunicativo,
Lapidarmente, Drummond nos mostra como a sociedade age sobre seus membros,
impondo-lhes padrões de comportamento.
4 – A ironia consiste em empregar palavras ou expressões de tal forma que
seu significado acabe se invertendo, criando humor ou sarcasmo. Isso ocorre,
por exemplo, quando se parece dar muita importância a coisas que têm pouca. Releia
cuidadosamente o poema e aponte passagens em que se pode notar um tom irônico.
São várias as
passagens que o aluno pode apontar; pode-se afirmar que praticamente toda a
adjetivação do texto é altamente irônica: farrapo vil, invisível
poeirinha, mãe sábia, serena, escova purificadora. Além disso, podem ser apontadas expressões como: escandalize, questão de honra, ninguém
sussurre, a escova perdeu os pelos? Ameaça-nos a reputação e outras.
5 – A escova é, segundo o
texto, “um objeto sem fascínio”. Como você denominaria:
a)
A calça?
b)
A chave?
c)
A garrafa?
d)
A mesa?
e)
A cadeira?
Resposta pessoal do aluno.
Não sei a resposta da 5
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