Texto: Pequenos
comerciantes
Nunca é cedo demais para se ganhar o
próprio dinheiro. Laura Antunes Bloch tem 9 anos e já aprendeu esta lição.
Aluna da terceira série da Escola Senador Correia, em Laranjeiras, há um mês
ela aproveita o horário do recreio para vender tortinhas feitas por sua tia.
“Trago dez tortas por dia e vendo umas
sete a R$ 2,00 cada. Ganho R$ 0,60 por torta e estou guardando o dinheiro
todo”, conta ela.
Como Laura, outros alunos da escola
multiplicam lucros no intervalo. Isabel Flaksman Rondinelli, de 10 anos, e Kim
Adam, de 11, por exemplo, fazem colares e pulseiras de miçangas. Isabel
trabalha em sociedade com sua irmã mais velha, Mariana, de 13 anos, que estuda
no São Vicente.
“Foi a namorada de meu pai que nos
ensinou a fazer as pulseiras. Estamos juntando dinheiro para comprar alguma
coisa bem legal no fim do ano. Às vezes eu quero gastar, mas a minha irmã não
deixa”, conta Isabel, que calcula que ganha cerca de R$ 10,00 por semana.
Já Kim é menos organizada e gasta tudo em
balas e coisas para o seu cachorro. Entre os alunos da Senador Correia, João
Feliz, de 1 anos, é o com mais tino para os negócios. Ele chega a vender uma
caixa de chicletes por dia.
“O baleiro que fica na frente da escola
cobra R$ 0,20 por chicletes. É um roubo. Eu vendo por R$ 0,10 e já tenho
lucro”, conta João, que ganha R$ 15,00 por semana. “O legal deste dinheiro é
que eu trabalhei para consegui-lo e posso fazer o que quiser com ele.”
Se a venda de produtos já é comum nas
escolas, nas universidades a prática é mais do que frequente. É mais do que
apenas engrossar a mesada para comprar mais balas ou brinquedos; para os
universitários a “camelotagem” é questão de sobrevivência e independência
financeira familiar.
Cansada de pedir dinheiro aos pais,
Patrícia Siliciana, de 23 anos, começou a trabalhar aos 16 anos e nunca mais
parou:
“Comecei a trabalhar em alguns eventos
num shopping perto da minha casa, já trabalhei em telemarketing e depois como
vendedora. É ótimo ter o seu próprio dinheiro”, diz Patrícia, que hoje vende
sanduiches na PUC, onde estuda psicologia. “Em geral vendo de 15 a 20
sanduíches por dia. Às vezes dá para tirar até R$ 600,00 por mês.”
O mercado é bom e, justamente por isso,
há concorrência. Christine Rutherford, de 19 anos, entrou na briga – pacífica,
diga-se de passagem – há pouco. E está gostando.
“Minha família é de Teresópolis e eu
estou morando num pensionato. Desde que comecei a vender sanduíches não preciso
ficar mais pedindo dinheiro a eles a toda hora”, diz ela.
O Globo, 11 nov. 1996.
Vocabulário:
Laranjeiras:
bairro do Rio de Janeiro.
Telemarketing:
divulgação e venda de produtos por telefone.
Miçangas:
contas de vidro variadas e miúdas.
Tino:
jeito, queda, tato, intuição, faro.
PUC:
Pontifício Universidade Católica.
Prática:
uso, costume.
Psicologia:
ciência que estuda o comportamento humano.
Camelotagem:
ofício de vender artigos de pouco valor.
Concorrência:
rivalidade.
Independência
financeira: não depender do dinheiro de ninguém para viver.
Teresópolis:
cidade serrana próxima ao Rio de Janeiro.
Eventos:
acontecimentos sociais ou culturais com um objetivo específico.
Pensionato:
pensão, internato.
Entendendo o texto:
01 – Escreva o antônimo da
palavra em destaque e complete a frase a seu modo.
Nunca é cedo demais para ...
Nunca é tarde demais para (recompor a vida,
estudar...)
02 – “Estamos juntando
dinheiro para comprar alguma coisa bem legal no fim do ano.”
Escreva os diversos sentidos
que a palavra legal possa ter
na frase acima.
Legal pode
significar: ótima, boa, bonita, interessante, atraente, fina, maravilhosa,
preciosa, etc.
03 – Invente duas frases com
a palavra torta(s): uma com a
função de substantivo e a outra como adjetivo:
a)
Substantivo:
Eu adoro torta de palmito.
b)
Adjetivo:
Deus escreve certo por linhas tortas, diz o dito popular.
04 – “Se a venda de produtos
já é comum nas escolas, nas universidades a prática é mais que frequente.”
Suprima o acento da palavra
em destaque e invente uma frase com ela:
Meu pai pratica
esportes todos os dias.
Ao suprimir o acento da
palavra em destaque você transformou um substantivo em:
Verbo.
05 – O substantivo próprio Teresópolis provém de duas
línguas diferentes:
Português:
Teresa.
Grego:
pólis = cidade.
Teresópolis é portanto, cidade de Teresa.
Agora encontre mais
exemplos:
Sugestões:
Florianópolis, Cosmópolis, Miguelópolis, Joanópolis, Cordeirópolis,
Prudentópolis, Itápolis, etc.
06 – Explique o sentido do
adjetivo pequenos no título “Pequenos comerciantes”.
Pequenos, no
título, significa: crianças ou jovens que fazem negócios de pouco valor.
07 – A atividade de vender
coisas na escola durante o recreio pode ser considerada um trabalho infantil?
Em parte sim,
pois há crianças na faixa de nove a 12 anos vendendo coisas no recreio,
privando-se de atividades recreativas.
08 – Qual é a maior
satisfação dos pequenos comerciantes?
A independência
financeira.
09 – Por que os pequenos
comerciantes valorizam tanto o dinheiro que ganham?
Eles valorizam
muito o dinheiro que ganham porque são eles próprios que lutam para
consegui-lo, às vezes sacrificando o recreio e vencendo a inibição de vender
coisas para os colegas.
10 – Dos pequenos
comerciantes, quais, na sua opinião, têm mais jeito e vocação para o comércio?
Por quê?
Resposta pessoal
do aluno.
11 – O texto falou em
concorrência. Você sabe por que a concorrência ajuda a baixar os preços das
mercadorias?
Porque cada
empresa quer vender mais e para conseguir clientes acaba baixando os preços.
12 – Ganhar dinheiro é muito
difícil; fácil é gastá-lo. A seu ver, quais alunos do texto estão fazendo
melhor uso do dinheiro?
Resposta pessoal
do aluno.
13 – Você já fez alguma
atividade para conseguir dinheiro? Qual? Foi difícil? Valeu a pena ganhar o
próprio dinheiro? Costuma gastar o dinheiro que recebe dos pais com critério?
Resposta pessoal
do aluno.
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