sexta-feira, 27 de abril de 2018

POEMA: O MONSTRO DO RIO NEGRO - JOSÉ CAMELO M.RESENDE - COM GABARITO

POEMA: O MONSTRO DO RIO NEGRO


   Há muitos homens no mundo
   que dizem terem lutado, 
   com lobisomens valentes
   que andam correndo fado
   e sempre, sempre nas lutas,
   vitórias têm alcançado.

  Outros... dizem com certeza
  que têm lutado também, 
  com muitas "burras de padre"
  e têm saído bem
  porém isto são bichinhos, 
  que não espantam ninguém.

  Eu quisera ouvir um homem
  dizer-me que resistiu,
  ao Monstro do Rio Negro 
  e triunfado saiu 
  para eu lhe dizer na cara: 
  você desta vez mentiu.

  Porque o monstro em que falo 
  no mundo ainda não nasceu,
  vivente que resistisse 
  à força  do corpo seu 
  e quem com ele agarrar-se, 
  pode jurar que perdeu.

  O monstro do Rio Negro
  o seu pai foi um pajé, 
  que viveu no Rio Negro
  regendo a tribo Maué 
  o Brasil ainda não era, 
  uma nação como é.

  Seu corpo tem com certeza
  dez metros de comprimento
  a barriga é encarnada
  e o lombo é pardacento
  e tem quatro asas negras
  pra voar qualquer momento. 

  Essas asas são de couro
  porém de um couro tão forte, 
  que não há dentes de bicho 
  que possam fazer-lhe corte 
  e não há ponta de aço, 
  que nelas não se entorte. 

  Tem uma força assombrosa 
  capaz de erguer o mundo, 
  a fera que ele agarrar perde
  a vida num segundo
  que seja em cima da terra, 
  ou dentro do mar profundo.

  Pois tem cem palmos 
  ou mais a sua circunferência,
  o seu casco tem um metro 
  de grossura; e a consistência
  é de bronze; e já por isto,
  ninguém lhe põe resistência. 

  Tem um lodo em todo corpo
  e o bicho que mordê-lo, 
  a língua fica queimada redonda 
  como um novelo
  e os dentes se desmancham,
  já como bolas de gelo.

  Seus chifres são do tamanho
  dos chifres dum boi de carro, 
  duros como diamante 
  e sujos da cor de barro 
  as unhas são como os chifres, 
  dum veado ou dum chibarro.

  Tem quatro unhas maiores 
  – em cada pé possui uma,
  cujas unhas são de rosca 
  da forma de uma verruma 
  e o bicho que ele perfurar
  com elas: não se apruma.

  Pois as unhas onde ferem
  aparece de repente, 
  e gangrena com o tétano
  portanto não há vivente 
  que possa ganhar vitória, 
  com esse monstro valente.

  Seus olhos são como brasas
  tendo o tamanho dum tacho
  fitando para o vivente
  o vivente vai-se abaixo
  com uma légua ele atrai, 
 qualquer bicho fêmea, ou macho. (...)

        José Camelo de Melo Resende. In: Manoel Cavalcanti Proença (org.). Literatura popular em verso. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: Edusp/Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986. PP.238-240.


Vocabulário:
fado: destino
encarnada: da cor da carne, vermelha
chibarro: pequeno bode
gangrena: morte e apodrecimento dos tecidos em qualquer parte do organismo.

Entendendo o texto:
01 – Após analisar as estrofes do poema, marque a informação falsa:
       A – ( ) A quarta estrofe declara que o Monstro do Rio Negro é invencível.
       B – ( ) O monstro é também descrito fisicamente na sexta estrofe.
       C – ( ) Na segunda estrofe, de certa forma, o eu-lírico subestima a ferocidade das "burras de padre."
       D – (X) Há uma comparação, na décima primeira estrofe, entre o tamanho dos chifres do Monstro do Rio Negro e o do diamante.
       E – ( ) A oitava estrofe afirma que o Monstro do Rio Negro vence tanto animais terrestres quanto aquáticos.

02 – Assinale o verso em que o vocábulo UM desempenhe função gramatical de numeral:
       A – ( ) "Eu quisera ouvir um homem" 
       B – ( ) "o seu pai foi um pajé,"
       C – ( ) "porém de um couro tão forte," 
       D – (X) "o seu casco tem um metro" 
       E – ( ) "redonda como um novelo" 

03 – Identifique a relação estabelecida pelo conectivo destacado no verso abaixo:
 "pra voar qualquer momento."
       A – ( ) causa
       B – (X) finalidade
       C – ( ) consequência
       D – ( ) direção
       E – ( ) lugar.

04 – A ideia de matéria não pode ser estabelecida pela preposição de na opção:
       A – (X) "com muitas ‘burras de padre’" 
       B – ( ) "Essas asas são de couro" 
       C – ( ) "e não há ponta de aço," 
       D – ( ) "é de bronze; e já por isto," 
       E – ( ) "já como bolas de gelo." 

05 – Identifique, nos versos abaixo, o único que exclui-se de registrar uma consequência sofrida por um ser que entre em confronto com o Monstro do Rio Negro:
       A – ( ) "perde a vida num segundo" 
       B – ( ) "e os dentes se desmancham," 
       C – ( ) "e gangrena com o tétano" 
       D – (X) "Seus olhos são como brasas" 
       E – ( ) "o vivente vai-se abaixo" 


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