POEMA: O
MONSTRO DO RIO NEGRO
Há muitos homens no mundo
que dizem terem lutado,
com lobisomens valentes
que andam correndo fado
e sempre, sempre nas lutas,
vitórias têm alcançado.
Outros... dizem com certeza
que têm lutado também,
com muitas "burras de padre"
e
têm saído bem
porém isto são bichinhos,
que não espantam ninguém.
Eu
quisera ouvir um homem
dizer-me que resistiu,
ao
Monstro do Rio Negro
e
triunfado saiu
para eu lhe dizer na cara:
você desta vez mentiu.
Porque o monstro em que falo
no
mundo ainda não nasceu,
vivente que resistisse
à
força do corpo seu
e
quem com ele agarrar-se,
pode jurar que perdeu.
O
monstro do Rio Negro
o
seu pai foi um pajé,
que viveu no Rio Negro
regendo a tribo Maué
o
Brasil ainda não era,
uma nação como é.
Seu corpo tem com certeza
dez metros de comprimento
a
barriga é encarnada
e
o lombo é pardacento
e
tem quatro asas negras
pra voar qualquer momento.
Essas asas são de couro
porém de um couro tão forte,
que não há dentes de bicho
que possam fazer-lhe corte
e
não há ponta de aço,
que nelas não se entorte.
Tem uma força assombrosa
capaz de erguer o mundo,
a
fera que ele agarrar perde
a
vida num segundo
que seja em cima da terra,
ou
dentro do mar profundo.
Pois tem cem palmos
ou
mais a sua circunferência,
o seu
casco tem um metro
de
grossura; e a consistência
é
de bronze; e já por isto,
ninguém lhe põe resistência.
Tem um lodo em todo corpo
e
o bicho que mordê-lo,
a
língua fica queimada redonda
como um novelo
e
os dentes se desmancham,
já
como bolas de gelo.
Seus chifres são do tamanho
dos chifres dum boi de carro,
duros como diamante
e
sujos da cor de barro
as
unhas são como os chifres,
dum veado ou dum chibarro.
Tem quatro unhas maiores
–
em cada pé possui uma,
cujas unhas são de rosca
da
forma de uma verruma
e
o bicho que ele perfurar
com elas: não se apruma.
Pois as unhas onde ferem
aparece de repente,
e
gangrena com o tétano
portanto não há vivente
que possa ganhar vitória,
com esse monstro valente.
Seus olhos são como brasas
tendo o tamanho dum tacho
fitando para o vivente
o
vivente vai-se abaixo
com uma légua ele atrai,
qualquer
bicho fêmea, ou macho. (...)
José
Camelo de Melo Resende. In: Manoel Cavalcanti Proença (org.). Literatura
popular em verso. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo: Edusp/Rio de Janeiro:
Fundação Casa de Rui Barbosa, 1986. PP.238-240.
Vocabulário:
• fado: destino
• encarnada: da cor da carne, vermelha
• chibarro: pequeno bode
• gangrena: morte e apodrecimento dos
tecidos em qualquer parte do organismo.
Entendendo
o texto:
01 – Após analisar
as estrofes do poema, marque a informação falsa:
A – ( ) A quarta estrofe declara que o Monstro do Rio Negro é invencível.
B – ( ) O monstro é também descrito fisicamente na sexta estrofe.
C – ( ) Na segunda estrofe, de certa forma, o eu-lírico subestima a ferocidade
das "burras de padre."
D – (X) Há uma comparação, na décima primeira estrofe, entre o tamanho
dos chifres do Monstro do Rio Negro e o do diamante.
E – ( ) A oitava estrofe afirma que o Monstro do Rio Negro vence tanto animais
terrestres quanto aquáticos.
02 – Assinale o
verso em que o vocábulo UM desempenhe função gramatical de
numeral:
A – ( ) "Eu quisera ouvir um homem"
B – ( ) "o seu pai foi um pajé,"
C – ( ) "porém de um couro tão forte,"
D – (X) "o seu casco tem um metro"
E – ( ) "redonda como um novelo"
03 – Identifique
a relação estabelecida pelo conectivo destacado no verso abaixo:
"pra voar
qualquer momento."
A – ( ) causa
B – (X) finalidade
C – ( ) consequência
D – ( ) direção
E – ( ) lugar.
04 – A ideia
de matéria não pode ser estabelecida pela preposição de na
opção:
A – (X)
"com muitas ‘burras de padre’"
B – ( ) "Essas asas são de couro"
C – ( ) "e não há ponta de aço,"
D – ( ) "é de bronze; e já por isto,"
E – ( ) "já como bolas de gelo."
05 – Identifique,
nos versos abaixo, o único que exclui-se de registrar uma consequência sofrida
por um ser que entre em confronto com o Monstro do Rio Negro:
A – ( ) "perde a vida num segundo"
B – ( ) "e os dentes se desmancham,"
C – ( ) "e gangrena com o tétano"
D – (X)
"Seus olhos são como brasas"
E – ( ) "o vivente vai-se abaixo"
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ResponderExcluirEu uso desse repente pra bolar um desenho com meus alunos!
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