segunda-feira, 18 de novembro de 2024

CANTIGA: ONDAS DO MAR DE VIGO - MARTIM CODAX - COM GABARITO

 Cantiga: Ondas do Mar de Vigo 

             Martim Codax.

Ondas do mar de Vigo,

se vistes meu amigo!

E ai, Deus!, se verrá cedo!

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzBS5Q7qfWXIxrGsWH1TkhAT1_afoL9RmAmNzYffcRz6Gh8Gn6kTs4ELGDrtUAPnN_jrup9AuZ8ABxtn0TfNvhkNK9bxZ_Rg5JlpOsr-gttMKTbtaUF3o-jp85Xytqlg3wm0hFGD1Cl9O7c73-jDVMaM0njdmvdngKUPS03LquclO3Etid6WsCACesyfU/s320/MAR.jpg


 

Ondas do mar levado,

se vistes meu amado!

E ai Deus!, se verrá cedo!

 

Se vistes meu amigo,

o por que eu sospiro!

E ai Deus!, se verrá cedo!

 

Se vistes meu amado,

por que hei gran cuidado!

E ai Deus!, se verrá cedo!

Martim Codax. In: José Joaquim Nunes. Cantigas. Lisboa: Centro do Livro Brasileiro, 1973, vol. 2, p. 441.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 106.

Entendendo a cantiga:

01 – Qual o tema central da cantiga?

      A cantiga "Ondas do Mar de Vigo" gira em torno do tema da saudade e espera amorosa. A voz poética, uma mulher, expressa seu profundo desejo de reencontrar o amado ausente, utilizando as ondas do mar como interlocutoras e pedindo a Deus que ele volte logo.

02 – Qual o papel do mar na cantiga?

      O mar, na cantiga, representa um meio de comunicação entre a amada e o amado. As ondas são como mensageiras que a mulher invoca para saber notícias do seu amado, que possivelmente viajou por mar. O mar também simboliza a distância e a imensidão do sentimento de saudade.

03 – Qual a importância da repetição da frase "E ai Deus!, se verrá cedo!"?

      A repetição da frase "E ai Deus!, se verrá cedo!" intensifica a impaciência e a angústia da mulher diante da ausência do amado. É um apelo desesperado a Deus e uma expressão do desejo ardente de que o reencontro aconteça o mais rápido possível.

04 – Qual o contexto histórico da cantiga?

      A cantiga "Ondas do Mar de Vigo" foi escrita no século XIII, durante o período medieval. Nesse contexto, as cantigas de amigo eram muito populares e expressavam os sentimentos amorosos e a saudade de mulheres que aguardavam o retorno de seus amados, muitas vezes envolvidos em longas viagens.

05 – Qual a importância da cantiga na literatura portuguesa?

      A cantiga "Ondas do Mar de Vigo" é considerada um dos mais belos exemplos de cantiga de amigo da lírica medieval portuguesa. A obra de Martim Codax, em geral, é valorizada por sua simplicidade e expressividade, contribuindo para a formação da identidade cultural portuguesa e para o estudo da lírica medieval.

 

 

SONETO: MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES - LUÍS VAZ DE CAMÕES - COM GABARITO

 Soneto: Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

              Luís Vaz de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuYhT9T4nzj5eqh4vPrPpWLu6NCTR9a0y0OwkShX9ewBEOeDUaV3yP5LgNUeUtGpd0HKXENmCNNJIZm3yfIwSvBWYcF82N1WLDbWZfIhzv43k3z5ALL86RF9H-DrCAFt0PUYD0Sv8pecPEgH3wzXEGmFdcQXFr1lY1cXpwPMEYSbtz5j9dQ1uALAqsjvs/s320/CAMOES.jpg


Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo (seleção, apresentação e notas). Sonetos de Camões. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998, p. 127.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 131.

Entendendo o soneto:

01 – Qual é a principal temática abordada no soneto?

      A principal temática do soneto é a efemeridade e a constante mudança da vida. Camões explora a ideia de que tudo está sujeito a transformações, desde as estações do ano até os sentimentos e as relações humanas.

02 – O que o poeta sugere com a frase "Todo o mundo é composto de mudança"?

      Com essa frase, Camões expressa a universalidade da mudança. Ele afirma que todas as coisas e seres estão em constante transformação, sem exceção. A mudança é vista como uma característica intrínseca do mundo e da vida.

03 – Qual o significado dos versos "Do mal ficam as mágoas na lembrança, / E do bem, se algum houve, as saudades"?

      Esses versos revelam a dualidade da experiência humana. As mágoas e as dores tendem a permanecer na memória, enquanto as boas lembranças se transformam em saudade. Isso demonstra a capacidade da memória de selecionar e enfatizar diferentes aspectos da experiência.

04 – Qual a metáfora presente nos versos "O tempo cobre o chão de verde manto, / Que já coberto foi de neve fria"?

      A metáfora presente nesses versos compara o tempo ao ciclo das estações. O "verde manto" representa a primavera e o verão, enquanto a "neve fria" simboliza o inverno. Essa imagem sugere a passagem do tempo e a renovação constante da natureza.

05 – Qual a principal reflexão que o soneto nos convida a fazer?

      O soneto nos convida a refletir sobre a natureza passageira da vida e a importância de apreciar cada momento. Ao enfatizar a constante mudança, Camões nos lembra que nada é permanente e que devemos buscar encontrar significado e beleza mesmo diante das adversidades. A obra nos convida a uma profunda reflexão sobre a nossa própria existência e sobre o lugar que ocupamos no mundo.

 

 

 

POEMA: A ESCRITA - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN - COM GABARITO

 Poema: A escrita

             Sophia de Mello Breyner Andresen

No Palácio Mocenigo onde viveu sozinho

Lord Byron usava as grandes salas

Para ver a solidão espelho por espelho

E a beleza das portas quando ninguém passava.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2pw_FB5nPPZBk8hPenHWoJedT8nXZX-D0dfFJz164VSCvZpcWhSEpFB4UT_qSsDtJnTmhDIVPfoVwYz6Zoj6WHVvMydyFxPMV5LrqEU38qhNL6jaDGpsMu8EKf1GF4v15zZNyrKFcC6e6NwQazGNeE5P2QStXuq_HrQezSZRfhoEFtZaVwgQFQI1Bg3I/s1600/MOCENIGO.jpg


 

Escutava os rumores marinhos do silêncio

E o eco perdido de passos num corredor longínquo

Amava o liso brilhar do chão polido

E os tectos altos onde se enrolam as sombras

E embora se sentasse numa só cadeira

Gostava de olhar vazias as cadeiras.

 

Sem dúvida ninguém precisa de tanto espaço vital

Mas a escrita exige solidões e desertos

E coisas que se veem como quem vê outra coisa.

 

Pudemos imaginá-lo sentado à sua mesa

Imaginar o alto pescoço espesso

A camisa aberta e branca

O branco do papel as aranhas da escrita

E a luz da vela – como em certos quadros –

Tornando tudo atento.

Sophia de Mello Breyner Andresen. Poemas escolhidos. (Organização Vilma Arêas) São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 261.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 91.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal imagem que o poema evoca e como ela se relaciona com a escrita?

      A principal imagem evocada é a de Lord Byron em seu palácio, cercado por um grande espaço vazio. Essa imagem simboliza a solidão e o isolamento necessários para a criação artística. A escrita, assim como Byron em seu palácio, precisa de um espaço próprio, livre de distrações, para que a imaginação possa fluir livremente.

02 – Quais os sentidos que o poeta utiliza para descrever o ambiente em que Byron escrevia?

      O poeta utiliza principalmente os sentidos da visão e da audição. A visão é explorada através da descrição do palácio, das salas, das portas, do chão e dos tetos. A audição é evocada pelos "rumores marinhos do silêncio" e pelo "eco perdido de passos". Essa combinação de sentidos cria uma atmosfera rica e detalhada, transportando o leitor para o ambiente em que Byron escrevia.

03 – Qual a importância da solidão para o processo criativo, de acordo com o poema?

      A solidão é fundamental para o processo criativo, segundo o poema. Os "desertos" e as "coisas que se veem como quem vê outra coisa" são elementos essenciais para a escrita. A solidão permite que o escritor se conecte com seu mundo interior e explore as profundidades de sua imaginação.

04 – Como a imagem da vela e do papel branco contribui para a compreensão do ato de escrever?

      A imagem da vela e do papel branco representa a fragilidade e a intensidade do ato de escrever. A vela, com sua luz tênue, simboliza a inspiração e a ideia que se acende na mente do escritor. O papel branco, por sua vez, é uma tela em branco, pronta para receber as palavras que darão vida à criação. A combinação dessas duas imagens cria uma atmosfera intimista e concentrada, própria do momento da escrita.

05 – Qual o papel da memória e da imaginação na construção do poema?

      A memória e a imaginação desempenham um papel fundamental na construção do poema. O poeta se baseia em relatos sobre a vida de Lord Byron para criar uma imagem vívida do poeta em seu ambiente de trabalho. Ao mesmo tempo, ele utiliza a imaginação para preencher as lacunas e criar uma atmosfera poética e sugestiva. A combinação de memória e imaginação permite que o poeta construa um retrato rico e multifacetado do ato de escrever.

 

 

POEMA: ESTAVA A FORMOSA SEU FIO TORCENDO - CLEONICE BERARDINELLI - COM GABARITO

 Poema: Estava a formosa seu fio torcendo

             Cleonice Berardinelli

Estava a formosa seu fio torcendo,
Sua voz harmoniosa, suave dizendo
Cantigas de amigo.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxY5EMj8EEMjyxOWjZkfZXftC-mwdVpDaByDY2wVRZaLHbkCM3NEuebGb8MsHpSUuuKobfNRjLVpJehyphenhyphenUS9sJZtab9m1My76dlY1IkTPuPRiOMUdbFS37inZyVYgfwvmiJfI2-zbbiNpkz2_xc93IOZqiiMm0tPLhMDitMEw0MVuEHgtHiWfJjxEi1Mjs/s320/CANTIGA.jpg



Estava a formosa sentada, bordando,
Sua voz harmoniosa, suave cantando,
Cantigas de amigo.

Por Jesus, senhora, vejo que sofreis
De amor infeliz, pois tão bem o dizeis
Cantigas de amigo.

Por Jesus, senhora, vejo que andais com penas
de amor, pois tão bem cantais
Cantigas de amigo.

— Abutre comeste, pois que adivinhais.”


Cleonice Berardinelli. In: BERARDINELLI, Cleonice. Cantigas de trovadores medievais em português moderno. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1953, p. 58-59.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 72.

Entendendo o poema:

01 – Qual o tema central do poema?

      O tema central do poema gira em torno do sofrimento amoroso de uma mulher. Através de suas atividades (torcer o fio, bordar) e de suas cantigas, ela expressa a dor de um amor não correspondido ou de alguma perda amorosa.

02 – Que figura de linguagem é predominante no poema?

      A figura de linguagem predominante é o paralelismo. O poeta repete a estrutura sintática e a ideia central em versos sucessivos, enfatizando a intensidade do sofrimento da mulher e a repetição de suas cantigas como um refrão de dor.

03 – Qual o significado do verso "Abutre comeste, pois que adivinhais"?

      Esse verso, pronunciado por um interlocutor, sugere que a mulher está tão consumida pela tristeza que até um abutre (símbolo de morte e mau agouro) poderia perceber seu sofrimento. É uma forma poética de dizer que sua dor é evidente e profunda.

04 – Qual o papel das cantigas de amigo no poema?

      As cantigas de amigo são o meio pelo qual a mulher expressa seus sentimentos. Elas funcionam como um diário poético, revelando a profundidade de seu sofrimento amoroso. As cantigas são um elemento central do poema, unindo as estrofes e reforçando o tema principal.

05 – Como o poema retrata a figura feminina?

      A mulher é retratada como um ser delicado e sofredor. Ela é apresentada em atividades domésticas (torcer o fio, bordar), mas sua beleza interior se destaca através de sua voz harmoniosa e de suas cantigas. O poema valoriza a expressão dos sentimentos femininos, mesmo quando estes são de dor e sofrimento.

 

POEMA: FUNDO DO MAR - SOPHIA DE MELLO - COM GABARITO

 Poema: Fundo do mar

             Sophia de Mello

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgSxEojaH7jeY-m-zTXDlT6PhbJXqKdsZuTriLgMy2K1QGyBp5diH-hH3JMJFjkw8MuSXyFveJu0vLgH0ohOg3RDif7t4CAyjSbimwnKhZuChwDucDVNZzzp4hLC-eaA44cHxHDzV6FbIIQPZCgzNCqm1o4Y_609mSuC0FhobCehlTlishUE6_Wxx8T2a0/s1600/MAR.jpg


Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

Sophia de Mello Breyner Andresen. Obra poética I. Lisboa: Caminho, 1998, p. 50.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 93.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal característica do mundo subaquático apresentado no poema?

      A principal característica é a inversão dos papéis entre seres vivos e a ausência de som. As plantas se comportam como animais, os animais como flores, e o ambiente é silencioso, contrastando com a agitação da superfície. Essa inversão cria um mundo onírico e misterioso.

02 – Que sentimentos são evocados pela descrição do fundo do mar?

      O poema evoca uma gama de sentimentos, como a tranquilidade e a beleza do mundo subaquático, representadas pela imagem das conchas se abrindo e do cavalo-marinho balançando. Ao mesmo tempo, a presença dos "monstros" em cada coisa gera um certo suspense e inquietude, convidando à reflexão sobre a dualidade da natureza.

03 – Qual o significado da imagem do "monstro em si suspenso"?

      A imagem do "monstro em si suspenso" sugere que, por mais belas e perfeitas que as coisas pareçam, todas carregam em si um lado obscuro ou ameaçador. Essa dualidade é uma constante na natureza e na vida humana, e o poema nos convida a refletir sobre essa complexidade.

04 – Qual a importância do tempo no poema?

      O tempo é representado como algo leve e suave, que pousa sobre a areia como um lenço. Essa imagem contrasta com a ideia de um tempo infinito e imutável do fundo do mar. O tempo, portanto, é um elemento que marca a passagem e a transformação, mesmo em um ambiente aparentemente estático.

05 – Qual a principal mensagem do poema?

      A principal mensagem do poema é a necessidade de olharmos além das aparências e reconhecermos a complexidade e a dualidade da natureza e da vida. O fundo do mar, com sua beleza e seus perigos, é uma metáfora para o mundo em que vivemos, onde a harmonia e a dissonância coexistem.

 

 

POEMA: TRANSFORMA-SE O AMADOR NA COUSA AMADA - LUÍS DE CAMÕES - COM GABARITO

 Poema: Transforma-se o amador na cousa amada

               Camões

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.


Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.

Mas está linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfmQY31FooYI9vPtEprXcw86r2RL-kYjR1JNVW3kXPPX83vwuujqQBeMNs0vzq-8bhRyPvteIAL5cx8vNPxYKd-JegnNXzLvRni608Q9IUvCPCe8vrdK_M60eIyJNTb_tSijaKkNnEIWTLBhzbVdd3gUONbDRBqS7rPAKluvsXnbedgCxLp4F841SDh6Q/s1600/ALMA.jpg

Izeti F. Torralvo e Carlos C. Minchillo (seleção, apresentação e notas). Sonetos de Camões. São Paulo: Ateliê Editorial, 1998, p. 78.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 129.

Entendendo o poema:

01 – Qual a principal ideia transmitida pelo poema?

      O poema transmite a ideia de que o amor idealizado tem o poder de transformar o amante na própria coisa amada. Através da força da imaginação, o eu lírico internaliza as qualidades da amada a ponto de não desejar mais nada, pois já possui em si a parte desejada.

02 – O que significa a expressão "por virtude do muito imaginar"?

      Essa expressão indica que a transformação do amante se dá por meio da intensa atividade mental de imaginar a pessoa amada. É através desse exercício mental que o amor se torna tão poderoso a ponto de unir o amante e o amado em um só.

03 – Qual a relação entre a alma e o corpo no poema?

      O poema estabelece uma dicotomia entre alma e corpo. A alma do amante se transforma e se une à alma da amada, enquanto o corpo busca satisfazer um desejo que já foi superado pela alma. Essa dualidade revela a complexidade do amor, que envolve tanto aspectos espirituais quanto físicos.

04 – O que representa a "semideia" mencionada no poema?

      A "semideia" representa a imagem idealizada da amada, uma construção mental que se assemelha a uma ideia platônica. Essa imagem é tão viva e intensa que se torna parte integrante da alma do amante, moldando seus pensamentos e sentimentos.

05 – Qual o papel do amor na transformação do amante?

      O amor é a força motriz da transformação. É ele que impulsiona o amante a imaginar, a idealizar e a se unir à pessoa amada em um nível espiritual. O amor, nesse contexto, é uma força unificadora e transcendente.

 

domingo, 17 de novembro de 2024

CRÔNICA: A ILUSÃO DO FIM DE SEMANA (FRAGMENTO) - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA - COM GABARITO

 Crônica: A ilusão do fim de semana – Fragmento

              Affonso Romano de Sant'Anna

        Há algo errado nisto.

        Onde havia florestas construímos cidades de concreto, asfalto e vidro. Aí vivemos. Ou melhor: trabalhamos. Mas como o lugar onde trabalhamos não é onde queremos viver, então no fim de semana rumamos para onde há floresta ou praia, onde, além do verde e do azul, se pode respirar.

        Chegamos. Acabamos de encostar o carro na garagem da casa de campo, fazenda ou do hotel nas montanhas.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgh1wT-s0SsHVQw1QIGntN0ipkxO0siGTBAWjX4I5yW3SMVWJRFrIkDA8PmKoZtPIaTp0lyylIJ9GDe-dupdVRFXI2H3IZrNW3F5kx-i9CZkvbb7GT05pqfkma5xLkfG6SKqrqFKl-vjhZO9nZ7tgzuZVRYzeLq4vLU0npg4OPEB9hNB9o2JmaL47n7lEM/s1600/campo.jpg


        Chegar aqui não foi fácil. Duas, cinco, às vezes dez horas de engarrafamento. O verde e o azul, lá longe ainda, difíceis de alcançar. E a gente ali na estrada entalado num terrível rito de ultrapassagem.

        Mas digamos que a viagem foi normal. O simples fato de nos aproximarmos do verde já muda o clima psicológico dentro do carro. Vai ficando para trás a fuligem da cidade. E ao subir a serra começa uma descontração no diafragma. Aqueles que estavam tensos, indo para a natureza, já tornam suas frases mais macias, já começam a ficar mais amorosos. Algumas brigas de casal vão se diluindo na passagem da cidade para o campo.

        Enfim, chegamos. São desembarcadas as malas, as portas e janelas da casa e corpo se abrem e a clorofila começa a entrar pelos poros. As flores continuaram a elaborar suas cores em nossa ausência. Os pássaros continuaram a emplumar as estações. [...]

        À noite pode-se acender a lareira e ali se ficar prostrado com um copo de uísque ou vinho, uma xícara de chá ou café, olhando, olhando o fogo como um primitivo na caverna de si mesmo.

        Soa uma música ao piano, um concerto de Boccherini como se houvesse músicas fluindo diretamente do cosmos. [...]

        Todavia, essa incursão no paraíso vai acabar. O fim de semana escoou-se. Já começamos a refazer as malas e a ficar ansiosos e de mau humor. Vamos começar a descer a serra para retornar ao campo de concentração urbana. Mal sinalizadas, as estradas vez por outra nos deixam ver um cão morto no asfalto. [...]

        Aproximamo-nos da cidade. A temperatura começa a subir, um calor abafado vai grudando na pele. O mau cheiro irrita as narinas, o ruído agride os tímpanos. O ritmo do pulso é tenso e há um cruzar de buzinas, faróis, anúncios e sempre a possibilidade de uma emergente violência.

        Chegamos ao apartamento ou casa. Descarregamos tudo pelo elevador com ar de vitória e derrota. Na sala, jornais, correspondência acumulada. O dia seguinte já nos espreita na treva. Aí começaremos a fazer novos planos para fugir da cidade. Planejaremos outro feriado e contaremos quanto tempo falta para a aposentadoria.

        Há algo de errado nisto. E persistimos.

Sant”anna. Affonso Romano. Porta de colégio e outras crônicas. São Paulo: Ática, 1997, p. 43-46. (Fragmento).

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 56-57.

Entendendo a crônica:

01 – Qual é a principal crítica social presente na crônica?

      A crônica critica a dicotomia entre a vida urbana e a vida rural, evidenciando a busca incessante do ser humano por um refúgio na natureza como forma de escapar das pressões da cidade. O autor questiona a ideia de que o fim de semana seja capaz de proporcionar um descanso verdadeiro e duradouro.

02 – Como o autor descreve a jornada para o campo?

      A jornada para o campo é descrita como um processo de transformação gradual. Á medida que se afasta da cidade, o autor percebe uma mudança no clima psicológico das pessoas, que se tornam mais relaxadas e menos tensas. No entanto, a beleza da natureza é contraposta à dificuldade em chegar até ela, com engarrafamentos e estresse.

03 – Qual é o significado da frase "O fim de semana escoou-se"?

      Essa frase simboliza a efemeridade do descanso e da paz proporcionados pela natureza. O fim de semana, assim como qualquer outro período de férias, é visto como um momento fugaz que não é capaz de solucionar os problemas da vida urbana.

04 – Como o autor retrata a volta para a cidade?

      A volta para a cidade é descrita como um choque, um retorno à realidade. O autor destaca a poluição, o ruído, a violência e o estresse como elementos característicos da vida urbana. Essa volta para a rotina é acompanhada por sentimentos de frustração e angústia.

05 – Qual é o papel da natureza na crônica?

      A natureza é representada como um refúgio, um lugar de paz e tranquilidade. No entanto, o autor questiona se a natureza é apenas uma ilusão, uma fuga temporária dos problemas da vida moderna. A natureza também serve como um símbolo daquilo que o homem perdeu ao construir as grandes cidades.

06 – Qual é a sensação geral que o autor transmite ao leitor?

      O autor transmite uma sensação de frustração e impotência diante da realidade. Ele questiona o modelo de vida atual e a busca incessante por um refúgio. A crônica evoca um sentimento de melancolia e insatisfação.

07 – Qual é a principal mensagem da crônica?

      A principal mensagem da crônica é a necessidade de refletir sobre o nosso modo de vida e buscar um equilíbrio entre a vida urbana e a vida em contato com a natureza. O autor sugere que a solução para os problemas da sociedade não está apenas em fugir para o campo, mas em transformar a cidade em um lugar mais humano e sustentável.

 

 

 

POESIA: TU SÓ, TU, PURO AMOR, COM FORÇA CRUA - LUÍS DE CAMÕES - COM GABARITO

 Poesia: Tu só, tu, puro amor, com força crua

             Camões

Tu só, tu, puro amor, com força crua

Que os corações humanos tanto obriga,

Deste causa à molesta morte sua,

Como se fora pérfida inimiga.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgECRRVNC1AJuFHRDx44zxz6e5zvJ47a9mtUMvVnHmba-GOx_RVpqOW0-k9CXDTzd2ZrxWgvUeczOyS3nJsyRPWiP8b1NG_VmuN7YW0yUWObkwr042aeIy3cX6A0_a7kPQU2chh2QAjRXSYT7jI9wXGi79YC3HNMFwjmIxNuyR5_CEEHabdsVo1J-O2jn4/s320/CORA%C3%87%C3%83O.png


Se dizem, fero Amor, que a sede tua

Nem com lágrimas tristes se mitiga,

É porque queres, áspero e tirano,

Tuas aras banhar em sangue humano.


Estavas, linda Inês, posta em sossego

De teus anos colhendo doce fruito,

Naquele engano da alma ledo e cego,

Que a fortuna não deixa durar muito,

Nos saudosos campos do Mondego,

De teus fermosos olhos nunca enxuto,

Aos montes ensinando e às ervinhas,

O nome que no peito escrito tinhas.

Rosemeire da Silva e Carlos C. Minchillo (introdução e comentários). A poesia épica de Camões. São Paulo: Policarpo, p. 34.

Fonte: Linguagem em Movimento – língua Portuguesa Ensino Médio – vol. 1 – 1ª edição – FTD. São Paulo – 2010. Izeti F. Torralvo/Carlos A. C. Minchillo. p. 159.

Entendendo a poesia:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:

·        Molesta: lastimosa; funesta.

·        Pérfida: desleal; traidora.

·        Fero: feroz; sanguinário; cruel.

·        Mitiga: alivia; suaviza; aplaca.

·        Aras: altar; mesa para sacrifícios religiosos.

·        Posta em sossego: repousando após a morte.

·        Iedo: feliz, contente.

·        Mondego: rio da região central de Portugal.

·        Fremosos: formoso, graciosos, belo.

02 – Qual a principal temática abordada no poema?

      O poema gira em torno do tema do amor como força implacável e destrutiva. Camões retrata o amor como um sentimento que pode levar à morte, comparando-o a um inimigo cruel e impiedoso. A história de Inês de Castro serve como exemplo dessa força cega e apaixonada.

03 – Qual o papel da figura de Inês de Castro no poema?

      Inês de Castro é a personificação da beleza, da inocência e da felicidade. Sua morte trágica, causada pela paixão de Pedro por ela, serve como um exemplo da crueldade do amor e do poder da paixão sobre a razão.

04 – Qual o significado da expressão "força crua" no contexto do poema?

      A expressão "força crua" refere-se à intensidade e à brutalidade do amor. O amor é apresentado como uma força da natureza, indomável e capaz de causar sofrimento e destruição.

05 – O que o poeta quer dizer com a frase "Tuas aras banhar em sangue humano"?

      Essa frase significa que o amor exige sacrifícios e que, muitas vezes, esses sacrifícios são representados pela morte. O amor é comparado a um deus cruel que se alimenta do sofrimento humano.

06 – Qual a relação entre o amor e a morte no poema?

      O poema estabelece uma relação íntima entre o amor e a morte. O amor é apresentado como uma força tão poderosa que pode levar à morte. A morte de Inês de Castro é a prova de que o amor, quando não é correspondido ou quando encontra obstáculos, pode ter consequências trágicas.

 

sexta-feira, 15 de novembro de 2024

MÚSICA(ATIVIDADES): CHICO BRITO - PAULINHO DA VIOLA - COM GABARITO

 Música(Atividades): Chico Brito

             Paulinho da Viola

Lá vem o Chico Brito,
Descendo o morro nas mãos do Peçanha,
É mais um processo!
É mais uma façanha!
Chico Brito fez do baralho seu melhor esporte,
É valente no morro,
Dizem que fuma uma erva do norte.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRyuqPyNWZ9ieW44h4qhBXojK4UmEryi-9BDwP79yRsE8DHB23yS0L8IUEjV-b5dlZEPyCqpkuq3cuViel8TPori-Tyl-lQGV_Wm9l6gXEPm0mh8F1dRBoDkFgs99z9W2pQ6d4V4CwQzCxXQoti2BLCC3HFZEr09q0LRkSPlPY1fxM0-nH4lac0DjE0rI/s320/CHICO.jpg


Quando menino teve na escola,
Era aplicado, tinha religião,
Quando jogava bola era escolhido para capitão,
Mas, a vida tem os seus revezes,
Diz sempre Chico defendendo teses,
Se o homem nasceu bom, e bom não se conservou,
A culpa é da sociedade que o transformou.

Composição: Afonso Teixeira / Wilson Batista.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 373.

Entendendo a música:

01 – Quem é o personagem principal da música e como ele é retratado?

      O personagem principal é Chico Brito, um homem apresentado como um valentão do morro, envolvido em diversas situações, como processos judiciais e jogos de azar. A letra o descreve como habilidoso no baralho, fumante de uma erva do norte e com um passado que contrasta com sua vida atual.

02 – Qual a relação entre Chico Brito e o contexto social onde vive?

      Chico Brito é um produto do seu ambiente. A letra sugere que o morro, com suas leis e costumes próprios, moldou seu caráter. A referência à "erva do norte" e aos "processos" indica um envolvimento com atividades ilícitas, comuns em determinadas comunidades.

03 – Qual a mensagem central da música?

      A música levanta questões sobre a natureza humana e a influência do meio social. A frase "Se o homem nasceu bom, e bom não se conservou, A culpa é da sociedade que o transformou" sugere uma crítica à sociedade, que seria responsável por transformar as pessoas em criminosos.

04 – Qual o papel da religião na vida de Chico Brito?

      A letra menciona que Chico Brito, quando criança, tinha religião. No entanto, essa fé não parece ter sido suficiente para moldar seu caminho. Essa contraposição entre o passado religioso e a vida presente de crimes e conflitos sugere uma reflexão sobre a complexidade da natureza humana e a força das influências sociais.

05 – Qual o estilo musical e a época de composição de "Chico Brito"?

      "Chico Brito" é uma canção de samba, um gênero musical tipicamente brasileiro, conhecido por suas letras que retratam a vida cotidiana e os costumes populares. Paulinho da Viola, um dos maiores compositores de samba, compôs essa música em um período em que o samba abordava temas sociais e políticos com maior profundidade.

 

 

SONETO: EU DELIRO, GERTRÚRIA, EU DESESPERO - MANOEL BOCAGE - COM GABARITO

 Soneto: Eu Deliro, Gertrúria, eu Desespero

              Manoel Bocage

Eu deliro, Gertrúria, eu desespero
No inferno de suspeitas e temores.
Eu da morte as angústias e os horrores
Por mil vezes sem morrer tolero.

 Fonte:https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsGgkawzDCTcii7Qe5oh1FyfYYg1oxY7I6K7gwqZsJrz3wfnTNBVh0GtpDIZL9y28tEyTmPoX93kjXcUTT2n9lhjjTkh8L0z7qGpqmFjp9iJOE699x6tbJfhHSndpHCBeLVbzKod1DjAjFlD9GC9jSlMqEcRm0_oPZPq0jGQf_waV7dOj8W7TRu9fZmqg/s1600/BOCAGE.jpg



Pelo Céu, por teus olhos te assevero
Que ferve esta alma em cândidos amores;
Longe o prazer de ilícitos favores!
Quero o teu coração, mais nada quero.

Ah! não sejas também qual é comigo
A cega divindade, a Sorte dura.
A vária Deusa, que me nega abrigo!

Tudo perdi: mas valha-me a ternura
Amor me valha, e pague-me contigo
Os roubos que me faz a má ventura.

BOCAGE, M. M. Barbosa du. Sonetos. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d.

Fonte: Português – José De Nicola – Ensino médio – Volume 1 – 1ª edição, São Paulo, 2009. Editora Scipione. p. 385.

Entendendo o soneto:

01 – Qual a principal emoção expressa pelo eu lírico nesse soneto?

      A principal emoção expressa pelo eu lírico é a angústia amorosa. O poeta se encontra em um estado de sofrimento intenso, marcado pela incerteza, pelo medo e pela desesperança em relação ao amor que sente por Gertrúria.

02 – Como o eu lírico descreve o estado emocional em que se encontra?

      O eu lírico descreve seu estado emocional como um verdadeiro inferno. Ele se sente atormentado por suspeitas e temores, e a ideia da morte ronda seus pensamentos. A repetição de "eu deliro" e "eu desespero" intensifica a ideia de um sofrimento profundo e quase insustentável.

03 – Qual a importância da figura de Gertrúria no poema?

      Gertrúria é a figura central do poema, a musa inspiradora do sofrimento do eu lírico. Ela é idealizada como um ser celestial, mas ao mesmo tempo inalcançável. A amada é vista como a causa e o objeto do amor do poeta, e sua presença ausente intensifica a dor do amante.

04 – Que tipo de amor o eu lírico expressa por Gertrúria?

      O amor expresso pelo eu lírico é um amor passional e idealizado. Ele se declara apaixonado de forma intensa e fervorosa, buscando a pureza e a sinceridade nos sentimentos de Gertrúria. O poeta rejeita os "ilícitos favores" e deseja apenas o coração da amada.

05 – Qual a relação entre o sofrimento amoroso e a figura da Fortuna no poema?

      O sofrimento amoroso do eu lírico é atribuído à Fortuna, personificada como uma deusa cega e cruel. A Fortuna é vista como a responsável por negar o amor ao poeta, roubando sua felicidade e condenando-o à infelicidade. O amor, por sua vez, é visto como a única força capaz de compensar as perdas causadas pela má sorte.