terça-feira, 10 de dezembro de 2024

CONTO: LISETTA - ANTÔNIO DE ALCÂNTARA MACHADO - COM GABARITO

 CONTO: Lisetta

                Antônio de Alcântara Machado

 

       Quando Lisetta subiu no metrô (um passageiro atencioso a ajudou), viu logo o urso. Felpudo, felpudo e amarelo. Tão engraçadinho.

       Dona Mariana sentou-se, colocou a filha em pé diante dela.
       Lisetta começou a namorar o bicho. Pôs o pirulito de coração, na boca. Pôs, mas não chupou. Olhava o urso. O urso não ligava. Seus olhinhos de vidro não diziam absolutamente nada. No colo da menina de pulseirinha de ouro, vestido engomadinho e meias finas, parecia um urso importante e feliz.
        -Olha o ursinho que lindo, mamãe.

Fonte: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRpxccTWEnrAGXvkoaUtcUnlPxGIffO2K1xD8RdRhgH0UtMKi00w0w3nZi3xNLOZlXiGY8ueSkVLuG1qSOhLdcV0NH0cLLV71OcXKV0Lo1Y9iXSHINpe9H8_v7rkHTHvkFnyIIka7T1WlMk7M8sk0I-ne_N0iubLYY8QuMsksbwQyzAxe526aeyx6pQvQ/s320/LESETA.jpg


        A menina rica viu o enlevo e a inveja de Lisetta deu a brincar com o urso. Mexeu-lhe com o toquinho do rabo: e a cabeça do bicho virou para a esquerda, depois para a direita, olhou para cima, depois para baixo. Lisetta acompanhava a manobra. Sorrindo fascinada. E com ardor nos olhos! O pirulito perdeu definitivamente toda a sua importância.
       Agora são as pernas que sobem e descem, cumprimentam, se cruzam, batem umas nas outras.
      -As patas também mexem, mamãe. Olha lá!
      -Stai zitta!(Fique quieta!)
      Lisetta sentia um desejo louco de tocar no ursinho. Jeitosamente procurou alcançá-lo. A menina rica percebeu, encarou a coitada com raiva, fez uma careta horrível e apertou contra o peito o bichinho que custara oitenta dólares na Disney.

      -Deixa eu pegar, um pouquinho, um pouquinho só nele, deixa?
      -Ah!
      - Perdone, signora. Desculpe, por favor. A senhora sabe, essas crianças são muito arteiras. Scusi. Desculpe.
      A mãe da menina rica não respondeu. Ajeitou a tiara de pérolas, no cabelo da filha, sorriu para o bicho, fez um carinho na cabeça dele, abriu a bolsa e pegou o celular.
      Dona Mariana, escarlate de vergonha, murmurou no ouvido da filha:
      -In casa me lo pagherai! (Em casa, você me paga!)
      E pespegou-lhe por conta um belo beliscão no bracinho magro. Um beliscão daqueles.
      Lisetta então perdeu toda a compostura de vez. Chorou. Soluçou. Chorou. Soluçou. Falando sempre.
      - Hã! Hã! Hã! Eu que... ro o ur...so. O urso...! Ai, mamãe! Ai, mamãe! Eu que... ro o ur...so o...o...o... Hã! Hã!
      -Stai ferma o ti amazzo, parola d’onore! (Pare  ou eu te mato, palavra de honra!)
      -Um pou...qui... nho... só! Hã! E...hã! Um pou...qui...
      -Senti,Lisetta.Non ti porteró piú in cittá! Mai piú! .(Escute, Lisetta. Não te trarei mais à cidade. Nunca mais!)
      Um escândalo. E logo, no banco da frente e dentro do metrô. O vagão inteiro testemunhou o feio que Lisetta fez.
       O urso recomeçou a mexer a cabeça. Para cima e para baixo. Da esquerda para a direita, para cima e para baixo.

      -Non piangere piú adesso! (Não chore mais agora!)
       Impossível.
       O urso lá se fora nos braços da dona. E a dona só de má, antes de entrar no prédio moderno e bem localizado, voltou-se e agitou o bichinho no ar. Para Lisetta ver. E Lisetta viu.
       O metrô deu um solavanco, sacudiu os passageiros, deslizou, rolou e continuou a viagem.

       Lisetta como compensação quis sentar-se no banco. Dona Mariana (havia pago uma passagem só) opôs-se com energia e outro beliscão.
       A entrada de Lisetta, em casa, marcou época, na história dramática da família Garbone.

       Logo na porta, um safanão. Depois um tabefe. Outro no corredor. Intervalo de dois minutos. Foi assim a vez das chineladas. Só para fechar. Que não acabava mais.
       O resto da gurizada (narizes escorrendo, pernas arranhadas) reunida, na sala de jantar, sapeava de longe.

       Mas o Hugo chegou da oficina.
       -Você assim machuca a menina, mamãe! Coitadinha dela!.
       Também Lisetta já não aguentava mais.

       -Toma pra você, mas não se ache
       Lisetta deu um pulo de contente. Pequenino. Pequenino e de lata. Do tamanho de um passarinho. Mas urso.
       Os irmãos chegaram para ver. Pasqualino quis logo pegar no bichinho. Quis mesmo tomá-lo à força. Lisetta berrou como uma desesperada:
      -Ele é meu! O Hugo me deu!
       Correu para o quarto e fechou-se por dentro.

(MACHADO, Antônio de Alcântara. Modernizado de “Lisetta”- Brás, Bexiga e Barra Funda. Belo Horizonte. Notícias de São Paulo. Belo Horizonte: Itatiaia, 2001.p.48-50)

Entendendo o texto

 

01- Assinale (V) para aquilo que for pertinente e (F) para aquilo que não for pertinente ao texto-discurso:

      a-(  V  ) Percebe-se a prática social do egoísmo, uma vez que a personagem - menina rica -  não deixou sequer que a personagem - Lisetta -  tocasse seu ursinho;

       b-(  V  ) Percebe-se a enorme distância existente entre as classes sociais, no país;

       c-(  F  ) Percebe-se o discurso de que a família de classe média não estimula as crianças a dividirem o que têm;

       d-(  F  ) Percebe-se a prática social da caridade por parte da  personagem (mãe da menina rica);

       e-(  V  ) Percebe-se o discurso de que o castigo mal aplicado não educa a criança;

       f-(  F  ) Percebe-se o discurso de que as crianças não devem ser corrigidas nunca;

       g-(  F  ) Percebe-se a prática social da partilha;

       h-( V   ) Percebe-se que a ideologia da posse contamina ricos e pobres, visto que as meninas, tanto a rica, quanto a pobre, não deixavam outras crianças mexerem nos seus ursos;

       i-( F  ) Percebe-se o discurso de que as pessoas empobrecidas não impõem limites às crianças;

       j-( F  ) Percebe-se o discurso de que as crianças pobres são mal-educadas e invejosas.

02-Substitua as palavras sublinhadas e negritadas por outras sem alterar o sentido do texto-discurso.

 Felpudo, felpudo: macio, macio

 Engomadinho: bem passado

 Stai zitta!: Fique quieta!

 Scusi: Desculpe

 Signora: Senhora

 In casa me lo pagherai!: Em casa, você me paga!

 Stai ferma o ti amazzo, parola d’onore!: Pare ou eu te mato, palavra de honra!

 Senti,Lisetta.Non ti porteró piú in cittá! Mai piú!: Escute, Lisetta. Não te trarei mais à cidade. Nunca mais!

 Safanão: tapa

 Tabefe: bofetada

03-Identifique, na narrativa, a instalação do primeiro conflito:

     a- Quando a personagem – Lisetta – subiu ao metrô e deparou-se com o ursinho de pelúcia;

     b- Quando a personagem – a mãe de Lisetta – dá-lhe um beliscão;

     c- Quando a personagem - menina rica - exibe o ursinho de pelúcia à personagem – Lisetta;

     d- Quando a personagem - menina rica – desce do metrô e sacode o ursinho de pelúcia.

04-O clímax da narrativa acontece, quando:

     a- A personagem – mãe da menina rica – afaga a cabeça do usinho ;

     b- A personagem – a mãe de Lisetta – pede desculpas à personagem - mãe da menina rica;

     c- A personagem – Lisetta – leva um beliscão da mãe e faz um escândalo para pegar o usinho de pelúcia;

     d- A personagem - menina rica – desce do metrô e sacode o ursinho de pelúcia.

05-O desfecho da narrativa acontece quando:

      a- A personagem (a mãe de Lisetta) dá- lhe uma surra grande ;

      b- A personagem – Lisetta –  leva uma tremenda surra da mãe, por conta do comportamento que tivera, no metrô, mas ganha um ursinho;

      c- A personagem – Lisetta – é salva pelo personagem Hugo;

      d- A personagem – Lisetta – entra, no quarto.

06-No enunciado”Correu para o quarto e fechou-se por dentro...”, a expressão grifada sugere que:

      a- A personagem Lisetta desejava esconder  dos irmãozinhos o presente que havia ganhado;

      b- A personagem Lisetta queria esconder-se da mãe, pois estava com raiva dela;

      c- A personagem Lisetta precisava analisar melhor o ursinho de lata;

      d- A personagem Lisetta adentrou, em um mundo particular,onde seus sonhos infantis  eram plenamente realizados.

07-O enunciado Pare ou eu te mato, palavra de honra...” revela:

     a- Uma ameaça sobre o que a personagem – mãe de Lisetta – seria capaz de fazer, caso ela não parasse de chorar;

      b- Um desejo da ´personagem  – mãe de Lisetta - naquele momento ;

      c- Uma hipérbole, pois mostrava um exagero da mãe, para demonstrar à Lisetta o quanto estava contrariada com aquela situação vexatória, na concepção dela;

      d-O medo que a personagem - mãe de Lisetta – sentia pela mãe da menina rica.

08- No enunciado ”Perdone, signora. Desculpe, por favor. A senhora sabe, essas crianças são muito arteiras. Scusi. Desculpe. A mãe da menina rica não respondeu..”, o fato da personagem ( mãe da menina rica) não ter respondido à mãe da personagem Lisetta  revela:

     a- compreensão pelo comportamento da personagem Lisetta;

     b- fingimento com a mãe de Lisetta;

     c- medo de que a personagem Lisetta tomasse o bichinho de sua filha;

     d- desprezo  tanto pelo sentimento da personagem Lisetta, quanto pela mãe dela.

09-No enunciado ”Deixa eu pegar, um pouquinho, um pouquinho só nele, deixa?...”, o uso do diminutivo nos advérbios destacados acentua:

       a- o medo de Lisetta;

       b- a dúvida de Lisetta;

       c- a súplica de Lisetta;

       d- a certeza de Lisetta.

10- No enunciado ”Pare ou eu te mato...”, a conjunção ou estabelece relação de:

        a- adição;

        b- conclusão;

        c- adversidade;

       d- alternância.

11- No enunciado Pôs o pirulito de coração, na boca. Pôs, mas não chupou...” A conjunção mas estabelece relação de:

      a- adição;

      b- conclusão;

      c-adversidade;

      d- alternância.

12- No enunciado ”Abriu a bolsa e pegou o celular...”, a conjunção e estabelece relação de:

      a- adição;

      b- conclusão;

      c- adversidade;

      d- alternância.

13- No enunciado ”E a dona só de má...”, a locução adverbial sublinhada pode ser trocada por:

       a- de bondade;

       b- de ingenuidade;

       c- de saudade;

       d- de maldade

14-No enunciado O urso lá se fora nos braços da dona. E a dona de má...”, a palavra grifada possui sentido semelhante ao empregado em:

      a- A menininha ficou , depois daquilo tudo.

      b- Chapeuzinho Vermelho caminhava pela floresta.

      c- “Dizei uma palavra e serei salva.”

      d- Eles estão sós.

15- No que se refere ao enunciado “Lisetta sentia um desejo louco de tocar no ursinho”, assinale (V) para verdade e (F) para falso:

    a- ( V )Ao se usar o adjetivo destacado, sugeriu-se, ao leitor e à leitora,  a sofreguidão da  personagem Lisetta pelo toque ou pela posse daquele ursinho.

      b- ( F) O adjetivo destacado qualifica positivamente o desejo da personagem Lisetta, segundo o contexto.

      c- ( F) O adjetivo destacado qualifica negativamente o desejo da personagem Lisetta, segundo o contexto.

      d-( F) Ao se usar o adjetivo destacado, sugeriu-se, ao leitor e à leitora, que o desejo da personagem Lisetta  era forte, porém podia ser controlado.

 

 

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