ARTIGO DE OPINIÃO: Do
que você tem medo?
Gilberto Dimenstein
Das alternativas a seguir, quais são as
cinco coisas de que você mais tem medo?
01–
Fantasma.
02 –
Escuro.
03 –
Assalto.
04 –
Reprovação na escola.
05 –
Separação dos paias.
06 –
Sequestro.
07 –
Morte dos pais.
08 –
Acidente de carro.
09 –
Acidente de avião.
10 –
Meninos de rua.
11 –
Doenças graves.
12 –
Desemprego.
13 –
Reprovação no vestibular.
14 –
Morte.
Se você comparar a sua resposta com a
de seus colegas, verá que o medo da violência é uma das alternativas mais
recorrentes.
Mas nem sempre foi assim. Houve um
tempo em que o que mais aterrorizava as pessoas eram os monstros e outras
criaturas fictícias. Hoje, muitos dos monstros dos jovens são resultados dos
problemas sociais brasileiros.
Na década de 1970, a palavra
“sequestro” era geralmente ligada a motivos políticos. Por exemplo, na época da
ditadura, grupos revolucionários sequestraram o embaixador dos Estados Unidos
exigindo a libertação de presos políticos. Raramente esse assunto preocupava a
população em geral. Atualmente, são corriqueiras as mais variadas modalidades
de sequestro de cidadãos comuns, inclusive o sequestro-relâmpago, que já fez
inúmeras vítimas em nosso país.
A paisagem urbana também mudou muito
dos anos 1970 para cá: eram poucas as casas com grades, alarmes, cercas
eletrificadas e havia poucos condomínios resguardados por sistemas de segurança
com tecnologia avançada. Carros blindados, então, eram um privilégio de
autoridades importantes. Não era tão perigoso andar nas ruas e as pessoas
tinham menos medo de parar nos faróis ou andar sozinhas à noite. Gente comum
não sentia a necessidade de aprender técnicas de autodefesa ou a manejar armas
de fogo, como acontece hoje em dia.
Mas a situação mudou. O tráfico de
drogas, que até então era um problema de “vizinhos”, como a Colômbia, tomou o
Brasil – literalmente – de assalto. O crime organizado agravou muito a
violência urbana. Em alguns lugares, ele chega a ser um “poder paralelo”, sendo
tão ou mais forte que a autoridade legal, como a polícia.
Embora o tráfico de drogas não seja o
único fator que causa a violência, a relação é direta. E, nesse ponto,
novamente a falta de cidadania gera inúmeras consequências, que, juntas, viram
uma bola de neve: o jovem entra no tráfico, já que sem a formação educacional
não consegue arrumar um trabalho lícito que lhe garanta um padrão de vida
digno. Dentro do tráfico, ele é obrigado a fazer uso da violência, para ser respeitado.
É claro que as coisas não acontecem de modo tão simples, afinal, outros motivos
como o desamparo familiar e o convívio social também influenciam o jovem a
entrar no tráfico. Porém, essa trajetória é comum. E esse é um exemplo de como
uma mazela social, a falta de educação para crianças e jovens, pode ter
decorrências graves e afetar toda a sociedade, inclusive você.
Esse cenário faz o Brasil conhecer um
novo tipo de geografia urbana: pessoas de classe média alta, inconformadas e
assustadas com a falta de segurança, as guerras de quadrilhas, os assaltos à
mão armada, os confrontos entre polícia e criminosos nos grandes centros,
isolam-se em caríssimos condomínios, onde é possível fazer quase tudo sem sair
deles, pois há academias, shopping centers, escritórios, consultórios médicos.
Esse é um mau sinal: sem promover o desenvolvimento das comunidades em seu
entorno, o isolamento dos mais ricos só gera mais desigualdade e insegurança.
Prova disso são os constantes arrastões a esses oásis de luxo.
A boa notícia é que em alguns estados
as taxas de criminalidade caíram significativamente. O estado de São Paulo, por
exemplo, pelo nono ano seguido registrou queda no número de assassinatos. O
índice ainda é muito alto se comparado ao dos países desenvolvidos, mas desde
1999 a queda é significativa, de 65,5%. A OMS (Organização Mundial da Saúde)
ainda considera o estado como “zona endêmica de homicídios” com a taxa de 10,76
casos por cada 100 mil moradores. Mas São Paulo está bastante próximo de sair
dessa zona, quando atingir a marca inferior a 10 homicídios para cada 100 mil
habitantes. O número de sequestros registrados também caiu entre janeiro e
setembro de 2008 foram 41 casos, 53% menos que no mesmo período de 2007.
Será que esses dados apontam para um
futuro menos violento?
Gilberto Dimenstein.
Violência. In:__________ O cidadão de papel: aa infância, a adolescência e os
direitos humanos no Brasil. 22. ed. São Paulo: Àtica, 2009. p. 26-7.
Entendendo o texto:
01 – De acordo com o texto,
qual o significado das palavras abaixo:
·
Lícito: que é permitido e de acordo com a lei.
·
Oásis: região em um meio hostil ou após uma sequência de situações
desagradáveis, é sinônimo de prazer.
·
Endêmica: peculiar à determinada população ou região.
02 – Com base nas
alternativas listadas pelo autor do texto, comente quais você assinalaria.
Resposta pessoal
do aluno.
03 – Compare os itens que
você marcou com os marcados pelos colegas e verifique se o medo da violência
aparece de forma mais recorrente ou não.
Resposta pessoal
do aluno.
04 – Dos itens listados,
quais estão relacionados à violência?
Estão o assalto e
sequestro.
05 – Qual é a relação entre
o título e o conteúdo do texto?
No título, o
autor traz um questionamento sobre o medo das pessoas. Em seguida, ao longo do
texto, pressupõe que a violência urbana é o medo que atinge a maioria das
pessoas e, por isso, passa a discutir esse tema.
06 – Dimenstein faz uma
comparação entre o que aterrorizava as pessoas antigamente com o que as assusta
na atualidade. Que diferenças são apontadas?
Antigamente, as
pessoas tinham medo de situações ligadas ao imaginário, como monstros e
criaturas. Atualmente, elas têm medo de situações ligadas à realidade.
07 – O autor explica qual foi
a origem do sequestro. Qual é a diferença entre o que acontecia na década de
1970 e atualmente em relação a esse tipo de violência?
O sequestro
originou-se vinculado a motivos políticos, no entanto, hoje também ocorre com
cidadãos comuns, visando a interesses pessoais.
08 – No texto é explicado
que a violência não era algo que preocupava os cidadãos comuns. No entanto,
situações como o sequestro deixaram de ser casos isolados para fazer parte do
cotidiano. Em sua opinião, por que essas transformações ocorreram?
Resposta pessoal
do aluno. Sugestão: Porque a violência tornou-se banal e um meio de as pessoas
tirarem proveito sem grande esforço ou mérito.
09 – No trecho: “Gente comum não sentia a necessidade de
aprender técnicas de autodefesa ou a manejar armas de fogo [...].”, fica
claro quem eram os grupos de pessoas que deveriam se prevenir contra a
violência? Quem era esses grupos?
Não fica explícito, mas é possível
inferir que os grupos eram os policiais de forma geral, os seguranças, entre
outros.
10 – Com o passar do tempo,
a violência urbana se intensificou, tornando-se um grave problema para a
sociedade.
a)
De acordo com o texto, o que agravou a
violência urbana?
O crime organizado do tráfico de drogas.
b)
De acordo com o texto, quais são os
principais motivos que levam uma pessoa a entrar para o tráfico?
A falta de formação educacional que diminui as oportunidades de
emprego; O desamparo familiar e o convívio social.
11 – Segundo o autor, a
paisagem urbana sofreu várias mudanças nos últimos anos.
a)
Em que consiste essas mudanças?
Percebe-se na paisagem urbana a tentativa das pessoas se protegerem
da violência. Hoje as casas são protegidas, por exemplo, com alarmes, grades e
cercas elétricas. Além disso, os mais ricos se isolam em caríssimos condomínios
onde é possível fazer quase tudo.
b)
Em sua opinião, quais são as causas e as
consequências dessas mudanças?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A causa é a violência urbana,
que leva as pessoas a buscar proteção. Uma das consequências é o progressivo
isolamento e confinamento do ser humano.
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