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segunda-feira, 3 de junho de 2019

ARTIGO DE OPINIÃO: DO QUE VOCÊ TEM MEDO? GILBERTO DIMENSTEIN - COM GABARITO

ARTIGO DE OPINIÃO: Do que você tem medo?       
                                               Gilberto Dimenstein

        Das alternativas a seguir, quais são as cinco coisas de que você mais tem medo?
01– Fantasma.
02 – Escuro.
03 – Assalto.
04 – Reprovação na escola.
05 – Separação dos paias.
06 – Sequestro.
07 – Morte dos pais.
08 – Acidente de carro.
09 – Acidente de avião.
10 – Meninos de rua.
11 – Doenças graves.
12 – Desemprego.
13 – Reprovação no vestibular.
14 – Morte.
        Se você comparar a sua resposta com a de seus colegas, verá que o medo da violência é uma das alternativas mais recorrentes.
        Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que o que mais aterrorizava as pessoas eram os monstros e outras criaturas fictícias. Hoje, muitos dos monstros dos jovens são resultados dos problemas sociais brasileiros.
        Na década de 1970, a palavra “sequestro” era geralmente ligada a motivos políticos. Por exemplo, na época da ditadura, grupos revolucionários sequestraram o embaixador dos Estados Unidos exigindo a libertação de presos políticos. Raramente esse assunto preocupava a população em geral. Atualmente, são corriqueiras as mais variadas modalidades de sequestro de cidadãos comuns, inclusive o sequestro-relâmpago, que já fez inúmeras vítimas em nosso país.
        A paisagem urbana também mudou muito dos anos 1970 para cá: eram poucas as casas com grades, alarmes, cercas eletrificadas e havia poucos condomínios resguardados por sistemas de segurança com tecnologia avançada. Carros blindados, então, eram um privilégio de autoridades importantes. Não era tão perigoso andar nas ruas e as pessoas tinham menos medo de parar nos faróis ou andar sozinhas à noite. Gente comum não sentia a necessidade de aprender técnicas de autodefesa ou a manejar armas de fogo, como acontece hoje em dia.
    Mas a situação mudou. O tráfico de drogas, que até então era um problema de “vizinhos”, como a Colômbia, tomou o Brasil – literalmente – de assalto. O crime organizado agravou muito a violência urbana. Em alguns lugares, ele chega a ser um “poder paralelo”, sendo tão ou mais forte que a autoridade legal, como a polícia.
        Embora o tráfico de drogas não seja o único fator que causa a violência, a relação é direta. E, nesse ponto, novamente a falta de cidadania gera inúmeras consequências, que, juntas, viram uma bola de neve: o jovem entra no tráfico, já que sem a formação educacional não consegue arrumar um trabalho lícito que lhe garanta um padrão de vida digno. Dentro do tráfico, ele é obrigado a fazer uso da violência, para ser respeitado. É claro que as coisas não acontecem de modo tão simples, afinal, outros motivos como o desamparo familiar e o convívio social também influenciam o jovem a entrar no tráfico. Porém, essa trajetória é comum. E esse é um exemplo de como uma mazela social, a falta de educação para crianças e jovens, pode ter decorrências graves e afetar toda a sociedade, inclusive você.
        Esse cenário faz o Brasil conhecer um novo tipo de geografia urbana: pessoas de classe média alta, inconformadas e assustadas com a falta de segurança, as guerras de quadrilhas, os assaltos à mão armada, os confrontos entre polícia e criminosos nos grandes centros, isolam-se em caríssimos condomínios, onde é possível fazer quase tudo sem sair deles, pois há academias, shopping centers, escritórios, consultórios médicos. Esse é um mau sinal: sem promover o desenvolvimento das comunidades em seu entorno, o isolamento dos mais ricos só gera mais desigualdade e insegurança. Prova disso são os constantes arrastões a esses oásis de luxo.
        A boa notícia é que em alguns estados as taxas de criminalidade caíram significativamente. O estado de São Paulo, por exemplo, pelo nono ano seguido registrou queda no número de assassinatos. O índice ainda é muito alto se comparado ao dos países desenvolvidos, mas desde 1999 a queda é significativa, de 65,5%. A OMS (Organização Mundial da Saúde) ainda considera o estado como “zona endêmica de homicídios” com a taxa de 10,76 casos por cada 100 mil moradores. Mas São Paulo está bastante próximo de sair dessa zona, quando atingir a marca inferior a 10 homicídios para cada 100 mil habitantes. O número de sequestros registrados também caiu entre janeiro e setembro de 2008 foram 41 casos, 53% menos que no mesmo período de 2007.
        Será que esses dados apontam para um futuro menos violento?

          Gilberto Dimenstein. Violência. In:__________ O cidadão de papel: aa infância, a adolescência e os direitos humanos no Brasil. 22. ed. São Paulo: Àtica, 2009. p. 26-7.
Entendendo o texto:

01 – De acordo com o texto, qual o significado das palavras abaixo:
·        Lícito: que é permitido e de acordo com a lei.

·        Oásis: região em um meio hostil ou após uma sequência de situações desagradáveis, é sinônimo de prazer.

·        Endêmica: peculiar à determinada população ou região.

02 – Com base nas alternativas listadas pelo autor do texto, comente quais você assinalaria.
      Resposta pessoal do aluno.

03 – Compare os itens que você marcou com os marcados pelos colegas e verifique se o medo da violência aparece de forma mais recorrente ou não.
      Resposta pessoal do aluno.

04 – Dos itens listados, quais estão relacionados à violência?
      Estão o assalto e sequestro.

05 – Qual é a relação entre o título e o conteúdo do texto?
      No título, o autor traz um questionamento sobre o medo das pessoas. Em seguida, ao longo do texto, pressupõe que a violência urbana é o medo que atinge a maioria das pessoas e, por isso, passa a discutir esse tema.

06 – Dimenstein faz uma comparação entre o que aterrorizava as pessoas antigamente com o que as assusta na atualidade. Que diferenças são apontadas?
     Antigamente, as pessoas tinham medo de situações ligadas ao imaginário, como monstros e criaturas. Atualmente, elas têm medo de situações ligadas à realidade.

07 – O autor explica qual foi a origem do sequestro. Qual é a diferença entre o que acontecia na década de 1970 e atualmente em relação a esse tipo de violência?
      O sequestro originou-se vinculado a motivos políticos, no entanto, hoje também ocorre com cidadãos comuns, visando a interesses pessoais.

08 – No texto é explicado que a violência não era algo que preocupava os cidadãos comuns. No entanto, situações como o sequestro deixaram de ser casos isolados para fazer parte do cotidiano. Em sua opinião, por que essas transformações ocorreram?
      Resposta pessoal do aluno. Sugestão: Porque a violência tornou-se banal e um meio de as pessoas tirarem proveito sem grande esforço ou mérito.

09 – No trecho: “Gente comum não sentia a necessidade de aprender técnicas de autodefesa ou a manejar armas de fogo [...].”, fica claro quem eram os grupos de pessoas que deveriam se prevenir contra a violência? Quem era esses grupos?
      Não fica explícito, mas é possível inferir que os grupos eram os policiais de forma geral, os seguranças, entre outros.

10 – Com o passar do tempo, a violência urbana se intensificou, tornando-se um grave problema para a sociedade.
a)   De acordo com o texto, o que agravou a violência urbana?
O crime organizado do tráfico de drogas.

b)   De acordo com o texto, quais são os principais motivos que levam uma pessoa a entrar para o tráfico?
A falta de formação educacional que diminui as oportunidades de emprego; O desamparo familiar e o convívio social.

11 – Segundo o autor, a paisagem urbana sofreu várias mudanças nos últimos anos.
a)   Em que consiste essas mudanças?
Percebe-se na paisagem urbana a tentativa das pessoas se protegerem da violência. Hoje as casas são protegidas, por exemplo, com alarmes, grades e cercas elétricas. Além disso, os mais ricos se isolam em caríssimos condomínios onde é possível fazer quase tudo.

b)   Em sua opinião, quais são as causas e as consequências dessas mudanças?
Resposta pessoal do aluno. Sugestão: A causa é a violência urbana, que leva as pessoas a buscar proteção. Uma das consequências é o progressivo isolamento e confinamento do ser humano.

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