CONTO: O príncipe infeliz e as abóboras desprezadas
Reginaldo Prandi
Ifá morava no Orum, o Céu dos orixás,
mas os odus viviam perto do Aiê, o mundo dos humanos.
Depois da primeira reunião da casa de
Ifá, que havia sido tão desastrosa, os príncipes do destino seguiram o caminho
para o Aiê.
Todos menos Obará, que não tinha ido
porque seus quinze irmãos se esqueceram de leva-lo.
Talvez o tivessem esquecido de
propósito, uma vez que Obará só falava de coisas ruins, além de ser pobre e não
alegrias na vida, o que lhe valera o epíteto de Príncipe Infeliz.
Cada um levava nas costas a abóbora
ganha de Ifá. E como nenhum deles gostava de abóbora, o peso do fruto só lhes
dava cansaço e mau humor.
Estavam chegando ao seu país e a fome
apertava, mas abóbora eles não iam comer, ah! Isso não. Alguém então se deu
conta de que estava já bem perto da casa de Obará.
“Vamos comer na casa de Obará?”, alguém
propôs.
“Alguma coisa melhor que abóbora nosso
amado irmão há de ter em sua mesa, assim espero”, completou outro odu.
Saíram todos correndo para a casa do
Príncipe Infeliz, levando cada um sua abóbora nas costas, pois não iam largar
na estrada um presente de Ifá, mesmo que não apreciassem nada seu sabor.
Foram acolhidos com grande alegria por
Obará. Obará nunca recebia ninguém, ninguém o visitava.
Ao contrário, todos o evitavam.
E de repente, sem nenhum aviso, os seus
quinze irmãos entraram em sua casa. Que alegria. Que contentamento!
“Vejo que vindes de longe, estais
cansados”, disse Obará depois de abraçar cada um dos seus irmãos.
“Imagino que estais famintos.” Ordenou
às mulheres da casa que trouxessem água fresca e panos limpos em grande
quantidade.
“Lavai-vos dessa poeira da estrada e
depois vamos comer, vamos festejar.”
Obará era pobre e o que tinha de comida
em casa nem daria para alimentar ratos que fuçavam a despensa. Mas a alegria de
ter os irmãos em casa era incontida.
Ordenou à esposa que fosse correndo ao
mercado, que tomasse dinheiro emprestado, que pedisse fiado, e que comprasse
tudo o que pudesse agradar ao paladar de um príncipe faminto porém exigente.
Coitado de Obará, ia ficar ainda mais
pobre, mais endividado, mais enrascado na vida. Era assim o destino de Obará,
era essa sina dos afilhados desse príncipe do destino. Perdiam tudo, mas não
aprendiam nunca, sempre se metendo em novos apuros e apertos.
E então lá foi a mulher de Obará ao
mercado, de onde voltou acompanhada de muitos ajudantes carregados de cabritos,
leitões e frangos.
Traziam também balaios de inhame,
feijão e farinha, potes de azeite de dendê, porções de sal, vasilhas de
pimenta, postas de peixe e peneiras de camarão, garrafas de vinho, litros de
cerveja.
E o banquete que foi preparado e comida
nunca mais seria esquecido por ninguém do lugar. Os príncipes comeram até se
fartar, comeram bem como nunca tinham comido antes.
Terminada
a comilança, os odus despediram-se do irmão e prometeram voltar outras vezes,
pois comida deliciosa e farta como aquela não havia.
De barriga cheia como estavam então,
não deram conta de levar suas desprezíveis abóboras e as largaram todas
abandonadas abarrotando o quintal de Obará.
Os príncipes partiram e Obará ficou
sozinho. Sua mulher limpando os restos da principesca comilança, as abóboras
abandonadas abarrotando o quintal, os credores já ameaçando bater à sua porta.
Quando
no dia seguinte todos os mercadores do lugar se recusaram a vender fiado a
Obará o que quer que fosse antes que ele pagasse o que devia, faltou de novo
comida na mesa de Obará.
Conformado, ele disse à mulher: “Vamos
comer abóbora”.
Foi até o quintal onde os príncipes
abandonaram as abóboras e com a faca partiu uma que lhe parecia bem madura.
A abóbora estava recheada de pepitas de
ouro!
Obará, boquiaberto, abriu a segunda
abóbora: no lugar das sementes, diamantes, enormes. A outra trazia pérolas e a
seguinte, esmeraldas. Obará estava enlouquecido.
Ele gritava, dançava, gargalhava,
abraçava a mulher e ia abrindo as abóboras.
Foi assim que Obará se transformou no
mais rico dos príncipes do destino, e ele gosta muito de contar essa sua
história.
Foi assim que Obará se transformou no
mais respeitado, invejado e querido de todos os viventes de sua terra, o mais
desejado de todos os padrinhos.
Todos os pais e mães querem que seus
filhos tenham Obará para seu odu. Nunca mais ele foi chamado de Príncipe
Infeliz.
Pois o odu Obará é o odu da riqueza
inesperada.
Suas histórias agora falam também de
prosperidade, de muito dinheiro e bem-estar material, contam de ganhos,
conquistas, vitórias e finais felizes.
Mas para alcançar tamanho sucesso, além
de proteção do padrinho Obará, é preciso ter o coração bom (ou, como dizem
alguns, ter o juízo um pouco mole), como tem Obará.
Foi o próprio Obará que, com muita
alegria, contou essa história na segunda reunião com Ifá, tendo sido ajudado
pelo príncipe Ejiocô, que enfatizava as passagens mais interessantes. Seus
irmãos permaneciam quietos e cabisbaixos enquanto Obará se divertia com a
narrativa.
Mas ao final, quando o banquete foi
servido, um grande contentamento voltou a tomar conta de todos na casa celeste
de Ifá.
PRANDI, Reginaldo. Os
príncipes do destino: histórias da mitologia afro-brasileira. São Paulo: Cosac
Naify, 2001.
Fonte: Livro – Tecendo Linguagens – Língua Portuguesa – 8º
ano – Ensino Fundamental – IBEP 5ª edição – São Paulo, 2018, p. 103-6.
Entendendo o texto:
01 – Quem são as personagens do texto?
Obará, sua mulher, os quinze irmãos de Obará, Ifá e
Ejiocô.
02 – Identifique a morada de Ifá e dos Odus.
Ifá morava no Orum, o Céu dos orixás. Os Odus
viviam perto de Aiê, o mundo dos humanos.
03 – Leia outros trechos do livro Os príncipes do destino: histórias da
mitologia afro-brasileira e responda às questões.
“Na língua iorubá de nossos dezesseis príncipes havia uma palavra para
se referir a eles. Eles eram chamados de odus, que poderíamos traduzir como
portadores do destino. Os príncipes odus colecionavam as histórias dos que
viveram em tempos passados, sendo cada um deles responsável por um determinado
assunto. Assim, o odu chamado Oxé sabia todas as histórias de amor. Odi sabia
as histórias que falavam de viagens, negócios e guerras. Ossá sabia tudo a
respeito da vida em família e da maternidade. E assim por diante. As histórias
falavam de tudo o que acontece na vida das pessoas, de aspectos positivos e
negativos, pois tudo tem o seu lado bom e o seu lado ruim.”
a) As personagens da história “O príncipe infeliz e as abóboras desprezadas” têm alguma relação com o sagrado ou fazem parte do universo das pessoas comuns, mortais? Justifique sua reposta.
Elas têm relação com o sagrado. Os príncipes do
destino pertencem ao universo divino; são portadores do destino das pessoas.
“Há muito tempo, num antigo país da África, dezesseis príncipes negros trabalhavam juntos numa missão da mais alta importância para seu povo, povo que chamamos de ioruba. Seu ofício era colecionar e contar histórias.”
b) Nesse trecho, que palavras ou expressões localizam o leitor quanto ao tempo e ao espaço da narrativa?
Tempo: “Há muito tempo”. Espaço: “num antigo país da África”.
c) Essas expressões delimitam um espaço e um tempo precisos, determinados?
Essas expressões apenas localizam a narrativa em um
tempo muito antigos, sem determina-los ou especificá-los. Esse recurso dá um
caráter de atemporalidade à narrativa.
04 – Qual conflito desencadeou todos os fatos ocorridos com Obará?
Os irmãos de Obará viajaram carregando abóboras nas
costas e, mesmo estando com fome, não queriam comê-las, por não apreciarem seu
sabor. Então, resolveram parar na casa de Obará para comer. Esse fato
desencadeia o restante da narrativa.
05 – Explique como você caracteriza a atitude dos irmãos de Obará nos
parágrafos indicados a seguir.
a) Parágrafos 3 e 4.
Como uma atitude egoísta, de excluir o irmão.
b) Parágrafos 6 a 10.
Foram “interesseiros”, pois só resolveram visitar
Obará por estarem com fome.
06 – É possível afirmar que a atitude de Obará se opõe à de seus irmãos?
Por quê? Localize no texto um trecho que comprove sua resposta e transcreva-o.
Sim, pois mesmo não tendo sido convidado pelos
irmãos para a festa de Ifá, Obará se alegra com a presença deles e se endivida
para recebe-los com um banquete. “Obará era pobre [...] príncipe faminto, porém
exigente.”
07 – Transcreva, agora, um trecho do texto em que o narrador interrompe
o discurso, expõe suas ideias sobre a desgraça de Obará e depois retoma a
narrativa.
O mito é uma narrativa popular da tradição oral que faz parte da
história cultural dos povos. Existem mitos que tentam explicar de forma simples
e para o povo a criação do mundo; outros, tem como temas as divindades
religiosas, o aparecimento do homem etc. Diversos povos acolheram os mitos na
tentativa de dar respostas às constantes perguntas que as pessoas levantavam
sobre a vida e a existência.
“Coitado de Obará, ia ficar
ainda mais pobre, mais endividado, mais enrascado na vida. Era assim o destino
de Obará, era essa sina dos afilhados desse príncipe do destino. Perdiam tudo,
mas não aprendiam nunca, sempre se metendo em novos apuros e apertos.
E então lá foi a mulher de Obará ao
mercado, [...].”
Muito Obrigada Me Ajudou Muito !!!
ResponderExcluirMuito obrigado era pra manhã e me salvou kkk obrigado mesmo
ResponderExcluirobg
ExcluirMuito obrigada tava em duvidas😉💟
ResponderExcluireu tambem estva com muita duvida mas ajudou muito
ExcluirMuito obrigado
ResponderExcluirsalvou meu dia
ResponderExcluirobgd por ajudar slv minha vida ksksk
ResponderExcluirVlw
ResponderExcluirObrigado,me ajudou MT!😍😍😍🥰
ResponderExcluirObrigado me ajudou MT!
ResponderExcluirObg
ResponderExcluirobg
ResponderExcluirobg vc me ajudou de mais! 💖
ResponderExcluirObggggg, era pra amanhã o meu. Muito obrigada mesmo!❤️❤️🥰
ResponderExcluirObrigada
ResponderExcluirObrigado é pra... nem sei o dia mais muito obrigado 😂😂😂😂😂
ResponderExcluirObg
ResponderExcluirValeu
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